a atitude é indutiva(7)

Um conto erótico de skosak
Categoria: Homossexual
Contém 1494 palavras
Data: 03/04/2015 19:07:44

Levei Clarisse pra casa, cada um foi escovar seus dentes. Eu terminei e fui assistir jornal. Ela cantava músicas de louvor enquanto se arrumava. Aquelas me davam nostalgia. Confesso que as cordas até eram legais, mas as letras eram muito suspeitas, como a maioria das canções cristãs são. Falavam de temor e tudo mais.

Para ela o amor tinha o temer. Eu não temia no amor, onde já se viu isso? Eu simplesmente amava.

As notícias da TV não me atraíam a atenção. Apenas a minha mente me atraía, pensamentos. A realidade haveria de trair a felicidade? E quando descobrirem nosso amor?

Eu fui interrompido do meu transe por Clarisse. Ela disse:

---Lucas, acho que aquele seu amigo boa pinta tá lá fora.

Eu saltei do sofá e fui olhar na janela. Ele acenou, sorrindo.

Ele estava de bicicleta. O portão da casa estava aberto. Sentado em cima da minha bicicleta ele segurava a outra com a outra mão. Eu abri a porta e Clarisse me seguiu até ele.

Então Marquinhos disse:

--- E aí, par de dois?

Eu respondi:

---Não somos um par, de onde você tirou isso? - olhei, irritado.

---Nada cara, só vi os dois lado a lado e pensei...

Eu entendi o que ele queria fazer, esconder. Acho que ele deduziu que a menina era crente. Eu não retruquei.

---Rola um “giro” de bike hoje? - olhando pras bicicletas.

---Não sei cara, Com qual bicicleta a Clarisse vai ir? - indaguei, meio com ar de hipocrisia.

Então ela disse:

---Mas gente, eu nem sei andar de bicicleta.

Eu pensei, “meu Deus, essa menina não teve infância?”

Marquinhos disse:

---Tem problema não, cê pode vir no varão da minha bike! - olhando pra ela.

Juro que se eu pudesse eu esmurrava ele. Que safado. Na minha cara ainda. E a bicicleta era MINHA. Ela ficou toda animada e disse:

---Mas não é ruim pra você não? - eu disse, olhando pra ele.

---Nada não, eu sempre carreguei minhas primas quando elas vem tirar férias pra cá.

Só se for a “casa das primas”, né, gente. Ele estava dando em cima da maldita. Eu olhava com um olhar vociferante pra ele. Ele sentiu que estava pisando em brasas. Logo disse, gaguejando, para Clarisse:

---M....aaass cê não quer aprender? É que é sempre bom aprender algo novo. Cê sabe, né, seus tios são donos da bicicletaria. Pega mal você não saber andar.

Então meio relutante, ela disse:

---Eu...eu não sei. Mas vocês vão ter que andar meio devagar.

---Tudo bem, né Luquinhas? - disse ele, me olhando.

---Ainda bem, né Clarisse, uma menina “de bem” que nem você, andando no varão de um garoto que você acabou de conhecer. Eu já estava achando estranho.

Então, meio doída pelo o que eu falei, ela disse:

---Eu posso achar lá uma bicicleta menor, né, Luquinhas?

Eu respondi, cinicamente:

---Pode, pode sim. Achará, com certeza achará.

Então fomos eu e ele de bicicleta e ela a pé, em direção a oficina. Chegamos lá na mecânica antes, obviamente. Eu saí o mais rápido que pude. Juro que quase os pneus cantaram. Marquinhos foi atrás, meio assustado.

Chegando lá ele disse:

---Que que foi cara, “maluqueceu”?

Então eu respondi:

---Você sabia que eu estou confiando tudo, repito, TUDO da minha vida a você?

---Sim mas […]

---Meus segredos, minhas verdades, minha paz?

Ele disse:

---- Mas amor, foi você quem quis assim, nós não somos amigos?

Eu respondi:

---Somos sim.

---Então por que você tá reclamando?

---Porque não somos apenas amigos. Eu te amo Marquinhos.

Ele respondeu:

---Eu também, amor.

---Mas seu corpo parece não dizer o mesmo.

--- Você tá percebendo o que cê tá fazendo, Luquinhas? Tu tá pirado cara.

---Marquinhos, teu olhar te denuncia. Só você não está vendo que eu sou seu refém? Se for para ser assim eu luto. Luto contra meu amor por você, contra o destino e enfim, contra todos. Contra até a mim mesmo.

---Mas Luquinhas, eu não tô brigando com você. Que história é essa de lutar, velho?

Então chegou o centro da discussão, Clarisse. Ela estava visivelmente cansada. Então eu e Marquinhos deixamos nossas bicicletas e fomos, junto com ela, procurar uma bicicleta aro 24.

Não achamos nenhuma. Achamos só uma aro 20, tipo BMX. Tipicamente chamada de Light.

Ela olhou pra aquela e falou:

---Eu não vou montar nisso aí!!

Eu respondi:

---Mas é a única que tem.

Então ela disse:

---Então eu não vou.

