Amor de Oficina - Parte XVII

Um conto erótico de Nando
Categoria: Homossexual
Contém 1348 palavras
Data: 15/04/2015 00:31:46

Vocês podem estar pensando: Sério? Como assim? Podem julgar que é impossível isso acontecer! E é. Mas eu só descobri isso um bom tempo depois. O que é importante, é que naquele momento, era possível.

Na primeira semana ainda ficava aquele resquício de sensação de desconfiança. Mas naquele momento, tanto eu quanto ele éramos livros abertos. Ele sabia tudo sobre mim e eu tudo sobre ele. É claro, ele não sabia do meu pequeno e irrelevante segredo...

Isso era muito bom. Essa sinergia que rolava entre eu e Nick... Não tenho nem palavras para descrever. Era tudo o que eu sempre quis para mim, e agora eu tinha.

É claro, a gente sempre fazia de tudo para manter as coisas acima de qualquer suspeita. Nick e nem eu queríamos que as pessoas soubessem que nós estávamos namorando.

Por ser uma faculdade de engenharia, e além disso uma cidade relativamente pequena e conservadora, a população local não via com bons olhos os gays da cidade. Além do mais, Nick morava em uma rep masculina, e as pessoas da rep não deixariam ele morar lá.

Cerca de um mês e meio havia se passado do ocorrido. Nesse tempo eu aprendi uma coisa: a melhor maneira de mentir, é contar a verdade sempre. Mas contar da maneira certa.

Não entendeu? Vou explicar:

Eu e Nick sempre estávamos juntos. Sempre mesmo. Não 24 horas por dia, mas a gente se via todo dia, ou quase todos. Mas a gente ia sempre para bares juntos, para o DA junto, ficávamos na oficina juntos.

A zueira não perdoa. As pessoas sempre ficavam zuando que eu e Nick estávamos em uma relação homoafetiva. A gente tinha duas opções:

1. A gente ficava puto, brigava com meio mundo e aumentava as suspeitas.

2. Entrava na brincadeira.

Entramos na brincadeira. As pessoas falavam:

- Porra Nick, ta comendo o Nando? – Resposta do Nick:

- Dia sim, dia não. Mas não fica com ciúmes, tem Nick para todos! – As pessoas zuavam,

riam. Mas o mais importante, não desconfiavam. Mas não só por causa disso. Nesse ponto entra a parte mais bem coordenada da nossa relação: as garotas.

Como todo bom universitário hetero macho comedor, a gente tinha que pegar as meninas. Toda festa, a gente traçava um plano. A gente via quem estava mais afim da gente, começava a conversar um tempo antes e na festa era só o abate. As vezes acontecia de dar errado ou outra menina surgir... Nada que interferisse no plano maior.

Vocês podem (e eu tenho certeza que sim) que estão desaprovando minhas atitudes. Viver escondido, pensando sempre nos outros... Isso é uma coisa que os gays já assumidos desaprovam. “Viva para você” eles dizem.

Pode até ser que estejam certos. Mas... nesse ponto na minha vida não fazia a mínima diferença. EU tenho até a impressão que isso nos juntou muito mais do que se nós tivéssemos nos assumido para o mundo. O proibido é mais gostoso e vocês sabem disso.

Então, para quem mete o pau nas minhas atitudes nos comentários (sim, eu leio todos), #bjs #recalque.

Mas eu estou aqui para contar uma história.

Era algum feriado prolongado que eu não me recordo. Eu ia voltar para minha cidade pela primeira vez desde a minha briga com Théo. EU estava apreensivo. Nick sabia disso. Ele foi supercarinhoso comigo nos dias que antecederam. Um amor de pessoa.

Logo na quarta eu já não tinha mais aula pela tarde. Quinta já era o feriado. Encontrei Nick “por coincidência” na praça, perto do César Burguer, uma lanchonete muito gostosa da cidade. Recomendo.

Despedimos como bons amigos e eu fui embora. Na hora que eu cheguei na minha cidade minhas mãos suavam.

Marina (lembra dela?) sabia que eu ia para lá. Nick com a contragosto permitiu que eu visse ela. EU não queria. Não mesmo. Mas meus “amigos” ficaram me enchendo o saco... Era um mal necessário.

Ela me chamara para uma festinha na casa dela. Não havia como negar presença. Mas havia um problema, Théo certamente estaria lá. Eu não queria ir por conta disso... Mas não tinha como eu não. Até por que eu e Théo ainda eramos amigos.

