Antes das seis XXXIV

Um conto erótico de Carpenter
Categoria: Homossexual
Contém 848 palavras
Data: 06/10/2014 17:02:02

Carlos almoçou conosco, contando as novidades da cidade e sobre a Suiça e o sanatorio. Mais tranquilo, talvez momentaneamente conformado, Fernando interagia com ele, quase alegre, fazendo perguntas e observaçoes. Vez ou outra, entretanto, eu flagrava nele um olhar de enlevo ao fitar o outro, mas era um tipo de encantamento triste, como o canto de um cisne para aquele amor frustrado que infelizmente se abatera sobre ele.

Passeamos pelo sitio no's tres e no pomar Fernando ia apanhando acerolas e goiabas para Carlos levar, colocando tudo num saco de pano. Vinha um pouco atras de nos, seguido pela gata e dois dos filhotes. Arregaçava as mangas do sueter listrado e colhia com destreza as frutas, as vezes subindo nas arvores com aquela habilidade de indio que eu vi surgir na nossa infancia.

- Voce volta, nao? -perguntei a Carlos em voz baixa - Temos os domingos livres aqui.

- Gostei de vir - ele sorriu, olhando em volta - Lugar bastante aprazivel, panorama e clima ideais... Uma pena ser tao longe da capital. Mas volto, claro.

- Bom saber disso .A sua amizade tem se mostrado muito importante, e para ele ainda mais - fitei -o por um momento - Nao tire isso dele, Carlos. Eu sei que ele gosta de voce, e acho que vai gostar por muito tempo, mesmo estando comigo e me amando...Portanto, se a sua presença e amizade, o maximo que ele pode ter de voce, deixa -o feliz, nao quero priva -lo disso.

Carlos nao me encarou, constrangido de repente. Bateu um vento frio à sombra das arvores do pomar e ele fechou a jaqueta, enfiando as maos nos bolsos. Olhou para tras rapidamente, para Fernando embrenhado na copa duma goiabeira alta.

- Eu nao gosto dele, Reinaldo, nao desse jeito - murmurou.

- Eu sei. Se soubesse que voce o enxerga de outro jeito nao estariamos tendo essa conversa e desejaria que nos deixasse em paz. Caso eu nao vencesse o amor que os uniria, abriria mao de Fernando, mesmo morrendo por dentro. Se isso o fizesse feliz,faria, mas lutaria antes. Contudo, Carlos, ha muito estou convencido que voce nao corresponde a essa molecagem dele e quero, entao, que ele fique feliz na medida do possivel, com sua companhia eventual.

- Estranho que tolere isso - ele deu um sorriso ironico - Mostra que confia em mim.

- E tenho razoes para desconfiar? - contive uma risada - Antes, talvez. Mas nao agora. Ou quem sabe eu nao tenha vocaçao para idiota e corno?

- Sem chances - ele riu - Nao de minha parte, garanto. Sabe, a Carolina tem vindo me visitar toda semana, desde que regressei. Nao me sinto ainda apaixonado, porem...estou perto.

- Mesmo? -encarei -o com um sorriso, percebendo que Fernando tinha descido da arvore, num pulo certeiro como de gato - Olha, nao deixe que ele saiba disso. Vai ficar muito triste e nao quero ve -lo assim.

- Esta certo.- ele concordou em voz baixa.

Afinal, perto das quatro horas da tarde Carlos se preparou para ir embora. Guardou o saco com frutas no bagageiro da moto, calçou as luvas, se despediu de mim com um abraço e outra vez tentei falar na nossa divida com ele, mas fui calado por um gesto impaciente :

- Ja disse. Nao pense nisso agora - falou.

Fernando nao chorava, mas fitava -o com um ar doloroso, amassando nos dedos, distraido, uma folha de eucalipto. De subito, quando Carlos o olhou, pronto a partir, ele nao aguentou: se adiantou e o abraçou com toda a força, com uma mao acariciando os cabelos do outro. Depois o beijou no rosto, fazendo Carlos corar e meu estomago se revirar por um momento.

- Volta logo, por favor - murmurou Fernando o olhando.

- Claro -ele sorriu, me olhou, subiu na moto pondo o quepe e os oculos - Ate mais, amigos!

Deu partida e se foi, saudando -nos à distancia. Ficamos olhando ate que sumisse de vista e entao voltamos para casa. Fernando sentou -se no degrau de pedra da varanda e ficou quieto, olhando a tarde começar a cair, triste como ele. Tomei lugar ao seu lado e o puxei para mim, encostando -me na pilastra e o envolvendo com um braço.

- Canta pra mim - ele pediu num sussurro - Sinto falta dos nossos discos.

- Cantar o que? Nao sei ingles, nao - ri baixinho beijando seus cabelos.

- O que voce quiser.

Puxando um pouco da memoria, comecei em voz baixa o "Esses Moços", do Francisco Alves :

Esses moços, pobres moços

Ah, se soubessem o que eu sei

Nao amavam, nao passavam

Aquilo que ja passei

Achei estranho que a letra parecia falar a nos, em particular, mas prossegui e Fernando nao reclamou.

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Mil perdoes pela errata (de novo) .

Adoro seus comentarios, seus fofos e lindos! Comentem mesmo! Ate o proximo!

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momento.

- Volta logo, por favor - disse Fernando, o soltando.

- Claro! - ele sorriu, me olhou, subiu na moto pondo o quepe e os oculos - Ate mais, amigos!

Deu partida e se foi, saudando -nos à distancia. Ficamos olhando ate que sumisse de vista e entao voltamos para casa, em silencio. Fernando sentou -see nos degraus de pedra da varanda e ficou quieto, olhando a tarde com

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Comentários

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Tô dizendo isso! O Reianaldo tem vocaçao pra santo. Quero um desses pra mim. Coitado. Ele só pode amar muito o Fernando. Eu nao conseguiria viver sabendo que ele amava outra pessoa tambem. Isso é doloroso. Eu estou chorando aqui já! Como é que eu vou ficar sem esse conto? Já salvei no meu pc. Tenho que mostrar isso para os meus filhos em um futuro distante. As pessoas precisam ler sua obra. Isso é tao vida real tambem. Amar alguem que nao nos ama o suficiente, mas mesmo assim permanecer nesse relacionamento. :'( Só qeria que o Reinaldo fosse feliz por completo. Mas parece que a felicidade dele é está ao lado do Fernando nao importando o quê. Bom, minha amiga. Coraçao tá apertado com a espera do ultimo capítulo. Parabéns! Beijos.

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Aff que triste isso..viver com alguém que ama outra pessoa..acho que seria um sofrimento. .uma pena ser o último. .

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Perdoem o erro no final ;/ O proximo capitulo será o ultimo.

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