Ovelha negra

Um conto erótico de Aparecido Raimundo de Souza
Categoria: Heterossexual
Contém 1499 palavras
Data: 15/07/2015 19:49:06
Última revisão: 03/02/2016 21:37:49
Assuntos: Heterossexual

Ovelha negra

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

Especial para a "Casa dos Contos".

1

Pinto Ansioso, de dentro de seu esconderijo secretamente ultrassofisticado, mandou uma mensagem telepática, ou melhor, um ultimato para seu amo e senhor. Queria fazer um programa diferente, naquela noite. E mais: que em menos de dois segundos estaria mais eriçado que porco-espinho, pronto para o ataque, preparado para partir para a luta, sair da moita e encarar o que desse e viesse.

Pego de surpresa, sem melhor perspectiva imediata, o amo tomou um susto baita, ou melhor, um baita de um susto. Um graúdo e desproporcionado. Onze da noite. Estava quase dormindo. A pouco havia acabado de jantar com uns empresários chatos e, de repente, sua tranquilidade, tomou um choque tremendo. Mantinha, apesar disso, aquela equanimidade que todo homem que se presa deve ter sempre à mão para semelhantes ocasiões. Ponderou de maneira calma e dócil:

- Justo agora, meu amigo? - Não seria conveniente deixar para amanhã? Estou deveras cansado...

- Nem que a vaca tussa. Quero uma mulher hoje.

- Aonde “descolarei” uma a estas horas?

- Se vira. Você não é quadrado.

- Pelo adiantado dos ponteiros, impossível.

- Não me interessa. Arranje. Vou dar trabalho. Quero me esbaldar.

- Os vizinhos nos vendo sair, o que hão de dizer?

- Que se foda os vizinhos.

Sem saber o que fazer, e pensando na ferocidade do que lhe dissera o infausto falastrão, o amo levantou da cama em estado de quase sonolência. Achou conveniente se trancar no banheiro e tomar um banho gelado. Antes de encarar a chuvinha particular, ficou um tempão sentado na bacia da privada, remoendo uma cagada repentina, com peidos malcheirosos, que sobreveio, em virtude das palavras inopinadas, ouvidas do seu melhor amigo. Como se exposto em câmara ardente, o patife parecia estar a mil por hora. Não queria saber de nada, nem das inconveniências a que expunha seu comandante. Desejava, ou melhor, apetecia, necessitava de uma periguete, uma fêmea no capricho. Seu general que saísse em campo e tratasse de arranjar uma criatura, não importando como ou de onde fosse arrancada.

- Quero lavar a égua... Farrear...

2

O tempo que passou enrolando debaixo do chuveiro, depois de bostear, só fez aumentar a tensão. O ominoso, desta vez, passara dos limites. E o seu regresso à sanha de tirar o amo do sério, aflorou com mais intensidade. Afinal, aquela era uma situação desagradável. Não tinha a acolhida plena da sua simpatia, tão somente a malquerença da mais profunda e desenxabida insatisfação.

- E aí, meu? Dá para ser ou está difícil?

O amo saiu do chuveiro contragosteado. Achou que o aziago, com o passar do tempo de espera murchasse na sua obstinação. E caísse vencido sobre o saco, quieto e calmo como um gato de cortesã. Qual o quê! O procaz ficou mais abrasado, mais aceso, impetuoso e elegante, e, pior, basto, grosso, em tremendo estado de solidez que, por um breve momento de lucidez, seu amo não viu como dar um jeito de lhe passar a perna ou demovê-lo daquela ideia absurdamente abrupta.

Acuado, desesperado, o todo poderoso não tinha uma segunda alternativa. Vestiu camisa, calça e sapatos, praticamente às carreiras. Tirou o carro da garagem, e saiu para o escuro da rua, esparso solitário, sem saída, sem destino, ao deus dará.

- Tem algum plano, pelo menos? – inquiriu Pinto Ansioso quebrando o silêncio.

- Nenhum. E para falar a verdade, não me lembro de viva alma em particular.

- Boate?

- É fria.

- Inferninho?

- Andou comendo merda?

- Casa de massagem?

- Nem pensar.

- Puta de esquina?

- Enlouqueceu? Quer pegar uma doença?

- Verdade... Espere. E aquela sua amiga, que mora sozinha?

- A Flavinha?

- Ela mesma.

- É uma alternativa. Podemos tentar.

- Liga para ela.

- Deve estar com alguém.

- Só vamos saber se entrarmos em contato. Liga pô.

O amo obedeceu. A moça, realmente andava ocupada, fazendo um programa. Indicou a Areta, uma companheira.

- Ela é dez – Quis saber?

- Não, é mil. Super gente fina. Você vai gostar...

- Igual a você?

- Melhor.

- Faz de tudo?

- Barba, cabelo, pé do ouvido, sobrancelha, bigodeManda o número.

Na mosca. Marcaram num barzinho próximo de onde estavam.

- Mal posso esperar...

- Calma Pinto! Vamos checar o material antes da abordagemQual nada. Quero afogar o ganso.

- Tenha paciência. Não vá ter um troço justo agora.

3

Areta chegou quinze minutos depois. Um avião. Alta, bonita, rostinho de boneca, bem feita de corpo, embora magérrima, desenvolta, loquaz meiga e carinhosa. Os cabelos compridos caiam a altura da cintura. Tinha um sorriso inconfundível e os olhos argutos, pareciam acesos de ambição. No geral, uma potranca sangue quente de não acabar mais.

