Tesão e Perigo em Alto Mar

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 17279 palavras
Data: 19/07/2015 13:56:10

Tesão e Perigo em Alto Mar

A situação tornara-se insustentável. Nunca morri de amores pelo meu padrasto, mas tolerava-o a bem da harmonia familiar. Não que ele fosse um mau sujeito, talvez até tivesse suas qualidades. No entanto, jamais se valeu delas a meu favor. Quando muito, qualquer atenção que demonstrasse comigo, era para se vangloriar de sua generosidade e condescendência para com um enteado que veio junto no pacote de seu segundo casamento.

Por meu lado, eu confesso que também pouco fiz para me aproximar daquele estranho, que depois de dois anos da morte prematura do meu pai, veio, na minha cabeça de menino de doze anos, roubar o lugar que era daquele que o destino me privara de conviver e, que ainda figurava em meus pensamentos como o herói que tudo podia e que me amava acima de qualquer coisa.

Uma década de convivência fora insuficiente para criar entre nós um elo, por ínfimo que fosse. Ao contrário, os anos apenas acentuavam as nossas diferenças. De uns tempos para cá elas se tornaram as responsáveis pelas nossas discussões que, no menor dos estragos, deixava o clima péssimo na maioria dos dias. E, por achar que isso influenciava negativamente meus dois meio irmãos que, para pesar do meu padrasto, me idolatravam em sua ingenuidade de oito e seis anos estava decidido a sair de casa e viver minha própria vida.

Eu não tinha muito a quem recorrer. Meus avós eram falecidos. Por parte de pai não havia tios e, por parte de mãe as únicas duas tias não tinham uma relação muito próxima. Primeiro, por viverem distantes e, segundo, por que também não simpatizavam muito com meu padrasto. Enquanto avaliava quem poderia me valer nesse momento difícil, me lembrei de um colega de escola que morava no mesmo condomínio e que, pelos anos em que convivemos sempre se mostrara muito devoto de nossa amizade. Embora meu contato com ele tivesse rareado depois dele se mudar para os Estados Unidos, nossas trocas de e-mails demonstravam que aquele relacionamento sólido ainda nos unia de alguma forma, apesar da distância.

Nelson sempre foi um cara muito expansivo, e eu nunca entendi o que ele viu em mim que pudesse ser a causa de nossa amizade. A ousadia dele não conhecia limites, o que muitas vezes o colorara em situações embaraçosas e complicadas junto aos professores e a diretoria no colégio, e com seus pais que pagavam um dobrado para coloca-lo nos trilhos. A rebeldia dele também foi o motivo que o levou a sair de casa e ir cursar a faculdade nos Estados Unidos. Logo após a sua partida, nossas correspondências eram quase diárias. Ele me contava como estava sendo a adaptação à nova vida e toda sorte de sacrilégios que estava aprontando com as garotas americanas que, segundo ele, não eram tão cheias de frescuras e pudores como as brasileiras, que só queriam dar, mas ficavam dando uma de recatadas. Esse seu lado mulherengo era algo que eu também nunca acompanhei, mas pelo qual ele não me censurava. Já fazia um ano que ele me mandara seu último e-mail. Fugindo completamente dos parâmetros dos demais, esse foi curto e um tanto evasivo. Me cumprimentava pelo meu aniversário de vinte e um anos e não mencionava nada a respeito do que estava acontecendo com ele. Minha resposta a esse e-mail questionando-o sobre o que andava aprontando ficou sem notícias.

Só pode ser ele, pensei, ponderando todos os prós e contras de uma decisão tão radical. Fico com ele por um tempo e dou um jeito de arrumar qualquer trabalho para não virar um estorvo. Decisão tomada só faltava escrever para ele e ver se podia me ajudar. A mensagem dele confirmando seu apoio à minha causa veio no dia seguinte ao meu pedido, e estava atrelada a uma série de recomendações. A mais relevante delas, que eu mantivesse segredo junto a seus pais quanto ao endereço que ele estava me passando, num pequeno vilarejo na província da Nova Escócia, Canadá. Mas, você não estava estudando na Philadelphia? O que está fazendo num lugarejo onde nem sequer existe uma faculdade? Essas respostas eu só obteria ao nos reencontrarmos respondeu ele, sem maiores detalhes. Era evidente que havia algum de seus famosos imbróglios por trás dessa novidade. E, o que eu faria numa cidade pequena, onde provavelmente não havia muito que eu pudesse fazer para me sustentar. Minhas incertezas começavam a me fazer repensar meus planos. Manter a atual situação das coisas também não dava mais, e eu sabia que estava entrando numa aventura que talvez pudesse cobrar de mim um preço alto demais.

Nada podia ser mais angustiante do que esse impasse. Era certo que eu não teria nenhum tipo de apoio vindo daqui de casa. E, pela primeira vez, eu me vi encarando sozinho os desafios da vida. Estava apavorado. Nunca serei ninguém se não tentar, argumentei com minha própria consciência, e parti.

Com a passagem só de ida paga, e US$ 9.640 no bolso eu cheguei a Halls Harbour, na extremidade norte da Baía Fundy, depois de uma longa e exaustiva viagem. O verão estava chegando ao fim, e a calmaria voltaria e reinar no pacato lugar dentro de poucos dias. O vilarejo de tradição pesqueira tem pouco a oferecer em termos de emprego. Quase tudo gira em torno das atividades portuárias. Além da pesca, sobretudo de lagosta, haddock e bacalhau, o porto também serve de escoadouro de gesso e produtos agrícolas. As belezas naturais atraem turistas no verão e servem de cenário para trabalhos de fotógrafos e pintores, o que mantem os museus e galerias de arte locais.

Demorei cerca de uma hora e meia para percorrer os 120 quilômetros entre o aeroporto de Halifax, a capital da província, e o vilarejo, num carro que aluguei junto com um casalzinho em lua-de-mel; o que me fez economizar uma boa grana, já que eles continuaram com o carro para conhecer toda a costa da Baía Fundy. Eles me deixaram em frente à casinha branca no 4173 da West Halls Harbour Road ao cair da tarde, com um ‘boa sorte’ que eu desejei fosse verdade, pois estava muito precisando dele. Ao olhar para o entardecer sobre a baía pude compreender a razão pela qual, artistas e fotógrafos se valiam dessa paisagem para compor suas obras. Era um cenário lindo e inspirador. Eu mal havia me despedido dos meus caronantes quando uma picape barulhenta e enferrujada encostava na lateral da casa, com o Nelson ao volante. Seu sorriso era mais tenso e econômico do que eu me lembrava, mesmo assim ele veio ao meu encalço e me abraçou com força tirando-me do chão e me fazendo rodopiar no ar. Nesse tempo, uma loira, não muito bonita e com um barrigão pontiagudo, desceu pela porta do passageiro e me cumprimentou como se nos conhecêssemos há muito.

- Esta é a Nancy! Este é meu quase irmão Bruno, de quem lhe falei todos esses dias. – disse o Nelson, num inglês já sem sotaque, exagerando como sempre.

- Oi! Como vai? – cumprimentei tímido, começando a vislumbrar a enrascada na qual meu amigo havia se envolvido.

O interior da casinha era bastante modesto, com poucos móveis que pareciam ter sido garimpados às pressas numa venda de garagem. A sala e a cozinha conjugada formavam o maior cômodo, um banheiro e mais um quarto onde uma antiga cama de casal de ferro forjado ocupava quase todo o ambiente, compunham todo o espaço habitável. Fiquei um pouco chocado com o que meus olhos viam disfarçadamente, e fiquei imaginando o que teria acontecido para que ele viesse para num lugar assim. Tão diferente do apartamento que ocupava todo um andar no condomínio onde morávamos. Seria esse o destino dos desgarrados? Minha sorte estava me sendo revelada nua e cruelmente? A confiança que eu vinha construindo durante todo o percurso até aqui, sofrera um baque com essa visão.

Conversamos pouco mais do que uma hora quando a Nancy se preparou para encarar seu turno de garçonete num bar e restaurante do outro lado do canal do porto. Assim que ela partiu, o Nelson me contou como vieram parar ali, depois que tiveram que abandonar os estudos e encarar a dura realidade daquela gravidez indesejada.

- Ainda não consegui juntar coragem para dar a notícia a meus pais. Dizer que deixei a faculdade para trabalhar como auxiliar de carpinteiro na construção civil, jogando por terra todas as expectativas deles, não vai ser fácil. – disse ele, amargurado com seu comportamento irresponsável. – Sei que vai ser um choque para eles, e imerecido depois de tudo que fizeram por mim. – acrescentou.

- Não compreendo como vocês puderam deixar as coisas chegarem a esse ponto. Teria sido muito mais razoável vocês tomarem uma providência logo no início da gravidez. – ponderei.

- Foi o que eu sugeri, mas ela ficou em dúvida, e me acusou de pressioná-la. – revidou. – Fiquei desnorteado, sem saber o que fazer e como agir. Para ser bastante sincero, acho que ela usou essa gravidez como desculpa para se ver livre da pressão da mãe, que sempre a obrigou a estudar e seguir uma carreira, coisa que ela não está nem um pouco inclinada a fazer.

- Nenhuma mulher engravida sem querer. Elas sabem muito bem como conduzir as coisas quando isso lhes interessa! – exclamei. – Vocês pelo menos se amam? – indaguei.

- Pois aí é que está. Eu estava ficando com ela há poucos meses. Para dizer a verdade nem sei o que sinto por ela. Ela foi legal comigo no início, e eu fui ficando, não imaginava que estaria tão enrolado como agora. – seu desabafo acontecia depois de meses sem um ombro amigo que não o censurasse assim que os fatos fossem revelados.

- E eu ainda vim complicar mais a sua situação. – sentenciei, arrependido da minha escolha.

- Não diga isso! Se estou nessa enrascada é por culpa minha. É bom ter você por perto, alguém que se importe comigo. – revidou, me abraçando comovido.

- Acho que temos uma tendência para complicar nossas vidas! – exclamei, pensando que talvez eu também tivesse feito uma cagada, saindo intempestivamente de casa.

- Eu com meu jeito inconsequente de agir, não resta dúvida, mas você sempre foi ponderado e certinho. Me conte, o que aquele babaca do seu padrasto fez para você tomar essa atitude? - perguntou.

- Não houve uma coisa em específico, foram anos de desgaste que culminaram com a gente discutindo por qualquer bobagem. Não dava mais para aguentar. – retorqui. – Por isso estou aqui, sem grana e enchendo seu saco. Mas não me preocupo se tiver que voltar e baixar a orelha diante daquele idiota. – professei, como se estivesse vendo o final da minha loucura.

- Nada disso! Vamos conseguir dar um jeito em tudo. Agora que você está aqui, meu problema nem me parece mais tão tenebroso. E, você vai conseguir algum trabalho que te mantenha por aqui. – falou animado.

- Tomara. Só não quero virar mais um peso para você. – retruquei.

- Você nunca vai ser um peso para mim! – disse, abrindo aquele velho sorriso que eu tantas vezes vi em seu rosto. – Aliás, você está muito mais gostoso do que da última vez em que eu te vi. – acrescentou, maldando de mim.

- Deixe de besteira! – censurei irritado, e retomando a mesma indignação que tantas vezes havia demonstrado quando ele se insinuava para mim, me dizia obscenidades, ou passava a mão na minha bunda.

- Não, sério! Essa sua pele bronzeada é de tirar o juízo de qualquer um. – continuou, me medindo de cima abaixo.

- Se você vai começar com isso, juro que vou embora! – sentenciei furioso.

- Só estou fazendo um elogio! Não precisa ficar zangado. – retrucou. – Estava com saudades desse seu jeitinho enfezado e difícil. – acrescentou rindo.

- Veja no que deu essa sua mania de enfiar esse negócio onde não deve! – disse, apontando para o meio das pernas dele.

- Essa foi cruel! Que culpa eu tenho se ele precisa de um lugar macio e apertado para se satisfazer? Eu sou um homem que precisa de muito sexo. Minha autoestima está diretamente ligada à quantidade de sexo que eu faço. – falou, fechando a cara.

- Desculpe! Não quis ser rude. – ele tinha esse dom de se fazer de vítima só para ser paparicado.

- Vou te confessar uma coisa. No começo a Nancy não dava trégua. Meu pau passava mais tempo na buceta dela do que nas minhas calças. Agora mal posso chegar perto dela. Estou a um tempão no cinco contra um, e você bem sabe que isso não me refresca em nada. – confessou.

- Mais uma evidência que ela tinha tudo planejado. – deixei escapar no impulso. – E, eu não sei de nada no que se refere às suas sem-vergonhices, viu? – emendei. Ele riu e veio me abraçar. Sua carência era tão evidente naquele abraço caloroso que eu não quis quebrar o encanto daquele momento.

Eu havia me ajeitado no sofá da sala, que passou a ser minha cama, antes da Nancy retornar do trabalho. Estava cansado da viagem, no entanto, percebi quando ela se esgueirou para pegar um copo d’água na cozinha e desapareceu pela porta do quarto. Antes de pegar no sono ouvi alguns cochichos vindos de lá, e decidi que na manhã seguinte já começaria a procurar um trabalho, pois minha presença naquela casa era um fardo que eu não queria ser.

Ela ainda dormia quando acordei com os passos do Nelson. Ele desfilava de bermuda preparando o café quando percebeu que eu havia acordado.

- Desculpe se te acordei! – disse, aproximando-se de mim e me abraçando mais uma vez.

