Amor de Carnaval não Vinga (10)

Um conto erótico de Peu_Lu
Categoria: Homossexual
Contém 3989 palavras
Data: 08/09/2015 12:36:57

“Vamos unir os nossos pensamentos, vamos juntar nossa filosofia, faremos você vibrar com a nossa melodia...” (Pegue aí, Banda EvaUau!

- E aí, gostou? – sorri.

- Já começamos bem...

Era a primeira vez que levava alguém no novo (e recém-reformado) apartamento. De certa forma, havia algo de importante no fato da minha visitante inaugural ser a Juliana. A opinião dela era essencial para mim.

- Sala de estar, de jantar... – apontava tudo – A cozinha fica logo ali. Tem um lavabo naquele canto, e a varanda externa contorna a lateral. Ela sai nesse corredor à sua esquerda.

- É muito espaçoso. Espera... – ela se deparou com uma escada – É duplex?

Respondi com um sorriso, achando graça do seu assombro, e a convidei para subir.

- No fim do corredor, tem a suíte. Logo do lado, um quarto de hóspedes e esse daqui – abri a porta – eu transformei num escritório.

- Sério Guto, às vezes o seu lado workaholic é meio irritante. Podia ser um cinema, uma sala de jogos, um closet, mas não... É claro que você fez um escritório – desdenhou.

- É mais forte do que eu, você me conhece.

- Quero ver se vai trabalhar tanto quando começar a namorar de novo.

-Não vai acontecer, você também sabe.

- Aham – ela não me deu bola – Nossa, amei esse painel gigante de vidro. Você decorou tudo sozinho?

- Na medida do possível sim. Mostrava ao arquiteto e ele opinava também.

- Tá de parabéns. Quando Marquinhos se mudar, vamos precisar dos seus serviços.

-Pode deixar – brinquei me gabando do elogio.

Descemos novamente e peguei duas cervejas na geladeira, oferecendo-lhe uma.

- Aos aplicativos de sucesso que realizam os nossos sonhos! – ela bateu a garrafa na minha, convidando-me para um brinde e bebendo um longo gole em seguida.

Fiz um gesto com a mão e um barulho com a boca imitando uma caixa registradora, e ela caiu na risada.

- Mas falando sério agora... – prossegui – Tenho uma coisa para te entregar – e tirei uma chave do bolso.

- O que é isso?

- Guarda com você, tá?

- Olha, a proposta é tentadora, mas não vai rolar morar com você – zombou.

- Bem que você queria, mas não é isso.

Juliana ficou gesticulando, incentivando-me a concluir o raciocínio.

- Ah, sei lá... – continuei - Venho pensando umas coisas estranhas ultimamente. Quando entrei aqui pela primeira vez, tomei um susto. É grande demais pra uma pessoa só. E depois que tudo ficou pronto e arrumado, essa impressão só aumentou.

- Ainda não entendi aonde você quer chegar.

- Ju – me vi envergonhado com o que estava prestes a dizer – Já faz um bom tempo desde aquele episódio com Leonardo e a verdade é que eu não acho que esse cenário vá mudar. Já me acostumei com o fato de estar sozinho. Eu só não quero... Morrer só.

- Vira essa boca pra lá! – ela bateu na madeira da mesa.

- É sério! Não quero ser um desses casos de alguém que tem um treco, morre e só descobrem o corpo uma semana depois. Fiz uma cópia por isso. Se você não conseguir falar comigo algum dia, não pense duas vezes antes de invadir esse apartamento, tá?

- Guto – ela ponderou por um instante – Você está potencializando duas situações diferentes. Você tem amigos, certo? Eu acho que essa história de “quem tem amigos tem tudo” é a mais pura verdade. Não estamos sozinhos! Sempre estamos aqui para o que der e vier. Esse é um ponto.

Permaneci em silêncio.

