A República — Capítulo 5

Um conto erótico de Miguelito
Categoria: Homossexual
Contém 1550 palavras
Data: 09/09/2014 14:04:47
Última revisão: 09/09/2014 14:17:08

Impressionante como tudo muda quando um dos lados cede, ou os dois. Não que eu gostasse dele, imagina! Foi apenas um... entrosamento que aconteceu. Se seria duradouro ou não, não fazia a mínima ideia, mas deleitaria-me com aqueles possivelmente raros momentos de paz.

Após nossa "apresentação oficial", passamos a conversar mais abertamente, contando nossas histórias sobre como chegamos até ali. Eu comecei, falando sobre minha família, amigos, história.

— Eu nasci aqui mesmo, em Natal. Vivi bem, nada de muito sofisticado. Classe média, sabe como é — comento com uma risadinha. — Morei com meus pais e meu irmão, mas... bem, eu não fui muito aceito em casa depois que meu pai descobriu que eu sou... assim. — Fiz uma pausa, respirando um pouco mais fundo. — Então eu busquei a Manu, minha melhor amiga. Contei tudo, desde quando me dei conta de que era atraído por homens. Ela me acolheu, é claro, e disse que logo se mudaria para uma república estudantil. Para cá, mais exatamente.

Nando me ouvia atentamente, mal via-o piscar. Minha história não era feliz, nem um pouco, ainda que agora eu fosse. Ou me enganasse que era.

— Eu vim com ela, até porque não tinha onde ficar. Semanas depois de ingressar na universidade souba da notícia... Ele morreu. Sabe, meu pai. Câncer. E minha mãe resolveu por bem me ajudar, mandando uma pequena mesada. Deste ponto em diante, você já conhece. Tudo normal, tudo indo bem, até eu esbarrar em um garoto que carregava suco de caju e me sujar inteiro. — Ambos rimos.

Por sua vez, Nando me falou sobre Touros, uma cidade do Rio Grande do Norte, onde ele morou a vida inteira. Disse que vivia com a mãe e uma tia, a qual era solteira e velha; nunca teve filhos, nunca sequer deu sinais de que havia saído com um homem, embora Nando achasse que ela não era exatamente virgem. Quando falou sobre seu pai, percebi uma nota de tristeza em sua voz.

— Ele... Eu era pequeno, sabe? Um ano, talvez dois, e sei disso apenas por minha mãe ter me contado — começou. — Meu pai era uma pessoa boa, eu sei que era, mas isso não evitou que ele fizesse o que fez. Eles eram jovens quando casaram, entende? Meu pai e minha mãe. E pelo que sei foi algo forçado por minha mãe ter engravidado. Engravidado de mim.

A nota de tristeza tomara tom de angústia, e eu sentia que Nando estava a beira de um colapso emocional. Aquela história não acabaria bem, com certeza.

— Eles ficaram juntos até criarem uma estabilidade, num ponto em que meu pai sabia que poderíamos nos virar sozinhos. E então deixou-nos para ir viver seu amor, longe da mulher que engravidou, longe do filho que teve. Mas eu não o culpo, minha mãe também não. Ele não era feliz, Miguel, não com minha mãe. Foi o melhor que ele fez. Foi ser ele, sem barreiras, sem impedimentos.

Naquele momento, algo em sua voz fazia-me acreditar numa hipótese não tão improvável. Nando não parava de fitar-me, e eu sustentava seu olhar. Seria o pai dele...?

— Ele era gay. Tinha um namorado... Bem, na verdade era o "amor da vida dele", ainda que eu não acredite nesse tipo de amor que ele supostamente falava. — Nesse momento, baixei o olhar, cabisbaixo. O que ele disse passava de uma nota sobre o pai, e chegava como uma ofensa até mim.

— Então está dizendo que não posso amar, Fernando? — indaguei, fitando-o novamente. Mas, desta vez, ele não olhava-me com suas íris penetrantes.

— Eu... — tentou, mas foi cortado.

Antes que ele pudesse falar qualquer coisa, a porta do banheiro se abre, e por ela entra Manu.

— Achei... quieto demais. Pensei que, sei lá, tivessem mesmo desacordado um ao outro, ou feito algo pior — dissera ela, percebendo que estragara algo. — Entenderam-se mesmo? Sem brigas? Sem divergências?

Ambos sinalizamos que sim com a cabeça, e Nando reprime uma lágrima que escapava de seus olhos. Manu franziu rapidamente o cenho e me fitou, como se perguntasse o que havia acontecido. Eu disse um silencioso "Depois", apenas movendo os lábios.

— A... Nessa disse que podiam sair, caso houvessem se entendido. E acho que sim, então, é, saiam.

Nando foi o primeiro a levantar-se, olhando novamente para mim e assentindo. Em seguida saiu pela porta, e eu acompanhei Manu também para fora dali.

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— Gay? — indagara ela, ainda franzindo o cenho. — Mas... O que ele disse, exatamente?