- Não faz mal. Tenho mesmo que sair por aí procurando trabalho. – respondi, meio sem graça por ter que sentir seu corpo seminu e aquele volume inspirado se comprimindo contra mim.

- Calma! Hoje é sábado. Você acaba de chegar. Na semana que vem você faz isso. Agora vou te mostrar os recantos desse paraíso. – bronqueou.

- Não quero perder tempo. Você sabe, minha grana é curta. Não dá para ficar na esbornia. – revidei. – Também precisamos estabelecer qual vai ser a minha contribuição nas despesas. – acrescentei.

- Depois a gente senta, os três, e decide isso. Deixe de ser tão fresquinho e venha me ajudar a preparar o café, que eu sei que você manda muito bem nessa parte. – disse, dando um tapa na minha bunda enquanto eu recolhia e dobrava a roupa de cama.

Ele deixou um bilhete sobre o balcão da cozinha antes de sairmos. A costa ao longo da baía era povoada de casas de veraneio espalhadas esparsamente entre a vegetação de coníferas, plátanos e bordos. As embarcações que cruzavam as águas reluzentes pelo sol da manhã levavam os últimos turistas de verão para explorar as redondezas. Um ou outro barco pesqueiro voltando do mar aberto também zingrava a maré baixa, acompanhado por bandos de gaivotas e pelicanos num sobrevoo baixo, atraídos pelo cheiro dos peixes estocados nos porões. Por ser o último fim de semana do verão o movimento nas ruas sinuosas era intenso. Os veranistas que tinham casa juntavam as tralhas para voltar ao seu destino. E os turistas abarrotavam as ruas tentando aproveitar as últimas aparições daquele sol já morno, que em poucas semanas só sobreviveria nas fotografias.

O Nelson me mostrava cada canto daquele lugar pitoresco, A Baía Fundy se estende por 270 quilômetros no oceano Atlântico entre as províncias canadenses de New Brunswick e Nova Escocia. É sede dos maiores fluxos de marés do mundo, que apresentam, num período de aproximadamente treze horas, uma enorme diferença entre a maré baixa e a maré alta, alterando significativamente a paisagem por ocasião desses dois níveis da água do mar. Próximo a Halls Harbour há uma série de faróis perfilados ao longo da costa. São construções ora de alvenaria ora de madeira que se sobressaem na vegetação litorânea indicando o caminho nas águas revoltas da baía. Enquanto percorríamos esses caminhos costeiros com sua picape barulhenta, eu cheguei a me esquecer dos problemas que me trouxeram até aqui. E, acho que o Nelson também se desligara de suas mazelas curtindo minha companhia e aquela liberdade passageira.

Três semanas se passaram eu ouvindo sempre a mesma resposta aonde ia atrás de uma vaga de trabalho. O verão terminou e nossas vendas caíram. Estamos dispensando os contratados temporários. Ou ainda, não contratamos estrangeiros sem a documentação legal. Algumas justificativas até eram verdadeiras, mas outras não passavam de uma desculpa esfarrapada. Eu via o mês terminando e nenhuma perspectiva de surgir alguma coisa. Nós três estávamos empenhados nessa busca, e até aquela imagem inicial que eu fizera da Nancy ia se diluindo quando percebi seu empenho em me ajudar.

- Agora começa a temporada de pesca, vários donos de embarcações aparecem no bar durante o dia para contratar mão-de-obra, vou ficar atenta e te indicar quando surgir uma oportunidade. – disse ela numa noite antes de sair para o trabalho.

- Obrigado Nancy, agradeço muito a sua ajuda. – agradeci de coração.

- Não sei se você sabe, mas esse é um trabalho duro e muito perigoso. As embarcações ficam meses fora enfrentando as ondas gigantescas que se formam durante o outono no Atlântico norte, em busca dos cardumes de bacalhau, linguado e haddock, ou mesmo de lagostas. São jornadas extenuantes sob o convés varrido por ventos gelados. – disse o Nelson, numa tentativa de desestímulo.

- Não estou em condições de escolher nada. Tenho que pegar o que aparecer. – decretei.

- Esse é um trabalho para caras acostumados ao mar, não para aventureiros. – sentenciou.

- Bem, Nancy! Se surgir algo me avise, não vou deixar seu namorado me assustar. – retruquei.

Na primeira semana de outubro, quando ela cobria a folga de uma colega durante o turno do dia, mandou um garoto me avisar que havia uns caras no bar contratando pessoal. Dei uma ajeitada no visual e parti para o bar e restaurante. O alvoroço era semelhante ao do último final de semana do verão, o lugar estava cheio de gente. Ela me apresentou a um sujeito enorme na casa dos cinquenta e poucos anos, com alguns cabelos grisalhos nas costeletas longas e mal aparadas. Mike era o capitão e proprietário do Black Owl, e tentava recompor sua tripulação. Próximo à mesa que ele ocupava, e sobre a qual uma montanha de papeis se misturava com latas de cerveja vazias, se aglomerava a maior parte dos candidatos. Ele dava duas ou três puxadas num charuto babado e soltava baforadas cinza azuladas que impregnavam o ar ao seu redor com um cheiro enjoativo de fumo. Enquanto aguardava minha vez de ser entrevistado, não foi difícil descobrir que ele havia perdido quase a metade de sua tripulação durante a última temporada. Dois foram tragados pelas ondas numa noite de tempestade e o restante debandou depois da tragédia, temendo pelo mesmo fim. Além disso, a temporada fora péssima para a tripulação do Black Owl, haviam pescado pouco, o que colocara o Mike a beira da bancarrota.

- Já trabalhou num navio em alto mar? – foi sua primeira pergunta quando me sentei diante dele, sob seu olhar de descrédito.

- Não, nunca. Mas tenho todo o interesse em aprender, e aprendo rápido. – respondi confiante.

Uma sonora gargalhada ecoou pelo salão. Ele chegou a se engasgar com a fumaça do charuto enquanto seu corpanzil sacolejava com a risada. Se eu já estava nervoso quando ouvi sua voz grave tronando nos meus tímpanos, depois desse surto minhas pernas começaram a tremer, e eu agradeci por estar sentado.

- E você acha que dá para aprender a se virar num navio pescando nessas águas? Isso é para homens feitos e não moleques como você. – proferiu, controlando a gargalhada. – Ainda mais um fedelho com essa carinha bronzeada e bonitinha demais, que parece saída de uma revista de celebridades. – acrescentou, começando a fechar a cara.

- Nem todos os seus homens nasceram sabendo como fazer esse trabalho. Se eles aprenderam, eu também sou capaz de me virar. – revidei encarando-o.

- Mas não no meu navio! – berrou. – E você sabe fazer exatamente o que, além de tomar sol ao lado dos amigos e das garotas? – inquiriu, tentando me subjugar com seu olhar.

- Ele está hospedado lá em casa, e desde então meu namorado e eu estamos sendo surpreendidos com as melhores refeições das nossas vidas. – sentenciou a Nancy, que apoiava uma de suas mãos em meu ombro.

- Cozinhar a bordo de uma embarcação flutuando ao sabor das ondas para uma tropa faminta não é bem como fazer um almoço de domingo para dois amigos. – devolveu ele. – Procure um emprego onde as panelas fiquem em cima do fogão! – concluiu.

Fiz o caminho de volta para casa, arrasado. Caminhava sem ânimo pelo acostamento da rua sabendo que mesmo sendo aceito em algum lugar, esse seria o tratamento que receberia. Apesar do esforço, não consegui conter a umidade nos olhos, e os esfreguei com as mãos fechadas, tentando melhorar minha visão borrada. Nem meu padrasto tinha conseguido me deixar tão para baixo. Assim que o Nelson chegou em casa e me viu olhando perdido pela janela da sala para o mar lá embaixo da colina, aquele nó que me apertava o peito chegou até a garganta. Bastou nossos olhares se cruzarem para ele entender a minha frustação. Ele me abraçou e ficamos um longo tempo vendo o sol se por sobre a baía. A casa mergulhou na penumbra e nós continuávamos ali, junto à janela, em silêncio, sentindo a agonia que se apoderara de nossos corações.

O primeiro beijo dele apenas me distraiu dos meus devaneios. Foi um beijo suave e cauteloso na pele da minha nuca. Os dedos dele acariciaram meu rosto e eu me virei em sua direção. Os olhos brilhantes dele estavam tão perdidos quanto eu, e me encaravam com extrema doçura. O segundo beijo veio se alojar em meus lábios, e eu senti o sabor dos dele. Lambi delicadamente aqueles lábios úmidos e mornos. Ele me puxou para junto dele e eu o abracei. Enquanto eu me conscientizava do sabor daquele beijo, ele penetrou minha boca com sua língua potente. Senti os batimentos em seu peito se acelerando, ao mesmo tempo em que minha respiração se tornava mais superficial e rápida. Minha camiseta foi subindo junto com suas mãos, ambas pararam na altura dos meus mamilos. Os polegares dele apertaram meus biquinhos. A camiseta saiu por cima da minha cabeça quando a boca dele tocou um dos meus peitinhos, meus dedos se afundaram em sua cabeleira. Eu segurava sua cabeça junto ao meu peito e desfrutava inebriado daquela boca voraz me chupando o mamilo. As luzes lá fora começavam a se acender, tanto nas casas quanto nas ruas. Uma vez ou outra um carro passava pela curva que a rua fazia exatamente em frente a casa, e jogava um facho de luz pelas janelas da fachada. As mãos calejadas dele desceram pelas minhas costas e entraram na bermuda. Nem pareciam as mãos daquele Nelson que me azucrinava a paciência quando ouvíamos música em seu quarto. Estas eram mãos de um homem atribulado, mas eram gostosas de sentir sobre a pele das minhas nádegas. Num canto do sofá estava empilhada a minha roupa de cama, e ele me debruçou sobre elas. Eu já estava sem a bermuda e a cueca que ficaram pelo chão naqueles dois passos até o sofá. Ele me encarava como se estivesse diante de uma tela exposta nas paredes de um museu. As costas de seus dedos deslizavam pelo meu corpo. Eu acariciei seu rosto sentindo a barba crescida espetar as palmas das mãos. O terceiro beijo misturou nossas salivas e foi longo e significativo, com ele debruçado sobre mim. Éramos apenas duas silhuetas se movendo na escuridão, mas eu distingui perfeitamente o cacetão que pendia entre as coxas dele bem diante do meu rosto. Aquele cheiro constante de mar ficara em segundo plano, minhas narinas aspiravam um cheiro almiscarado e másculo. Minha mão se fechou ao redor daquela pica e eu a coloquei na boca, não sabia bem o que fazer, mas o néctar que começou a molhar meus lábios fez com que eu quisesse chupar aquilo. O Nelson gemeu. A pica se avolumava na minha boca e eu abocanhava pouco mais que a chapeleta intumescida, e aquilo era saboroso demais. Ele se deitou sobre mim como uma criança que se abriga no colo da mãe. Eu afaguei seu rosto enquanto nos beijávamos. A ereção dele pressionava minha coxa, e ele apartou uma da outra colocando uma delas sobre o encosto do sofá. Um dedo roçou minhas pregas expostas e eu soltei um gemido recatado. Meus braços se enrodilharam em seu tronco e eu o senti pressionando a pélvis contra a minha bunda. O dedo saiu das minhas pregas enrugadas e a chapeleta molhada tomou seu lugar. Minha respiração cessou por alguns segundos, e uma dor pontual e profunda no cuzinho me fez sentir que havia algo imenso entalado nele, a rola grossa, quente e latejante do Nelson. Eu dei um ganido curto, absorvendo todo o impacto daquela penetração fulminante, e apertei todo aquele volume com a musculatura anal, enquanto apertava com mais força o tronco pesado daquele homem angustiado. Nossas bocas voltaram a se procurar, e todos os nossos gemidos foram selados nesse toque fervoroso, enquanto a pica se movia cadenciadamente num vaivém interminável de estocadas no meu cuzinho. O prazer me fazia erguer a pelve de encontro a virilha dele, e sentir o sacão batendo no meu rego. Por alguns segundos ele me encarou, a respiração ofegante e acelerada, a pica inchando no meu cu, e o ar sibilando entre os dentes cerrados ao mesmo tempo em que a porra escorria para dentro de mim. Eu próprio havia me lambuzado instantes antes, e agora vertia uma lágrima solitária pelo canto do olho.

- Ai Nelson! - balbuciei num gemido, antes de apertá-lo com mais força em meus braços.

Meu corpo todo tremia debaixo do dele. O cacete cravado nas minhas pregas amolecia lenta e pesadamente, enquanto o silêncio só era quebrado pelo grasnar de alguma ave de arribação sobrevoando o telhado. Nossos corações batiam descompassados, tão tranquilos como há muito não acontecia.

A Nancy voltou mais tarde que de costume naquela noite. O Nelson já havia ido dormir depois de termos nos enfiados juntos na ducha e jantarmos sentados lado a lado no balcão da cozinha. Eu estava com a televisão ligada, mas não prestava atenção ao que se passava na tela, era apenas um pretexto para afugentara minha inquietação. Ela entrou silenciosa, me deu um daqueles sorrisos cansados de quem teve um turno puxado. A barriga imensa fazia com que ela se movimentasse como uma leitoa gorda, a respiração arquejante dava para ser ouvida de onde eu estava. Enquanto olhava para aquela barriga disforme, senti a porra pegajosa do Nelson nas minhas entranhas, e não consegui me furtar de fazer uma analogia com aquela barriga. Percebi o quão sublime era carregar uma parte de quem se ama dentro de si, e que isso jamais poderia servir como forma de coação, coisa que as mulheres sabem muito bem como fazer. No entanto, não a invejei, acho que o que ele deixou em mim o atormentou menos do que aquilo que se desenvolvia naquele ventre.