- O outro é que eu acho que você está se enganando. Eu sei que aquele lance lá foi bizarro, que aquele idiota te iludiu, mas não me venha com esse papo de nunca mais se deixar envolver. Eu não caio nessa. Toda vez que você me diz que está conformado e curtindo a vida assim, eu sinto uma expectativa camuflada na sua fala. Acredite no que eu vou te dizer: uma hora vai acontecer, e você não vai conseguir lutar contra isso.

- Eu nem saberia mais como agir... – lamentei.

- Não seja ridículo, Augusto. Você só teve um relacionamento sério. Todos os meus namorados me serviram de algum aprendizado para o meu relacionamento atual. Compromissos são assim: erro, acerto, paciência, tentativa. Não é porque o seu não foi de primeira que você deva desistir. Pare de achar que tudo faz parte de um grande projeto que não pode sair dos trilhos. Não existe controle sobre tudo.

Aquele choque de realidade parecia ter chegado no momento certo. Um desânimo inexplicável tomava conta de mim, quando deveria estar celebrando mais uma conquista.

- Eu vou te dizer o que fazer. Chama a galera e dá uma super festa de open house. Você batalhou muito pra comprar tudo isso, todos nós sabemos. Tem mais é que comemorar! O que vem depois, bom, é a sua vida! Independente de orgias na sala ou filhos rabiscando a parede é o que você está construindo. Se orgulhe disso!

- Aquele sofá custou muito caro para promover orgias – não escondi um sorriso com o esforço motivacional.

- Sendo assim eu topo ficar com a chave para qualquer emergência. Não sei bem o que faria se visse uma cena assim.

- Ficaria sem reação ao ver um monte de homem pelado na sua frente? Sei...

Gargalhamos mais uma vez e, empolgado com a ideia da celebração, fui para a cozinha pegar mais duas cervejasanos depois

Respirei fundo e encaixei a chave na fechadura. Fitei a sua expressão, preocupado.

- Olha, assim você tá me deixando assustado. Não tem nenhum corpo escondido aí, né? – Gustavo tentava descontrair.

- Não, são coisas que... – pensei no que dizer – Vamos entrar que você vai entender.

Destranquei a porta e abri, convidando-o a entrar.

- Um escritório? Bacana. Eu meio que sempre imaginei que esse cômodo pudesse estar relacionado a isso – ele olhou de uma maneira geral.

Acompanhava cada movimento seu, ensaiando uma forma ideal de contar tudo o que aconteceu.

- Então é aqui que você se esconde quando quer trabalhar.

- Pois é – não escondia o nervosismo.

- Gostei do... Como é mesmo o nome disso?

- Futon.

- Isso, muito legal. Dá pra tirar umas boas sonecas – ele se esparramou, já avistando uma primeira prova do crime – Uau, e essa parede de vidro?

- É um painel, pra rabiscar algumas ideias.

- Tá rolando algum projeto novo? – ele estava curioso com a quantidade de coisas escritas, se aproximando para ler.

- Quase isso – esbocei um sorriso amarelo – É algo mais pessoal.

- Ah, desculpa – se afastou para não parecer um intruso, sem antes bisbilhotar as três fotos presas na outra parede, de César, Cláudio e Alexandre, respectivamente.

- Guga, eu preciso te contar uma coisa.

- Você não faria tanto mistério para mostrar um gabinete – riu ironicamente – Manda!

Não conseguia prever o que se passava pela sua mente olhando aqueles nomes estranhos e imagens. O seu semblante reticente me encarando era um empecilho temeroso e um incentivo para que continuasse:

- Lembra aquele jantar que teve aqui no meu aniversário?

- Sim, claro.

- Que minha prima ficou contando como foi o nosso carnaval em Salvador.

- Até comentei com ela que ano que vem estaria junto com vocês.

- Então... – suspirei – Aconteceu uma coisa comigo durante a festa.

Gustavo não abria mão do sarcasmo, prevendo uma possível brincadeira:

- Me deixa adivinhar – ele parecia desafiador - Bebeu todas? Fez algo impróprio para menores no meio da rua? Pegou alguma mulher?

