Fidaldos - "Par de Esmeraldas"

Um conto erótico de Math
Categoria: Homossexual
Contém 3653 palavras
Data: 24/10/2014 13:34:48

N.A.: Esqueci de mencionar, mas eu publico essa estória no Nyah Fanfiction!, e em breve vou postar no Fanfiction.net e talvez no Spirit. Não é plágio, não se preocupem! Boa leitura! (Não sei quando vou postar novamente, acho que só daqui duas semanas :v)

Os olhos piscavam de forma lenta, e nem chegavam a abrir totalmente pois a claridade fazia as íris arderem. Aos poucos estava a acostumar-se com a claridade, e os objetos a sua volta tomavam forma. Mas ele não não conseguiu evitar de gritar. A dor era tanta que tinha a impressão de estar com todos os ossos do corpo quebrados. Além disso, era como se um ácido percorresse suas veias e artérias. O rosto jovial e de pele clara, que chegava a ser pálida, estava comprimido em finas linhas de expressão que denotavam dor. Enquanto se contorcia em agonia, ouviu uma risada que soou bastante familiar.

— Não grite como uma menininha, Donzela. Logo acostuma-te. — Pierre novamente riu, com descaso.

Louis fora carregado, ainda desmaiado, pelo loiro até uma floresta e largado por sobre as folhas de carvalho. Para logo então Pierre sentar-se num tronco apodrecido e almoçar um filhote de cervo. Agora que acordara, Louis estava estirado sobre as folhas sofrendo das piores dores de sua vida.

— Dormiu por seis dias, Donzela. Foi uma pena não ter visto o tour que fizemos.

Aos poucos sentia seu corpo adormecendo e em seguida esquentando, ele com certeza estava com uma delirante febre. E de fato queria mesmo estar, afinal, o loiro e seus caninos não podiam passar de terríveis delírios.

Pierre terminava seu banquete de cervo, com um sorriso travesso, que deixavam sua boca e dentes num tom encarnado de vermelho. Geralmente as criaturas preferem sangue fresco e humano, mas ele não tinha essas opções naquele dia. Pierre lembrou-se de quando fora ele a sentir as aterrorizantes dores que o outro estava experimentando, e sabia que estavam elas para acabar. E então ele poderia dar inicio a sua diversão.

Os próximos minutos seguiram em absoluto silêncio, principalmente por parte de Louis, que sentia as dores se tornando suportáveis. Ele ainda jazia no chão e os olhos apertados, esperando que passasse por completo. Quando finalmente cessou, Louis abriu novamente os olhos, avaliando o local.

Pierre já terminara a refeição, e agora reparava nas reações do outro. Notou que ele não parecia como um polonês. Mais baixo que a maioria dos homens, o rosto sem nenhuma imperfeição, nariz fino e naturalmente empinado, pele tão alabastrina que lembrava um albino, se não fosse pelos cabelos castanhos acobreados que caiam ondulados nos ombros, e olhos da mesma cor; oscilados entre o castanho e vermelho. Bonito, muito bonito.

Louis sentou-se de lado, se perguntando que porcaria de floresta era aquela e como ele fora parar ali. Fitou os olhos azuis do outro, e ao fazê-lo, lembrou-se de tudo. Varsóvia em um pandemônio, o tiro que certamente atingira seu pai, o grito de sua mãe, a fuga, a escuridão e umidade do beco escuro, os tiros e fumaça, e, por fim, aqueles mesmo olhos azuis aliados aos afiados caninos.

Pierre, para não perder o costume, sorriu para Louis.

— O que aconteceu? — Louis manteve a voz serena, mas com a testa formando rugas de interrogação. — N-Nós estávamos em Varsóvia, e-eu não sei o que está acontecendo. — Pousou a mão direita no topo da cabeça, ainda sentindo-a latejar.

Pierre — sorrindo — chutou a carcaça do cervo, pra então dar alguns passos por ali.

— O dia está lindo, não é? — Ergueu as mãos para o céu, deixando que o Sol banhasse seu rosto. — O que achas de caminharmos um pouco? Temos muito o que conversar e logo isso vai começar a feder. — Disse, se referindo ao cervo.