Dias depois a Nancy voltou para casa me comunicando que o capitão Mike queria falar comigo do dia seguinte. Será que ele reconsiderou? Ela não sabia dizer se sim, apenas que ele teve dificuldade para fechar a tripulação. O Nelson sugeriu que eu não fosse, depois da humilhação pela qual passei. Eu ainda me sentia inclinado a ouvir o que ele tinha para falar comigo, pois nenhuma outra oportunidade havia aparecido. Estava tão ansioso que cheguei antes dele ao bar e restaurante. Pouco depois já havia umas vinte pessoas esperando. Fui um dos últimos que ele chamou, certamente estava testando meus limites e minha perceverança.

- Quero você a bordo do Black Owl amanhã logo depois do meio dia! – disse, sem me questionar sobre mais nada. – Pago quatro por cento do total pescado depois de descontados os gastos para cada tripulante. Mas, no seu caso serão apenas três por cento. É pegar ou largar! – sentenciou.

- OK, eu aceito! O senhor não vai se arrepender, eu aprendo rápido, vai ver. – respondi.

- Pelo contrário! Eu sei que vou me arrepender dessa idiotice, não tenho dúvida! – exclamou me medindo com um olhar de reprovação.

Como era sábado, o Nelson me levou até o cais. Das quatro embarcações aportadas o Black Owl era a maior. Era um navio imponente, o comprimento chegava aos 42 metros, e a largura aos 10 metros. No bico de proa, acima da quilha bem pronunciada, o casco todo pintado de preto formava uma barriga com duas aberturas simétricas das quais pendiam as âncoras pintadas num tom cinza prata. O conjunto lembrava mesmo uma enorme coruja com seus olhos reluzentes. A ponte de comando rodeada de janelas sobressaia toda branca do convés, encimada por um deque repleto de antenas, dois enormes faróis montados sobre torres, anemômetro e mais uma infinidade de instrumentos de navegação. No convés estavam montadas duas gruas, uma a bombordo e outra e estibordo. As cabines da tripulação ficavam no mesmo andar da cozinha, despensa e do refeitório, separadas por um corredor estreito. Cada uma delas tinha dois beliches e armários incrustados nas paredes, além de um diminuto banheiro. Depois das seis cabines ficava uma espécie de vestiário com chuveiros. No porão da popa dois motores Cummins de 1080 cavalos de potência garantiam a propulsão do barco e a geração de energia. No restante do navio ficavam as enormes câmaras frigoríficas que guardavam os peixes e dois tanques que também serviam como local de armazenagem, porém de lagostas ou caranguejos gigantes que tinham que ser mantidos vivos, pois o barco também se destinava a esse tipo de pesca. O próprio Mike me levou para conhecer o navio e minha cabine, depois me deixou na cozinha para que eu me inteirasse de todos os detalhes.

- Esta noite mesmo você deve estar com o jantar pronto, às dezenove horas, para dez esfomeados. No balcão do refeitório sempre deve haver alguma coisa para beliscar e beber. – disse, sem me olhar.

- Está certo. Devo fazer alguma coisa em especial? – perguntei.

- Você deve colocar comida na mesa. Se conseguir fazer isso já é uma grande coisa. – sentenciou me deixando a sós, num ambiente onde eu jamais estivera antes.

Tive vontade chorar quando me despedi do Nelson, assim que soou o apito indicando que faltavam dez minutos para zarparmos. O único elo que eu tinha com o meu passado, e com o que me ligava a alguém estava se desfazendo. Eu estava completamente só e por minha conta. Ele me abraçou com seu jeito acolhedor e me desejou boa sorte. A previsão era a de que ficarmos dois meses e meio ou talvez três em alto mar. Prometi encontra-lo, e ao bebê, que até lá já teria nascido. A bordo, ninguém havia sido apresentado a ninguém. Talvez nós mesmos devêssemos fazer isso ou, quem sabe isso pouco importava. Não me preocupei mais com o assunto; afinal, eu certamente seria conhecido por todos em breve. Senti um frio na barriga ao me dar conta da responsabilidade que tinha nas mãos.

O cais estava lotado. Mulheres, mães, namoradas e filhos vieram se despedir. Os homens acenavam por cima do costado para aqueles que só voltariam a ver daqui a muitas semanas. As expressões de preocupação estavam em todos os semblantes que ficaram em terra. A comoção daquelas pessoas simples me abalou. Elas conheciam histórias e conheciam de perto, inúmeras pessoas, que depois de uma despedida dessas nunca voltaram a ver. Os perderam para o mar. As quatro embarcações foram saindo uma a uma até o cais se tornar um ponto longínquo no horizonte.

Depois de entender toda a configuração da minha área de atuação, comecei a por mãos à obra. Tinha pouco mais de três horas para servir a primeira refeição. De início achei engraçado ver que cada utensílio, cada legume, cada pedaço de carne parecia ter vida própria com o movimento intermitente que balançava o barco. O cheiro dos alimentos sendo preparados era muito diferente daquele que eu conhecia. O cheiro do barco e do mar se misturava aos dos alimentos, e o resultado era pouco apetitoso. Percebi isso quando coloquei a cebola e o alho para fritar, e vi minha boca se enchendo de saliva que teimava em não se deixar deglutir.

Quarenta minutos antes das sete eu estava com tudo pronto e fiquei feliz com o resultado. Estava torcendo para que os outros tripulantes e, principalmente o Mike, aprovassem o que eu tinha feito. O primeiro jantar foi uma espécie de confraternização. Todos se conheceram e os novatos tiveram que contar suas histórias até chegarem aqui. Nesse jantar descobri que o Mike trouxera seu filho, Nate, para ajuda-lo, uma vez que não conseguira todo o pessoal de que precisava. A contrariedade em estar participando dessa viagem era evidente na cara fechada do Nate. Ele devia ter uns vinte e oito anos, era um sujeito musculoso e corpulento como o pai; aliás, como todos que estavam a bordo, exceto eu. Trazia o cabelo cortado muito curto, quase do tamanho da barba que ele não devia fazer a pelo menos uma semana. Mesmo debaixo do agasalho de moleton que ele usava dava para perceber que o tronco e os braços formavam um triângulo invertido, onde os ombros muito largos formavam a base. Ele me encarava com um olhar muito diferente do pai, sorriu quando veio se apresentar e me cumprimentar com um aperto de mão que fez meus dedos estalar. Gostei dele no mesmo instante.

Minha primeira incursão da cozinha estava se revelando um sucesso. Todos elogiaram a comida e eu pude verificar que tinha que fazer mais para as próximas refeições, pois aqueles homens haviam devorado literalmente tudo o que eu havia preparado.

- Até que enfim você arranjou alguém que sabe fazer comida, hein Mike? E não aquela lavagem que os outros faziam. – disse um dos tripulantes veteranos.

- Isso está muito mais saboroso do que a comida lá de casa! – exclamou outro.

Enquanto a maioria deles fazia coro elogiando o que tinham nos pratos, o Mike resmungava em resposta, mas estava visivelmente satisfeito ao engolir em grandes garfadas um jantar digno desse nome. No entanto, não dava o braço a torcer, e não fez nenhum comentário a respeito.

Depois de deixar tudo em ordem na cozinha, fui até o tombadilho tentar respirar um ar que tivesse menos cheiro de maresia, peixe e mofo. Havia esfriado bastante, e eu cruzei os braços ao redor do corpo para me proteger do vento frio. A Lua cheia derramava seu reflexo prateado sobre as ondas, cujas cristas subiam e desciam num balanço igual ao do meu estômago. O barco deixava um rastro de espuma branca atrás de si, que ia se abrindo como um leque à medida que se afastava das hélices. Minha cabeça doía e o chão do tombadilho parecia um colchão d’água, cada passo que eu dava sentia ele se mover debaixo dos meus pés. Procurei não pensar nesse mal estar e me debrucei sobre a amurada, mas a noite escura não permitia distinguir nada além do facho de luz intermitente de um farol a bombordo. Como ele estava do lado oposto daqueles que eu havia visto ao anoitecer, supus que já havíamos contornado a península e estávamos em mar aberto.

- Não leve muito em conta as broncas do meu pai. É seu jeito de se fazer respeitar por esses marujos. – disse a voz tranquila e grave do Nate às minhas costas.

- Hã? Ah ... sim, claro. Já estou acostumado a relevar o que me dizem. – respondi.

- Por quê? Também está acostumado e levar bronca do seu pai? – indagou.

- Não. Meu pai já faleceu. Tive que aturar meu padrasto. – retorqui.

- Sinto muito! Se já é difícil aguentar os desmandos de um pai, imagino como devem ser os de alguém que não tem nada haver conosco. – comentou solidário.

- Pois é. Certamente não é fácil. – disse, sentindo a saliva cada vez mais espessa e biliosa na boca.

- Você está bem? – quis saber, diante das minhas respostas exíguas.

- Não muito. – respondi.

- Você nunca esteve a bordo de uma embarcação, não é? – intuiu, ante as evidências. – É a cinetose, o enjoo marítimo. Você acaba se acostumando. – emendou.

- Estarei morto antes de me acostumar! – exclamei, sentindo como se meu corpo não fizesse mais parte de mim.

Com os meus cento e oitenta e cinco centímetros eu mal cabia no beliche. Ficava imaginando como aqueles homens, muito mais corpulentos e massudos do que eu, conseguiam dormir naquele espaço exíguo. Com o tempo acabei descobrindo que eles não dormiam, simplesmente desmaiavam de cansaço, e o lugar pouco importava. Segui quase todas as recomendações para minimizar o efeito da cinetose. Olhava para um ponto fixo a fim de evitar que a cabeça acompanhasse os movimentos do barco, havia tomado ar no convés, aplicado compressas geladas sobre os olhos e o pescoço, respirava profunda e lentamente, havia comido parcimoniosamente, tomado anti-heméticos e sedativos que me deixaram mais zonzo ainda e, até a dica de um dos pescadores mais velhos de tapar um dos olhos como faziam os antigos piratas para lidar com o enjoo eu havia seguido. Nada parecia funcionar e eu estava péssimo. Passei a noite em claro, ora batendo os cotovelos e os joelhos na parede onde o beliche estava fixado, ora correndo para a toalete e vomitando. Madruguei para preparar o café, e entre uma coisa e outra, corria até a amurada para vomitar, mesmo já não havendo mais o que expelir. Fui alvo de todo tipo de chacota, mas nem forças para ouvi-las eu tinha mais. Até que por fim, enquanto estava descascando batatas e me preparando para fazer o almoço, as lâmpadas que estavam sobre a bancada da pia subitamente se apagaram. Ou não, fui eu quem apagou. Quando meus olhos se abriram de novo, apesar das pálpebras estarem mais pesadas do que chumbo, eu estava no beliche. O ronco contínuo dos motores entrava nos meus ouvidos como um sussurro distante. Os raios de sol que entravam pelas duas escotilhas da cabine se moviam como os holofotes iluminando os atores num palco. Tentei ficar em pé, mas escorreguei como se fosse um boneco de pano. Todos os cheiros nauseabundos que eu conhecia pareciam estar ao meu redor, e a boca seca tinha um gosto amargo. Esse momento de lucidez não demorou muito, e logo eu já não sentia e nem ouvia nada. Eles se repetiram mais algumas vezes. Neles, por uns instantes, eu ouvia vozes à minha volta, em outros tudo estava escuro e o único ruído que chegava aos meus ouvidos era o ronco de alguém, ainda em outros, nesgas do céu azulado apareciam do outro lado das escotilhas e, nos piores momentos, o barco parecia estar montado num cavalo xucro ou num touro de rodeio. Até que por fim, eu consegui abrir os olhos sem que claridade espetasse meu cérebro, os sons de conversas altas e maquinário funcionando se tornaram mais distinguíveis, e meus órgãos internos pareciam ter encontrado seu lugar dentro do meu corpo. No convés agitado pelo movimento contínuo dos homens, das redes sendo recolhidas e das gruas despejando os peixes que ainda estavam emaranhados nas redes, o crepúsculo esparramava sua luz fria e sombreada.

- Vejam só quem ressuscitou! – exclamou o primeiro marujo que encontrei. Todos se viraram na minha direção e pareciam estar vendo um fantasma.

- Senhor Bruno, suba imediatamente aqui na ponte de comando! – era a voz do Mike, seca e furiosa como eu nunca a tinha ouvido, saindo como um berro pelo autofalante do convés.

- Sim, senhor! Quer falar comigo? – disse, quando fechei a porta da cabine atrás de mim.

- Três dias! Três dias sem que uma refeição descente saísse daquela cozinha. O senhor faz ideia do que seja dispor de um pescador para preparar as refeições antes que todos morressem de fome? A pesca fica prejudicada. Quanto menos homens trabalhando menos peixe embarcamos. Mas o senhor, é claro, não sabe disso! – seus berros chegavam aos meus ouvidos e me faziam estremecer todo. – Só para lembra-lo, isso não é um navio de cruzeiro, e o senhor me garantiu que dava conta do trabalho. – emendou áspero.

- Não pensei que fosse passar tão mal. – balbuciei, sem saber o que dizer.

- Eu sabia que o arrependimento de tê-lo colocado a bordo viria, mas não pensei que tão cedo! Agora suma da minha frente e trate dos seus afazeres, que já não é sem tempo. – gritou, fazendo com que o charuto caísse em seu colo e as veias de suas têmporas saltassem formando um emaranhado parecido com as raízes de uma planta.

