MEU CORPO É MUITO PESADO!!! - 01-12

Um conto erótico de Alan Bortolozzo
Categoria: Homossexual
Contém 4309 palavras
Data: 07/04/2015 16:35:15
Assuntos: Gay, Homossexual

Capítulo 12

Eu, Tu e Ele.

Sempre fui um cara de frequentar festas de aniversário e nunca de fazer a minha própria festa. Foi numa noite quente de maio, faltando exatamente 10 dias para meu aniversário, que meus amigos inventaram de fazer uma festa para mim.

- Não que o Alan aparente gostar de meninas, mas seria bom ter mais mulher do que homem! – disse o Breno fazendo meu irmão gargalhar.

- Isso é porque o Arthur é o seu irmão! – disse o Bruno

- Mas se ele faz questão de ficar com o seu irmão, eu não ligo não. Pode ficar – disse fazendo a galera rir.

- Olha que ciumento eles são? – disse ele cutucando o Breno.

- Na verdade somos sinceros – retrucou o Bruno.

- Toca aí – disse batendo na mão do Bruno.

- Enfim... – disse o Breno puxando atenção para ele – Temos a “verba”, o lugar e agora só falta às mulheres.

- Lembrando que o aniversário é meu e eu escolho?

- Alguém ouviu alguma coisa, algum ser, algum vulto, algum espírito dizendo alguma coisa? – perguntou o Arthur passando a mão pela minha cabeça.

- Como você é chato cara! – disse empurrando ele para longe – É minha festa!

- Olha o respeito moleque! Agora, vamos ver quem poderíamos chamar...? – disse meu irmão ignorando minhas palavras.

- Aninha! – disse o Breno na mesma hora.

- Nóóóóóssa! – gritou ele, pulando para cima do Breno - Aninha “A Deliciosa”. Você ta com ela na cabeça, heim Brenão?

- Exatamente!

Ele anotou o nome da guria no caderno e se voltou para o Breno.

- Tem a Letícia – disse meu irmão.

- Aquela lá que pode amamentar o condomínio inteiro – disse o Breno e os dois gritaram que nem peão de rodeio.

- Mu, mu, mu, mu – disse meu irmão imitando alguém amamentando.

- Que coisa feia Arthur? – disse a voz mais maravilhosa e inesquecível. A única voz que poderia fazer daquele momento épico, minha mãe.

- Que coisa feia Arthur! – disse o Breno ironizando minha mãe – Nós aqui falando do aniversário do Alanzinho e você fazendo gestos grotescos. Onde já se viu?

Todos olharam boquiabertos para aquela encenação de Jesus do Breno. Sem pensar, meu irmão deu um tapa mega forte na sua nuca, fazendo estralar alto.

- Arthur? – bravejou minha mãe – Que coisa feia!

- É que o Breno tem essa mania besta de...

- Afinal, o que vocês estão fazendo aqui? – cortou minha mãe.

- Organizando a mega festa do Alan tia – disse o Breno se levantando e ficando ao lado do meu irmão.

- Eu juro que se você não tivesse um irmão idêntico a você e eu tivesse tido o Alan, diria com todas as letras que vocês são irmãos.

- Não foi por falta de nós querermos – eu disse fazendo meu irmão me olhar furioso.

Todos riram daquele comentário. Mas era cômico ver o Breno e o Arthur juntos, pois ambos vestiam quase as mesmas roupas, faziam os mesmos penteados, usavam as mesmas correntes. Até a entonação da voz e a risada dos dois eram iguais.

- Enfim... eu quero vocês três longe dessa “organização” – disse ela apontando para meu irmão e os gêmeos – Sei que você não está envolvido nisso querido, fique a vontade em ficar com os garotos – disse minha mãe ao Bruno.

- Obrigado tia, mas tenho que certificar que meu irmão chegue inteiro em casa. A senhora entende, né? Coisa de pais e irmão preocupado com o outro – disse ele arrancando um sorriso imenso da minha mãe.

- Entendo perfeitamente, mas o convite está feito. Agora Arthur e Breno, eu quero os dois, agora, ao mercado para comprar algo para nós jantarmos.

