Figurinhas de chicletes

Um conto erótico de APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Categoria: Heterossexual
Contém 2640 palavras
Data: 21/03/2015 13:34:50
Última revisão: 17/02/2018 19:00:58
Assuntos: Heterossexual

Figurinhas de chicletes

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

Especial para a "Casa dos Contos".

ADRIANA TINHA DEZENOVE anos, e, desde os treze, alimentava um desejo secreto que não contava para ninguém. Só se dispôs a revelar para mim, seu amigo, em face de nos conhecermos há mais de cinco anos, desde a época em que começamos a estudar faculdade juntos. Ela sonhava fazer sexo oral com o namorado numa câmara frigorífica. Já a irmã caçula, a Andréa, de dezesseis, adoraria ser uma hawaiian girls, e, como tal, transar em um box de autódromo em um dia de fórmula um. A prima das duas, a Sueli, de quatorze, era vidrada em viagens. Daria a vida para estar em Natal, bebendo tequila com seu gato saradão, depois cair numa série de amassos, e, em seguida, ser beijada, deitada só de calcinha e sutiã, nas areias da praia de Ponta Negra, a quinze minutos do centro.

Pensei que essas bobagens fossem coisas banais e que só passassem na cachola dessas meninas doidas, que não tem o que fazer. Até que conheci a Dulcinéia, uma alemoa de olhos azuis, pele clara, típica maneira sulista rosto de criança e um corpo de odalisca. Estava na ocasião adequada para desabrochar, como uma flor rara. Os cabelos castanhos claros e compridos lhe caiam pelas costas. Crescida, sacudida, os lábios cheios, inocentes, indubitavelmente feitos para os beijos. Quando sorria, mostrava duas covinhas no rosto, o que a tornava mais atraente e sedutora. Viajava de Vitória, no Espírito Santo, para São Paulo, no mesmo carro leito que eu. Nossas cadeiras não eram juntas. Eu ocupava a quinta poltrona-cama, individual, lado esquerdo, colada ao banheiro e ela, o assento do corredor, às costas do motorista. O papo teve início quando resolveu ir ao banheiro e, não sabendo como abrir a porta, fui prestativo. Gentil, como deve ser um perfeito cavalheiro, diante de uma dama em apuros. Ao sair, perguntou se eu queria um café, e, com essa desculpa esfarrapada, iniciamos uma conversa boba.

Ao deixamos Guarapari, e em vista das lengalengas que levávamos serem bastante agradáveis, e sopesando o fato de, igualmente a mim, não ter acompanhante, joguei o barro na parede. Convidei a bela para vir se sentar comigo. Colou. Dulcineia não esperou segunda ordem. Pulou de mala e cuia para minha beira. Em face disso, mudamos ambos, para as derradeiras poltronas-leitos nos fundos do veículo. Depois de horas e horas de assuntos os mais triviais, a formosa começou a se soltar e a abrir o jogo. Deitada muito à vontade, as pernas torneadas saindo elegantes pela bermuda jeans curta e colada à epiderme, mostrava, as formas pecaminosas de seu manequim cheirando a fêmea no cio. Com a cabeça em meu colo, a cabeleira presa as minhas mãos, enquanto consumíamos, pelo gargalo, a goles curtos, uma garrafa de uísque que trouxera escondida, falou de tudo e mais um pouco. Por fim, trouxe a tona seu desejo escondido. Transar num ônibus de viagem, quando todo mundo estivesse dormindo. Tinha dezesseis anos, havia transado aos treze, com um primo, ou melhor, feito sexo anal num dia em que sua mãe resolvera sair com a irmã (tia dela) para fazer compras num supermercado. Foi questão de meia hora, talvez menos. Eduardo (o primo), segundo sua narrativa, andava de butuca em seus dotes físicos, fazia séculos. Vivia dando em cima. Não perdia tempo. Bastava ter uma folga, e lá vinha o descarado, ora se insinuando, mostrando as genitálias, ora lhe apalpando o traseiro generosamente esculpido.

– E você, lá no fundo, não sentia nada por esse sujeitinho?

Ela deu um sorriso maroto, e, por um momento, virou o rosto para a janela panorâmica.

– Responda...

Tanto insisti que finalmente cedeu.

– Tá legal. Um treco esquisito, quase abissal mexia forte aqui dentro, quando ele se achegava, meloso, para o meu lado. Dava uns chega pra lá, só para me fazer de difícil, mas no fundo... no fundo queira ver como funcionava a dinâmica da coisa...