Nem eu estava acreditando que ficara desacordado por três dias. Tratei de voltar para a cozinha e ver como andavam as coisas por lá. Um marujo estava tentando improvisar o jantar, e me lançou um sorriso de alívio e gozação por eu estar de volta. Fiz tudo o mais rápido que pude, como se estivesse participando de uma competição. Embora com um atraso de quarenta e cinco minutos, uma comida razoável estava nos pratos de cada um. Preparei uma bandeja e a levei à cabine de comando.

- O que faz aqui outra vez? – vociferou o Mike, ao me ver entrando.

- Vim trazer seu jantar! Assim não vai precisar comê-lo requentado. – respondi, colocando a bandeja sobre uma mesa cheia de cartas náuticas.

- Deixei-o aí e vá minimizar o prejuízo. – grunhiu. Embora eu tenha percebido que a expressão de seu rosto se desanuviara, e um quase sorriso se desenhara no contorno de sua boca.

Eu mesmo devorei o que tinha colocado no prato. Estava faminto, e o perfume do frango ensopado nunca me pareceu tão atraente. Fui o palhaço da noite. As piadas se sucediam implacáveis, cruéis e até obscenas, tudo em homenagem a minha volta.

- Um dos cabaços foi tirado, será que existem mais alguns que o virgenzinho está escondendo? – pilheriou um, dos dois outros caras, que dividam a cabine comigo e com o Nate. Provocando mais uma onda de gozações e risadas.

Esses dois eram sujeitos esquisitos. Aaron era o aloirado e Chad o moreno. Também haviam sido contratados nessa leva e não eram conhecidos pelos pescadores de Halls Harbour. Apareceram depois que os jornais da região publicaram os anúncios procurando tripulantes. Lembro-me que estavam entre os candidatos no primeiro dia em que tinha ido falar com o Mike. Pareciam ser amigos e se conhecer já há algum tempo. Um deles era um pouco mais moreno e tinha cara de ser um dos milhares de imigrantes que procuravam a sorte nos Estados Unidos e Canadá. Ambos eram muito altos e musculosos, os bíceps só faltavam rasgar as mangas das camisetas. Acho que isso foi determinante na contratação deles, pois a lida num barco pesqueiro exigia esse tipo de físico e disposição. Não eram muito simpáticos e faladores, e o próprio Mike os tratava com certa reserva em relação aos demais. Quando os vi pela primeira vez no balcão do bar onde a Nancy trabalha tive a sensação de serem caçadores de encrencas.

As leis ambientais cada vez mais restritivas obrigam os barcos a se aventurar mais ao norte do Atlântico e distante da costa, onde a influência das águas frias da corrente marítima do Labrador, que desce do polo norte margeando a costa canadense e americana, rivaliza com as águas quentes da corrente do Golfo, que sobe mais centralmente, e se dirige aos países nórdicos do continente europeu. As diferenças de temperatura e salinidade dessas duas potentes correntes são as responsáveis pela abundância de cardumes, e também, pela instabilidade climática e turbulência dessas águas, o que torna a pesca ali muito perigosa. Anualmente perdem-se pelo menos uma centena de vidas nessa região do Atlântico entre o paralelo 45 e o circulo polar ártico. Os efeitos dessa colossal massa de água se movimentando rapidamente foi o que começamos a sentir no quarto dia após o meu restabelecimento. O outono já corria adiantado, os dias contavam com menos luminosidade do sol, na verdade ele desaparecera nos últimos dois dias dando lugar a nuvens tempestuosas, rajadas de vento que atingiam o costado e pareciam querer adernar o barco. Densas muralhas de água escura se erguiam com mais de nove metros de altura e quando despencavam sobre o convés não deixavam nada no lugar. Os homens trabalhavam debaixo de capas impermeáveis amarelas, amarrados a cintos e correias para se manterem de pé. E, puxar a rede carregada de peixes que pendia das gruas exigia um esforço sobre-humano. Depois que os cardumes eram localizados pelo sonar começava uma corrida para baixar as redes e estica-las, qualquer descuido podia lançar um homem ao mar, com poucas chances de um resgate bem sucedido. Motores no convés começavam a fechar as redes puxando-as pelo cabo guia e encurralando os peixes. Por fim, quando já estavam no fundo da rede, as gruas içavam os peixes presos para fora da água e, com a ajuda de braços musculosos eram puxadas para o convés. Começava então outra etapa estafante, que era a de eviscerar os peixes e leva-los às câmaras frigoríficas. Todo esse trabalho rendia jornadas de até dezoito horas seguidas, aniquilando qualquer um. Por isso, nos dias mais estafantes, ou quando um dos tripulantes estava mais deprimido pela falta da família, por ter que encarar um trabalho tão arriscado, ou ainda, por alguma das frequentes rusgas entre eles, sempre havia de minha parte uma palavra de incentivo e uma boa caneca de leite quente com duas colheradas de melado de bordo para arrefecer os ânimos. Era meu jeito de lidar com os meus próprios reveses.

Eu também conversava muito com o Nate, estava me afeiçoando cada vez mais a ele. Gostava de seu jeito brincalhão e intrépido, da maneira como enfrentava o pai impondo sua opinião, da maneira atenciosa como lidava comigo, e como pronunciava meu nome, esticando um erre velado. Nossos papos geralmente aconteciam no final do dia, após eu ter feito um chá ou um café com biscoitos que servia antes do pessoal se recolher, no convés da proa sob um céu salpicado de estrelas, no refeitório quando as tempestades açoitavam a embarcação com rajadas de chuva e vento gelados, ou em nossa cabine a despeito dos protestos do Aaron e do Chad que, apesar de capotados, resmungavam alguns palavrões. Nosso entrosamento aumentou a partir do dia em que ele entrou no banheiro dos chuveiros e eu tomava banho sendo alvo de gracinhas dos outros tripulantes.

- Você já viu o encontro de duas meias luas, Nate? Se não viu, a oportunidade é agora. Nem um eclipse vai te surpreender tanto. – disse alguém sacaneando.

- Do que vocês estão falando? – perguntou o Nate, pegando a piada em andamento.

- Dá uma olhada na bundinha desse moleque! Me fale, se não é um espetáculo? São as duas únicas partes branquinhas nesse corpo bronzeado e lisinho. – sentenciou outro, no meio daquela histeria coletiva.

- Vão se foder! – esbravejei

- Se for com você eu estou indo! Eu também vou. Nada de privilégios, estou dentro, e olha que eu costumo ir fundo! – as exclamações vinham de toda a parte, cada um colocando mais lenha na fogueira, num misto de gargalhadas e afrontas. Enquanto uns pegavam nas picas e as balançavam na minha direção, e outros se viravam contra a parede e simulavam os movimentos de alguém enrabando um cuzinho.

O Nate não achou muita graça. Esboçou um riso irônico, mas olhou para a minha bunda. Desde então ele mesmo me dirigia alguns gracejos quando estávamos a sós.

- A falta de uma boa foda está me afetando. – dizia, quando se esquecia de alguma coisa ou não se lembrava de algum detalhe do que estava me contando. – Por isso essa noite vou deitar com você na sua cama. – acrescentava voluntarioso, junto com um riso malicioso.

- Vou estudar o seu caso! Se aquela caixa de fósforos é pequena para mim imagine dois. – argumentava, só para não deixa-lo sem um revide.

- Quem manda ter essa bundona carnuda! Só ela já preenche um caminhão. – debochava, geralmente dando uma encarada na minha bunda.

- Eu é que tenho bunda grande! OK. Vou concordar só para não criar polêmica. – retrucava, desajeitadamente.

- Estamos chegando num período crítico. Sabe há quanto tempo esses caras estão sem trepar? Faça as contas. Daqui a pouco estão todos subindo pelas paredes, é sempre assim. – disse, num tom sério tentando me amedrontar.

- Até parece! Eles já passaram por isso diversas vezes, sabe-se lá como se viram. – respondi.

- E eu como fico? Ando te dando a maior força com o meu pai, não recebo nada em troca? – gracejou.

- Recebe. Isso aqui! – respondi, esticando o dedo médio e dobrando os outros numa das mãos que levei diante de seu rosto. Ele riu mais ainda.

- Não pense que eu já não te peguei olhando para o meu cacete enquanto eu estava no chuveiro. – continuou.

- Até parece! E se olhei casualmente para o lado onde você estava, foi instintivo. Ou você nunca viu que todo homem dá uma olhada disfarçada para a pica do outro só para ver se é maior que a dele? – argumentei. – E depois, venhamos e convenhamos, não há como não reparar num troço desse tamanho. Quantas vezes você entrou na fila quando fizeram a distribuição das picas? – emendei, tripudiando.

- Quer dizer que você andou reparando no tamanho do meu caralho? E gostou? – perguntou, fazendo cara de safadeza e se sentindo lisonjeado com minha observação.

- Vá se catar! – esbravejei.

Momentos assim, de tanta descontração, eram raros e por isso mesmo tinham que ser bem aproveitados. O dia de Ação de Graças estava se aproximando e eu pensei em fazer algo especial para alegrar o pessoal que, com certeza, ficaria se imaginando junto aos familiares comemorando a data. Não teríamos um peru como é o costume, mas uma ceia com haddock ia quebrar o galho. Estávamos numa semana incrivelmente calma. Já fazia muito frio, no entanto, navegávamos em águas relativamente tranquilas. Os vagalhões de dias atrás desapareceram como num passe de mágica. O inconveniente é que os cardumes também pareciam ter desaparecido. O Mike seguia rumo a umas coordenadas onde em anos anteriores a pesca havia sido muito boa, e isso exigia que ele passasse muitas horas na ponte atrás do leme.

- Vim trazer um leite quente, o senhor está a muitas horas enfurnado aqui. – disse, entregando-lhe a bandeja, nos primeiros minutos de uma madrugada estrelada.

- Obrigado Bruno, é muito gentil de sua parte! – exclamou, sorvendo o líquido quente em grandes e ruidosos goles.

- Algum sinal dos cardumes? – arrisquei, procurando amenizar as longas horas de solidão dele.

- Venha cá! Está vendo estas manchas escuras na tela? São os cardumes. É uma imagem de satélite, da entrada do estreito de Davis, esta linha costeira aqui é da ilha canadense de Baffin, e esta aqui da costa oeste da Groenlândia, este ponto no meio do estreito é o Black Owl. – disse, colocando a ponta de uma lapiseira sobre os pontos que ia nomeando.

- Então estamos bem perto deles! – exclamei, contente por conseguir identificar claramente as imagens na tela.

- Eu não diria tanto. Nossa velocidade é de quatro nós por hora, pelos meus cálculos devemos chegar nesse cardume maior dentro de umas catorze ou quinze horas. – retorquiu.

- Mas o cardume vai ficar parado esperando por nós? Eles não se movem também? – indaguei curioso.

- Sim, eles também se movem. Mas, estão concentrados aí por que há abundância de alimento, não devem se afastar muito dessa região nas próximas horas. – explicou paciente.

- É fascinante ver como a tecnologia é capaz de ajudar a localizar os peixes assim, num lugar tão afastado. – concluí.

- Certamente! – ponderou. – Faça-me um favor Bruno. Veja onde se meteu o Nate, ele já deveria ter me substituído há uma hora. Preciso de algumas horas de sono. – emendou.

- Claro! Ele deve estar dormindo ainda. Vou chama-lo.

Nunca tinha visto o Mike tão tranquilo e gentil comigo. Acho que acabou se conformando em ter que me aturar e à minha inexperiência. Fiquei pensando a quantas coisas esse sujeito de bom coração e personalidade intransigente já teve que se acostumar. Talvez tivesse abdicado de muita coisa e isso deixa uma pessoa dura.

- Acorde seu dorminhoco! Seu pai está te esperando há horas na ponte de comando. – disse, me aproximando dos ouvidos dele e chacoalhando o ombro imenso.

- Você veio deitar comigo? Já tirou a cueca? – balbuciou sonolento, me puxando pelo braço para dentro do beliche.

- Deixe de falar besteira! Você ouviu o que eu disse? Acorde! – repeti, tentando me safar.

- Você disse que ia fazer bastante carinho em mim e no meu pau que você achou grande e gostoso. – murmurou, sem me soltar.

- Nem sob tortura! E agora solte meu braço ou eu vou te dar um pontapé. Anda! – protestei.

- Eu já te disse que estou precisando de carinho aqui embaixo, se eu pirar a culpa é sua! – brincou, esfregando os olhos inchados.

- Explique essa carência para o seu pai. Ele vai saber o que fazer. – caçoei. – Vamos anime-se! Prometo que levo um café bem forte para você antes de me recolher. Assim, teremos a certeza de que você não vai fazer besteira naquele leme. – emendei.

- Você podia ficar lá comigo, sentado aqui. – provocou, colocando a mão sobre a pica armada.

- Sabia que estamos perto de alguns cardumes? Seu pai me mostrou na tela do GPS. – disse, ignorando sua provocação.

Eram quase duas da manhã quando deixei um bule de café fresco para o Nate. Estava cansado e dentro de quatro horas tinha que estar de pé. Quatro homens também terminaram seu turno e se preparavam para o descanso, entre eles o Chad e o Aaron. Cruzei com eles a caminho do banheiro dos chuveiros.

- Você bem podia ter dado banho em mim! – exclamou o Aaron rindo, ainda com a toalha enrolada na cintura e torso tatuado exposto. – Mas eu posso fazer essa gentileza para você. – acrescentou.

- Estou dispensando! Não faz a minha cabeça. – respondi secamente.