- Mas mãe? – indagou meu irmão.

- Tia, além do mais, nossos amigos são os amigos do Alan – disse o Breno na falsa esperança de tentar convencer a Dama de Ferro.

- Todos aqui comem coxas, sobrecoxas e batatas assadas? – perguntou minha mãe ignorando completamente os guris.

- Sim! – responderam eu, o Burro, o Bruno e o Breno levantando a mão.

- BRENO? – bravejou meu irmão - O que é que você está fazendo? – perguntou meu irmão bravo enquanto abaixava a mão do Breno.

- Ué, eu gosto de frango e batatas – retrucou o Breno sem ainda não entender.

- Você é um traíra, isso sim!

- Arthur, já chega! Vocês não vão fazer nada aqui dentro. E se qualquer amigo seu que não sejam o Breno e o Bruno, fique totalmente ciente que eu colocarei todos para fora – disse ela apontando para a porta.

- Preciso do dinheiro Mãe? – disse meu irmão mostrando a palma da mão.

- Compra você e depois lhe pago – disse ela indo até seu quarto.

- Mas assim você vai gastar todo meu dinheiro?

- Arthur Bortolozzo e Breno Arantes, vão antes que eu pense em algo pior – eles saíram do apartamento fechando a porta com força ao passar.

“Para vocês entenderem a revolta do meu irmão ao minha mãe pedir que ele pagasse o jantar e depois ela devolvia a grana, é o seguinte. Nas últimas vezes que ela pediu para ir ao mercado com o dinheiro dela, eles voltavam sempre bebendo cerveja e, consequentemente, mexiam com pessoas nas ruas. Muitas vezes arranjavam brigas após beber e, sempre quem tinha que resolver, eram meus pais. Por isso, o Arthur sempre emprestava a grana. Porque, mesmo que eles quisessem comprar cerveja, minha mãe não devolveria a grana.”

- Acho melhor ir com eles – prontificou o Bruno – Minha mãe sempre pede para eu ficar de olho nele. Até mais – disse ele dando um sorriso ao passar.

Esperamos que todos saíssem do apartamento e que minha mãe voltasse para seu quarto para nos continuarmos com nosso plano.

- Deveríamos reunir todo o pessoal, hoje, após as luzes da quadra se apagar – disse ao Burro – Quero certificar que todos irão comparecer a minha festa.

Era tradição da galera se reunir às luzes apagadas quando queríamos decidir algo importante. O condomínio ficava com todas às luzes acesas até às 22 horas, após esse horário, ficavam apenas luzes de sinalização. Com as luzes acesas, chamava atenção demais dos pais e de gente inconveniente ao ver o aglomerado de molecada juntas. O Breno e o Arthur chegaram 20 minutos depois com as compras feita. Era de praxe o Arthur cozinhar frango. De alguma maneira ele sempre o deixava gostoso e suculento. Jantamos coxas, sobrecoxas e batatas muito bem douradas, com arroz branco e molho de laranja.

- Filho, você pode até ser um encrenqueiro, mas na cozinha, nunca vi alguém melhor – disse minha mãe se retirando.

- Obrigado mãe! – disse o Arthur ficando com as bochechas rosadas.

- Meninos, eu vou me retirar – disse ela se levantando e vindo nos dar um beijo de boa noite.

- Boa noite tia – disse os meninos ao vê-la passar pela porta.

Esperamos até que ela trancasse a porta para podermos sair.

- Pivete – disse o Arthur me segurando pelo braço – Onde você pensa que vai?

- Cuidar da minha festa– disse tentando arrancar meu braço de suas mãos – Sair com o Burro. E “Ana Maria Braga” – disse ao Arthur que sempre recebi elogios pela comida - Que franguinho delicioso, que batatinha cortadinha em florzinha. E que tempero?! – disse imitando minha mãe.

Todos mijaram de rir. Até o Breno que jamais ria quando alguém fazia alguma piada do meu irmão, estava com os olhos cheios d’água.

