Leonardo aguardava em silêncio que eu dissesse algo.
Eu estava ... sem palavras.
Aquela carta estava dizendo que eu não era quem eu pensava ser.
Ao mesmo tempo senti um enorme alívio. Eu comecei a rir, rir e rir então o minha risada foi se transformando em uma gargalhada histérica até que lágrimas começaram a se misturar ao meu gargalhar.
Leonardo não sorria. Ele me encarava com um olhar preocupado.
Aos poucos parei de rir e ficamos em silêncio por mais alguns minutos, até que eu abrindo um pequeno sorriso triste disse:
-Na verdade é um grande alívio saber que aquele homem não é nem nunca foi o meu pai.
Depois de mais um período curto de silêncio Leonardo falou:
- Você tem razão isso me tirou uma grande preocupação que eu tinha na cabeça. Eu não falei antes, mas o fato do seu pai, quer dizer Elias, ser gordo e careca já estava começando a me preocupar. Sabe como é ...os filhos acabam ficando a cara do pai quando envelhecem.
Eu comecei a rir novamente, só que desta vez Leonardo me acompanhou nas gargalhadas.
***
Era noite de segunda. Haviamos acabado de receber a visita do doutor Sebastião que ficara por várias horas nos explicando o que cada um daqueles papéis significava.
Quando ele chegou na escritura da casa da praia Leonardo não se conteve.
Ele me fez prometer a todo custo que iríamos naquele natal comparecer com a escritura em mãos e colocar a vaca da Marli no seu devido lugar.
Apesar de estar posando de chocado com a atitude de Leonardo eu bem que estava gostando de ver, naquele momento, o meu homem disposto a lutar pela minha honra.
Conseguimos também com um relutante Dr Sebastião um determinado endereço.
Leonardo havia terminado de mover todas as suas coisas novamente para o sótão.
Agora possuidor de uma linda cama king size de pátina de ferro com estrado também de barras de ferro. (Não que eu estivesse querendo dar motivos, mas com um marido tão ..."expressivo" eu não queria me arriscar mais)
Leonardo havia olhado de forma constrangida para a cama, mas eu não permiti que ele mergulhasse neste sentimento. Eu logo o joguei na cama e comecei a beijá-lo e tirar a sua roupa.
Em pouco tempo eu já tinha a sua total atenção enquanto o seu pau mergulhava pela minha garganta.
Na manhã de terça feira tiramos uma folga do serviço e nos dirigimos ao endereço que Sebastião havia nos dado.
Fiquei surpreso ao me deparar com uma sinagoga.
Tocamos a campainha e um jovem rapazinho de onze anos com cabelos negros e lisos veio nos atender.
Ele me olhou como se me conhecesse de algum lugar.
Depois pareceu descartar a hipotese e perguntou:
-Em que posso ajudar?
Eu gostaria de falar com o Sr.Tiago Weiss.
O menino levantou a sobrancelha e disse:
É melhor você ir na casa dele. Aquela verde do outro lado da rua.
Quando eu me afastei com Leonardo ouvi uma vós masculina perguntar.
-Quem era, Davi?
-Um parente do rabino -respondeu o menino.
Eu e Leonardo nos olhamos ao mesmo tempo, surpresos e desconfiando do significado dessas palavras.
Quando chegamos ao outro lado da rua um homem vinha em nossa direção, caminhando com uma sacola com o logo da mercearia kasher que ficava na esquina. Ele era alto, esbelto, loiro, levemente grisalho, ombros largos, um rosto quadrado com traços elegantes e boca grande e bem delineada. Quando ele levantou o olhar e eu vi olhos azuis iguais aos meus. Não tive dúvidas. Aquele era o meu pai biológigo. Ele vacilou o passo quando alcançou os meus olhos. Leo murmurou no meu ouvido. Acho que ele também percebeu que vocês são a xerox um do outro. E rindo ele completou:
-Amor se é assim que você vai ficar eu sou um cara muito, mas muito sortudo.
Eu sorri um pouco nervoso. E busquei sua mão.
O homem cobriu o espaço que faltava. E nos cumprimentou, não deixando de olhar fixo para minhas mãos dadas com a de Leonardo com os dedos entrelaçados.
-Senhor Tiago Weiss, quer dizer Rabino Weiss?
--Sim. Shalom Aleichem!- Ele saudou - Em que posso ajudar.
-Eu sou Tomás Schneider, neto de Samuel Schneider. O senhor conheceu minha mãe. Para dizer a verdade eu estou aqui porque tenho fortes razões para crer que o senhor seja o meu pai biológico. O homem que antes mesmo que eu completasse a frase já aparentava haver compreendido, deixou o pacote cair emitindo um som de vidro se quebrando.
-Meu Deus! Eu não fazia ideia! Eu nunca soube. Ela nunca me disse nada. - murmurou o homem enquanto se aproximava de mim me apalpando o rosto e em seguida me abraçando.