- Dá pra você?

- Todinha. Vou entrar nela com tudo.

Tomaram umas cervejas, roeram uns tira-gostos. Restava combinar o local. Ela queria um discreto.

- Seu apartamento?

- Não dá. – a voz dela soava agradável e sensual. Falava com inflexão educada. – Moro com meus pais.

- O meu?

- Pode ser...

Foram. Mal chegaram ao apê de Amo, a gostosura se despiu, ficando somente de sutiã e calcinha. Vista assim, sem nada, difícil esquecer. As suas partes íntimas tinham algo de especial que deixavam gravadas, para sempre, na memória, alguma coisa de muito angelical e sublime. Pinto Ansioso não perdeu tempo. Partiu direto para o ataque. Ia ser “maneiro”. Do jeito como gostava. Aquela gracinha, apesar da beleza inconfundível e da postura comedida, não deixava de se assemelhar a uma dessas depravadas, extremamente safada e exageradamente sacana. Perguntas sem respostas assediavam a mente de Pinto. A bisca faria de tudo? Realizaria todas as fraquezas mundanas? Por certo, conferiria em breve.

- Quero brincar. – Esclareceu, entusiasmado. - Pretendo ser fustigado lá dentro da alma, por essa tara que capturo em sua vontade de se doar, com todos os haveres que, tenho certeza, traz escondida em suas curvas e declives, como uma puta bem depravada. Venha, minha princesa. A partir de agora exijo que se transforme numa “vagaba” ordinária e reles, para que eu usufrua das delícias desse parque de diversões (Pinto Ansioso equiparava todas as representantes do sexo oposto a enormes parques de diversões, com os mais variados brinquedos). Já esperamos demais. Devo lembra-la que no final daquele corredor uma aconchegante e macia horizontal nos espera.

- Que assim seja – Completou a garota, satisfeita. - Me mostre o caminho...

4

A briga acirrada pelos prazeres da carne começou a partir dai. Pinto Ansioso, quando se deparou com os tais brinquedos a sua disposição, num parque todinho ao seu comando perdeu a cabeça. Ao entrar no túnel do amor, e, dentro, escondido, quentinho, roçando os pelinhos suaves por cima dele, uma boneca desmiolada, por companhia, pulou com tudo, num voo cego. A cabeça, num repente, rodopiou de tanto desassossego.

- É hoje que vou me acabar. – Berrou eufórico. - É agora, nesse minuto, que acho o fundo dessa bacante. A jovem Areta, por sua vez, sentindo Pinto Ansioso estatelado em grau rijo, inflexível, curtido, forte, pulsando como um segundo coração, se pôs imediatamente em posição de ataque. Deu o bote. Caiu de boca. Não só de boca, de língua, de dentes felinos, de beijos gulosos, a garganta impulsiva e profunda, querendo engolir cada pedaço do prazer, como se fosse um prato ainda não experimentado. De um momento para o outro, a guria se fez graciosa, aberta em estripulias e traquinagens que iam além das proporções inumanas. Por fim, vencida, se entregou inteira. Meteu com força, até a racha se fartar, esbodegada.

5

Pinto Ansioso, mesmo norte, assemelhado a um colegial, em traje de críquete, imbuído de uma exigência irascível, entrou num redemoinho de emoções sem volta. Fez ecoar, pelos cantos, eloquentes bradados de prazer, seguidos de uns berros cheios de estardalhaços que repercutiram numa zoeira de gritos lancinantes. Isso ajudou para que gozasse uma eternidade de vezes numa concentração que quase tocava as raias do absurdo.

Final

Lá fora, na sala, quase três da madrugada, o amo esperava. Satisfeito, verdade seja dita, por ter proporcionado ao amigo Pinto Ansioso, o afã de uma noite inesquecível, apesar do pedido ter chegado a sua beira, de uma forma pouco recomendável. Apesar disso, que ele aproveitasse, com a diva, todas as brigadas neuróticas alojadas nos veios das províncias mais remotas de seu apetite insaciável. Que Areta, por seu turno, o acalmasse, como se o encontro, arranjado de última hora, representasse, à derradeira vez, a provar da viagem indubitavelmente inigualável.

E nesse passo, enquanto aguardava o retorno, o Comandante não esmoreceu. Dono de si e da situação, reuniu forças para um restinho de fôlego que lhe queimava as entranhas. Com ele à flor da pele, seguido de uma excitação que evoluía semanticamente, em vista dos gritos e uivos que vinham da prostituta e do amigo, e, mais, enrustido numa espécie de efeito catártico, se deixou levar pelos frêmitos ociosos. Nessa purgação, desceu a calça, agarrou o pau e bateu uma. Descabelou o careca com vontade, à força total, numa resolução cheia de dignidade. A punheta, incontida, jorrou pescoço de pica abaixo, escorreu com emoção pelo meio de suas pernas fazendo daquele momento único, um instante eterno e mágico.

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 62 anos, é jornalista.

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Comentários

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Obrigado, prezado leitor Chocolate38 de Osasco. Fico feliz em saber que meu texto lhe agradou. Abraços. Aparecido R. de Souza.

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