- Tá! Calei! – disse o Breno fazendo aquele famoso gesto de passar um zíper na boca.

- Voltando ao assunto principal senhor Alan, onde é que vai?

- An-dar – disse abrindo um sorriso que eu sei o quão o deixa irritado.

- Só um lembrete, de irmão pra irmão. Você nem pense em colocar um nome se quer nessa lista sem me consultar – disse ele apertando meu braço – você entendeu?

- Você está me machucando! – disse tentando retirar meu braço a força.

- Você não me respondeu?– disse ele apertando ainda mais meu braço.

- A mãe disse para vocês ficarem fora disso!

- Fora vai ficar seu braço se você não nos der essa lista para completarmos – disse ele se levantando e torcendo o meu braço.

- Ai, idiota! – disse ele torcendo ao ponto de eu cair no chão.

- Responde pivete – cada pedido ele torcia ainda mais.

- Calma Arthur, você está machucando-o – disse o Bruno dando a volta na mesa e vindo ao meu lado.

- Não se intrometa Bruno! – bravejou o Breno colocando a sua mão no peito do irmão, impedindo de parar.

- Se você não parar a nossa mãe vai ficar sabendo! – disse entredentes.

- Prestes há fazer 21 anos e ainda apelando para a mamãe. Não acha isso ridículo? – perguntou ele me afundando até o chão.

- Sinceramente? MÃÃÃÃÃÃÃE? – gritei com todo o ar que tinha nos pulmões, mas meu irmão não soltara meu braço.

- Isso não vai ficar assim, entendeu? – disse ele torcendo meu braço ao ponto dos olhos encherem d’água e depois me soltou.

- O que está acontecendo aqui Arthur? – disse minha mãe vestida apenas com roupão.

- Já acabou mãe! Estava ensinado o Alan a ter boas maneiras – disse ele me olhando para que eu pudesse confirmar aquela versão tosca.

- O que você fez para seu irmão Alan? – perguntou minha mãe com as veias do pescoço saltadas.

“Não sou filhinho de mamãe, mas também não preciso me submeter ao autoritarismo do meu irmão. Ponha um fim nosso Alan!”

- Ele estava me humilhando para que ele fizesse a lista de acordo com as pessoas que ele querer que vá – disse arrancando do meu irmão, um olhar de “Vai ter troco”.

- Breno e Bruno Arantes, por favor, vão embora para que o senhor Arthur cumpra seu castigo.

- Sim senhora – respondeu os gêmeos juntos.

- Arthur Bortolozzo, arrume essa mesa e fique no seu quarto. A saída vai depender só de você – disse ela apontando a mesa.

- E vocês dois, venha aqui? – disse ela para mim e para o Burro – Vão lá embaixo organizar sua festa.

Apenas assentimos com a cabeça e saímos de casa com a lista nas mãos.

- Fiquei feliz que você não tenha protegido seu irmão. Ele vai longe demais. Só sabe machucar os outros.

- Valeu! Eu sei que possa parecer um filhinho de mamãe aos seus olhos, mas não quero que ele mande em mim.

- Não acho que você seja um filhinho de mamãe, pelo contrário, estaria sendo um panaca se continuasse a submeter às chantagens do seu irmão.

- Valeu Burro – disse dando um abraço nele.

Saímos pelo hall do prédio. Ao fundo, os vigias desligavam as luzes do condomínio, ficando apenas as luzes dos postes das ruas acesas.

“Perfeito!” – pensei ao ver a quadra totalmente escura.

A galera já nos esperava num circulo no interior da quadra.

- Fala seu filha da mãe – disse cumprimentando-os.

- Até que enfim o Batman e o Robin chegaram – disse o Guilherme.

- Calma, estávamos jantando – disse me sentando com eles.

- Calma nada! Daqui a pouco vão achar que é formação de quadrilha!

- Minha mãe e meu irmão disponibilizaram uma “verba” para eu fazer o que eu quisesse. Então estávamos pensando entre, gastar tudo em um churrasco, com bebidas e comidas de primeira e a vontade, nos divertindo na quadra entre amigos mesmo ou se íamos ao paintball e depois a uma pizzaria ou churrascaria, o que acham? – perguntei olhando para os garotos todos confusos.