– Dinâmica da coisa? Interessante!

– Minhas colegas da escola viviam falando que o negócio de “dar por trás” era legal, gostoso. Que além de ser seguro, evitava uma barriga indesejada. Por seu turno, o Du não era de se jogar fora. Na idade dele, qualquer coisa com duas pernas que usasse saia, bastava para o tresloucado cair matando, sem dó nem piedade, com exceção, quero crer, dos escoceses. Corpo esguio e tenso, a boca brejeira, o falar mansinho e sereno. Parecia um plebeu dos tempos antigos. Seus olhos, meu Deus! - Seus olhos se assemelhavam a dois poços profundos no rosto encovado de um menino macho com uma tarefa urgente: me foder ligeira, como manda o figurino. Uma vez...

Calou-se momentaneamente.

– Continue...

– Tenho vergonha.

– De mim? Não acredito!

– Está bem. Uma vez o peguei na garagem, sabe?

– Fazendo o quê?

Levantou o rosto até perto de meu ouvido para que ninguém escutasse o que iria dizer.

– Batendo uma punheta. A porta que acessava o local, convenientemente entreaberta. Eu passei, devagar. Curiosa, espiei. Du estava com uma revista de mulheres peladas escancarada em cima de uma bancada de ferramentas. De calção e sem camisa, o negócio pra fora... como que dopado por uma superagitação, esfregava para cima e para baixo, com força, empregando as mãos. De pronto, tive a impressão de que preparava uma masturbação intencionando arrancar, com ela, uma boa gozada. Não deu outra. De repente, meu primo começou a dar uns gritos...

– E você?

– Eu fiquei apavorada. Até os pentelhos dos meus sovacos se arrepiaram. Acho que por ver aquele jato branco, saindo da rola, pingando no ladrilho que cobria todo o chão, senti nojo. Deu vontade vomitar até as tripas. Uma queimação me subiu dos pés às orelhas. No final, por infelicidade, ele acabou me pegando com a boca na botija...

– Como?

– Fazia uma semana estava resfriada. Tossindo, sabe aquela tosse de cachorro? O nariz pingando. E, nesse dia da garagem, por sorte, ou azar, eu havia tomado banho quente e saído no vento, descalça. Não consegui controlar um surto de espirros. Nessa hora, ele se virou assustado, e correu para identificar o intruso. Quis me esconder, entre uns arbustos, mas não deu tempo...

–Aí...?

– Vendo que era eu, fez sinal para que voltasse e entrasse. Nossa empregada, a Ritinha, pintou na hora e cortou o barato.

– Se ela não tivesse aparecido...?

–Eu teria caído em tentação.

– O que acha que aconteceria?

– Não sei. Ele certamente iria me pedir para fazer alguma coisa. Vivia me enchendo a paciência, obstinadamente, pedindo para segurar, apertar, olhar o tamanho, um saco...

– E você?

– Não dava trela. Cortava o barato. Mas um belo dia...

– Prossiga...

– Um belo dia... Um belo dia, ele viu a oportunidade única de partir para o ataque. Foi tão sutil, a coisa, o ato, a situação, que eu não resisti.

– Quero ouvir desde o começo.

– Lembra que falei que mamãe saíra com a tia Dalziza para ir ao supermercado?

– Quem é a tia Dalziza, mesmo?

– Mãe do meu primo Du, irmã da minha mãe.

– Ah!

– Mal as duas picaram a mula, ele chegou. Eu viera de uma seção de cinema que fora junto com as meninas do nosso bairro. Como a mãe tinha se ausentado com a tia, e, em casa, só estava a empregada, eu tirei a roupa toda, joguei no tanque, me enrolei numa toalha e fui para o banheiro. Não tranquei a porta. Logo que abri o chuveiro, e pulei para debaixo, o Du deu o ar da graça. Como se fosse o dono da cocada preta botou “as coisas” pra fora e começou a mijar. Depois disso...

– Não pare...

