Calouro duas vezes

Um conto erótico de Deco
Categoria: Homossexual
Contém 1420 palavras
Data: 19/12/2014 19:08:26

Todos aqueles que já passaram por um cursinho pré-vestibular e sonharam (ou ainda sonham) com o "distante" curso de Medicina - pelo menos no Brasil - conhecem o sofrimento com o qual essa luta faz-nos conviver.

Presumivelmente, estive inscrito nessa lista. O meu nome é André (ou simplesmente Deco), tenho 19 anos e vivo na Bahia, mais um local onde a tão sonhada Universidade Federal (de Medicina, em particular) parece ter se tornado um sonho impossível após a modificação do seu processo seletivo.

No entanto, há muitas outras opções de curso em uma cidade como Salvador. Fui aprovado, então, em uma faculdade particular da qual todos falavam muito bem. Mas eu não acreditava! Para mim, só existia a Federal e ela continuaria sendo o meu grande sonho.

Tão logo, iniciei as minhas aulas em tal faculdade particular no segundo semestre de 2013, sem muitas expectativas e com um desejo cada vez mais distante. Conheci novas pessoas nesse tempo como calouro (ou "bixo", como fui chamado até o fim do semestre), e uma delas me pareceu única, singular, ímpar, definitivamente especial; era ele, com um metro e oitenta centímetros muito, muito mesmo, bem distribuídos naquele corpo que nem os deuses do Monte Olimpo seriam capazes de esculpir. O seu rosto era uma arte ainda não interpretada pelos humanos, de tão misteriosa e, por isso, perfeita. Nesse universo mais do que particular, o que me intrigava era algo diferente: o incrível fato de ele sorrir com os olhos. Como ele sabia fazer aquilo?! Não, ele não sabia o que estava fazendo; a espontaneidade e a originalidade daquele "sorriso ocular" era complementado com uma boca bem ensaiada, a qual acompanhava o brilho de um olhar que transmitia simplesmente toda a felicidade, simpatia, tranquilidade e vida do mundo ao mundo, ou pelo menos a mim. Só que com uma pitada de paixão, um toque de amor e... tesão? Isso mesmo, acho que nem Freud explica. Eu sentia tesão pelo simples fato de lembrar que aquela figura incomum era capaz de existir.

"Aquilo" atormentou a minha mente por todo o semestre, e eu não arranjava coragem de falar com o Davi (sim, era o nome dele). Apesar de que eu também me achava bonito e bem legal, eu tinha certeza de que o Michelângelo não o fizera pra mim. Ele deveria ter outro destino, e só cruzou comigo nessa vida por coincidência. Vez ou outra, contudo, eu o pegava fitando-me através daquelas pedras de diamante com capacidade visual. Não, não podia ser; era só um engano. Havia alguém atrás de mim naqueles instantes (era o que eu sempre pensava).

O semestre, mais do que depressa, acabou. Descobri então que eu estava dividido entre dois grandes sonhos. E eu só podia escolher um deles, pois estavam em oposição - conviver com o grande homem da minha vida e tentar torná-lo realmente parte da minha? Ou ser aprovado na Federal e fazer o tão sonhado curso? - . Seria possível, ainda, realizar os meus dois grandes sonhos? Sim, mas eu teria de fazer nevar em Salvador para conseguir isso. E outra, será que eu realmente serei aprovado nesse vestibular? Hum... o que não custa é tentar!

Fiz então essa prova e aguardei o resultado durante as férias. O que eu não sabia é que certa outra pessoa também a havia feito.

Chegara, enfim, o tão aguardado dia: o do resultado do vestibular. Era dezembro de 2013. Peguei ansiosamente o tablet que eu havia ganhado em um sorteio, ainda no Ensino Médio, e acessei o site da universidade. Depois de meia hora de angústia, isto é, do congestionamento da página (o que insistia em travar o navegador), consegui visualizar a lista de aprovados. O teto caiu sobre minha cabeça quando percebi que o meu nome não estava ali. O único consolo que tive nesse momento foi o fato de saber que, pelo menos, eu teria mais cinco anos e meio para conquistar o coração do homem da minha vida. Até que...

...a casa desabou com a explosão de uma bomba atômica dentro do meu próprio cérebro. Era impossível acreditar naquilo!

Quando enfim me recompus daquela hecatombe, olhei novamente para o nome do Davi. Sim, o Davi, aquele por quem passei tantas noites e dias desejando, a minha obra de arte predileta, acabara de se estilhaçar em mil pedaços. Ele havia sido aprovado na faculdade da minha vida. Toda a esperança do mundo acabara-se naquele momento. Os meus dois grandes sonhos foram definitivamente destruídos, um após o outro, em questão de segundos.

Deitei e chorei e pensei e chorei e rolei e chorei e dormi, ainda chorando. Enfim acordei e continuei sem acreditar no que via novamente na tela do computador portátil. Era o fim de tudo na minha vida.