Tomei um banho, conversei com meus pais coisas aleatórias. Faculdade, baja... Normal. Contei até de algumas meninas e fui para a festa.

Cheguei lá e já tava bombando. Encontrei alguns conhecidos meus. Joguei um par de conversa fora com eles. Só zueira. Bebi uma cerveja, uma cachaça e mais cerveja. Fiquei atento o tempo inteiro para ver o Théo.

Encontrei com Marina bem antes de encontrar o Théo. Peguei ela. Agora que eu já havia marcado presença, eu podia ir embora. Mas não fui. Fiquei lá, só esperando o Théo chegar e fazer alguma merda. Normal.

Ele não chegou. Fiquei chateado com isso, mas reconheço que no fim foi muito melhor ele não ter chego. Assim eu conversei com outras pessoas, brinquei com alguns conhecidos que estavam virando meus amigos.

Assim que sai da festa liguei para o Nick.

- Acabei de sair da festa.

- E...? Como foi?

- Eu fiquei com Marina. A gente não transou, mas ela quer que eu vá no cinema com ela amanhã. Mas não vou... Romântico demais...

- Só isso? Nada de mais aconteceu?

- Ãnh... Théo não foi, se é o que você quer saber.

- GRAÇAS AO BOM PAI TODO PODEROSO SENHOR DE TODO O UNIVERSO – Depois de uma declaração dessas eu só pude rir né.

Eu e Nick ainda ficamos conversando por um bom tempo. Falando asneira no telefone. Eu meio bêbado, ele, pelo visto, também. Eu ria, gargalhava alto dentro do meu carro, na porta da minha casa.

Nessa hora eu esqueci de toda a minha vida. A única coisa que importava era o Nick, do outro lado da vida. Esqueci que minha mãe me mataria se descobrisse que eu era gay. Que Théo morava duas ruas para baixo da minha casa. Que eu tava fudido em calculo 1 na facul...

Quando eu percebi, a aurora de um nascer de um novo dia já estava no céu. Olhei aquela cena linda do nascer de um novo dia, e percebi que há muito tempo não havia essa distinta cena.

- O dia está nascendo já... – Falei, sem pensar, com a voz calma.

- Isso é algum problema?

- Nenhum. Mas... Quando eu estou com você o tempo não segue um padrão linear de deslocamento... É algo exponencial...

- Essa é a maneira mais fofa de falar que o tempo passa rápido comigo que já me falaram... – Eu ri.

Eu e Nick ficamos em silencio. De uma estranha maneira eu podia sentir a presença dele ali comigo. E eu tenho certeza que ele sentia o mesmo, seja lá onde ele estivesse...

“Quem foi que disse que pra ta junto precisa ta perto?”

- Eu te amo, Nando – Ele falou. Passou um filme na minha cabeça. De todos os olhares que nós trocamos, todas as noites acordados juntos, todas as horas de projeto... Percebi que também amava ele.

- Eu te amo, Nick...

- E agora o que eu vou fazer? Se os seus lábios ainda estão molhando os lábios meus? – Nick começou a cantar a musica “N” do Nando Reis [https://www.youtube.com/watch?v=nHAd7hKdGnA].

Cantei junto com ele. Era uma das minhas musicas favoritas do Nando Reis. Depois que terminamos de cantar a musica, Nick falou:

- Nando, preciso ir dormir. E você também. Amanhã a gente se fala.

- Ok.

- Ok.

- A gente acabou de recriar uma cena de “A culpa é das estrelas”? – Ri muito. Ele me fez ver esse filme com ele (eu sei que é um livro, mas nós vimos o filme). Choramos muito no filme, ainda mais eu que não sabia a história.

- Nick, eu to indo dormir. Boa noite, meu bem.

- Boa noite. Ou melhor, boa manhã né? Por que já sabe né? – Ri mais ainda. Nick tinha esse poder sobre mim...

- Boa noite.

- Boa noite.

Finalmente desligamos. Entrei em casa só de meia para não fazer barulho. Deitei na minha cama sem banho sem nada, ainda com o perfume da Marina na minha roupa e finalmente adormeci, sereno como um anjo.

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Comentários

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O importante e ser feliz não? Se está q bom, pegue, agarre mesmo kkkkk

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O q importa é q estão bem, si amando e "felizes"

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