– Cuidadosamente o espertinho tomou a precaução de nos fechar por dentro. Ficou totalmente pelado e escancarou o acesso ao box. Quando me virei, ele segurava a piroca. Embora fina, a tripa parecia, tipo assim, um dedo de gigante. Numa primeira visão me vi assustada, acuada. No minuto seguinte, me imaginei dançando naquele belo naco de carne elegantemente enrijecido diante da minha fome nervosa. – “De hoje você não me escapa”. – Disse meu primo iniciando uma movimentação cadenciada e adivinhando meus desejos bestiais. – Sua voz tinha toda a seriedade de um homem maduro. –“É a partir de agora – completou ele, o suor escorrendo - “E a partir de agora, que faço você virar minha puta”. Ato contínuo me colocou de cara para a torneira. Sinalizou para que eu abrisse os braços como em gesto de sacrifício. Pegou o sabonete líquido que eu usava, passou em minhas costas, depois foi descendo. Me ensaboou todinha, da cabeça aos calcanhares. Demorou um pouco, derramando o produto nas minhas nádegas. – “Você tem uma bundinha maravilhosa!”. - Falou em tom prosaico. – Não parou. Seguiu adiante. Alisou as costas, as coxas, depois se fixou no rego. Foi então que me encostou o ferro, de leve. Começou a pincelar. Parecia que o bicho se prostrara mais rígido e grosso. Completando a brincadeira, para acabar de vez comigo, com o indicador, garrou a fazer movimentos circulatórios em torno do meu...

– Sim...?

– Do meu cu. Contra a minha vontade, acabou atolando fundo, sem piedade. Cerrei os dentes. Doeu muito, ardeu como o diabo, queimou como brasa. Sei lá. Tudo isso ao mesmo tempo. Por fim, o canalha, assumindo uma expressão severa, pediu sutilmente que eu me ajoelhasse e chupasse...

- Continue...

- Grudou nos meus cabelos, e, num rápido e certeiro comando, entupiu minha boca me fazendo engolir a comida proibida...

- Nossa. E depois?!

- Mamei tanto, tanto, que poderia lhe dizer, sem medo de errar, que os músculos da língua se atrofiaram. Sem falar nos maxilares, que pareciam petrificados. Sem se dar por achado, Du não deu trégua. Me fez ficar de pé, outra vez, desta feita, as palmas das mãos praticamente soldadas à parede. Mais que depressa, ordenou que arrebitasse um pouco, o rabo, para o lado dele. Obedeci. Aquela altura do castigo que me aplicava me deixou fora de mim. Estava doida, o caneco coçando, querendo ser penetrada. Se ele demorasse um segundo que fosse, eu mesma me encarregaria de tomar a iniciativa. Como se lesse meus pensamentos, Du me segurou pelos quadris e me obrigou a me abaixar. De tácito acordo, fiquei numa posição jocosa. Os lábios quase encostados ao chão, ao contrário do bagageiro, direcionado a seu apetite insaciável. Du não perdeu tempo e mostrou a que veio. Pulou para o ritual da iniciação.

- Ritual da iniciação?

- Sim. O espertinho criou uma atmosfera mística em torno daquele momento que antecedeu a minha punição. Me senti uma deusa, e, ao mesmo tempo, uma galinha. Com a adrenalina a mil, Du enfiou tudo, com força, na raça, movendo o mastro com gestos harmoniosos e objetivos, como se liberasse, em cada arremetida, toda a sua fúria descomedida. Terminada as estocadas (onde eu magistralmente perdia as pregas e me tornava uma piranha safada), juro a você que vi estrelas. Recordo que urrei de dor, berrei de prazer e de satisfação, numa mistura estupenda e fantástica. Eu tinha convicção, de que, daquele momento em diante, acabava de assumir a minha maturidade como quem se reveste de um traje para um baile de gala. Ritinha bateu no vitrô que acessava para a área de serviço, perguntando o que acontecia. Disse que tinha levado um baita de um choque, que estava tudo sob controle. Convenci. Ela voltou para os afazeres. Meu primo, voraz, esganado, faminto, continuou pregado, firme, as pernas abertas, me açoitando sem dó nem piedade. Puxou meus cabelos, entortou minha cabeça para trás. Aplicou uma série de tapinhas em ambas as bandas da bunda. A mesma mão que ajudava a empurrar a banana no meu cano de descarga, igualmente acautelava o duro e vigoroso verdugo que me arreganhava, e me deixava, cada vez mais, de cofrinho dilatado. Nesse frenesi sem precedentes, xinguei meu primo de veado, de safado, de aproveitador. Apesar dos petelecos malcriados amoldados com autoridade e precisão, toda aquela judiação me levou ao deleite. Depois dessa farra, dessa orgia animalesca, atinei que ele havia se fartado e me empanturrado, até a alma, da sua porra viscosa e quente. Tratei de me lavar as pressas, correndo... Abalada, acovardada, pelo medo mórbido de engravidar...