- Duvido! Já pensou nessa mão apertando a sua bundinha gorduchinha? – falou, colocando sua mão enorme diante do meu rosto.

- Quer apertar uma bunda, aperte a do Chad!

- Olha o respeito! Vou te mostrar o que tem aqui para apertar. – indignou-se o Chad.

- E quem é que quer apertar bunda peluda? Eu quero por minhas mãos nesse tesãozinho de bunda lisinha. Deixe eu sentir a maciez, deixe? – disse o Aaron, enfiando o mãozão entre as minhas coxas.

- Vão se foder! – berrei me desvencilhando.

Pouco depois de eu abrir a ducha e deixar a água quente correr pelo meu corpo enregelado, os dois se postaram na porta do banheiro e deram um assobio ao verem eu me ensaboando. Não tinha percebido que estavam ali, e também não estavam, segundos atrás. Tratei de ignorá-los, mas eles continuavam a me provocar, abrindo as toalhas e se punhetando. Apressei-me a sair debaixo da água, apesar da contrariedade, pois ela me relaxava depois daquele dia estafante. Passei por eles rumo à cabine ouvindo gracejos e sendo novamente palpado, desta vez pelos dois.

- Você já chupou uma pica, ou é virgem nisso também? – inquiriu o Chad.

- Vocês deveriam aproveitar essas curtas horas de descanso para dormir, ao invés de ficarem me aporrinhando.

- Nada me deixaria mais relaxado do que colocar meu cacete no meio dessa sua bundinha. Quebra essa, vai. – continuou provocativo.

Eu não sabia o que fazer. Tinha que me vestir e para isso tirar a toalha que cobria minha nudez diante deles. Sair dali, com aquele frio, e ir procurar ajuda seria humilhante demais. Além do que, atestaria que ainda continuava a ser um menino, e não um homem capaz de resolver seus problemas. Também não queria ser protagonista de mais um escândalo, era bom não abusar da complacência do Mike. Meus receios se transformaram em verdadeira paúra quando o Aaron trancou a porta da nossa cabine. Tentei não me deixar intimidar, nem demonstrar o medo que estava sentindo. Mas, para aqueles homens vividos e diplomados na malandragem, o meu simples arfar agitado já evidenciava tudo.

Quem tirou minha toalha foi o Chad. Puxou-a com um único golpe. Os dois levaram as mãos simultaneamente para as minhas nádegas e as amassaram. Eu tremia de frio, pavor e excitação. O Aaron passou o braço tatuado sobre meus ombros e me puxou contra seu corpo nu. Ele era imenso e quente. Prendeu meu rosto com uma das mãos e me beijou. A saliva adstringente entrou na minha boca junto com a língua pérfida. Um dedo entrou no meu cuzinho e se movia em círculos, sem que eu soubesse a quem pertencia. Soltei um gemido quando o espasmo fechou meu esfíncter anal ao redor daquele intruso. O Aaron soltou meu rosto, o dedo era dele. Me encarou fixamente com um ar de prepotência enquanto continuava a explorar meu cuzinho. Um riso malicioso apareceu no rosto do Chad quando os biquinhos dos meus mamilos enrijeceram.

- Eu sabia que você ia gostar, safado! – proferiu, antes de lamber um dos mamilos e começar a chupá-lo gulosamente.

- As tuas palavras podem negar o tesão que está sentindo, mas o teu corpo não sabe mentir. – disse o Aaron.

- Parem com isso! Não quero nada disso. – declarei enfático.

- Não é o que esse corpinho tesudo está dizendo. – insistiu o Chad.

Eles continuaram a me bulinar, eu sentia quatro mãos tateando cada milímetro do meu corpo. Não queria, mas estava ficando excitado. Cada um deles pegou um mamilo e o chupava e mordia vorazmente. Dedos entravam e saiam do meu cuzinho me fornicando. O Aaron mandou que eu me ajoelhasse e colocasse sua pica na boca. O xarope pré-seminal minava do orifício da chapeleta vermelha, e umedeceu meus lábios assim que eu a toquei. O Chad apressou-se a esfregar a rola dele na minha cara, tão sôfrega e desesperadamente quando o Aaron ao sentir meus lábios ao redor da caceta. A pica babona do Aaron deixava um sabor de moscatel na minha boca, e eu aspirava o cheiro másculo que vinha de sua virilha misturado ao perfume do sabonete que acabara de usar.

- Abre a boquinha e chupa as duas rolas! – ordenou o Chad. O pré-gozo dele lembrava o de uma noz madura, e enchia minha boca.

- Sem frescura! Engole o melzinho, engole putinho. - disse o Aaron.

Senti um leve enjoo, mas ele logo passou. Chupava ora uma, ora outra pica com mais vigor e determinação, conforme me ordenavam. O Chad abriu minhas nádegas e mostrou minhas preguinhas rosadas para o Aaron.

- Dá para se perder nessa delícia! – exclamou, antes de enfiar sua língua áspera no meu introito anal.

- Parem, por favor! – gemi temeroso. E sendo completamente ignorado.

O sacão do Aaron balançava diante do meu rosto enquanto ele enfiava o caralho na minha garganta. Eu espalmei minhas mãos entre os pelos pubianos dele para tentar conter a sanha com que ele fodia a minha boca. Um esforço inútil e muito débil diante da voracidade dele. O Chad apontou a pica contra a portinha do meu cu e começou a forçar a entrada da cabeçorra. Eu gania com a rola do Aaron entalada na garganta. O Chad me segurava pelos flancos e me puxava para junto dele. O pauzão distendeu minhas pregas e se alojou em mim. Soltei um grito abafado que logo tive que conter para não me engasgar com a porra que o Aaron ejaculava na minha boca. A pica do Chad me esfolava barbaramente, enquanto eu gemia depois de ter engolido todo sêmen que tinha na boca. As atitudes de um reforçavam o tesão e a sanha do outro. Eles pareciam dois animais ensandecidos tentando satisfazer a fisiologia da sua masculinidade. Passos, no corredor das cabines, fizeram com que o Chad parasse de bombar meu cuzinho. O Aaron me advertiu com um olhar penetrante e um dedo posto sobre os lábios selados, para que eu me mantivesse em silêncio. Como silenciar quando se está com um caralhão entalado entre as pregas, e a dor se espalhando pelas entranhas? A maçaneta da porta girou, antes de ouvirmos os golpes contra ela. Não consegui conter o gemido quando o Chad sacou a rola num golpe único e dolorido.

- Quem está aí? Bruno? Abra a porta! – a voz grave do Nate me petrificou.

- Bruno! Você está aí? Abra essa porta! – a impaciência se apoderava dele.

- Espere...espere, já estou abrindo! – gaguejei, vestindo a calça de moleton o mais rapidamente que pude. Antes de tocar na maçaneta certifiquei-me de que os dois estavam vestindo alguma coisa.

- O que significa isso? Por que estão trancados aqui dentro? – o rosto do Nate estava colérico e vermelho.

- Nada! O pino deve ter entrado e travado a maçaneta. – justifiquei.

- Acho que fui eu enquanto estava me trocando. – disse o Aaron, tentando disfarçar a ereção que se escondia dentro de sua calça de moleton. O Chad havia se esfiado rapidamente debaixo das cobertas e fingia dormir.

- O que você estava fazendo com esse sujeito? Que fedor de porra é esse? – gritou, me apertando o braço.

- Nada, Nate. Eu estava indo me deitar. – não havia firmeza alguma na minha voz.

- Faz horas que você desceu. O que estava fazendo aqui, vamos, eu quero uma explicação. – meu corpo todo sacudia com a potência de sua pegada.

- Deixe eu terminar de me vestir, vamos sair daqui, por favor. – implorei, diante da expressão de seu rosto, ao começar a atinar com o que havia se passado ali.

- O que você fez com ele, seu filho da puta? Anda, fala caralho! – ele me soltou e partiu para cima do Aaron.

- Qual é meu? O que eu faço não é da sua conta. Vá se foder! – protestou o Aaron empurrando o Nate contra o beliche onde o Chad começava a se levantar.

- Espere, Nate. Por favor, vamos sair daqui. – supliquei, tentando segurá-lo. Só então ele reparou que meus mamilos estavam inchados e arroxeados.

- Você deixou esse filho da puta encostar em você? – gritou exasperado.

- Não! Pare, não é nada disso. Não fique imaginando coisas. – eu previa o que viria a seguir.

- Por quê? É só você que pode comer o cuzinho do moleque? – desafiou o Chad.

- Seu filho da puta! – bradou o Nate, desferindo um soco no rosto do Chad.

A briga descambou sem controle. Aqueles três machos que mal cabiam naquele espaço exíguo se engalfinharam como feras bestiais. Os corpanzis batendo nas paredes metálicas da cabine ecoavam por toda aquela ala da embarcação e, junto com a discussão, atraíram os outros tripulantes que estavam em suas cabines. Pelo menos quatro acorreram para ver do que se tratava. A pancadaria saiu para o corredor, acirrada pela fúria irracional que os dominava. O Nate parecia um Panzer detonando tudo que estava em sua frente, e aqueles dois brutamontes mal conseguiam manter-se de pé sob a saraivada de golpes que ele desferia.

- Por favor, façam alguma coisa. Ajudem a apartá-los! Eles vão machuca-lo. Não deixem que eles o machuquem! – berrei suplicando para a plateia que se aglomerava a nossa volta, e ria da visão distorcida que eu estava fazendo do embate. Enquanto isso eu tentava segurar o Chad pendurando-me ao seu pescoço na tentativa de cercear seus movimentos.

- Parem! Já chega! – a voz do capitão soou como um trovão às minhas costas, tão sonora e potente que a briga cessou de imediato.

O silêncio só era interrompido pelo ofegar arquejante dos três. Ninguém se atrevia a abrir a boca, nem para se defender, nem para fazer qualquer comentário.

- Amanhã pela manhã vou levar o barco até Clyde River. Os senhores ficam por lá. Não os quero mais a bordo do meu navio. – sentenciou o Mike, com a expressão fria e impassível de um jogador de pôquer. – Levem os até aquele compartimento ao lado da casa das máquinas e tranquem os lá. Não os quero mais circulando livremente pelo barco! – acrescentou, dirigindo-se aos tripulantes que se apressaram a executar suas ordens. – Agora saiam todos daqui!

A dispersão foi imediata, como um bando de aves que alçam voo diante de alguma ameaça. Apenas eu me afastei só o suficiente para não cair nas vistas do capitão e da sua cólera. Mesmo porque ainda continuava apenas com a calça do moleton naquele frio de congelar.

- Desconfiei daqueles sujeitos desde o início, por isso mandei que você ficasse na mesma cabine e de olho neles. – disse o capitão para o Nate, que voltara para dentro da nossa cabine. – Se você percebeu que ele estava correndo perigo, e está morrendo de amores por ele, por que não o tirou daqui antes? – questionou.

- Não estou morrendo de amores por ninguém! – esbravejou o Nate

- Se alguém já desconfiava disso, depois dessa cena não restou mais dúvida alguma. – continuou o capitão.

- Eles começaram a me provocar, foi apenas isso! – justificou o Nate

- E eles te provocaram justamente no seu ponto fraco, não é? Só isso justifica essa reação violenta. – argumentou, com a serenidade de um pai que conhece o filho como a si mesmo.

- Não diga bobagens! – protestou o Nate

Me escondi sob o vão da escada que levava ao convés quando percebi que o capitão estava deixando a cabine. A última coisa que eu queria naquele momento, era que ele pusesse os olhos em mim enquanto sua raiva não se dissipasse. Quando entrei na cabine pude avaliar a extensão da destruição que a briga havia promovido. O Nate estava sentado num dos beliches com os cotovelos sobre os joelhos e as mãos sobre a cabeça. Havia escoriações em seus braços e o agasalho que ele usava estava em farrapos. Me ajoelhei diante dele e tentei limpar o sangue que escorria de seu lábio inferior, mas ele rechaçou minha mão com a toalha, segurando firme no meu antebraço e me afastando dele.

- Você está machucado, deixe-me cuidar disso. – disse carinhosamente.

- Saia daqui! Suma da minha frente ou eu não respondo por mim. – gritou colérico.

- Eu vou te contar o que aconteceu. Não fique assim. Não quero que se zangue comigo. – insisti.

- Vai contar o que? Vai me contar os detalhes da devassidão sexual que aconteceu aqui? Vai me contar como deu o cu para aqueles dois desgraçados, seu viado? – gritou exaltado.

- Eu não fiz isso! – protestei, sendo imediatamente interrompido por mais uma avalanche de impropérios.

- E como foi que você conseguiu esses peitinhos inchados? Você se divertiu na rola deles, foi? Responde viado! – o bofetão atingiu meu rosto com tanta violência que eu caí sentado no beliche da frente. Mas a dor que me fez começar a chorar não era física, vinha do ódio que eu via estampado no rosto dele, vinha da frieza de seus olhos cegos.

Ele se levantou, tirou o agasalho rasgado e o atirou sobre a cama, vestiu outro e saiu com passos duros. Só então todas as dores se materializaram. O meu rosto parecia estar queimando, o cuzinho e as entranhas ardiam, os mamilos estavam doloridos e circundados de marcas de dentes e equimoses, e a dor moral podia ser sentida como um punhal cravado fundo dentro de mim, de onde eu não podia tirá-lo.

