Lance não identificado

Um conto erótico de APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Categoria: Heterossexual
Contém 1256 palavras
Data: 27/03/2015 19:34:54
Última revisão: 03/02/2016 20:02:24

Lance não identificado

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

Especialmente para a "Casa dos Contos".

AMBROSINA CAVOUCADEIRA TINHA um pensamento firme e fixo, mais fixo que firme e carregava, consigo, dentro do coração, junto com as outras coisas que amava, e não desgrudava nem na hora de ir ao banheiro. Asseverava, com convicção bem convicta e certeza bem certa, que “não havia boceta que um dia não encontrasse uma pica que lhe empurrasse a virgindade para as bundas – bundas não, bandas dos colhões. Em outras palavras, que rasgasse, em mil pedacinhos, o diploma de recatada e mandasse a pureza bucólica do cabaço pentelho para a casa do carvalho – carvalho não, caralho”. Atrás, pois, de um troncudo cacete que lhe fizesse as honras, Ambrosina Cavoucadeira vivia assim, ao deus dará, a procura, incansavelmente a procura. Desesperada, aflita, expressão martirizada de uma mulher que não conseguia se realizar sexualmente, ela não entregava os pontos. Apesar dos fracassos e adversidades, a desafortunada não desistia.

Afoita, corajosa, aguerrida, seguia ferozmente, perseverantemente na sua luta por um espécime comum, mas que, na hora do vamos ver, se mostrasse inaudito, colossal e insubstituível. Em razão da sua carência afetiva, acordava altas horas da noite em êxtase, o corpo molhado, a xoxota quente como um vulcão prestes a entrar em erupção. Não só a perseguida, mas toda ela escorria, alagadiça, feita água de cachoeira depois de um temporal de arrepiar até cabelo plantado em jardim de porta de cu. A tara pela quebra do envoltório estava às raias de lhe dar um piripaque. A coisa pegava fogo, ardia como pimenta. O hímen latejava, incomodava, e a coitada, virgem, intocável, e pior, longe de poder soltar a fúria interior, de conseguir, ao menos, cacarejar feito uma galinha bem sem vergonha, partindo pra cima, ciscando mais que franguinha bêbada, pronta pra deixar até galo velho de espora ensandecida.

O pretendente a sua submissão, mormente a procura exaustiva, parecia não existir. Ou não queria se dar a conhecido. Bem que Ambrosina tentava. E como! Chegava a fazer dó, a sua voracidade, a perseguição desenfreada, incessante e ferrenha. Quando saia com as amigas, fazia de tudo para entrar numa trolha. Sonhava acordada em rebolar a sua timidez num pau bem duro, enrascada num membro bem grosso e ardente. Um pé de mesa que lhe fizesse, na hora de virar os olhinhos pelo avesso, ver o louro José tirando uma com a sua amada defronte as câmeras da televisão, ao vivo, e a cores, no “Mais você”, com a Ana Maria Braga gritando, eufórica, “Eita papagaio arretado!”.

Mas esta obstinação insólita, fora do normal, contrária ao bom senso da pobre desesperançada, acabava em nada. Sempre acabava em nada. Aparecia um aqui, outro acolá, gatos pingados, como se diz por ai. Entretanto, na hora do “vamos ver”, os supostos candidatos saiam fora (não queriam entrar pra dentro), nem pagando. Tampouco oferecendo acessos a outras vias intermediárias mais recatadas. Por essa razão, a jovem se fechava, a sete chaves, dentro de si mesma, numa intensidade íntima de afastamento e reserva.

Belo dia criou coragem. Perdeu o medo bobo e se aventurou numa ocorrência sem precedentes na sua historia de mulher recatada. Junto com Bárbara Toma Todas, uma amiga de velhos carnavais (que sabia do seu dilema pra perder o selo), num bar de periferia, frequentado por todo tipo de gente, embebedaram um saradão e, de presente de fim de noite, lhe deram um boa noite cinderela. Tempo depois, enfiaram o infeliz num taxi e partiram de volta para o apartamento. Uma vez lá, prepararam a cena e cuidaram dos mínimos detalhes, para que a anfitriã, enfim, a sós, quando o bem dotado voltasse ao estado normal, livrasse, de uma vez para sempre, a desditosa do revestimento de fábrica que a arrasava e consumia. Assim, nesse trilho, horas depois, estirada sobre a cama, nua em pelo, sem pêlos, claro, e o escolhido a dedo – o deus grego, igualmente sem nada, pego a laço e no tapa, se viram frente a frente. Ambrosina Cavoucadeira, deitada de barriga pra cima, relaxada, tinha as vias abertas, expostas, escancaradas, como uma janela para o céu, pronta, preparada, afeita...