O meu olhar compenetrado era suficiente para responder os seus questionamentos de tom jocoso, fazendo-o perceber que se tratava de algo aparentemente mais sério.

- Eu fui estuprado – disse rapidamente, cortando o seu pensamento.

Em questão de segundos, o seu sorriso desapareceu e um silêncio perturbador tomou conta do ambiente. Diante da coragem que tinha reunido, prossegui:

- Cinco caras me doparam dentro do bloco e me estupraram no apartamento que eles tinham alugado na cidade.

Gustavo sentou-se novamente, sem esconder o espanto:

- Mas...

- Me deixei seduzir por um deles e fui surpreendido pelos outros. Não tive forças ou controle dos sentidos para lutar – queria contar de uma vez, evitando indagações – Só me dei conta do que aconteceu no dia seguinte, quando acordei na porta de casa. Não sabia o nome deles, não tinha provas para denuncia-los, nada.

Percebi a sua introspecção momentânea e encostei-me à mesa, avaliando a sua reação.

- Que merda, Augusto! Você tá bem?

- Sim, estou ótimo. Sem traumas.

- Porque você não contou antes? A Ju e o Marcos também poderiam ajudar.

- Não é o tipo de coisa que seja facilmente compartilhada. E vocês não teriam o que fazer nessa situação.

- Você superou isso? Quer conversar? – o tom angustiado dele reinava na conversa – Posso marcar com a minha psicóloga se quiser.

- Digamos que eu esteja superando do meu jeito.

- Não existe nenhum dado que a gente possa fornecer às autoridades? Fazer uma queixa formal que seja...

Olhei de soslaio para o painel e travei. Desconhecia uma forma ideal de levar a conversa adiante e Gustavo percebeu:

- Esses nomes... – apontou para os escritos - São eles?

Meu silêncio foi resposta suficiente.

- Como conseguiu isso?

- Fui seguindo algumas pistas. Subornei o porteiro para conseguir informações do aluguel do imóvel e vídeos de segurança. Depois parti para as redes sociais. Aos poucos, estou juntando peças do paradeiro de cada um deles.

Ele parecia impressionado:

- Mas como você vai conseguir reunir provas? Já faz tanto tempo.

- Não vou – fui categórico, fazendo-o me examinar.

- Como assim, Guto? Ainda não entendi o propósito.

- Não existe maneira legal de puni-los. Não que eu saiba. Optei por outra escolha.

- Espera, você não está pensando em...

- Estou – resumi o seu pensamento.

- Vingança?

Assenti, fazendo-o arregalar os olhos:

- Você tá louco? Eles podem ser perigosos, já pensou nisso?

- Um bando de moleques, todos mais jovens do que eu – retruquei.

- Que ainda assim podem colocar a sua vida em risco...

- E estão colocando a de outros também, se eu não fizer nada – interrompi.

- Mas não cabe a você decidir isso, se a gente alertar a polícia, talvez...

- Gustavo – fiz um gesto para que parasse de falar – Esqueça, já está acontecendo.

Enquanto ele procurava uma nova defesa, concluí:

- Não fui o primeiro. Eles possuem um esquema fixo que parece funcionar muito bem. Não vão parar até que alguém aja.

- O que você fez? – ele desdenhou do meu raciocínio, tentando ler tudo que estava escrito no vidro.

-Estou me aproximando para decifrar os próximos passos do grupo.

- Sim, mas o que você fez? – ele foi mais incisivo, temendo a resposta.

- Eu... – tentava encontrar um termo que não soasse tão pesado, sem sucesso – Repeti o gesto com um deles.

Pronto, estava dito. Sabia que não receberia um abraço ou uma medalha de honra por isso, mas torcia por alguma compreensão da sua parte.

- Em outras palavras, você o violentou também.

Fiquei estático. Era uma acusação e tanto, algo que ainda não conseguia admitir.

- Responde... Você o violentou?