Fui andando com as pernas abertas até o chuveiro. Estava arregaçado. A água parecia não conseguir tirar a sujeira que estava no meu corpo. Me consolei com o fato daquele homem não ter esporrado meu cuzinho. Novamente me lembrei do quão sublime era sentir a seiva viril de um homem dentro de si, mas para isso, esse homem precisava representar algo em nossa vida, precisava ser desejado, precisava estar em consonância com algum sentimento puro nosso. Esse fardo havia me sido poupado, ele não conseguira esse trunfo sobre mim. Estava me vestindo quando a voz do capitão reclamava minha presença na ponte de comando. Agora seria a minha vez, pensei. Hora dele ajustar as contas comigo. A ideia de também ser despejado do navio me assombrava, e lágrimas rolavam pelo meu rosto. O que fazer abandonado naquele fim de mundo, sozinho, sem dinheiro, a milhares de quilômetros de casa? Estava irreparável e literalmente fodido.

- Quer falar comigo, capitão?

- O senhor compreende agora por que eu não o queria a bordo? Você sabe por que um capitão em seu juízo perfeito não traz uma carinha bonitinha como a sua para dentro de seu navio? Você tem ideia, Bruno, dos problemas que já me causou? – ele falava mansamente, o que me deixava mais apreensivo ainda.

- Eu não fiz nada, senhor. Eu juro! Eu nunca dei ouvidos às piadas que fazem a meu respeito, evitava me expor diante de quem quer que fosse, deixava para tomar banho quando todos já haviam se recolhido, ou estavam trabalhando no convés. Tudo para evitar qualquer confusão, uma vez que cismaram com a minha bunda. – eu gaguejava e tentava segurar o choro. Estava prestes a cair de joelhos e implorar para que ele não me abandonasse naquele lugar.

- Você pode me dizer o que realmente aconteceu lá embaixo? – ele falava como um juiz diante da necessidade de proferir seu veredicto.

Eu detalhei cada instante do inferno que havia vivido lá embaixo, sem acusar, sem me colocar no papel de vítima, apenas sendo verdadeiro e objetivo. Ele me ouviu até o final, sem interrupções e sem dar seu veredicto. Ouvia-me sem se desviar da condução do navio.

- Está bem. Vá cuidar das suas coisas. – disse, quando terminei meu relato.

- Posso fazer uma pergunta? – arrisquei num arremedo de ousadia.

- Diga, e vá fazer seu serviço.

- Eu não encontro o Nate, o senhor sabe onde ele está?

- Siga meu conselho. Deixe aquele cabeça dura em paz. Ele precisa refletir um pouco, e acho que a sua presença no momento não vai ajudar muito. – era outra vez o pai falando com conhecimento de causa do filho, e não o capitão do Black Owl.

Depois do café da manhã o Aaron e o Chad foram colocados numa lancha e deixados em Clyde River, uma aldeia espremida entre as montanhas e o mar; desolada, fria e esquecida do mundo. Eu não os vi partir, cuidava de preparar a ceia de Ação de Graças para aquela noite. E também, por que temia mais confusão.

O Nate só reapareceu durante a ceia. Sentou-se distante da minha mesa e me ignorou. Os homens estavam animados com a surpresa, e pelo fato do Mike ter anunciado durante o jantar que um grande cardume estava a menos de seis horas do barco, com a promessa de uma pescaria farta.

- Ei capitão! Em todos esses anos de mar o senhor se lembra de alguém se preocupar em fazer uma ceia para comemorar este dia? – disse um dos pescadores, erguendo seu copo de vinho.

- É a primeira vez que vejo um taifeiro de navio pesqueiro se preocupando em servir uma refeição distinta numa data comemorativa. – complementou outro.

Eram quatro da manhã quando a sirene tocou avisando que o cardume estava nas redondezas. Todos os tripulantes se dirigiram ao convés e começaram a lançar as redes. Eu acordei sozinho na cabine e resolvi acompanhar o serviço, talvez o Nate estivesse por lá e eu podia tentar conversar com ele. Quando a grua ergueu a primeira rede, pouco antes do alvorecer, ela estava repleta de linguados se debatendo numa massa gigantesca. Os gritos dos pescadores ecoaram por todo o barco e chamavam a atenção de focas e leões-marinhos deitados nos icebergs que flutuavam ao redor. Mandriões e gaivotas sobrevoavam o barco em círculos como se fosse uma coroa, esperando seu quinhão quando as vísceras dos peixes começassem a ser lançadas no mar. Por mais de dezoito horas o trabalho foi incessante, os homens não tinham um minuto de descanso. Eu levava constantemente algo para eles comerem, e só faltava alimentá-los na boca, pois mal tinham tempo de engolir as refeições. Quando aquele cardume começou a se dispersar e já não vinham mais tantos peixes na rede, havia tempo que anoitecera. Aos poucos as últimas tarefas iam sendo realizadas e a tripulação descia para se jogar na cama. Vi o Nate sentado num cordame no convés da proa com o olhar perdido no horizonte. Seria o momento de enfrenta-lo? Estava sofrendo com a indiferença dele e precisava dizer isso a ele.

- Trouxe um chá quente para espantar o frio. – comecei timidamente.

- Não quero conversar. – disse ríspido, sem pegar a caneca da minha mão.

- Sei que está zangado, mas quero que saiba que estou triste por você não conversar comigo. Gosto muito de você e sinto sua falta. – perseverei.

- Qual é a sua? Sente a minha falta mas senta na pica do primeiro que está a fim do seu cuzinho! – desabafou rude.

- Você sabe que eu não fiz isso. É muita grosseria da sua parte me dizer isso. – revidei magoado.

- Você sabia que estava me deixando maluco. Te provoquei para ver se você cedia, mas você se fez de difícil comigo, queria se passar por recatado. No entanto, bastaram aparecer duas rolas para você extravasar a viadice. – continuou, libertando as palavras que trazia travadas na garganta.

- Eu não me fiz de difícil com você nem com ninguém. Apenas me comportei de acordo com meus princípios. – retruquei

- Belos princípios! O que você fez? Se trancou naquela cabine, sem roupa, com dois caras que não escondiam o tesão que sentiam por essa sua bundinha de garotão dos trópicos, e caiu de boca e cu nas picas deles. Sim, por que eu sei que você e aquele cara colocaram as calças às pressas quando me ouviram bater na porta, e o outro filho da puta precisou se enfiar debaixo das cobertas para esconder o caralho empinado. – à medida que ele ia despejando todo aquele rancor a aspereza na voz ia desaparecendo, e a sensação de ter sido traído era o que mais o atormentava.

- Eles me coagiram a aceitar as sevícias resignadamente. Primeiro por que eu não tenho força física para enfrentar um daqueles caras, quanto mais dois. Segundo, por que eu não queria protagonizar mais um escândalo, seu pai apenas me tolera nesse navio por não ter encontrado ninguém mais apto. Eu estou sozinho aqui, não tenho dinheiro, preciso desse emprego para me manter, não tenho para onde voltar, e me vejo obrigado a me submeter aos desmandos dos outros, aos seus caprichos e até à sua maldade, tudo para conseguir seguir em frente. Aqueles caras sabiam disso, e se valeram da minha vulnerabilidade para conseguir o que queriam. Ou você acha que eu cedi por que tinha algum interesse neles? Se pensou assim, eu te garanto que não sabe nada a meu respeito. – com as últimas frases também quis sair o choro, mas eu não ia dar esse prazer a ele. Já me sentia humilhado demais para expor minhas fraquezas tão abertamente.

- É um belo discurso, mas muda pouco a situação. – retorquiu secamente.

- OK! Você é quem sabe. Boa noite, Nate.

Os soluços convulsivos explodiram quando me deitei e agarrei o travesseiro. O que eu estava fazendo de errado para que as pessoas me tratassem com tanta frivolidade? E eu, que por uns instantes, ousei pensar que as palavras do Mike para com o filho pudessem ser verdade – VOCÊ ESTÁ MORRENDO DE AMORES POR ELE. Se o Nate estivesse sentindo o mesmo que eu estava sentindo por ele, não seria tão cruel comigo. Há dias que eu vinha percebendo que ele não era apenas um colega de jornada, nem tão pouco um novo amigo, muito menos aquele irmão mais velho que eu tanto desejava, ele era muito mais do que isso, eu havia me apaixonado por ele. Como admitir isso, e mais ainda, como ter coragem de deixa-lo saber disso? Era mais seguro continuar a levar a caneca de leite quente como forma de carinho, e ouvir suas opiniões sobre a vida nas conversas intimistas, no convés, debaixo do céu noturno.

Em meados de dezembro os tanques e as câmaras frigoríficas do Black Owl estavam repletos. Os icebergs representavam uma ameaça a mais durante o retorno, e nossa velocidade mal passava dos dois nós próximo ao círculo polar ártico. O convés amanhecia com uma camada de gelo de quase cinquenta centímetros, e enfiar a cara para fora se tornara uma aventura. Eu continuava só na cabine, ela se tornara meu refúgio depois do trabalho. Até aportarmos eu tinha um teto, depois quem sabe onde teria que ficar. Senti saudades do Nelson. A essas alturas ele já era papai. Seria compreensível se ele me pedisse para procurar outro lugar para ficar. Afinal, a casinha da West Hall Harbour Road era pequena demais para nós quatro. Mas, eu ia passar por lá, conhecer o bebê e felicitá-lo e à Nancy, desejar um Feliz Natal, retribuir a hospitalidade deles.

O Black Owl atracou no cais de Halls Harbour no início da tarde do dia 23 de dezembro com um sol fraco iluminando o gelo que cobria o atracadouro. O descarregamento começaria naquela mesma tarde e só terminaria quando o último peixe tivesse deixado as câmaras frigoríficas. Mas, esse era um serviço para os equipamentos e funcionários da cooperativa que os donos dos navios pesqueiros haviam criado para negociar e vender o pescado, entre eles o Mike. Os tripulantes eram recebidos por algum familiar ou amigo, muito discretamente. Ao contrário da festa que aconteceu na partida, quando muita gente ocupava o cais, a chegada se resumia a um abraço ou um beijo da esposa quando era esta que ia buscar o marido, e logo todos seguiram seu destino. Menos eu.

- Bruno! Você quer que o Nate te deixe em casa? Eu ainda vou ficar um pouco por aqui, preciso tomar algumas providências para o desembarque da carga. – disse o capitão, vendo-me um tanto perdido.

- Se não for um incomodo, eu aceito. Minha bagagem é um pouco pesada para caminhar quatro quilômetros com ela. – respondi, feliz por estar pisando em algo firme e estático, e não sentir mais o chão se movendo debaixo dos meus pés.

O Nate não disse uma única palavra durante o trajeto. Eu dei o endereço a ele quando entrei na caminhonete, e não soube mais o que dizer, por isso também fiquei calado. Junto ao 4173 da West Hall Harbour Road havia uma placa branca e vermelha da Royal lePage com as palavras FOR RENT e um número telefônico. A picape do Nelson não estava estacionada na lateral da casa. Chamei pela Nancy, sem obter resposta. Um casal de idosos que eu já conhecia de vista e, que morava três casas depois, passeava com seus dois Cocker Spaniel. A mulher me disse que eles haviam se mudado há mais ou menos dois meses. Não pode ser, pensei. Há dois meses a Nancy devia estar tendo o bebê.

- O que foi? Não tem ninguém em casa? – perguntou o Nate, com certa impaciência.

- Aquela senhora me disse que eles se mudaram há dois meses, mas não pode ser. – respondi. – Você se importa de me levar até o bar e restaurante, a esposa do meu amigo trabalhava lá antes de ter o bebê, alguém deve ter notícias deles.

- Claro! Sobe aí.

A amiga da Nancy me reconheceu assim que entrei no bar. Veio em minha direção com uma expressão taciturna.

- Não sabia que ainda estava por aqui. – disse ela, com um sorriso velado.

- Chegamos esta tarde no Black Owl. – respondi cumprimentando-a. – Fui até a casa deles e não havia ninguém, você sabe me dizer para onde eles foram?

- Você não soube? A Nancy deu entrada no hospital aqui de Centerville, com sete meses de gestação e uma forte hemorragia. Foi levada de helicóptero até um hospital em Halifax, mas o bebê, um menininho, não sobreviveu, e ela também quase se foi. – revelou ela.

- Não, eu não sabia de nada. Mas onde eles estão agora? – o Nelson devia estar precisando de mim.

- Eles se separaram. Ela voltou para a casa da mãe depois que saiu do hospital, e ele tirou as coisas da casa duas semanas depois e voltou para o Brasil. – ela acompanhava a mudança na expressão do meu rosto enquanto me relatava os fatos. Providencialmente eu estava ao lado de uma banqueta em frente do balcão do bar, precisei me sentar, pois de repente o chão parecia ter sumido debaixo dos meus pés.

- Vou tirar minhas coisas da caminhonete. Não quero prendê-lo mais. – balbuciei zonzo para o Nate.

- Está tudo bem com você? Aonde vai ficar? – questionou.

- Não sei. – consegui articular depois de muito esforço.

- Há uma família que está alugando um quarto da casa, deixaram um aviso, está logo ali na entrada, se você quiser continuar na cidade. – disse a moça.

- Sim. Acho que sim. Preciso mesmo esperar uns dias pelo pagamento. Seu pai me disse que faria o pagamento depois do Natal. – eu falava, mas nem minha mente e nem eu estávamos ali.

Nem sei por quantas horas fiquei ali sentado. As pessoas entravam e saiam e eu continuava ali, perdido e absorto em meus pensamentos. Começava a anoitecer quando resolvi seguir até o endereço que a garçonete me deu. Acertei os detalhes com os donos da casa e me enfiei no quarto. Adormeci sentindo a barriga roncando, havia me esquecido de jantar. Era quase meio dia quando alguém bateu na porta do quarto.