Logo ele lembrou que estávamos no meio da calçada. Desculpou-se e nos convidou para entrar, mas antes que aceitássemos o convite eu indiquei Leo e o apresentei. Este é Leonardo, meu marido.
Ele ergueu as sobrancelhas surpreso. Estendendo a mão para Leo o cumprimentou de forma positiva.
Abriu a porta e acenou para que entrássemos. Ao passar pela porta ele colocou a mão direita sobre o Mezuzá e beijou, eu fiz o mesmo.
Ele nos encaminhou até um sofá na sala e indo até uma porta chamou:
-Raquel! Deus parece ter ouvido as suas preces tortas. Venha ver. Eu tenho um filho.
Uma mulher magra, de olhos brilhantes.
Aparentando a mesma idade que meu pai entrou na sala com expressão assustada.
-Tiago querido, agora você deu para ter delíri...
Parou antes de terminar a frase.
-Raquel este é Tomás Schneider. E seu marido...
-Leonardo Bernardes, mas pode me chamar de Leo.
-Então eu estava certa. Aquela mocinha Schneider Realmente acabou lhe dando o filho que eu nunca pude lhe dar.
Aqueles comentários estavam me deixando desconcertado.
-Eu acho melhor irmos. - Eu falei me levantando.
-Eu só fiquei sabendo disso antes de ontem e acho que fui um pouco precipitado em vir aqui. Não sei se eu estou preparado para ...esse..
-Me desculpe fui em direção a porta.
-Nós é que nos desculpamos. Disse Raquel se pondo entre mim e a porta.
-Nós sempre desejamos tanto um filho que nem nos demos conta de como você deveria estar se sentindo.
-Mas você não se importa de seu marido haver tido um filho com outra mulher?
- Querido, quando você passa da casa dos cinquenta e com um pouco de sabedoria a sua vaidade não é mais o que move os seus sentimentos. Um filho de Tiago, sempre vai ser o meu filho. E você sempre terá em nossa casa um lar.
Dizendo isso pegou em nossas mãos e nos conduziu para a mesa. Onde nós conversamos por toda a manhã e partimos após o almoço.
Eu estava feliz. Eles eram boas pessoas e nos aceitavam como eramos.
Ao final nos despedimos e eles ficaram de nos visitar para um almoço na Bilóca.
***
Era semana de natal.
Leonardo trabalhara com afinco no que ele chamava de "vingança poética".
Ele pesquisou em vários sites de imóveis até que encontrou o que queria.
Eu tive apenas que assinar os cheques.
Confesso que eu também estava me divertindo com aquilo.
Com tudo pronto, nos dirigimos para a casa da praia com todos os os documentos em uma pasta.
Ao contrário do ano anterior, desta vez não havíamos sido convidados.
Mas tinhamos um aliado.
Durval, o mordomo, ao ser aliciado por Leonardo rapidamente entendeu qual o lugar ao qual sua fidelidade pertencia.
Ao chegarmos Durval foi nos receber, encaminhando nossas bagagens até o meu quarto.
Este ano haviam mais convidados que no ano anterior. Entramos no pátio da piscina e cumprimentamos as pessoas ali presentes. Os gêmeos não vieram este ano, mas Ágata, a arrogante estava lá.
Vestindo um micro biquíni e segurando um copo de cocktail. Ela veio em nossa direção.
-Estou surpresa! Marli me garantiu que você e seu namoradinho viado. Não estariam aqui este ano.
-Bom eu tenho o orgulho de lhe informar que o namoradinho viado aqui foi promovido a marido. E eu vim para me assegurar que você nunca mais passe um natal na nossa casa. - Leonardo que raramente entrava no modo biba, falou com direito a movimento de pescoço e tudo.
Então o que aconteceu a seguir parecia um flash back do ano anterior. Só que desta vez era o Braço de Leonardo que Marli puxava.
Eu não queria decepcionar o meu amor. Deixei o show todo por sua conta.
-Escuta aqui rapazinho! Além de penetra na minha festa, você ainda ousa tratar mal a minha convidada?
Leonardo muito sério respondeu com calma estudada.
-A festa pode ser sua, mas a casa e todo o dinheiro que você disponibiliza é do meu marido.
E na qualidade de esposo, eu vim aqui lhe comunicar que vocês estão sendo despejados. - Fez uma pausa para efeito dramático e sorrindo prosseguiu.
-Aliás, por mim vocês iriam para debaixo da ponte, mas como Tomás é uma pessoa muito generosa, ele me convenceu a concordar em dar para vocês um imóvel, na verdade dois. Então aqui estão as escrituras. - Completou estendendo a pasta.
-O que? Você deve estar delirando.
-Elias! -Gritou ela em sua voz de gralha para o marido.