Suspirei pesarosamente e balancei a cabeça em afirmativa:

- Não foi do jeito que você tá imaginando, agi por impulso e me arrependi depois.

- Que justificativa conveniente, não?

“Não foi assim, todos eles queriam”, lembrei a súplica de César na cama e senti meu coração apertar.

- Ele vai me ajudar a incriminar os outros, deixa eu te mostrar – segui apressado para ligar o computador, sem querer perder o rumo da confissão.

- O criminoso vai te ajudar a incriminar... Sério, escuta o que você está dizendo.

- Eu precisava começar de algum jeito, eu sei que não foi o melhor caminho.

- Não mesmo – ele andava de um lado para o outro - Você começou da pior forma possível.

- Mas agora será bem mais fácil...

- Aliás, nem deveria ter começado! – suas divagações se atropelavam.

- Vou conseguir o endereço dos outrosAugusto, para! – ele se exaltou, afastando-se de mim – Eu não sei se quero saber mais.

Uma breve calmaria parecia colocar ordem naquela pequena confusão. Gustavo não estava entendendo o meu propósito e eu não conseguia assimilar a urgência dos seus alertas.

- Eu... Acho melhor ir embora – ele se dirigiu para a porta.

- Gustavo, espera! – alcancei-o antes que tocasse na maçaneta – Não fica assim, por favor. Precisava me abrir com alguém. Somos amigos, certo? Por isso te contei.

- Agradeço a confiança, mas não posso concordar com isso.

- Mas não precisa aceitar...

- Também não sei se posso te ajudar – se apressou em finalizar.

Aquela reação era um soco violento na cara. Admiti a mim mesmo o quão desastrosa tinha sido aquela conversa e decidi encerra-la:

- Tudo bem, não quero discutir. Só não comenta sobre isso com ninguém, por favor.

- Fica tranquilo, vai morrer aqui – ele parecia decepcionado – Outra hora a gente conversa.

Não insisti, e deixei que abrisse a porta para sair. Segui ao seu lado até o elevador, sem direito a um abraço de despedida. Estava visivelmente constrangido. Não queria suscitar essa hipótese, mas poderia ter jogado uma amizade no lixo por um possível capricho meu. Sozinho, me peguei atordoado, principalmente por submeter alguém que ainda estava se descobrindo a tantas informações tumultuadas. Dando-me por vencido, desliguei as luzes da casa e resolvi dormir.

...

Revirei-me na cama a noite toda sem saber o que fazer. Sabia que Gustavo não dividiria a história, mas precisava esclarecer melhor o ocorrido com ele. Já passava do meio dia no domingo, quando resolvi sair da cama e tentar colocar as ideias em ordem. “Ele vai entender, eu sei que vai...”, pensei.

Inquieto, voltei ao escritório e, exatamente uma semana após a “queda de César”, liguei o celular utilizado no disfarce. Acessei o aplicativo e notei que ele ainda seguia religiosamente o combinado, sem contestar. Sete históricos diários de conversas, cuidadosamente elencados e enviados para mim. A intimidação surtira efeito.

Olhei para a mochila ao lado da mesa e lembrei o fatídico dia. Ela ainda estava ali, intacta, aguardando ser explorada. Não poderia ficar fugindo disso a vida inteira. Esvaziei a mesa e, cuidadosamente, voltei a organizar os objetos que estavam guardados. Óculos, câmera, chip, nécessaire... Parecia que tinha congelado o tempo e agora precisava dar o play novamente.

Liguei o computador e acoplei o cartão de memória. Pacientemente, comecei a rever todos os principais momentos daquele sábado. A caça na sauna, o flagra do sexo casual, as investidas no vestiário. Estava tudo lá. No segundo momento, já na sua casa, o vídeo me lembrou de algo que tinha deixado passar despercebido. Antes de toda a revelação, tinha acionado um programa para rastrear o IP da residência, operação que realizei com sucesso.

