Escrito em Azul

Um conto erótico de Gatinha 007
Categoria: Homossexual
Contém 2180 palavras
Data: 14/05/2015 12:20:54

Escrito em Azul – parte 1

(A jornada é importante, não apenas o destino.)

Prólogo

2008

I

Anna Luíza Garcia ou apenas Anna-Lú, como gostava de ser chamada, odiava ter que assistir a determinadas palestras, odiava ter que ficar sentada por horas, e principalmente, odiava os palestrantes, que não se davam ao trabalho de estudar o mínimo de oratória, já estava em seu penúltimo ano da faculdade de publicidade e ainda não havia conseguido acostumar-se com isso, achava um desperdício de tempo e desde muito cedo aprendera que “tempo é dinheiro” como era rotina ouvir de seu pai, porém era o ciclo de palestras interdisciplinares e por consequência, obrigatório, então, teve que participar da palestra apresentada pela turma de psicologia.

Pratique o Amor era o tema. Ninguém merece – pensou Anna-Lú. Afinal, porque ter que assistir a palestras sentimentalistas? Em quê isso era relevante? – era o que resmungava em seu pensamento. Tudo que queria era não estar ali, tudo naquele auditório a enfadava, as pessoas procurando coisas em suas bolsas e mochilas, o burburinho das conversas e até o pressionar das teclas nos notebooks de alguns alunos, definitivamente o dia não havia começado muito bem. Deveria ter voltado para cama assim que perdera o ônibus e atrasou-se por 20 minutos, é deveria ter voltado para casa – resmungou para si mesma – não gostava nenhum pouco de todos os olhares voltados pra ela – isso que dá chegar atrasada. Os alunos de psicologia já estavam ali em uma espécie de circulo, todos iguaizinhos, vestindo um uniforme cor de... Que cor é aquela? De vômito? – Anna-Lú, perguntou-se. Poderiam ter escolhido uma cor mais alegrinha.

A palestra iniciou e ela não estava tão disposta a ouvir, então começou a ler: “Quem nunca pensou em fazer uma listinha com as qualidades que espera encontrar no ser amado? Há quem faça listas com tantas qualidades que o ser desejado mais parece com Jesus” – dizia à cartilha que ela recebera quando entrou no auditório. Isso é ridículo, eu nunca fiz isso! – pensou Anna-Lú. Depois, baixinho, acrescentou – que saco!

Teria parado de ler se algumas linhas em azul não tivessem chamado sua atenção: “Amor verdadeiro...” – dizia o texto. “... é aquele onde duas pessoas se amam independente das situações e problemas que possam viver; é aquele onde nada abala e que resiste a qualquer dificuldade, é aquele em que o casal se une nos momentos difíceis e celebra todos os momentos alegres juntos.” Amor verdadeiro é um tema muito discutido, muitas pessoas duvidam se ele realmente existe. Eu estou nesta estatística – pensou, rindo de si mesma. Amor verdadeiro, que bobagem – pensou ela.

A muito Anna-Lú deixara de acreditar no amor, porém aquelas palavras escritas em azul perduraram em sua mente todo restante da palestra. A palestra terminou, mas ainda teria que passar na odiosa sala do professor “carrasco” como era “carinhosamente” conhecido pelos alunos, fama fácil de referir já que era muito exigente. Na verdade muito arrogante, gorducho, imbecil e desalmado na opinião de Anna-Lú, de qualquer jeito teria que enfrentar a fera, que além de professor tinha os melhores contatos com as maiores empresas de publicidade e esta era sua grande chance, que custou a ela muitas noites mal dormidas estudando, mas que agora só estava apenas a alguns passos. Uma carta de recomendação de seu “melhor professor” e uma entrevista que o mesmo conseguia para os melhores alunos, já estava tudo acertado só teria que pegar a carta com ele.

– Aff! Aquela palestra foi mais longa do que deveria – bufou olhando para o relógio de pulso e começando a correr pelos corredores. Para Anna-Lú o dia não melhorou quando chegou à sala do detestável professor, afinal atrasou-se cinco minutos o que já era um desastre e quando ia bater na porta e pedir permissão para entrar, eis que surge das profundezas do calabouço nada mais que sua atual ficante e segunda melhor aluna da turma, a principio Anna-Lú não achou estranho e cumprimentou-a com um oi, que foi respondido com um sorriso um tanto malicioso na percepção de Anna-Lú, porém já havia se demorado demais o que é impensável para o odioso professor. Então, respirou fundo e entrou na sala, foi recebida pelo olhar fuzilante do professor para logo em seguida dizê-la com desdém – atrasada como sempre, não é mesmo senhorita Garcia?! Anna-Lú tentou responder, mas ele a cortou sendo incisivo – Bem senhorita Garcia, já sabemos por que a senhorita está aqui, portanto, serei breve, devo dizer-lhe que a vaga já foi preenchida.