- Churrasco é melhor opção. A galera fica reunida, a gente pode beber e se divertir.

- Podemos jogar um futebol? – disse o Burro.

- Isso ai – concordou o Guilherme.

- Mas paintball é muito mais da hora. Aqui da pra fazer um puta de um time - disse o Renato, filho do vigia do condomínio.

- Porra, 20 pessoas da pra fazer um time muito foda – disse o Guilherme.

- Só porque o Renato é do exército ele quer mexer com arma – disse o Fernando.

- Aeronáutica, seu imbecil! – disse o Renato dando um soco no Fernando. Soco de amigos.

- Como se você soubesse a diferença Renato.

“Renato era o filho do vigia que nós “adotamos” dentro de nossa turma. O vigia morava numa pequena casa ao lado do condomínio. Na sua família era apenas o Vigia e o Renato. Como o vigia fazia turnos na madrugada e seu filho ficava sozinho em casa, o síndico liberou o garoto para brincar conosco. Muitos pais se mobilizaram a ajudar a criar o Renato, como comprava cesta básica, materiais escolares e algumas despesas domésticas. Era um garoto muito educado e inteligente. Tão inteligente que conseguiu entrar na Aeronáutica.”

Dos 20 garotos na quadra, cada um tinha uma opinião diferente sobre minha festa. Uns queria churrasco, outros paintball, outros society, outros passar um final de semana numa chácara, até aqueles trenzinhos que andam na cidade fora mencionado.

- Que trenzinho sua anta! – disse o Guilherme – Vamos torrar a verba em trenzinho?

A galera toda riu.

- Se vai ou não torrar a verba em trenzinho, isso não interessa mais.

- Então o que é que interessa? – perguntei fazendo a galera prestar atenção no Danilo.

- Interessa saber quem é aquele vulto lá no terceiro bloco? – disse o Danilo apontando para frente.

Todos se levantaram para tentar enxergar o que o Danilo estava dizendo.

- Meu Deus, ele é gigante! – disse o Guilherme.

Bem ao fundo, mais ou menos uns 300 metros, fora avistado um vulto negro vindo em nossa direção. Ele estava longe, mas de longe mesmo, parecia ser muito grande. O silêncio tomou conta de todas.

- Ele está vindo para cá – disse o Renato.

- Sim, com toda certeza ele está vindo para cá – disse o Danilo.

- E se nós sentarmos como estávamos talvez ele nem nos veja – sugeriu o Guilherme.

Todos, sem pensar, sentaram ao mesmo tempo no circulo central. De fato, como a quadra era quase um breu, seria quase improvável que ele nos veja.

- Ele parece o Blade com aquele capuz – disse o Renato.

- Capuz? Mas nem frio está para usar capuz.

- Esse é o problema! Ele esta usando uma regata com capuz!

- Caralho! – disse o Guilherme se levantando de novo – Ele é enorme

Olhei para trás e, o vulto que agora dera lugar para um homenzarrão incrivelmente musculoso, estava contornando a quadra.

- Deve ser um dos “Japinhas” – disse o Renato.

Os Japinhas eram três irmãos japoneses que adoravam mexer com a galera do condomínio. Faziam questão de serem insuportáveis. Faziam questão de sempre mostrar sua força física através de amostras gratuitas de pancadaria aos menores.

- Os Japinhas são grandes, mas não chegam aos pés desse cara.

O homem forte caminhou até o portão de entrada da quadra e ficou nos fitando por uns segundos. No mínimo, ele também não conseguia ver ao certo quem era. Sei que ninguém atreveu a respirar, mas ele falou primeiro. E para minha infelicidade, era comigo.

- Por favor, o Alan Bortolozzo se encontra? – perguntou o homem com uma voz grave e séria.

Como eu estava de costas para ele, virei-me e encarei por uns segundos para tentar saber quem era, mas com aquele capuz era impossível.