Deixei a gravação rolando e, em outro monitor, passei a olhar o que esse feito poderia me render. Sem muito esforço, acessei o seu histórico na internet, composto basicamente de sites de vídeo pornô e redes sociais. Mais algum tempo depois e consegui invadir o seu e-mail pessoal, também sem nenhuma informação de grande valor. A essa altura, na tela ao lado, o vídeo revelava o ato consumado de minha parte, mostrando César contorcendo o corpo em claro sinal de dor. O que poderia ser excitante para muitos, me enchia de vergonha, a ponto de não conseguir acompanhar até o final.

Sem muito ânimo para enfrentar os fatos, desliguei o computador e segui para a cozinha, quando escutei alguém bater na porta. Era uma nova visita de Gustavo, para a minha total surpresa:

- Guga?

- Eu sei, nem eu acredito que estou voltando aqui – suspirou.

- Você pode voltar quando quiser – convidei-o a entrar.

- Tô atrapalhando o seu dia?

- Não, acordei tarde e ia fazer um sanduíche para comer, mas já que você apareceu vou pedir algo pra gente.

- Não precisa, eu já almocei.

Olhei rapidamente para o relógio da parede, percebendo que a tarde avançava a passos largos:

- Peço um lanche mais leve, pode deixar.

Sentei ao seu lado, vislumbrando certo incômodo da sua parte, enquanto completava o pedido através de um aplicativo. Assim que terminei, fiquei analisando-o, tateando a conversa que teríamos.

- Acho que saí de um jeito meio grosseiro ontem – ele começou – Peço desculpas.

- Se serve de consolo, eu teria reagido da mesma forma provavelmente... Não deveria ter contado.

- Por quê?

- Porque agora você vai ficar com outra imagem minha na cabeça, e isso provavelmente vai afetar a nossa amizade.

- Pois é, ontem era o príncipe encantado, hoje virou o monstro dos pesadelos.

Parei de respirar por um instante com aquela frase, revelando uma palidez no rosto.

- Ei, calma! Eu tô zoando! - ele sorriu sem jeito - Não tenho outra imagem de você, pode ficar sossegado. Eu só fiquei... Assustado. Desde que você contou, fiquei imaginando o tempo que passa trancafiado naquele escritório, abrindo mão da sua vida para bolar um jeito de ser cruel com outras pessoas.

- Não é ser cruel. Eu não interpretaria assim. É fazer justiça.

- Pagar com a mesma moeda não é ser justo, Guto.

- Não julgue os meus atos sem saber pelo que passei.

- Não estou julgando. Conheço a sua integridade. Mas não precisava, você sabe...

Toda aquela sensação de “dedo apontado na cara” estava começando a me irritar.

- Porra, foi um impulso, ok? – me levantei exaltado – Não planejei estuprar alguém pelo simples prazer da vingança! Se for isso que você pensa de mim, talvez não me conheça o suficiente.

Ele se manteve acuado no sofá, quieto.

- Precisava de algo que o incriminasse, que me levasse aos outros, e sabia que ele não iria colaborar. Fui tomado por uma raiva súbita. Você viu o meu estado quando cheguei em casa. Estava transtornado. Não tenho orgulho do que fiz, e sei que vou ter que conviver com isso pra sempre.

Gustavo ensaiou uma resposta, mas minha voz aumentava cada vez mais:

- Nem eu me reconheci naquele dia, tá bom? Sabia que era errado, que seria sentenciado se falasse para alguém, que jogaria a minha moral na lama...

- Então porque me contou? – ele calou o meu desabafo.

- Porque... – me movimentava em busca da palavra certa – Porque precisava de uma luz, um novo rumo nisso tudo. Não quero que me peça para parar, preciso de uma opinião sobre o que fazer! Eu comecei, agora vou até o fim. Tenho certeza que eles irão continuar e vou valorizar o meu propósito.