– Mas, mas... O senhor disse que... – tentou falar e foi novamente interrompida – Eu sei o que eu disse menina, mudei de ideia, simples assim, digamos que sua colega foi bem mais pró-eficiente (hehehe) se é que você me entende, mas nós podemos resolver isso se você quiser. – Sugeriu o professor com um sorrisinho horrendo do qual Anna-Lú detestou. – Nunca seu porco imundo, eu tenho nojo de caras como você! – foi o que mentalmente teve vontade de responder. Não, obrigada – foi o que Anna-Lú conseguiu dizer antes de sair o mais rápido que pode batendo a porta atrás de si.

Era impensável para Anna-Lú que Rafaella fosse capaz de descer tão baixo, principalmente chegando a esse ponto, mais do quê decepcionada Anna-Lú estava horrorizada, tudo bem que de alguma forma ela sempre achara que Rafaella nutria certo ciúme por ela ser a primeira aluna da classe e indiretamente competia com Anna-Lú em tudo, por outro lado Anna-Lú havia deixado essas impressões de lado quando começou a ficar com Rafaella há uns três meses atrás. Mas que filha da p... – pensou Anna-Lú muito indignada.

– O que foi que houve Lú? É sério o que aquela vaca acabou de proclamar ali pra todo mundo? – questionou Marina incrédula, logo que encontrou a amiga chegando ao pátio da universidade. É totalmente verdade Mari e por falar nisso, acho que eu tenho que esganar alguém, eu quero torcer o pescoço dela com toda raiva que estou sentindo – falou Anna-Lú com o semblante revoltado, um olhar cheio de furor e já indo em direção aonde Renata festejava.

– Pode ir parando aqui mesmo senhorita Anna Luiza Garcia! – puxou-a Marina impedindo que prosseguisse. Anna-Lú enrijeceu-se completamente e parou de imediato, odiava que a chamassem pelo nome completo e Marina sabia disso mais do quê ninguém, na verdade era a única pessoa naquela universidade e talvez até daquela cidade, diria Anna-Lú, que realmente a conhecia e com o qual ela sempre poderia contar, e por isso chama-la assim era um artificio que comumente dava certo.

– Tá doida?! Não vale a pena Lú! Vem comigo, vamos sair daqui – disse Mariana puxando Anna-Lú em direção à saída. Muito contrariada Anna-Lú seguiu Marina – Fica calma, está bem! – tentou amenizar o ânimo alterado da amiga.

– Você devia ter deixado que eu socasse a cara dela, aí sim estaria me sentindo bem! Melhor ainda! Você deveria ter socado a cara dela junto comigo hein! – exclamou Anna-Lú gesticulando socos no ar e como se tivesse feito uma descoberta extraordinária. – Saiba que vontade não me faltou não é Lú?! Mas não sou adepta da violência, prefiro evitar a fadiga – rebateu Marina em tom de brincadeira o que fez as duas soltarem altas gargalhadas e só aí Anna-Lú sentiu-se mais calma. Era sempre assim, Anna-Lú não tinha uma lembrança, sequer desde que conhecera Marina, com qual situações totalmente aborrecidas terminavam em grandes risadas.

Deixaram o prédio da universidade e caminhavam sorridentes em direção ao ponto de ônibus no meio do trajeto e em meio às risadas Anna-Lú acabou distraindo-se e sem querer esbarrou derrubando alguma coisa, ou melhor, alguém que ficou muito irritado por sinal.

– Ô garota, não olha por onde anda não?! – bufou uma jovem bastante enfurecida e Anna-Lú imediatamente postou-se a juntar os objetos caídos pelo chão, abaixou e levantou encarando a outra sem desviar os olhos dos dela em uma espécie de hipnose momentânea.

– Desculpe! – disse Anna-Lú num sussurro audível para ambas. – Vê se fica mais atenta andando por aí menina – respondeu a moça ríspida e virou-se caminhando em passadas fortes e com cara de poucos amigos.

– Eu hein, parece até que vai pra uma guerra marchando desse jeito só falta um fuzil, se bem que pra você nem tanto, porque já te fuzilou só com o olhar não é Lú?! Já você, quase a comeu com os olhos (hahaha), cheguei a pensar que você iria pedir pra que ela escrevesse o número de telefone na sua camiseta – zombou Marina da amiga.

– Besta – rebateu Anna-Lú dando um leve escorão em Marina. Foi nessa pequena brincadeira que repararam na praça do outro lado e decidiram atravessar a rua e caminhar um pouco, pois com a correria de todos os dias quase nunca paravam para apreciar a beleza do lugar que era bastante arborizado na verdade e muito grande em extensão, para uma praça apenas, foi o que primeiramente Anna-Lú pôde notar, mas sem perder o ar moderninho e organizado, e mantendo é claro suas características principais, como o ajardinamento sem grades, plantas ornamentais, córregos, pontes, bancos, caramanchões, chafariz e coretos de ferro. Depois de um tempo as duas amigas se encontravam apoiadas no parapeito de uma das pontes olhavam o caminho do córrego logo abaixo, cada uma perdida em seu próprio pensamento, observavam absortas os encantos do local, era um dia luminoso e num acordo mudo e mutuo não falaram mais sobre o ocorrido na universidade para ambas era um assunto que não precisava mais de palavras.