Não falaram nada enquanto adentravam a mata, que por sinal não era tão densa. Louis era um poço de dúvidas e confusão. Ele tinha tanto o que perguntar que nem sabia por onde começar e se queria mesmo estar ali para ouvir o que o outro tinha a dizer.

Pierre caminhava alguns passos a frente de Louis, estava distraído olhando por entre as árvores, tanto que nem notou que o menor estava com os olhos fixos em si. O loiro cantarolava baixinho uma canção, a qual Louis não soube identificar, pois era em francês.

Bem, ele não parecia mesmo um... Vampiro, parecia? Louis se perguntava. De fato o loiro era mesmo estranho, mas... Mas nada, essas coisas não existem!

— Saímos de Varsóvia até Gdansk. — O loiro contou. — Polônia está um caos de norte a sul. Depois fomos a Veile, Dinamarca, por onde descansamos. você acordou por uns minutos e quando eu sorri, você gritou ao ver meu dentes e desmaiou novamente. — Pierre narrou ofendido na última parte. — Da Dinamarca à Holanda, e por fim, Bélgica. Amanhã vamos para minha belle Paris. — Então curvou-se como se galanteasse uma dama.

— O que você é? — Louis tomou coragem para perguntar após longos minutos absorvendo as informações do outro. A voz saiu no seu tom habitual, mas ainda sim, hesitante.

Pierre gargalhou, divertido. E Louis franziu o cenho.

— O que nós somos, meu caro. — Corrigiu. — Você não tem nem ideia? — Deu-lhe um sorriso sugestivo, que mostrava os dentes brancos e brilhantes, além de chamativos, pois o de cabelos castanhos reparou especialmente nos caninos grandes e afiados.

Louis não respondeu, apenas engoliu seco e permaneceu fitando-o. Agora ambos encaravam-se, azul nos castanhos. Pierre tinha uma sobrancelha arqueada, como se desaviasse o outro a responder. Vendo que não obteria nada, disse:

— Somos vampiros, caro jovem, vampiros. Sanguessugas, chupa cabras, sanguinários, chupins, parasitas, morcegos... Somos uma imensidão de adjetivos. — E então sorriu, orgulhoso. Pondo-se a girar com os braços abertos, ao som de uma bela melodia que somente o loiro se permitia ouvir.

Louis sentiu o coração falhar ao ouvir a pronuncia do outro.

V-Vampiros?! E desde quando isso existe?!

Louis não notou, mas estava com uma expressão de desespero, os olhos castanhos arregalados e levemente lacrimejantes, e boca entreaberta. Quanto a Pierre, este não mais sorria, tentava respeitar o espaço do outro, mas os olhos tinham um — inevitável — pouco de sarcasmo.

— CÉUS! N-Não! Não, não,não! — Louis finalmente caiu em si, mas a voz saiu uma lamúria. Ele tinha ambas as mãos na testa, apavorado, de costas para o outro.

— Sei que não parece, mas é maravilhoso. — Pierre torceu os lábios, com descaso. — Apenas aceite o presente que o papa Pierre lhe deu. — Finalizou num forte sotaque francês.

— SEU MALDITO BASTARDO! — Louis gritou que até sentiu a garganta arder, fazendo um pouco de saliva saltar da boca. Os olhos ainda bem abertos e levemente úmidos, além do rosto vermelho denotando raiva, com os punhos cerrados.

Pierre riu debochado, já esperava tal reação. Ele sempre ria, ria de tudo. A vida era uma diversão. Fora mordido há mais de um século, e teve a mesma reação que Louis naquele momento. Primeiro o choque, depois o pânico e por fim negação. Tudo passageiro, ele pensava.

— Ora, trate de parar de me odiar logo. É melhor para você, acredite. Pode não fazer sentindo agora, mas eu lhe dei um presente, isso mesmo- — Afirmou com um dedo erguido, como um professor, frente ao olhar indignado de Louis. — um belo presente.

— O caralho que deu! — Louis o fuzilou. Pierre pôs as mãos na boca, em uma falsa reação ofendida. — Não, eu não quero ser com uma criatura anormal. Você não podia ter feito isso, não podia! — Louis com os punhos cerrados ao lado do corpo.

— Ora, cale-se! — Pierre já estava perdendo a paciência. — Transformei-te num vampiro e não há nada que possa fazer, criatura mal agradecida.

— Contra minha vontade!

— Besteira. — O loiro rebateu, como se não fosse nada que valesse sua atenção. — Agora fim de drama.

E nisso Pierre levou o próprio pulso aos dentes, deixando dois furinhos que agora derramavam um liquido vermelho vivo, mostrando a Louis. O menor notou que seus sentidos pareciam muito mais apurados, pois não conseguia parar de olhar com fascinação ao sentir o cheiro de sangue. Ele sentia algo crescendo dentro de si, parecia uma fome descomunal que nunca sentira antes na vida. Sem perceber, acabou dando uns passos na direção do loiro, que o olhava provocante.

— Você quer isso, quer? — Perguntou, sorrindo travesso.

Louis assentiu, mesmo que sem perceber. Não tinha mais controle de suas ações, parecia hipnotizado. Tudo que ele desejava era provar o liquido como se fosse uma fruta suculenta. A boca salivava como quando sentia o cheiro do delicioso chucrute que só sua mãe sabia cozinhar tão bem. Precisava admitir, estava sedenta pelo sangue do homem a sua frente. Mas não, não queria. Não queria sermaldito vampiro. Mas como ele lutaria contra seus próprios instintos agora?! Não conseguia se controlar, e quando deu por si já estava segurando o antebraço de Pierre, como quem segura uma preciosa pedra, ainda com os olhos fixos nos buraquinhos que os dentes do loiro deixaram na pele tão clara quanto a sua própria, sendo possível enxergar boa parte dos seus vasos sanguíneos.

O loiro se divertia. Se fosse por ele, transformaria o mundo em vampiros, só para rever sempre a mesma cena. Achava graça no rosto febril do outro, que anciava por sangue. Pierre dava algumas mexidas no braço fazendo o sangue pingar, deixando Louis ainda mais desconcertado. Então, ambos iniciaram uma dança onde Louis aproximava o rosto no braço ensanguentado e Pierre o afastava, deixando o mais instigado. E foi então que Pierre cedeu, permitindo que o loiro aproveitasse e se banqueteasse.

Louis fechou os olhos, sorvendo o sangue como se fosse a última gota d'água no deserto. O gosto era adocicado, apesar de metálico. Ele sentia que não precisaria de mais nada para viver, só a sensação de saciedade que sentia no momento já bastava.

Pierre achou a cena um tanto sensual, Louis bebia com tanta vontade que o loiro não resistiu a gargalhada. Após alguns minutos em que Louis saciava sua fome, Pierre deu fim ao ato antes que ele próprio desmaiasse. Louis reclamou feito um beserro desmamando, e a comparação fez Pierre rir ainda mais.

— Viu só? Eu sei, eu sei, a sensação é ótima. Sente-se mais forte, garotão? — Outra gargalhada. — Vamos nos divertir muito! — Concluiu, animado.

Louis tinha o olhar perdido e mão sobre os lábios, sentindo os próprios caninos pontudos que ele não conseguia controlar dentro da própria boca. Respirava levemente ofegante, e podia sentir o coração batendo descompasadamente. Ele queria saber lidar com aquela confusão.

— Certo. — Pierre iniciou. — Há uma cabana aqui perto, onde vamos descansar e sair amanhã pela noite. — Disse, e foi então que notou o olhar do outro. — O que foi? Não me diga que você acredita na velha história de que vampiros nunca dormem! Poupe-me! — Saiu, gargalhando.

***

— Nós comemos e dormimos todos os dias, e não precisamos de sangue em todas as refeições, mas ele nos deixa mais fortes e se o tomarmos não envelhecemos. Podemos comer comida normal, mas carne crua é uma delicia. Somos quase imortais, digo isso porque algumas coisas nos matam, outras não fazem nem cócegas. Fogo, decapitação, bala de prata, estaca no coração certamente mandam um vampiro diretamente pro inferno, do restante podemos sair quase ilesos. — Pierre fez uma pausa para respirar e pensar se não estava esquecendo de nada, com o dedo na cabeça. — Alguns animais podem ser um veneno se você beber seu sangue depois de mortos, tais como cavalo, boi, búfalo... Outros não perdem o sabor, como morcegos, ratos e cachorros.

— Você só pode estar brincando comigo! — O moreno bradou.

— Brincando? Eu? Quem dera! — Pierre estava chocado. — Eu não brincaria com isso. Prove um morcego e verás que falo a verdad- — Mas foi interrompido.

— Meus pais foram mortos! Mortos por alemães! Havia muita fumaça, tiros... Eu não sei o que esta a acontecer no meu país! E-E agora eu estou recebendo instruções de sobrevivência de um... Vampiro? — Cuspiu as palavras, com desprezo.

— Morreram porque não tiveram a mesma sorte que você, de me encontrar! — Sorriu abertamente. — Agora fecha-te essa matraca e deixe-me pensar se não há nada da qual me esqueço. Ora, não temos muito tempo. — Murmurou, emburrado, mas logo sorriu com algo que lembrou.

— Muito tempo para que? — Louis indagou antes que o loiro começasse a falar algo com entusiasmo.

— Tempos difíceis se aproximam.

Louis não entendeu nada do que o loiro quis dizer com 'tempos difíceis', e tampouco se importou. Ele desejava ter um tempo sozinho e pensar em seus pais, sua cidade, sua situação.

Sem perceber, ignorou completamente o que o loiro dizia.

***

No dia seguinte, Louis sentia uma forte dor nas costas. Resultado de ter dormido de mau jeito numa cama de madeira.

— Vocês não dormem em caixões, como nas histórias? — Indagou para Pierre, que arrumava seu cabelo loiro num bonito trançado.

— Não. Nós — Corrigiu, enfático. — não dormimos em caixões. Muito do que dizem em histórias é mentira.

Louis permaneceu pensativo, ainda era complicado digerir toda a história.

— Pegaremos um trem em Bruxelas hoje a noite, é a cidade mais próxima de onde estamos. Foi um sufoco contornar a Alemanha até aqui. As fronteiras estão cada vez mais reforçadas. Depois iremos para Paris. Se prepare, querido, o dia será longo. Ainda mais porque você não esta preparado pra voar.

— Como é? E-Eu posso voar?

— Oh sim. — Pierre suspirou. — Você ainda tem muito que aprender.

***

Pegaram o trem em Bruxelas e rumaram até Paris. A viagem durou a madrugada toda, sendo bastante complicada para Louis que teve problemas em se controlar — os pescoços alheios pareciam muito apetitosos. Quanto a Pierre, este estava bastante acostumado, tivera muito tempo para aprender a se controlar. O loiro contou que estavam indo 'para casa', e que morava com alguns amigos. Ao chegarem, pegaram um táxi e partiram para um bairro bastante nobre da cidade.

Louis estava encantado. A arquitetura contemporânea da cidade, os parques, museus e avenidas deixaram seus olhos arregalados e brilhantes, ainda mais quando, ao longe, pôde ver a beleza do nascer do sol próximo da Torre Eiffel e, mais adiante, a Piramide de Louvre.

— Nunca vieste à adorável Paris? — Pierre notou o olhar admirado do outo para as ruas da velha cidade. Raros eram os europeus que não conheciam o continente de cabo a rabo, sendo tão fácil transitar através de trens e afins.

— Está é a primeira vez.

— Em breve conhecerá toda a Europa, e até a América. — Pierre prometeu com exibição.

Entraram em um prédio alto e de mármore escura, que apresentava ser muito antigo, como basicamente todos em Paris.

Antes que Louis pudesse indagar por que iria conhecer outros continentes, Pierre avançou pelo prédio, entrando no elevador de madeira. Já em frente ao apartamento no último andar, o loiro bateu duas vezes e em alguns segundos mais uma vez. Era um código para que os colegas soubessem que era alguém do grupo.

Em poucos instantes, um garoto ruivo, nu da cintura para cima, de aparência andrógena e corpo esguio que aparentava a mesma pouca idade de Louis abriu a porta. Era Aaron, que abriu um sorrisinho para Pierre, antes de fitar Louis dos pés à cabeça e logo voltou para dentro do apartamento.

— Quem é? — Alguém gritou de dentro do apartamento.

— Pierre e mais um gatinho resgatado. — Aaron respondeu.

Louis torceu o nariz para o tom do outro, mas engoliu sua vontade de tirar satisfações com o ruivo que já nutria antipatia. Pierre e ele adentraram o apartamento. Era bastante grande, Louis notou, mas com decoração estranha.

Atirado em um sofá de camurça havia um homem negro e forte, de cabelos rastafári presos num coque despojado, e sobrancelhas grossas. Ele acenou para Pierre e levantou-se para cumprimentar o desconhecido.

— Prazer, sou Richel! — Esticou a mão direita.

— Louis. — Não sorriu, mas aceitou o comprimento do outro.

— Esse é Aaron. — Apontou para o ruivo, que apenas cruzou os braços olhando sério para Louis. Que simpático, Louis pensou irônico. — Não ligue muito para o jeito dele. — O negro se inclinou para sussurrar.

— O que tem para comer? — Pierre gritou da cozinha. — Estamos famintos.

— Só vamos caçar daqui dois dias. Vire-se com o que tem. — Aaron falou.

Louis notou que o ruivo era mesmo antipático. Logo Pierre apareceu bebendo o conhecido líquido vermelho em uma tacinha. Ele ofereceu outra para Louis, que sorveu tudo em poucos goles, logo se sentindo mais forte.

— Ele é iniciante. — Louis falou tapando com a mão um sorrisinho para os amigos que notaram a sede do outro. Aaron revirou os olhos e Richel sorriu simpático.

— Pare de trazer qualquer um para cá. — Aaron murmurou, irritado.

— Fala como se não tivesse sido trazido por mim. — Pierre alfintou, sorrindo travesso.

Aaron ignorou, e Louis percebeu que não gostava mesmo do ruivo esnobe. Richel convidou todos para sentaram-se. Os sofás, que ao todo eram quatro, tinham capas coloridas, lembrando decorações ciganas.

— Onde estão os outros? — Pierre indagou.

— Resolvendo um problemas.

Pierre assentiu, sorrindo, ele sabia do que se tratava. Em menos de uma hora, tempo esse em que Aaron, Richel e Pierre jogavam conversa fora enquanto Louis apenas observava, ouviram duas batidas na porta e por fim mais uma.

Richel abriu a porta e dela passaram quatro pessoas. Dentre elas uma mulher, era alta e muito esbelta. Louis ficou encantado com sua beleza. Mas, o que diabos uma mulher estava fazendo no meio de tantos vampiros?!

Junto da bela mulher, mais três homens. Um oriental de pouca altura, mas muito intimidante até pela forma como caminhava, de cabelos escuros e arrepiados. Outro de cabeça raspada, entroncado e com o corpo repleto de tatuagens ameaçadoras. E, por fim, um homem de longos cabelos cacheados, olhos tão verdes que mesmo de longe lembravam um par de esmeraldas brilhantes, era alto, sem exageros, mas ainda sim empunhava respeito, além de forte, mesmo que vestisse um sobretudo preto. Louis percebeu que ele parecia ser líder de todos, pela forma como os outros o respeitavam até pela forma como o olhavam.

O último homem olhou sério para todos, parando alguns segundos em Louis, que sentiu o coração acelerar ao sentir os olhos cor de natureza fixos em si. Por sorte, logo o homem desviou e seguiu sério e silencioso para dentro do apartamento.

— Não repara nele. Antonnello é assim mesmo. — Uma voz doce pronunciou, e Louis virou para encará-la. — Sou Corina. — Sorriu. A boca era carnuda e rosada, tão viva que chegava a ser paradoxal compará-la a uma boneca. Dentes brancos e brilhantes, adocicados se não fosse pelos caninos pontiagudos.

— L-Louis.

— Esses são Eiko e Natanael. — A mulher apresentou o oriental, que apesar de parecer, aos olhos de Louis, um rapaz de poucos amigos, lhe sorriu, e, por fim o homem de cabelos raspados que apenas arqueou as sobrancelhas num acesso mudo.

— Você é um de nós? — Natanael indagou, sentando-se no chão.

Louis assentiu com agastamento em admitir.

— Ótimo! — Pierre cantarolou. — Acho que já sabe os nomes de todos os seus irmãozinhos.

— Nos conte mais sobre você, Louis. De onde veio? Como conheceu Pierre?

Todos na sala pareceram interessados em saber a resposta, até mesmo Aaron.

— Os alemães invadiram Varsóvia, onde eu moro, er... Morava. Enquanto eu fugia, acabei encontrando esse aí. — Apontou com o queixo para Pierre, que sorriu orgulhoso.

— Por que invadiram? — Aaron perguntou, abismado.

— Ouvi rumores, pelas ruas, que levaram judeus para trabalharem em áreas rurais. — Eiko respondeu, torcendo o rosto mostrando que ele próprio achava confuso.

Todos acharam a resposta um tanto estranha. Principalmente Louis, que há muito se perguntava por que os alemães agiram com tanta violência. E, quanto a levarem judeus para trabalharem, isso soava ainda mais estranho, afinal, judeus eram conhecidos por suas fartas condições financeiras.

Corina queria saber mais sobre Louis. Adorava conhecer novas pessoas, ainda mais se fossem de países e culturas diferentes, mas então todos deram atenção a quem passava pela cozinha, que era quase grudada a sala, em estilo americano.

— É bem seu feitio mesmo, Pierre, resgatar qualquer um na rua e arrastar para cá. Aqui não é um abrigo. — Se o homem já parecia intimidante, agora ainda mais. Louis nunca ouvira uma voz como aquela. Serena, porém grossa e firme. Falava baixo, mas ainda sim todos ouviam. Era de dar arrepios.

— Precisamos de gente no nosso lado. — Pierre contra-argumentou como uma criança incompreendida.

Antonnello abriu a geladeira, retirando um frasco pequeno com sangue, ao fechar, apoiou o quadril no balcão e virou para encarar todos, mesmo que de longe.

— E como você sabe que ele está ao nosso lado? Você nem mesmo sabe se ele quer estar em algum lado.

— Bem, nisso você tem razão, Antonnello. — Pierre ponderou. — Mas eu sou bom em convencer as pessoas. — Sorriu orgulhoso.

Antonnello torceu os lábios, deixando a conversa para lá, pois conhecia bem o gênio do loiro. Sabia o quão bom Pierre era no quesito persuasão. Mas não gostava nada que trouxessem pessoas desconhecidas para juntarem-se ao grupo.

Louis tentou não se sentir incomodado — ou ofendido — com o diálogo entre Pierre e o tal Antonnello, o qual, junto com o ruivo enfadonho do Aaron, já nutria certo desgosto.

— Precisamos treiná-lo, não é? — Corina indagou pra os cinco, pois notando o desconforto de Louis, queria mudar de assunto. Ela era boa em ler as pessoas.

— Oh sim, cuidarei disso mais tarde. — Pierre espreguiçou-se no sofá.

— Não temos tempo, Pierre. As coisas estão difíceis de lidar. Não sei por quanto tempo vou conseguir manter a paz entre o pessoal. — A moça explicou, preocupada.

O loiro bateu com a mão no ar, estalando a língua num sonoro 'tsc', dando pouco caso ao que a garota dizia.

Em pouco tempo, onde os quatro — Corina, Eiko, Natanael, Richel e Pierre — conversavam sobre o que precisariam para treinar o mais novo membro, Louis bem que queria, mas não conseguiu prestar muita atenção na conversa que o envolvia diretamente. Vez ou outra se distraia por culpa de um certo par de esmeraldas que o encaram mais adiante.

Louis não sabia o que aquele olhar significava, mas tinha uma certeza, boa coisa não poderia ser.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Mathz a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Este comentário não está disponível