- Tem um senhor lá embaixo querendo lhe falar. – disse a esposa do meu senhorio.

- OK! Já estou descendo, é um instante só. Obrigado!

Sentado na varanda açoitada pelo vento glacial e usando uma grossa jaqueta com capuz revestido de pele, estava o Mike, esfregando as mãos enluvadas.

- Bom dia capitão! O que faz aqui? – inquiri curioso com aquela visita.

- Vim convidá-lo a passar o Natal lá em casa. Minha esposa preparou um jantar, e minha filha e o marido também estarão por lá. A menos que já tenha compromisso. – disse, com um sorriso paternal.

- Não. Não tenho nenhum compromisso. É uma reunião familiar, tem certeza que não vou incomodar?

- Ficaremos felizes em ter você conosco. Quero que conheça meu filho mais novo, ele tem a sua idade. Venho te buscar às 18:00 horas, está bem?

- OK! Estarei esperando. – confirmei. Era um convite, no mínimo, estranho para um sujeito que, algumas semanas atrás, não queria me ver em seu barco por nada nesse mundo.

Eu me sentia tão deprimido e arrasado, que não fiquei perdendo muito tempo tentando encontrar uma resposta. Durante a tarde fiz uma caminhada até a mercearia para comprar uma garrafa de vinho, não queria aparecer na casa do Mike sem alguma coisa nas mãos. Pouco depois das seis da tarde quem tocou a campainha foi o Nate. A família onde eu estava hospedado foi passar o Natal com parentes numa cidade a cerca de duas horas de Halls Harbour.

- Meu pai disse que você iria jantar conosco. – disse, quando abri a porta.

- Foi muito gentil da parte dele me convidar. Espero que não seja nenhum constrangimento. – argumentei, diante de sua indiferença.

- Não, nenhum.

A casa estava envolta num perfume de canela e especiarias que vinha da cozinha. Havia um aroma de Natal por todo lado, das velas acesas sobre o frontão da lareira, da resina do abeto enfeitado com bolinhas e guirlandas douradas próximo à janela da sala e dos nós de pinheiro estalando no fogo acolhedor da lareira. A esposa do Mike me recebeu de avental preso na cintura com um abraço e um beijo amistoso. Agradeceu a delicadeza do meu gesto e disse que o vinho seria o acompanhamento perfeito para seu assado. O irmão do Nate era um sujeito brincalhão e expansivo, parecia a versão jovem do Mike. A filha deles e o marido eram um casal ainda em lua-de-mel, depois de dois anos de casamento.

- Eu soube que você foi o responsável pelos homens não terem perdido nenhum quilo durante esta temporada. – argumentou a esposa do Mike. – toda vez que meu marido volta dessas incursões tenho que ajustar suas calças, pois ele chega a perder uns cinco quilos.

- Me parece que os tripulantes não acharam minha comida de todo ruim, embora eu nunca tenha cozinhado num lugar onde, nem as panelas e nem o que estava dentro delas, queria permanecer no lugar.

- Nem me fale! Eu imagino como deve ser uma cozinha dentro dela banheira sacolejando no mar. – gracejou ela.

Eu percebia o olhar petrificado do Nate sobre mim, mas ele continuava sentado numa poltrona próximo à lareira e não fazia nenhum comentário. Depois de algum tempo ele se levantou e foi até a copa, onde começou a beliscar algumas coisas que já estavam dispostas em pratos enfeitados. A pretexto de dar uma mãozinha para a esposa, o Mike também desapareceu na direção da cozinha. Fiquei um tempinho conversando com a filha e o genro dele, que se mostrou interessado em saber alguma coisa sobre o Brasil. De onde eu estava sentado dava para ver o Mike e o Nate conversando na copa que antecedia a cozinha. Quis ser uma mosca para saber o assunto daquela conversa, que estava deixando o Nate com uma expressão anuviada. Entre o meu papo com o casal dava para ouvir sutilmente alguns trechos da conversa que rolava na copa.

- Não é bom para você ser tão severo e duro em seu julgamento. Mesmo por que, eu vejo que você está sofrendo com isso. – era a voz tranquila do Mike.

- Eu não estou sofrendo. De onde você tirou essa ideia? – retrucou o Nate.

- Você é meu filho e eu te conheço. Eu posso dizer que criei uma série de expectativas quanto a você e seus irmãos, mas nem sempre a vida real é como nós a desejamos. O que também não significa que por isso ela tenha que ser propriamente ruim ou boa, ela apenas é como é. Temos que aceitar algumas coisas e tentar ser feliz com a maneira como a vida nos apresenta essas coisas. O que eu e sua mãe queremos é que vocês sejam pessoas realizadas com as escolhas que fizerem. – a que escolhas ele estaria se referindo?

- Não posso confiar nele. Ademais o que garante que ele se preocupe comigo como eu me preocupo com ele. – retrucou o Nate.

- É essa sua teimosia que te deixa cego. Eu percebi o interesse dele por você muito antes dele próprio se dar conta disso, creio eu. Ou você acha que ao separar uma parte daquilo que os homens devorariam se ele não o fizesse, dizendo isso é para o Nate, não se esqueçam de deixar um pedaço para o Nate, vou pegar esse para o Nate, e assim por diante, acontecia por simples acaso? E quando você estava esmurrando aqueles dois sujeitos, em evidente supremacia e vantagem, e só ele, na aflição de saber que algo de ruim podia te acontecer, não conseguia ver nada além do perigo que você corria, e implorava por socorro, atirando-se cegamente sobre um deles na tentativa de que não te machucassem. O que você acha que foi aquilo, senão a forma dele dizer que você é importante para ele? E o que foi que ele tentou fazer nas semanas seguintes? Apesar da sua cara emburrada, ele tentava de todas as maneiras te mostrar quanto carinho tem para te oferecer.

- Quem garante que não era arrependimento pelo que fez? – questionou a voz cética do Nate.

- Deixe de ser cabeça dura! Enxergue o que está escancarado diante dos teus olhos. Ele não fez nada de errado. Eu me penitencio até agora pelo que ele passou com aqueles sujeitos. Isso não devia ter acontecido, e nós temos culpa disso. – as palavras do Mike eram sofridas e faziam um mea-culpa sincero. – Esse rapaz superou todos os seus limites. Enfrentou os extremos para levar adiante seus planos. Aceitou por necessidade e falta de opção o que muito homem calejado se recusou a fazer. E não fez nada de cara amarrada. Ou você se esqueceu das palavras de ânimo e incentivo que vinham acompanhadas daquela caneca de leite quente, que ele tinha para qualquer um que estivesse esmorecendo. Esse rapaz tem um espírito nobre, intrépido, valente e amoroso. Só um tolo seria capaz de dispensar o carinho de alguém assim. – ele estava falando de mim. Eu nunca pude imaginar que ele tivesse essa visão a meu respeito, me conhecendo tão pouco.

Quando dei por mim, o casal e o irmão caçula do Nate me encaravam pasmos. Eu estava chorando e nem me dei conta disso. As lágrimas desciam pelo meu rosto sem que eu fizesse nada para ampará-las. Eu nem as sentia, só continuava imóvel e com o olhar perdido.

- Oi Bruno! Está tudo bem com você? – era o irmão do Nate, parado ao meu lado sem saber o que fazer.

- Hein? ... Como? Desculpe eu não entendi o que você ... – só então percebi que estava chorando.

- Aconteceu alguma coisa? Podemos te ajudar? – disse a irmã do Nate, vindo também ao meu encontro.

- Posso ir ao banheiro por um instante? – perguntei, vexado e sem uma explicação para aquela cena.

Quando voltei para sala com a cara recomposta por um pouco de água fria, ninguém mencionou o fato, todos agiram como se nada tivesse acontecido. O jantar transcorreu ameno e alegre até bem tarde da noite. Me prontifiquei a ajudar com a louça, e a conversa descontraída continuou na cozinha até a madrugada.

- Você dorme aqui esta noite! – exclamou minha anfitriã. – Vou levar a roupa de cama até o quarto do Nate e vocês se ajeitam por lá. – emendou.

Ele me ofereceu a cama dupla e macia, garantindo que ficaria bem sobre uns edredons esticados sobre o tapete de pele de bisão. Não aceitou minha recusa.

- Quero me desculpar com você! – disse o Nate, depois de nos deitarmos e as luzes da casa terem sido apagadas.

- Desculpar do que?

- Você sabe. Fui injusto com você. Sei que aquilo que aconteceu com você foi culpa minha. – a escuridão parecia facilitar aquilo para ele.

- Eu só quero esquecer que aquilo aconteceu. Não sei se há culpados nessa história. O ser humano se transforma quando está sob pressão ou quando não há nada que imponha limites. – ponderei.

- Pois é, nesse caso eu devia ter sido esse limite. Foi para isso que meu pai me mandou ficar com você. E eu falhei. – ele estava ressentido consigo mesmo.

- Isso não é verdade. Eles souberam se valer de sua ausência.

- Tenho ciúmes de você! – a frase veio depois de um longo silêncio, eu já estava quase pegando no sono.

Qualquer coisa que eu dissesse em resposta seria pouco para o tanto de felicidade que essa revelação me deu. Olhei para o lado, a pouca luminosidade só me permitia ver aquele amontoado de edredons do meu lado, e dentro deles o Nate deitado de costas apoiando a cabeça sobre as duas mãos. Saí da cama e me debrucei sobre o olhar espantado dele. Segurei seu rosto barbudo entre as mãos e colei minha boca na dele lenta e suavemente. Ele passou os braços ao redor do meu corpo e começou a enfiar a língua da minha boca. O gosto dele era úmido e tentador. Eu sentia os pelos do peito dele roçando meus mamilos e não consegui esconder o tesão que estava sentindo. A mão pesada e grande dele acariciava minhas costas, e ia descendo sensualmente até entrar debaixo da minha cueca. Nossas línguas se entrelaçavam e se sorviam numa dança libidinosa. Ele apertou minha nádega e eu senti sua ereção roçando na minha coxa. Deixei os dedos deslizarem pelo pescoço dele e se afundarem nos pelos do peito dele. A ressonância dos batimentos cardíacos dele era palpável na ponta dos meus dedos. Beijei o peito dele exatamente onde estava o coração e, aos poucos fui deixando um rastro de beijos ao longo de sua barriga até o cós da cueca, de onde vinha um cheiro sensual e viril.

- Você sabe como torturar um homem. – balbuciou, enfiando os dedos nos meus cabelos e levando minha cabeça para junto dele.

Enfiei vagarosamente a mão dentro da cueca dele e passeei com os dedos sobre a rola consistente. A reação dela foi imediata e altaneira, fazendo a cabeçorra arroxeada sair da cueca. Eu a lambi mansamente, sentindo o gosto ligeiramente salgado do líquido que brotava da sua uretra. Um gemido brotou do fundo do peito dele, longo e prazeroso. Ele baixou a própria cueca dando espaço para aquele cacetão se expandir sem restrições. Ele me pareceu ainda maior a essa curta distância do meu rosto. Apesar da pouca luz e do púbis peludo, eu conseguia distinguir os contornos do sacão dele, e o achei lindo e másculo. Acariciei-o sem nenhuma reserva ou pudor, fazendo com que as bolas se movessem dentro daquele pacote globoso. O Nate segurou o pau e começou a esfrega-lo no meu rosto, me provocando com seu cheiro único e voluptuoso. Meus lábios se fecharam ao redor daquele colosso impávido, e eu comecei a chupar o néctar que não parava de minar. Sorvia dedicadamente cada gota daquele sumo prodigioso, ouvindo o arfar pesado e carnal do Nate.

- Nada que eu tenha provado é mais gostoso do que o seu sabor. – sussurrei.

Ele me agarrou e girou o corpo dele sobre o meu. Parecia que eu havia despertado uma fera. Os beijos que ele começou a me dar não eram mais contidos e censurados, mas lascivos e impudicos. A mão dele não saia das minhas nádegas, que ele apertava como se estivesse amassando papel. A impetuosidade selvagem dele me enchia de desejo. Eu conseguia sentir o tesão dele por mim emanando de sua pele quente. Eu quis ser dele. Minhas entranhas se convulsionavam, e ondas de uma quentura sedenta contraiam meu cu. Ele me virou de bruços e deslizou torturante e provocativamente minha cueca até os pés.

- Abra as pernas e me mostre o que você tem aí para mim. – ordenou, num murmuro que fez seu hálito morno resvalar no meu ouvido.

Eu empinei a bundinha com a marca da sunga bem evidente, imaculadamente branca e lisa, e apartei discretamente as coxas. Mesmo assim ele não conseguiu ver o que queria. O seu alvo ainda estava camuflado pelas nádegas carnudas, nas profundezas do meu rego estreito e apertado. Minha respiração não passava de inspirações e expirações ofegantes e superficiais, como as de um animalzinho assustado. Ela ficou em suspenso quando as mãos dele abriram meu rego, depois dele ter acendido a luz de um abajur, e poder admirar as pregas rosadas formando uma aura em torno do meu cuzinho. Ele deslizou um dos polegares para dentro daquele orifício que o atiçava. Eu soltei um ‘ai’ e um gemido quando me senti invadido. A ponta da língua dele se movia buliçosa sobre as minhas pregas e eu mal conseguia suster meu corpo de tanto desejo. Os pelos da barba dele espetavam minhas nádegas e deixavam umas manchas eritematosas desenhadas na alvura da pele que as cobria.

- Ai Nate! – gemi, exibindo todo meu anseio e meu tesão.