– Pelo cuzinho?

– Sei lá. Talvez, se o esperma escorresse para onde não deveria...

– Associado com espuma de sabão e água corrente? Pouco provável.

– Por via das dúvidas... não pensei duas vezes.

– E depois?

– Passei a evitar a criatura. Quero dizer, de ficarmos sozinhos, frente a frente, de sentarmos juntos na mesma mesa, para o café da manhã, para o almoço em família, etc.etc. Ele continuou no seu papel, fazendo novas investidas, mas eu preferi botar uma pedra em cima definitivamente e não ceder uma segunda vez aos seus encantos, nem aos meus impulsos... mais as minhas ousadias que as dele...

– Pelo que pude perceber você gostou do acontecido. Previ errado?

– De forma alguma. Amei. Para evitar futuras confusões, achei melhor romper definitivamente... com o passar dos meses, se a safadeza continuasse, a Ritinha acabaria nos pilhando, ou, pior, a mãe danaria a buzinar nos meus ouvidos. Sem contar com a minha tia. Extremamente religiosa... as coisas, em casa, por certo, tomariam rumos bombásticos.

– Foi sua primeira relação amorosa?

– Sim. Depois de uns meses... comecei a “ficar” com um guri da escola. O Zé “Pernetinha”. Não rolou nada, além de uns beijinhos e de uns amassos dentro do carro.

- Só?

- Só.

– Quem teve o prazer de ser o felizardo seguinte?

– Um professor.

– Ah é? - Um professor?

– De português. Cismei de dar para ele. Final da aula, disse que precisava “levar um particular”. Quanto todo mundo debandou, eu ataquei, na boa. Abri a braguilha do cidadão, botei “as coisas” dele pra fora, levantei a saia, baixei a calcinha, virei a bunda, me curvei sobre a mesa e ditei a ordem: coma minha olhota agora. Vamos, não temos muito tempo. Não quero me lembrar de você como um desmancha-prazeres.

– E...?

– Marquinho mandou brasa.

– Marquinho?

– O professor de português. Acabamos saindo umas quatro ou cinco vezes, mas ele se engraçou com a professora de francês...

– Por tudo o que me revelou, concluo que você gosta de... de tomar no cuzinho. Me assiste razão?

Pelo sorriso indescritível que me endereçou, percebi que a minha prescrição fora de toda compreendida. Mesmo grogue, pela ingestão da bebida compartilhada... e depois de um longo período de seca, senti que a jovem estava no papo. Questão de tempo. Com um pouquinho de calma traçaria uma maquininha de picar bosta das arábias.

– Posso falar com sinceridade? Fiquei viciada, pervertida. Adoro dar a rosquinha. Sentir o nabo entrando, me faz parecer, como se a cada nova metida, eu experimente um prato diferente, como um apetitoso manjar que provarei pela primeira vez.

Enquanto descia meu zíper, prosseguiu objetiva.

– A experiência pela qual vivi com meu primo Du, teve efeito terapêutico sobre a minha tendência insaciável de somente querer ser fodida pelo rabo.

Soltou um longo suspiro e continuou eufórica, empolgada.

- Se você me prometer ser carinhoso e jurar que colocará devagarinho... eu libero meu cuzinho pra você. Sento na sua piroca até os colhões ficarem batendo na porta da minha rabeta como as Testemunhas de Jeová. O que me diz?

Antes de aquiescer, espreitei ao redor para ver se alguém nos observava. Tudo em paz. Os poucos gatos pingados sonhavam e roncavam tranquilos, mergulhados em profunda sonolência coletiva.

- E então, meu lindo? O que vai ser?

– Aceito com prazer...

– Me dá só um segundinho. Vou ao toalete tirar esta bermuda e a calcinha. Tenho uma sainha plissada na bolsa, que me permitirá sentar na sua vara e botar pra dentro essa jibóia volumosa, que a mim, me parece, vista assim, querer muito brincar de cavalinho...

- Minha jiboia brincando de cavalinho?

Dulcinéia me lascou um longo beijo na boca e arrebatou a garrafa da mão.

- Ei, amor, libera mais um gole. Estou vendo tudo duplicado... acredita que ainda sou virgem?

– Cabaço...?!

– Zero quilômetro...

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 62 anos é jornalista.

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