E o gato escolhido, ali ao lado dela, como a bola da vez, ostentava uma tripa desse tamanho, grossa, bem talhada, dava a impressão de que parecia ter parentesco com jegue. Todavia, seu brinquedo andava aquela altura, literalmente murcho, desvitalizado, sem ação, como a gritar, “Venha, dona. Preciso ser assoprado, engolido, pra ficar no ponto”. O apetitoso pedaço de carne de primeira, porém, não esboçava nenhum tipo de reação, apesar da mangueira passar a impressão de que se lhe fosse dada algumas abocanhadas reagiria à altura. Embora à porta da entrada do túnel escuro, quase a lhe engolir como uma Anaconda, por algum motivo inexplicável, o mandiocão entre as pernas não ousava acordar da sua letargia, ou seja, não dava sinais de querer sair da sua turgescência sem sentido e transpor a fenda que o levaria fundo, ao jardim do Éden e a desfrutar dentro dele, de todas as maravilhas do paraíso. Parecia que alguma coisa invisível o segurava pelo saco, impossibilitando que o pé de mesa desgrudasse dos colhões, evoluísse e entrasse com tudo o que tinha direito e mais um pouco.

- Ai, meu homem – gritou entrementes a Ambrosina. - Vem com tudo, parte pra cima da sua putinha...

O pecado em toda sua lascívia e volúpia, agredia, atocaiava, seduzia, subornava, dava sinal verde, piscava, bruxuleava, se abrindo, assanhado, encarniçado (mas não fedendo a carniça, por favor), arreganhado até o canto, mais que porta de guarda roupa de pobre caindo aos pedaços.

- Me estraçalha, garanhão, faz de mim seu prato preferido!...

Refeito, porém, da beberagem que ambas as amigas o colocaram, o sujeito finalmente renasceu do porre. Não como a Fênix mitológica, longe disso. No fluir dessa realidade meio que estabanada, topou, entrementes, de nariz com a sua caneta em estado adormecido, caneta não, caceta. A dita, ostensivamente humilhada, sucumbida, sinalizava estar pronta para voltar a dormir e sonhar com carneirinhos pulando de um lado para outro, numa dança de ritual própria para ovelhinhas e borregos desmamados. Ao desviar os lindos olhos verdes da sua fraqueza, do seu esgotamento e espiar em derredor, numa tentativa de se situar, de se enquadrar no tempo e no espaço, embora com fortes dores de cabeça e uma ressaca dos diabos, ao se deparar com a fêmea colada na sua aba, quase teve um faniquito. Estremeceu, como se lhe caísse um raio aos pés. Cara a cara, com todo o esbugalho de seus medos interiores à flor do espanto, topou o belo e charmoso peladão, além daquele corpanzil sem nada por cima, com uma greta ousada, audaciosa, arrojadamente escancarada de seus pudores, espiando com uma fome negra para sua pica alongada, grande e rombuda, todavia, em estado insensível, estagnado e letárgico.

De repente, sem mais nem menos, o quadro se modificou. E foi nesse trote de mudança de cenário abrupto, inopinado, que o belo exemplar de macho pulou da cama, encarou a mulher, e após dar umas boas e sórdidas desmunhecadas, despejou o seu azedume com fúria descomedida:

- Senhorita. Não sei como vim parar aqui. Não sei sequer onde estou. Antes que diga qualquer coisa contrária a meus princípios, ou que chame por reforço para me tirar do seu colchão macio, da sua casa, sei lá, lhe asseguro que meu negócioSeu negócio...?! – completou, Ambrosina Cavoucadeira, melosa, o sangue quente, o desejo a mil por hora.

...Meu negócio, criatura, é dar o cu.

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 62 anos, é jornalista.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.
Foto de perfil genéricaAPARECIDO RAIMUNDO DE SOUZAContos: 44Seguidores: 4Seguindo: 0Mensagem

Comentários