Estava nervoso e ofegante. Sabia que seria avaliado, afinal até eu o fazia a todo instante. Só não estava disposto a longos interrogatórios. O que fiz estava feito, precisava seguir adiante. Voltei a me sentar e permaneci em silêncio, com o rosto enterrado nas mãos.

- Eu só preciso digerir, certo? – ele quase sussurrou.

- Você não veio até aqui só para me dizer isso, Gustavo. Não há o que digerir. O fato de não existirem provas a meu favor me faz sentir um covarde por não poder fazer nada. Eu vou encontrar meios, com ou sem a sua aprovação.

Foi a vez dele se levantar, impaciente. Aquele duelo em busca de razões que se sobressaíssem à do oponente seria cômica, se não fosse tão tensa:

- Mas que droga! – ensaiou um berro - Tudo bem, eu vou ajudar. O que posso fazer?

Meu olhar virou-se rapidamente em sua direção. Não esperava aquela bandeira branca.

- Não quero que me ajude. Um simples apoio já é o suficiente.

- Você não teria contado tudo por um simples apoio, Augusto. Eu faço questão de te ajudar, tenho essa obrigação – devolveu na lata, triunfante.

...

A cada mordida no sanduíche natural, sentados na bancada da cozinha, contava os pormenores de toda a minha investigação. Gustavo escutava tudo atento enquanto saboreava o resto do suco de laranja, tentando encaixar cada peça do meu plano. Falei dos meus falsos perfis, a verdade por trás do cabelo pintado, o disfarce que utilizei, como descobri onde César morava. Não deixava escapar nada. A expressão do meu amigo alternava entre a admiração pela persistência e a surpresa pelo ocorrido. Às vezes, perguntava detalhes que o interessava, ou simplesmente analisava calado todos os fatos.

- Você filmou tudo? Digo, toda a cena do... – ele estava sem graça.

- Sexo? Sim. Minha pretensão era arrancar algo que eu pudesse usar contra ele depois, em tom de ameaça. Mas acabei saindo do script.

Na maior parte do tempo, ele ponderava para não iniciar outra discussão sobre limites e o que era certo ou errado. Evitava relatar algo que levantasse novos dilemas na sua cabeça.

- Ok, vamos para o escritório – ele se levantou.

- Espera, você não tá achando que eu vou te mostrar esse vídeo né?

- Claro que não! Poupe-me dos detalhes sórdidos. Quero entender o que você já tem em mãos.

- Certo.

- Mas ó, você vai prometer que amanhã vai tirar essa cor ridícula do cabelo e que faremos tudo do meu jeito, combinado?

- Do nosso jeito. Nem você, nem eu. A vingança ainda é minha e sou praticamente seu irmão mais velho. Quanto a isso – apontei para as madeixas loiras – Pode deixar que eu vou resolver – cruzei os dedos para selar a promessa.

Larguei os pratos na pia e subimos calmamente para o cômodo da discórdia. Gustavo voltou a analisar o painel:

- Você adicionou Alexandre e ele ainda não respondeu o pedido. O perfil de Cláudio é aberto, certo?

- Isso.

- Nem sinal de Adriano e Júlio?

- Não. Mas agora pode ficar mais fácil, com a adição de César na jogada. Basta eu pedir.

- É bom ficar de olho nele. Precisamos agir logo. Nada impede que ele esteja procurando outros métodos para avisar os amigos.

- Não creio. Ele pareceu bastante amedrontado. E qualquer recusa dele, eu posso usar o vídeo para chantageá-lo.

- Vamos combinar o seguinte – seu tom de bronca voltou – Você não vai se rebaixar ao mesmo nível deles, ok?

- Como assim?

- Isso mesmo que você entendeu. Sem sexo na parada. Guarda isso aí embaixo pra quem merece.

Senti meu rosto queimar:

- Gustavo, eu já disse que não tem outra maneira de incriminar...

- Vamos fazê-los pagar de outra forma – ele interrompeu – Se eles fazem isso sem medir as consequências, devem se corromper por muito menos, e vamos descobrir um jeito de provar.

- Não acho que vá funcionar.

- Augusto, não me faça lembrar o que você já fez. Não há o que negociar aqui. Os termos são esses, fim de papo.

Concordei um pouco a contragosto. Não sei de onde ele tinha tirado tanto desenvoltura e naturalidade para lidar com aquela situação, visto a sua reação enaltecida no dia anterior:

- Ele começou a te mandar os históricos – pensava em voz alta - Sinalize que está recebendo, e ordene que continue a enviar. Faça-o saber que a ameaça ainda existe.

Passei a me perguntar se realmente era a primeira vez que Gustavo investigava alguma coisa.

- Vou conectar o celular no computador pra gente ler as conversas – me adiantei.

- Certo, e me consiga uma caneta vermelha.

- Pra que? – indaguei, abrindo a gaveta da escrivaninha para procurar, enquanto ele observava a parede.

- Fala sério, você nunca assistiu Revenge?

- Hum, não – admiti.

- Que tipo de pessoa quer começar uma retaliação sem ter assistido essa série?

- Sou da velha guarda.

- Não menospreze a cultura pop, esperava mais de você.

Joguei um hidrocor em sua direção e Gustavo pegou no ar. Com um sorriso nascendo no canto da boca, tirou a tampa e marcou um grande “x” na imagem de César presa com fita adesiva.

- Agora sim. Vamos nessa!

(continua)

...

Oi pessoal, estou de volta! Peço desculpas pela ausência prolongada, mas precisei dar uma parada por conta de alguns problemas pessoais (que já se resolveram). Plutão, não consegui entender nada do que você comentou (ahahaha), mas que bom que encontrou o capítulo! Drica Telles (VCMEDS), concordo totalmente com o que você disse, e é esse dilema que vai permear boa parte da história. Qual o limite para dar o troco em alguém? O que é ser justo? Aguarde os próximos capítulos (rs)! Ale.blm, vou te adiantar que vai faltar bombeiro para apagar os próximos incêndios (hehehe). Trager, minha intenção em mostrar alguns episódios do passado de Augusto é justamente fazer com que a personalidade dele seja mais compreensível e palpável. Fico feliz que esteja gostando! Jeff08, abandonar vocês? Jamais! Sim, como você previu, Gustavo pode ser um grande parceiro, mas aguarde novos acontecimentos (rs). Irish, queria poder te adiantar alguma coisa sobre esses dois, mas ainda tem muita coisa para rolar. Obrigado pelo carinho!

Então é isso, espero que continuem acompanhando e até o fim da semana volto com a continuação. Obrigado pelos votos e comentários! Abração!

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Comentários

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Como disse, gosto muito de tua série. O comentário visava a informar que o capítulo não estava na parte de temas gay na data em que foi escrito. Encontrei o capítulo na parte de temas Homossexuais.Só isso. Um abraço carinhoso, Plutão P.S.: Que bom que já superaste oproblema pelo qual passaste.

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Q luz o q jeff08 ! Eu quero é sangue kkkkk abração mano

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Bom saber que concorda comigo:). Estou curiosa para saber como ficarão as coisas agora com a intervenção do Guga. Bom saber que teus problemas já foram resolvidos e pode voltar para nós. Beijos pra ti e o ruivo.

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Que bom que voltou. Seu conto é foda cara! Espero que o Guga ajude o Guto e não deixe ele ir pro lado escuro da força.

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Que bom q voltou! Achei que tivesse largado o conto. Tudo bom contigo e o ruivo? Espero que sim *-* Sou fã do casal! Olha, acho que Gustavo sera essencial para fazer Augusto superar essa trauma. Vingança é a melhor saida? Talvez seja esse o dilema central. Abraços!!

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Caraca to mto feliz q vc ta de volta! Esse conto, pqp, vai acabar me deixando doido!! Sera que o Guga vai conseguir botar uma luz na cabeça do Guto?! Ansioso pelos proximos capitulos

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