Eu tremi até a base de raiva. Peguei a Bike do meu pai e fui correndo até o sítio abandonado.

Eu me sentia livre. Vento na cara, cheguei a fazer o trajeto inteiro em marcha pesada.

Meu sangue fervia. Saltei os mais altos murunduns, eram tantos que eu até perdi a conta.

Quando eu fui saltar mais um deles eu vacilei. Resvalei numa pedra solta e cai. Me ralei todo, principalmente a cabeça. Cheguei a ficar tonto. A bicicleta ficou suja, apesar de ter entortado o guidão ainda dava para usar.

Eu segui, de bicicleta, com sangue caindo na estrada, em direção ao sítio. Cheguei lá e percebi que o pomar, antes cheio de mato, estava agora limpo. É que ao lado do pomar havia algumas mudas de erva mate. Meu pai tinha pago alguns homens pra limpar o sítio e, em troca, eles ficaram com as mudas de erva.

Na entrada do pomar tinha algumas canas de açúcar, que eu desviei, tinha um vespeiro que dava medo lá.

Então eu vi um pé de laranja que corri experimentar.

Era tremendamente azeda.

Então avistei mais um, azeda.

Outro, a mesma coisa.

Então fui no pé mais alto e provei outra. Era Laranja lima. Chamada de laranja doce. E realmente era mesmo. Acho que o tempo tinha criado aquela variedade.

E então subi no pé e comi umas seis. Deitei no alto daquele pé enorme que ficava, também no alto e chorei. Chorei muito.

Mas a imensidão daquele rio e daquele verde me consolava. Apesar disso, como árvore e céu não abraçam ninguém, eu chorei mais ainda.

No silêncio eu dormi.

E acordei com risos.

Vi do alto do pé Marquinhos chegando com Clarisse no varão da MINHA bicicleta. Eles não me viram, e como poderiam? Os vi descendo para o rio. Mais risos. Então eu resolvi segui-los.

Silenciosamente eu desci. Chegando na ponte ouvi risos novamente. Eles não estavam no lugar onde eu e ele nos encontrávamos. Estavam na parte próxima da ponte, na beira da estrada.

Então eu pude ouvir o que eles falavam. Como que por sussurros.

“Aiii gente, eu acho que vou gravar com meu celular esse momento!!!!!! O pessoal do grupo vai adorar saber”, dizia Clarisse.

“Meu Deus, garota, cuidado com isso aí, derrubou o celular nesse rio é 'tiro e queda'”.

“Mas então mark's, o que você ia dizer mesmo?”

Eu pensei, “marks”, que porra de apelido é esse?

“Clarisse! Meu amor por você é que nem contar as estrelas do céu!!”

“Não me diga! Ou não. me diga sim!!!”

Senti nojo.

Eu saí correndo daquele lugar. Fui ao pé de Laranja Lima. Me empanturrei de novo de laranja. Mas daquela vez eu pensei. Olhei para aquele pé. Meu amor acabou azedo, como as laranjas dos pés mais baixos. Assim como esse pé doce, deve ser o meu amor, minha metade da laranja. Tem que procurar, procurar, até achar.

Clarisse deve estar a procura do seu. A coitada não foi nem avisada da enrascada que se meteu.

Então, repentinamente, todo o ódio que eu sentia sumiu. A lucidez consumiu tudo.

Então eu ouvi gritos dos dois a me procurar.

---Lucas!!! -gritava ela.

--- Luquinhas!!!!!Cadêee vocêee – dizia ele, de maneira peralta.

Eu então fui ao encontro deles. Ele olhou com cara de culpado pra mim e falou, preocupado:

---Luquinhas o que aconteceu contigo?????? Cê tá bem cara???

Ele tirou a camiseta dele e foi limpar o sangue. Eu falei:

---Não toca em mim!

Ele, estranhando falou:

---Luquinhas, que isso de não tocar?? Deixa disso, vou te limpar!!”

Ele veio pra cima de mim, me obrigando a ser “limpado”.

Eu meti um belo dum murro na cara dele. Clarisse arregalou os olhos. Ele ficou sem reação.

---Que que foi isso, amor? Olha pra mim, você tá bem???

Eu gritei bem alto:

---VAI TOMÁ NO CUUUUUUUUU!!!!!!!!!!!!!

Saí de lá de bike, correndo. Não, dessa vez eu não me acidentei.

Cheguei em casa e meus pais também se assustaram com o sangue. Eu falei que havia brigado com o Marquinhos. Tomei banho e minha mãe enfaixou a minha cabeça.

Peguei meu violão e, com três acordes, Mi, Si e Lá eu desafoguei minhas mágoas. Era tanto sentimento que as frases se perdiam no sentido. Só eu entendia aquela música. O ritmo era alegre. Alegre porque eu tinha esperança.

CONTINUA___________________________________________

Então gente, eu estou nessa missão para dizer a verdade e somente a verdade. Não direi menos que a verdade. Muita coisa ainda está por vir. Prevejo, pelo menos, mais 5 capítulos. Continuem, aposto que vocês vão gostar.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive skosak a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários