O Amor Vai Nos Separar VII

Um conto erótico de Irish
Categoria: Homossexual
Contém 836 palavras
Data: 21/10/2014 18:19:47

Tony tinha alugado para mim um apartamento de dois quartos no centro velho, com vista para o patio do colegio, que foi onde começou a nascer a cidade. Era bonita a paisagem iluminada à noite, embora eu ficasse sozinho depois que ele ia embora. Ainda me acostumava a ter a cama vazia de madrugada.

Mas ele vinha todas as noites, me exauria em sexo prolongado e forte, perguntava se eu precisava de algo, bebia o uisque que havia ali e depois ia embora, jantar com os pais na cobertura de luxo deles, em Higienopolis.

Sem que eu pedisse, nem recussasse, ele começou a me pagar a faculdade,alem de me dar uma polpuda mesada, o que me possibilitou comprar roupas de marcas caras, os tenis da moda e os muitos discos e livros que eu consumia. Estava bem, de fato, nao tinha do que reclamar, e nem pensava mais em Vitor ou nos meus pais.

No primeiro final de semana em que me mudei, Tony quis fazer uma reuniao de amigos aqui em casa, com alguns colegas dele do boxe e da faculdade. Dois ou tres, se viessem. Comprou mais bebida, rocamboles de supermercado, salgadinhos e chicletes. Às nove horas apareceram juntos: Bruno, Zeca e Alex.

Bruno e Zeca eram da academia de boxe, fortes e altos como Tony, filhos de rico, bem vestidos e de aspecto sensual. Alex era da faculdade, mais baixo e menos forte do que eles, reservado e observador. Soube que era filho de um dos advogados do prefeito.

Tive a impressao de que estavam todos cientes de minha relaçao com Tony pois, enquanto petiscavamos na sala, eles nao pareciam constrangidos comigo. Bruno, por exemplo, quase me devorava com os olhos quando Tony se afastava. E foi o primeiro a me preparar uma dose de uisque, que nao rejeitei.

Conversavamos sobre a faculdade, o futebol, sobre musica. O tocador de discos nao parava : ouviamos The Smiths, Led Zeppelin e Joy Division, que Tony gostava muito. Nao eram ruins aquelas musicas meio cavernosas, na voz soturna do vocalista que se matou com uma corda de varal, ouvindo o disco de um cantor chamado Iggy Pop. Tony tinha esse disco, de nome The Idiot. Colocou para escutarmos e era bacana, combinava com a estranheza do caso todo.

Quase onze horas e Tony tirou da carteira tres saquinhos com o pozinho branco e a gilete. Buscou na cozinha um canudinho fino de plastico,cortado menos da metade. Limpou a mesa de centro e preparou nove carreiras.

A mesa era de vidro escuro e o contraste que dava com o branco puro da cocaina era tao fascinante que eu nao deixava de olhar. Tony se serviu primeiro, tapando uma narina e aspirando duas carreiras com o canudo. Respirou fundo para absorver bem e passou o canudinho aos outros que foram se servindo um a um, tomando duas listras por vez. Restou eu.

- Manda ver, Marquinhos - disse Tony.

- Eu nunca fiz isso - falei, hesitando.

Bruno e Zeca riram, e notei Alex me olhando calado, serio.

- Onde voce encontrou esse anjo, Tony? - disse Bruno numa risada alta.

Tony nao respondeu. Fez um gesto me indicando a mesa, sorrindo. Eu sabia como fazer, pois os observei bem e entao, movido por uma vontade subita me inclinei, tapando uma narina e, como eles, aspirando uma carreira. Aquilo ardeu por dentro e cocei o nariz, querendo espirrar.

- Duas, Marquinhos - falou Tony.

Limpei a outra carreira, ate que rapido, segurando o nariz um segundo, como eles. Nao senti nada a principio, tudo para mim parecia igual. Vi o Bruno aumentando o som no ultimo volume, no Love Will Tear Us Apart, do Joy Division. Tirou a camisa, exibindo um peitoral maravilhoso, suado.

- Adoro essa, Toninho! - gritou, dançando desajeitado com a garrafa de uisque na mao.

- Toninho seu rabo, seu buceteiro de araque - falou Tony numa gargalhada, tomando cerveja no gargalo - Essa foi das boas!

Alex suava como se tivesse febre, e sem pedir licença foi ao banheiro. Eu observava tudo em silencio, sentindo uma alegria louca ir crescendo, explodindo sem parar dentro de mim. Zeca revirava a geladeira, procurando por restos do rocambole. Fui pegar agua e o vi sentado no chao, lambuzado de chocolate.

Na sacada do apartamento, a vista nunca fora tao fabulosa. Tudo parecia maior e mais colorido, as luzes pareciam vibrar dentro de mim, pulsando junto com meu coraçao disparado. Eu suava, embora estivesse um pouco frio por ser maio, e ainda aquela euforia que era a maior que ja tinha experimentado. Senti -me o dono de tudo, o mais belo, o melhor em qualquer coisa. Tinha vontade de gritar, de dançar um dia inteiro.

La dentro os rapazes nao paravam em faixa de disco nenhum. Mas de repente puseram New Order e dei uma risada alta, louco de felicidade, de um prazer bruto, gigantesco.

- Caramba! Coisa boa demais! - gritei olhando o ceu escuro e sem estrelas, abrindo os braços, me sentindo o cara mais incrivel do mundo, o mais invencivel de todos.

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Comentários

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Sabe, eu tava reparando aqui, comparando esse seu conto com o Antes Das Seis, parece que outra pessoa ta escrevendo esse. Tipo você tem muita facilidade em adaptar sua escrita, Irish isso é incrível, você é incrível sua linda. Vamos escrever um livro juntos??!! Você escreve e eu fico olhando aprendendo como se faz rsrsrsrs Agora assim, sobre essa parte de drogas eu me senti um pouco incomodado, mas acredito que você também tenha ficado escrevendo. Eu sei que esses fatos vão embasar o decorrer do conto e confio na lição de moral que ta chegando nas próximas partes da história. Outra coisa que eu tava reparando, a seu conto é bem factível, tipo é fictício mas extremamente real, esse tipo de coisa acontece muito todos os dias, e isso me fez pensar sabe, o fato de eu me incomodar com coisas assim me mostra como eu fecho meus olhos pra realidade do mundo, tipo fingindo que isso não acontece, que não existe, já to começando a levar lição de moral do seu conto de agora :(( rsrs Vou sair um pouco do meu "mundo de plástico" e começar a ver o mundo como ele é de verdade. Parabéns irmãzinha, te adoro pra sempre, pra sempre :*******

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Hum, ver o Marcos entrar numa dessas, me da agonia, espero que ele saia sem problemas.

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Muito boa a narrativa, o Marcos se sente onipotente, mas nada pertence a ele. Ele não tem poder sobre nada em sua vida e agora com as drogas vai perder o poder que tem sobre si mesmo. Sua vida será como o céu que ele contemplou: escura e sem estrelas.

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Gostaria de esclarecer que minha intençao jamais será a de fazer apologia à droga nenhuma, ou ao sexo bareback. Estou aqui tentando traçar um rápido panorama da juventude oitentista, com seu hedonismo e sentimento de onipotência. Na época, e talvez ainda hoje, a cocaína era uma droga glamourizada, usada por artistas, intelectuais, musicos, gente da elite. Em meio aos jovens da classe média alta, ela dominava, assim como o LSD vivia entre os hippies dos anos 60. Entao pessoal, nao preciso alertar que isso deve ser evitado, que sexo sem camisinha é roleta russa, etc.

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