- Alguém aqui é surdo? Eu perguntei se o Alan Bortolozzo está aqui? – disse ele agora com uma voz de “zero paciência”.

Mas antes de responder, eu queria saber quem era. Não conhecia aquela voz, então fiquei quieto para tentar reconhecer.

“Caramba, quem era aquele homem?”

- Ele esta aqui – disse o Guilherme meu batendo no meu ombro.

- Filha da puta! – eu disse com raiva para meu amigo, batendo no joelho dele.

E o homem começou a andar em minha direção. Virei-me para o centro da quadra, como se eu esperasse que ele não tivesse me visto. Mas não, os passos estavam bem pesados para alguém que estava indeciso. Não sei por que eu sentia tanto medo. Parecia até que jogaram uma chaleira de água fervendo na minha cabeça que ia escorrendo pelo meu peito e barriga. Piorou quando uma mão extremamente pesada bateu no meu ombro.

- Você que é o Alan Bortolozzo? – Perguntou sério o homem.

Agora de perto dava para saber pelo menos que ele usava barba, por baixo do capuz usava um boné, o que dificultava mais ainda. Conseguia ver os olhos encarando os meus, mas mesmo assim era impossível saber quem era. Em menos de cinco segundos, ele me deu uma gravata, me tirando do chão e jogou-me sobre o corpo dele, me fazendo bater no chão com toda força. Não me machucou, mas serviu para eu quase me mijar nas calças. Eu sabia que era um golpe de judô. Quando recuperei o pulmão que havia perdido, abri os olhos e novamente ele estava em cima de mim, mas agora, ele estava sentado no meu peito, trancando minha cabeça com os joelhos. Estava apertando tão forte que já sentia minha cabeça latejando e cada vez apertava mais. Sem falar do peso dele sobre meu peito que mal conseguia respirar.

- Tu é um bosta mesmo, heim Alan Bortolozzo? – disse o homem com a voz entre dentes.

Eu olhava para os meninos a minha volta e todos estavam horrorizados com a cena. Tão horrorizados que nenhum veio me ajudar. Exceto pelo Renato que grudara no pescoço do homem, mas foi facilmente arremessado para longe.

- Fique longe disso, novato. A briga é entre eu e o Bortolozzo – disse dando uma entonação mais forte no sobrenome.

Meu mundo parou. Era como se estivesse num sonho pesado, daqueles que quando acordamos ficamos desnorteados. Meus olhos se encheram d’água.

“Mas não pode ser! Depois de tantos anos. Depois de eu ter esquecido seu rosto, sua voz, seu corpo e seu jeito, era ele, o homem que eu amei um dia.”

- Não pode ser! – eu dizia ainda com pouca voz.

Ele saiu de cima de mim e ficou me fitando.

- Que foi, esqueceu de mim? – disse ele rindo – Seu veado, na minha época você era tão forte quanto eu. Se fosse um bandido de verdade já teria tomado no cu. Hahahaha. – disse ele rindo da minha cara.

Eu estava tremendo e confuso. Isso não poderia ser verdade. Ele continuava a falar comigo, como se nada tivesse acontecido. Como se ele tivesse congelado no tempo e acabasse de acordar. Ele estendeu a mão e me ajudou a levantar.

- Como? – eu dizia ainda sem acreditar.

- Como o que, seu besta? Tô aqui, você não está vendo não? – disse o Murilo dando uma voltar em si mesmo e tirando o capuz, ficando apenas de boné – E ai, não vai me da um abraço?

Eu ainda continuava a encará-lo em estado de choque. Deu apenas para perceber que seu cabelo estava raspado na “zero” como chamamos aqui.

- Beleza! Eu entendi! Você quer que eu vá aí te dar um abraço? Por mim tudo bem! – ele disse pulando sobre minhas costas.

- Murilo, você vai me quebrar ao meio, sai de cima de mim – eu disse não aguentando ele.

Eu, que não estava no meu estado normal, caí com toda força no chão. Ele estava muito pesado e dava para sentir que estava muito forte também. Ele virara um homem de verdade. Seus braços musculosos e gigantes pareciam macios aos olhos. Mas quando eu os tocava, eram firmes e duros como rochas.

- Moleque, que saudade de você. Você não faz nem ideia – gritou o Murilo em cima das minhas costas.

Quando ele se virou para mim, pude ver que era o mesmo moleque de sempre, só que agora estava barbado. Fomos para a área de convivência lá do condomínio. Era como se fosse uma praça, só que menor, porém, iluminada. Foi aí que tive um baque. Ele estava muito maior de quando o vi pela ultima vez. Ele me fitou por um momento e me deu um longo e apertado abraço, só que dessa vez, era um abraço de carinho.

- Que saudade de você moleque. Como você cresceu e ficou diferente – ele dizia com um sorrisão gostoso. Sorriso de quem estava apaixonado e os olhos marejados – Você está muito... TOP – disse ele dando outro abraço.

Ele me soltou e foi até a galera para cumprimentar os garotos que ele conhecia. Dava para ouvir todos zoarem de nós quando ele chegava perto de mim. Coisas do tipo: “Não acredito, o Robin voltou!”. Era até engraçado, mas ainda não tinha “caído minha ficha”. A mistura de sentimentos era tão forte que, às vezes, eu até esquecia de respirar.

“Leitores, vocês não tem noção de como eu fiquei! Eu sei que estou repetindo isso várias vezes, mas não tem como eu descrever em palavras a emoção que eu sentia daquele momento. Sei que eu estava explodindo de felicidade.”

Como eu estava dizendo, ele fora cumprimentar os garotos que ele conhecia. Já aquele que ele não conhecia, simplesmente passava reto e nem olhava na cara. Ou seja, ele não mudara nada, nem na parte que ele era antipático.

“Mas tudo bem, agora ele voltara!”

O Burro que estava num canto oposto da praça, me olhou fazendo uma cara de “Quem é esse aí?”. Sai de lado um pouco e chamei-o para ir até ao bebedouro que ficava a uma distancia boa do Murilo.

- Quem é esse armário aí? – perguntou apontando para o Muriloque ao longe brincava com os meninos.

- Esse é o Murilo – eu disse todo orgulhoso. Afinal, ele estava ótimo.

O Burro deu um suspiro e olhou para o chão.

- O quê foi? - perguntei.

- Nada! – ele respondeu com um sorriso amarelo, de canto de boca.

- O que foi Burro? Você estava “animadão” e do nada você ficou chateado. O que aconteceu?

- Pelo o que você me falou, ele era “O cara” e, da uma olhada ali, todos tão pagando-pau para ele. E agora que ele voltou, vai ser assim que as coisas vão acontecer – disse ele agora sem nenhum sorriso no rosto, fazendo apenas aquela carinha de cachorro abandonado.

- Nossa, eu já falei dele para você? Eu nem me lembro disso – eu disse atônito – Quem disse que ele voltou de verdade?

- Você só falava nele quando me conheceu. Mas, isso realmente fora quando você me conheceu. Há seis anos, quando você contara que tinha perdido o teu único melhor amigo – ele disse olhando para o chão.

- Nossa! Eu nem me lembrava disso mais – eu respondi rindo.

- Pois é! – disse ele dando de ombros – Agora ele voltou e você tá aí todo “felizão” – disse ele voltando a olhar para o chão.

- Para de ser bobo Burro você vai adorá-lo – eu disse apontando-o com a cabeça.

- Tudo bem! – respondeu o Burro quase sem voz.

- Para de ser besta e fica com a gente que esta tudo bem – eu disse segurando no ombro dele – Esta tudo bem – eu repeti, sorrindo, para fazê-lo ficar melhor.

E mais uma vez fui “atacado” por trás pelo Murilo.

- O que foi Alan, por que você tá namorando aqui escondido? - perguntou ele dando a famosa gargalhada dele – Nossa, quem é esse branquelo aqui? – perguntou dando um soco no ombro do Burro.