Elias chegando ao seu lado apenas encolheu o ombro.
-É muito simples minha senhora. -prosseguiu Leonardo com olhar de despreso. - O seu esposo sempre foi um homem sem posses. Todo o dinheiro que vocês usufruem desde o casamento não pertence e nem nunca pertenceu a vocês ele é parte da herança bilhonária de Tomás. Mesmo que o casamento do seu marido com a minha falecida sogra não tivesse sido em separação total de bens, ele não herdaria nada, já que a mãe de Tomás morreu antes de se tornar herdeira.
Agora, vocês dois além de pessoas ruins, são muito ignorantes. Trataram mau a vida inteira a sua galinha dos ovos de ouro. Tomás é a única pessoa que poderia dar algo a vocês.
As pessoas ao redor da piscina assistiam a tudo extasiadas. Eu me sentia em um dramalhão de novela mexicana.
Leonardo prosseguiu.
-Bem, nessa pasta está tudo o que vocês vão receber.
Aqui estão a escritura de um apartamento em um conjunto habitacional no extremo da zona leste da cidade. Talvez morando ao lado de gente honesta e trabalhadora, vocês aprendam a ser decentes. E uma pequena franquia de um comércio de produtos de limpeza ecológicos, para ver se vocês fazem ao menos uma vez na vida algo correto.
Marli começou agritar e xingar que isso não ficaria assim. Que recorreriam aos advogados.
Então Leonardo tirou da manga a sua última cartada. Ou seria golpe de misericórdia?
-Bom a segunda opção é a seguinte. Ou vocês aceitam assinar esses papéis juntamente com um compromisso de não tocar mais nesse assunto, pegam suas bagagem e sumam daqui e de nossas vidas imediatamente, ou nós retiramos nossa oferta e vocês ficam sem nada. Apenas as suas Malas.
Durval que aguardava com uma expressão de perversa felicidade trouxe as malas para a porta com a intenção de aumentar a dramaticidade do momento.
Leonardo então levantou uma mão com as chaves e a outra com os documentos.
-Então, como vai ser?
Alguns convidados filmavam a cena. provavelmente estaria no YouTube ainda aquela tarde.
-Elias? -Falou Marli tentando desesperadamente alguma solução.
-Um minuto querida. -se dirigindo a mim e Leonardo ele disse:
-Podemos terminar esta conversa na biblioteca?
Fomos para a bíblioteca onde Elias fechando a porta disse:
-Meu filho, porque você está fazendo isso?
Vamos ...
-Filho? - Eu disse o interrompendo - Nunca mais se atreva a me chamar de filho. Porque como nós dois sabemos muito bem que você não é meu pai. Aliás, você nunca se esforçou um mínimo para ao menos tentar ser.
Elias abriu os olhos em espanto. -Acho que ele nunca imaginou que eu saberia da verdade.
-Você não faz idéia da felicidade que eu tive ao receber esta notícia.
-Agora assine a porra desses documentos e sumam das nossas vidas de uma vez por todas.
Em menos de meia hora a casa estava vazia.
Eu estava vingado. Mas a vingança não tinha um sabor tão doce assim. Eu e Leonardo estavamos percebendo isso.
***
Era a primeira semana de janeiro Tiago e Raquel vieram almoçar conosco na segunda feira.
Para não correr o risco de cometer erros contratamos um serviço de catering kocher que nos serviu no gazebo ao lado da piscina.
Eu e meu pai biológico estávamos nos dando bem.
Haviamos descoberto que tinhamos em comum a paixão pela natação. Disputamos algumas voltas e eu não perdi por muito pouco.
Leonardo estava feliz em nos ver juntos, mas as vezes eu o pegava com um olhar triste em seu rosto. E eu já desconfiava do motivo.
Foi então que resolvi fazer algo a respeito
Liguei para Sebastião que era o administrador dos meus negócios e lhe pedi ajuda para resolver esta questão.
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CONTINUA
Resposta aos comentários anteriores:
Blacksheep: Obrigado pelas palavras gentis! Epero que tenha gostado do momento "Dramalhão Mexicano", by Leonardo...rsss.
Guininho: Obrigado! Eu é que estou viciado em ter o retorno de vocês. É muito gratificante saber que vocês estão apreciando de montão. Valeu!
Sheilinh@ -_-Luciano-_- e isabela^^ : Pois é seus lindos... Esse autor aqui também não é nada bem evoluido. Adoro uma vingancinha...rsss. Espero que vocês e todos os demais, tenham ficado satisfeitos. Nada como muito dindin pra colocar cada macaco no seu galho né?
Lipe*-*: A história ainda está na metade. Tem muitas novas coisas para acontecer. Segura coração!
cintiacenteno: Arrasou! Amei o que você escreveu. Você também é inesquecível.
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Amanhã a história volta com muitos novos acontecimentos. Bjs!