Após as terríveis e demoradas férias, voltei às aulas. Iniciei o semestre com menos esperanças ainda, e só andava triste. Entretanto, comecei a estudar com ainda mais foco e determinação para algo ainda mais difícil do que o vestibular: a monitoria de anatomia da faculdade. Sim, ela era realmente o maior desafio de todos até então. Só haviam oito vagas e, para ser aprovado, eu não teria sucesso com menos de 90% em cada fase do processo de seleção. O período foi difícil sem a presença daquele que tanto desejei, sem o brilho daquele "sorriso ocular". Repentinamente, o semestre termina e vem a prova de monitoria. Passei três dias naquela seleção e enfim, aguardei o resultado. Era Junho dea semana depois, acessei o meu e-mail institucional e lá estava a mais do que aguardada mensagem eletrônica que anexava a lista de aprovados da monitoria...

...sim, eu havia passado. Chorei de alegria ao ver aqueles oito nomes apertados e ao constatar que um deles era o meu. Pelo menos, essas férias seriam um pouco menos tristes.

Uma semana depois, o site da faculdade divulgou a lista de aprovados no seu vestibular. Eles seriam os meus calouros e alunos de anatomia. Eu iniciaria o meu terceiro semestre como monitor daquela nova turma. Abri a lista, até então, sem muita ansiedade, devagar. Subitamente, no meio daqueles cem nomes emaranhados, um deles chamou a minha atenção. Não era possível.

O Davi?! Como assim?! Ele não tinha ído para a Federal?! Não acredito!

Sim, meus amigos, o Davi tinha sido aprovado na mesma faculdade a qual abandonara seis meses antes.

O meu coração fibrilou. Tomei coragem e iniciei uma conversa pelo Facebook.

Eu digitei: - Davi? E aí, cara, td bem? Ñ acredito nisso, velho! É sério msm que vc passou?

Meia hora depois (eu nem esperava que ele fosse ainda responder)...

Davi: - E aee, man! Sim, velho kkk.

Eu (quase que instantaneamente): - oxe, o que aconteceu, man?

Davi: - Desisti da federal e quis tentar a nossa facu de novo. Vc nem imagina a minha frustração, cara. Fiz uma grande merda em ir praquela ilusão. Pensei que tinha feito a escolha certa, mas a federal foi a pior escolha que já fiz na minha vida.

Eu: - Sério, velho? Mas me conte o que aconteceu!!

Davi: - Então, man, o fato é que a federal só tem nome msm. E tbm por ser 0800, né!? Kkkkkk. Enfim, o curso de lá é horrível, os cadáveres já devem ter quase 100 anos q estão naquele laboratório de anato... Os profs são negligentes tbm, faltam mta aula e ñ justificam.

Eu (sem acreditar ainda no acontecimento): - Pô, cara! Nem sei o q dizer. Mas e os seus pais? Ñ encheram o saco ñ?

Davi: - Rpz, por incrível que pareça, não! Eles me apoiaram e disseram que ñ vão se importar em pagar a facu se é isso msm que vai me deixar feliz.

Eu: - Legal, cara. Fico mto feliz por vc. Agora vou ser seu monitor de anato, tá? Kkkkk

Davi: - Eita! Sério?! Q legal, man. Parabéns pra vc.

Eu: - Bom, nos vemos por aí então, né?! Tenho que ir agora...

Davi: - Claro, velho! Abraço!

(Quase digitei "um beijo" nesse instante, mas me contive)

Eu: - Abraço!

Fechei a capa do tablet e fui pensar em tudo o que estava acontecendo. Novas chances haviam surgido e os meus sonhos não tinham certamente acabado. Descobri, definitivamente, que agora eu só possuía um daqueles dois grandes sonhos, visto que eu acabara de saber que um deles não era tão grande assim.

E sobrou qual mesmo? Ah, é claro! O Davi.

Curti o fim das férias de inverno e retornei à faculdade, desta vez muito mais esperançoso... e feliz.

O homem que sorria com os olhos seria meu... e eu, sem saber, já era dele.

Continua...

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Comentários

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O conto é verídico, Lord Ray. Até mesmo os nomes. Obrigado pelo comentário!

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Perfeito com certeza vou acompanhar está de parabéns, é real ou ficticio ??

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Parabens cara... Curti d+.... Dificil ler um conto assim aqui.... Entre na minha pagina e leia os meus: Virei a puta do Renatão e entre outros. A temática é diferente....

Abraços

Peludodf

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Muito bom. Esperando ansioso o próximo capítulo.

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Muito bom. Esperando ansioso o próximo capítulo.

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Gostei bastante.Esperando a continuacao...

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gostei muito, posso dizer que é um bom começo rsrs

Continua! :D

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As partes mais quentes estão por vir. Comentem e votem quando puderem. Até domingo publicarei a segunda parte.

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Esperando a continuação pois esta primeira parte me deixou angustiado...

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Galera, sou o escritor do conto. Por favor, comentem para que eu continue a história. Agradeço a atenção de vocês e peço desculpas pelos erros, pois é a primeira vez que escrevo um conto.

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