Não que tenha sido um forte, mas para alguém que não tinha moral alguma, tinha sido forte até demais. Tanto que até eu fiquei sem graça. O Burro ficou me olhando esperando alguma reação minha, mas não disse nada. E não iria dizer. Amizades começam assim, do nada.

- Esse é o Biesso, ele é meu melhor amigo aqui – eu disse fazendo os dois apertarem as mãos.

Ele me olhou com cara de espanto.

“Lógico! O que mais ele queria depois de desaparecer por seis anos?”

- Bem frango ele, né Alan? – disse o Murilo rindo alto fazendo todos que estavam longe ouvir e se aproximarem.

- Qualquer um perto de você é frango – eu disse, mas acho que não fora a melhor resposta – mas o Biesso é forte e joga futebol pelo Rio Preto - eu completei.

- Na verdade, parece que ele só joga futebol, porque forte, esta muito longe de ser – disse rindo, fazendo a todos rir também.

- Ele vai fazer teste para o Corinthians, mês que vem – eu disse para poder dar um pouco de moral para o Burro.

O Murilo fez a “famosa” cara de desdém que só ele tinha, me encarou por um tempo e depois voltou para a garotada. Esperei ele distanciar um pouco e voltei para perto do Burro. Ele parecia ter retomado a sua cor.

- Eu não gostei dele – disse-me com a voz baixa.

Talvez com medo de que o Murilo pudesse ouvir.

- Ele é gente boa. Só esta tentando socializar – eu disse tentando confortá-lo.

“Pelo menos é isso que eu espero” pensei.

- Alan? – chamou o Renato - Esse é o famoso Sargento Garcia da Aeronáutica. Ele é “O Cara” lá dentro.

- Você o conhece? – perguntei espantado.

- Lógico! Não há alguém nas Forças Armadas que não o conheça.

- Forças Armadas? – indagou o Burro – Mas ele não faz parte apenas da Aeronáutica?

- É aí que o adjetivo “Famoso” se dá o valor. O cara é tão foda, tão foda que é conhecido no Brasil todo. O exército faz fila para tê-lo dentro para motivar os soldados.

- Teoricamente ele não poderia botar o bedelho no Exército – disse o Burro.

- Exato! Pois na prática, a Marinha e o Exercito brigam por uma aula do Murilo– disse ele com os olhos marejados – Ele mudou a história dos cursos na Aeronáutica e hoje da palestras e aulas nas forças armadas. O cara é foda.

- Você já teve aula com ele? – perguntei.

- Não! Terei próximo semestre e mal posso esperar para ter ele como instrutor – disse ele todo animado - O cara, além de ser uma máquina de músculos, é um crânio em pessoa. Ele é muito inteligente. O cara luta pela aeronáutica. E nunca, desde que ele entrou, ele perdera uma luta.

- Uau! – disse me enchendo de alegria.

- O que adianta ele ser tudo isso e é antipático? – perguntou o Burro.

- Pelo contrário. Ele é exemplo em socialização dentro das forças armadas.

- Só nas Forças Armadas, porque...

- Burro, o cara te conheceu hoje. É o jeitão dele ser assim! Se o Renato diz que ele é foda, por que você ainda não acredita?

- Tudo bem Alan! Não quero entrar numa discussão contigo – disse o Burro nos deixando a sós.

- O que há de errado com ele? – perguntou o Renato – Logo o Biesso que sempre faz amizade com todos.

- Pois é! Se todos amam o Murilo e todos amam o Biesso, tenho certeza que não haverá nada de errado na amizade dos dois – disse tentando reconfortar o Burro.

“Pelo menos é isso que eu espero!”

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Comentários

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De repente passaram seis anos? Lol. Que confusão.

Mas tirando o salto temporal na história, o "conto" é muito interessante.

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Me embaracei no inicio desse capítulo, com relação a festa. Mas o final foi. surpreendente com a volta do Murilo. Eu adorei o Caipira fazendo beicinho de ciúmes e o Alan adulando ele. Muito linda a amizade do Alan com Murilo e com o "Burro" que de burro não tem nada. Tomará Alan que você continue contando essa historia por aqui no CdC , porque tá envolvente demais. Abração!

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