– Olá! Nalú! – ouviu Anna-Lú bem perto de si. Um calafrio percorreu sua coluna arrepiando-a inteira, há muito não era chamada assim, tampouco esperava ouvir aquela voz novamente sentiu-se tomada por uma sensação de déjà vu, foi preciso Marina dar um leve escorão na amiga que simplesmente havia ficado estática, para só então esta voltar a si e virar-se para contemplar a dona da voz tão desconcertante, finalmente Anna-Lú pôde soltar o ar que estava preso nos pulmões e quase não teve voz para responder, não esperava vê-la, muito menos acompanhada.

– Olá Fernanda, e Gustavo – disse pausadamente Anna-Lú para o casal perfeito bem na sua frente. – Que coincidência Nalú, é muito bom te ver, não é amor? – falou Gustavo primeiro para Anna-Lú e depois para a esposa.

– É sim – respondeu Fernanda monossilábica e um tanto desconfortável na percepção de Marina que logo se adiantou em apresentar-se e com isso dissipou um pouco da nuvem densa que havia se instaurado.

– Muito prazer! – respondeu Fernanda finalmente, desviando o olhar que parecia ter aprisionado Anna-Lú. Intimamente Fernanda corrompia um desejo de não ouvir aquilo que por muito tempo a aterrorizava, a cena imaginária sempre se repetia em sua cabeça fazendo o estomago embrulhar de agonia e o seu cérebro se encher de sangue, procurou nos gestos e na expressão de Anna-Lú algo que denunciasse o iminente instante que sempre quis evitar. O dia em que veria Anna-Lú feliz e com outra ao invés dela, sentiu seu rosto queimar e seu corpo tencionou, e de repente tudo pareceu girar em câmera lenta, as árvores ao seu redor se tornando apenas um borrão, enquanto esperava os intermináveis segundos que Anna-Lú levou para devidamente apresentar sua tão-somente amiga.

– Como eu dizia, esses são Gustavo e Fernanda antigos amigos de colégio – disse Anna-Lú os apresentando para a amiga e depois apontando para Marina continuou – E esta é a Mari, minha melhor amiga na universidade, quase irmã, posso dizer. Seria demasiado embaraçoso continuar ali fingindo que estar contente com aquele reencontro casual, ainda era doloroso para Anna-Lú ver Fernanda casada, a brisa que soprava só alimentava a sensação de um frio desconfortável, sentia o ar esquentar os pulmões como se estivesse com uma febre interna, era o que Anna-Lú realmente estava sentindo, fato que logo foi percebido por Marina e esta por sua vez, não hesitou em livrar a amiga daquele acanhamento, seja lá qual fosse, olhou para a amiga, que forçava um pequeno sorriso, e depois par o relógio de pulso.

– Então, o prazer é meu em conhecer vocês, mas agora temos que ir, nós ficamos distraídas demais com a belíssima praça e já estamos atrasadas para um compromisso – falou Marina cumprimentando o casal com um aperto de mão, gesto que foi roboticamente seguido por Anna-Lú. – Foi bom ver vocês, até qualquer dia – despediu-se deles e virou rapidamente para sair dali o mais depressa possível. Sentiu uma gota escoar-se de seu olho direito sem ao menos saber exatamente porque, era a consequência de seu olhar marejado. Seguiram pela rua ao longo da praça no sentido oposto em que Gustavo e Fernanda adotaram. Cruzaram a faixa de pedestres para logo subirem em um ônibus, Anna-Lú sentou encarando pela janela o mundo de prédios que surgiam e iam sendo deixados para trás conforme o veiculo seguia seu curso.

– E então, quer me contar o que foi aquilo?! – perguntou Marina.

– Um dia... Um dia desse conto pra você, pode ter certeza – respondeu Anna-Lú ainda com olhar distante. Em seguida virou-se para a amiga com um olhar cumplice, mas ainda triste disse – Obrigada – Marina assentiu e prosseguiu.

– E o plano agora?

– Recorrer ao meu pai, fazer o quê – respondeu Anna-Lú dando de ombros.

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Bom pessoas...curtam se puderem

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Comentários

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Amei o Titulo. A historia foi ainda melhor. ^^

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Comecei a acompanhar agora e ja estou presa no seu conto de novo rsrs perfeito*.*

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Sou uma leitora assídua,e pode ter certeza que li o texto com muito gosto.

Parabéns.

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Fantástico! Escrita maravilhosa e sem pressa. Muito bom mesmo :D

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Espetacular!!! Vc tem o dom da escrita meu anjo

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