- O que você quer agora? Fala para mim, fala! – gemeu ele, deitando seu corpo pesado sobre o meu enquanto lambia minha nuca.

- Eu quero você! Por favor, eu quero você dentro de mim. – murmurei.

Ele pincelou a rola no meu rego até encontrar o que queria. Apontou a chapeleta contra a entrada do meu cuzinho e começou a forçar. Meu corpo todo tremia incontrolavelmente. O cheiro daquele macho sedento invadia minhas narinas e me alucinava. Temendo que meu grito fosse ouvido nos quartos vizinhos, ele afundou meu rosto nos travesseiros e meteu a pica no meu rabo. Aquilo foi tão abrupto e dolorido que o ganido só conseguiu sair da minha garganta quando o caralhão já estava cravado no meu cu e os meus esfíncteres já tinham se contraído, prendendo o invasor no meu íntimo, como acontece quando um raio ilumina o céu e o trovão só é ouvido depois de algum tempo.

- Não quero te machucar. Então relaxa esse cuzinho e deixa seu macho entrar aí. – gemeu, num sibilo rouco.

Como relaxar se o que quer entrar em você é tão imensamente proporcional ao homenzarrão que quer se satisfazer no seu cu? Por outro lado, como dar o carinho que você guardou todo esse tempo para entregar a ele? Amando-o, amando-o tão ou mais do que a si próprio. Foi assim que eu o deixei colocar todo aquele pau no meu rabo. Ele movia os quadris estocando a verga em mim, até o sacão bater contra as minhas nádegas. Ele me preencheu com seu desejo e sua voracidade, até me fazer gozar. Eu gemia convulsivamente, sentindo o vaivém daquele membro latejante, me possuindo de maneira primitiva e obstinada. A mucosa do meu ânus já estava em brasa quando ele saiu de dentro de mim. A seguir, me virou de costas e abriu minhas pernas. Tornou a meter no meu cuzinho e eu o envolvi com os braços ao redor de tronco. Eu queria segurá-lo, apertá-lo, senti-lo junto a mim, como se não sentir sua pele contra a minha fosse quebrar aquele conjunto que se transformara num corpo único. Nos beijamos durante muito tempo, sem desgrudar nossas bocas, enquanto ele me penetrava e eu erguia meus quadris de encontro a sua pelve que se movia cadencadamente. Precisava ter a certeza de que ele estava entranhado e protegido lá no fundo, onde ninguém o tiraria de mim. Pouco depois de sentir o cacetão se avolumar entre as minhas pernas, ele esporrou marcando seu território. Eu conseguia sentir a umidade se esparramando no meu íntimo e não consegui conter as lágrimas de felicidade. Ele tirou a pica do meu cu e continuou a despejar seu néctar másculo sobre o meu peito. Os jatos esbranquiçados e cremosos caiam sobre meus peitinhos, e ele os esfregava nos meus mamilos. Me encarava com seu olhar penetrante, satisfeito e realizado. Depois, levou os dedos lambuzados de esperma para os meus lábios, assistindo deleitado eu chupar sua seiva máscula com todo o meu carinho. Acariciei seu rosto, percorrendo com a ponta dos dedos cada estrutura que o compunha, mesmo com os olhos vendados eu seria capaz de reconhecê-lo. Ele agora estava gravado para sempre na minha memória. Eu estava quase pegando no sono, com a cabeça deitada sobre o ombro dele, quando ele me pegou no colo e me deitou na cama. Enfiou-se, também nu, debaixo dos edredons e eu adormeci sentindo a respiração morna dele no meu pescoço, e o braço musculoso envolvendo minha cintura. O que eu sentia na bundinha eram os pelos da sua virilha, que roçavam minha pele querendo me ninar.

O dia de Natal amanheceu com um sol radiante refletindo na neve branca que caíra abundante durante a noite. Fiquei um bocado de tempo admirando o Nate dormindo. Esse foi um prazer novo que eu não conhecia. Quanto mais eu olhava para cada detalhe de seu corpo, mais eu me apaixonava por ele.

- Bela paisagem! – eu disse, quando ele começou a se mexer e abriu os olhos.

- Linda imagem, Bruno! – exclamou ele, acariciando meu rosto com a mesma mão que acabara de coçar suas bolas e alisar o pinto priápico. – Você não imagina quantas vezes eu sonhei com esta cena, acordar ao lado do seu corpo nu depois dele ter sido todinho meu, e ver esse sorriso no seu rosto. E todas às vezes eu acordei assim. – continuou, levantando o edredom e exibindo a verga dura. Antes que eu pudesse fazer qualquer comentário, ele estava em cima de mim, fervendo de tesão, apossando-se do meu cuzinho, apoderando-se do que lhe pertencia.

- O Nate me disse que você morava com uns amigos na casa dos Blake. – disse o Mike durante o café da manhã. – Mas, que eles se mudaram e a casa está para alugar.

- Não sei de quem é a casa. Mas, sim. Quando vim do Brasil fiquei lá, com um amigo e sua namorada, até o dia nossa partida. Eles eram as únicas pessoas que eu conhecia por aqui. – revelei.

- E o que pretende fazer quando receber seu pagamento? Se você não se importa de nos contar. – perguntou interessado. – Talvez queira encarar mais uma temporada no Black Owl, a de verão? – emendou, com um sorriso desafiador.

- Não sei ao certo. Fui pego tão de surpresa com a notícia de que o Nelson regressou ao Brasil, que nem tive tempo de pensar no assunto. – esclareci, ao mesmo tempo em que me dei conta que precisava tomar uma decisão. Outra decisão difícil da qual dependia todo meu futuro. – Talvez também volte de onde sai.

- Quero que saiba que vou me sentir lisonjeado se você resolver encarar outra temporada a bordo do meu barco. – confessou. – E se você quiser ficar, posso conversar com o velho Blake para que te alugue a casa por um bom preço. Eles não dependem desse dinheiro para sobreviver.

- Obrigado, capitão. Mas não sei se conseguiria me manter por aqui.

- Bem! Aqui não existe mais o capitão, e sim o amigo Mike, para te ajudar no que for possível. Também quero te dizer que você terá os mesmos quatro por cento dos outros tripulantes, você fez jus a cada centavo.

- Muito, muito obrigado. Sou muito grato por tudo que estão fazendo por mim. E, eu também os considero meus amigos. – disse, emocionado.

- Você já falou dos seus planos para ele, Nate? – interveio a mãe.

- Não! Queria contar esta tarde, quando pretendo leva-lo até Centerville. – revelou o Nate, contrariado pela quebra da surpresa.

- Oh, querido! Desculpe, não pensei que estivesse fazendo uma surpresa para o Bruno. – desculpou-se constrangida, sem que eu estivesse entendendo o que se passava.

- Bem! Então nos deem licença. Vamos fazer uma caminhada para aproveitar o sol lindo que está lá fora. Voltamos para o almoço! – sentenciou o Nate.

Durante a caminhada ele me revelou o que eu já tinha percebido, que ele detestava essa vida sobressaltada a bordo de um navio pesqueiro. Só o fazia quando o pai não conseguia gente suficiente, ou capacitada, para tocar o serviço. Que seu desejo era trabalhar com o forte turismo de verão, quando Halls Harbour era invadida por milhares de turistas durante a temporada. Que já tinha um esboço do que pretendia fazer, e que daria inicio ao projeto logo depois das comemorações de final de ano, pois restariam poucos meses para que tudo estivesse pronto no verão. A empolgação e o entusiasmo dele me contagiavam à medida que ele detalhava sua ideia. Caminhávamos ao longo da costa rochosa tendo a superfície das águas da Baía Fundy aplainadas pelo vento frio. Nós nem o percebíamos, estávamos aquecidos por aquela cumplicidade que se alojara em nossos corações e, que agora unia nossas almas.

- Quero você do meu lado. Sei que esse não é o melhor lugar do mundo para se viver, mas eu prometo que vou te fazer feliz. Fica comigo? – os olhos dele brilhavam quando me encostou contra uma das paredes de madeira do farol Cape George, e me beijou segurando meu rosto em suas mãos.

- O melhor lugar do mundo para mim é onde você está. Eu te amo, Nate! Te amo desde o primeiro dia que te vi. – minha voz saiu embargada pela emoção, mas decidida e firme.

- Eu também te amo, Bruno. E quero você só para mim. – a voz envolvente e protetora dele fazia meu corpo vibrar como uma corda de violão.

Hoje completa um mês que o Nate e eu estamos morando na casinha branca de telhado acinzentado que alugamos dos Blake. Ela está acolhedoramente decorada. Tornei a receber mais um e-mail do Nelson, em retorno aos que eu lhe havia enviado, contando que suas aulas na faculdade de engenharia começam amanhã. Desde que apresentei o Nate para ele numa de nossas conversas no Skype, ele se refere a ele como ‘jambrão’, numa nítida alusão à decepção que sentiu ao saber que eu estava dando meu carinho para alguém que não ele. No fundo eu sei que ele está feliz por eu estar bem e seguro, que sua implicância não passa de um capricho de macho. O mesmo capricho que faz com que o Nate me questione por que vivo teclando ou conversando com ‘aquele seu amiguinho brasileiro’. Eu costumo rir da situação, e dizer que eles são os responsáveis pela felicidade que sinto hoje.

- Então deixe de teclar e vem cá, vem. Tem alguém aqui também precisando da sua atenção e querendo ser feliz. – está me dizendo o Nate, mexendo na pica e me encarando com aquela cara safada de quem vai me penetrar até eu pedir arrego.

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Comentários

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como já aconteceu ao ler outros de seus contos, fiquei imaginando este se transformando em filme. Seria top demais.

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Valeu! Obrigado pelo comentário! Abraço!

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Lindo conto! Suas histórias são literalmente uma viagem pelo mundo hahaha

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Amo suas histórias, a unica parte que me decepciona um pouco e que vc sempre se desfaz das mulheres para parecer q o menino e muito melhor, eu nao acho q tenha nescessidase disso , mas sao suas historias ne .

Mesmo assim sao muito bem escritas e eu amo le-las

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Oi Fênix 34! A questão não é se desfazer das mulheres, elas costumam ter um papel preponderante na social dos gays; no geral, são as melhores amigas deles. No entanto, elas também são muitas vezes as grandes vilãs dos relacionamentos entre gays, especialmente quando o gay está envolvido com um cara hétero ou bissexual, parece que não aceitam a concorrência! Valeu pelo comentário! Abraço!

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As reviravoltas são sempre o melhor nas histórias do kherr! Vc pensa q o menino ia ficar com aquele homem mas no final ele fica com outro!Eu pensava q ele ia ficar com o capitão!

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Eu tb tive essa impressão nas primeiras mudanças que o capitão demonstrou. hehehehehehe

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Suas histórias são primorosas!!! Parabéns, chéri!

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Magnifico! Rico! Obra de arte! Os detalhes são tão minuciosos que se desenrolam como um poema! Adorei, cara! Parabéns!

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Cara, to apaixonado aqui com esse conto, você escreve muito bem, e a leitura é sem duvidas sublime, não pare não rapaz, hahah, meus parabéns pra ti, muito bom, beijão 😘

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Maravilhoso !!! Por favor não deixa de escreve tu é um talento fora de série...Te Amo beijos

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Pois é Jader Scrind, os cenários dos meus contos são resultado das minhas viagens. Toda vez que conheço um lugar novo, tenho por hábito observar atentamente como é a luminosidade, os cheiros, as pessoas, a atmosfera e até o meu estado d espírito no momento, além é claro da paisagem. Com isso eu vivo o lugar e, muitas vezes me vejo imaginando uma história se desenrolando naquele lugar.

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Voce descreve tao bem os cenários dos seus contos que te ler é como viajar para esses lugares incríveis, parabens cara

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Gostei bastante da história. De início pensei que ele ficaria com Nelson e já tinha me "afeiçoado" a ele. rsrsrs Mas aí quando o Nate entrou no páreo, vi que o negócio ia descambar pra outro lado. De qualquer forma foi lindo e bastante significativo o que eles tiveram. Estavam necessitando naquele momento. Só achei meio tosco ele ir embora assim, sem se despedir do amigo. Quanto ao Nate, é um personagem bastante carismático e acho que deveria ter sido mais explorado na história. Creio que ele tenha ficado um pouco coadjuvante nessa história, apesar de tudo. Mas é isso: você como sempre detonando. Abraços

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Vc é com certeza um dos poucos escritores q conseguem me envolver em uma história tão surpreendente e emocionante...... Estou quase terminando d ler todos os seus contos, e a cada palavra vc consegue me envolver mais e mais nos personagens, no tempo e espaço do enredo da história..... Bjs e ate o próximo conto <3

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Nossa parabéns história linda, reviravolta emocionante conto perfeito o tamanho foi o máximo e não poupou esforços para os detalhes estou admirado com vc está mais que parabens isso foi espetacular

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Oi Marceloveloz! Não fique bravo com o Nelson não.....eheheheh.....não se esqueça que tudo rolou com o consentimento do Bruno. Esse foi um daqueles momentos em que ambos precisavam se sentir queridos, os dois sabiam que não era amor o que sentiam um pelo outro, mas uma amizade profunda. Um encontrou essa afeição no gesto do outro, o importante é que com isso os se sentiram mais confiantes e seguros. O amor tem muitas facetas, nenhuma menos importante que a outra, e foi uma dessas que eles vivenciaram.

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O privilégio de ter meus contos comentados por você é meu Plutão. Fico contente de que tenha gostado deste também. Abração carinhoso para ti também!!

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