Contei tudo da forma exata como ele proferiu, elaborando os máximos detalhes. A cada palavra Manu parecia ficar ainda mais pensativa, até que eu falei sobre a parte em que ela chega e interrompe. E mesmo antes da ruiva desculpar-se - pois eu sabia que ela o faria - disse que ela não tinha como saber, e que foi melhor antes que começassemos a discutir de novo, mas daquela vez com lágrimas e um toque a mais de lamúria.

Conversamos um pouco, mas Manu parecia um pouco chocada demais para dar-me orientação. Aliás, eu necessitava de orientação?

— Vou para meu quarto dormir um pouco. Até amanhã, Manu.

— Até.

Isolei-me em meu quarto até o amanhecer do dia seguinte. Nem bem sabia por que motivo eu ficara abalado, apenas a insinuação de Nando sobre a descrença dele no amor entre dois homens não seria todo o motivo, seria?

Perdi-me em meus pensamentos e acabei por dormir pesadamente. Sem sonhos. Sem Nando. Sem perturbações. Apenas o negrume das pálpebras fechadas.

O amanhecer veio como em um estalo. A casa estava silenciosa e meu quarto ainda estava com a porta fechada. Resolvi não ir para a universidade, ainda que soubesse que era imprescindível não faltar. Um dane-se de vez em quando me fazia bem.

Levantei-me e caminhei pela casa após minha higiene, constatando que eu estava sozinho. Voltei ao quarto carregando um sanduiche simples, o qual eu peguei na cozinha - seria meu café da manhã. Não sei como, mas acabei dormindo novamente, sendo acordado apenas com o barulho na porta do meu quarto.

Nando batia à porta, botando a cabeça para dentro, chamando-me. Sentei-me na cama e pedi que entrasse, vendo logo depois o rapaz deslizar por meu quarto e sentar-se à beirada da cama.

— O que você quer? — disse em tom baixo, despertando ainda mais.

— Eu queria me desculpar pelo modo que falei, e também me explicar porque sei que me interpretou errado.

— Não há o que intrepretar errado, Fernando. Eu sei bem o que disse. Sei bem o que insinuou.

— Não é que eu não acredite no amor entre dois homens, Miguel. É só que... não acredito que ele realmente tenha amado esse homem, ou que tenha deixado minha mãe por ele.

Respiro fundo. Ele realmente havia tomado essa interpretação quando proferiu aquilo? Não sei. E mesmo que fosse, não importa. Acho.

— Tudo bem, Fernando. Hã, obrigado, eu acho.

— Ok... Ah, o Du pediu para avisar que vamos sair para jantar em algumas horas. Vamos de carro com a Manu. Você vem, né?

Minha barriga ronca em resposta, eu ensaio um sorriso.

— Acho que isso responde.

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Dei-me conta de que eram cinco horas da tarde, e rapidamente me arrumei depois de um banho. Calça jeans justa, sapatênis cinza, camisa branca estampada e blazer escuro por cima. Estava pronto.

Caminhei para a sala onde todos esperavam. Como devia presumir, estavam todos lindos; Du vestia uma calça xadrez e camisa preta de mangas, além do sapatênis e os óculos de armação quadrada. Nessa estava usando um vestido na altura dos pés, liso, com as costas abertas. Uma maquiagem leve enfeitava seu rosto, a qual a deixava num tom natural, porém tão bela quando uma modelo internacional. Manu, por sua vez, optou por um jeans escuro bem justo, usando uma regata branca folgada e um salto curto. Os cabelos de ambas estavam presos em tranças firmes, deixando-as com um ar ainda mais belo. Mas meus olhos se ateram a Fernando.

Ele usava uma calça jeans escura, usando uma camisa cor-de-rosa de mangas longas, estando estas arregaçadas até os cotovelos. Um sapatênis bem cuidado enfeitava seus pés, e um sorriso de canto de boca estava em seus lábios; sim, ah... Seu cabelo estava arrumado num penteado moderno, bonito e perfeito para ele. Além disso, podia sentir seu cheiro assim que entrara no cômodo, distinguido do dos outros por já estar acostumado com o deles - além de ter sentido o de Nando outras vezes.

Enfim saímos, todos no carro. Nessa e Nando foram na frente, Manu e Du atrás comigo, estando eu no meio. Fomos conversando besteira, até que enfim paramos. Era meu restaurante favorito.

Entramos, escolhemos nossa mesa de sempre (um pouco mais à esquerda, afastada do acesso às mesas, recostada à parede) e pedimos a comida, esperando até que ficasse pronta.

Eu não sabia se era nervosismo por sentar-me ao lado de Nando (que ideia maluca foi essa?), ou se era apenas necessidade, mas eu fiquei extremamente apertado.

— Vou ao... — antes que pudesse completar, Nando levantou-se e dirigiu-se até o banheiro —... banheiro.

Levantei-me e, seguindo-o, fui naquela direção, passando por tantas outras mesas. Ele presumira que eu iria ou foi pura coincidência?

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Bom, pessoal, tive que dar uma pequena sumida esses dias, mas sei que vocês nem sentiram minha falta. Enfim, capítulo 5 postado, e o tamanho foi alterado, espero que esteja bom (está? ;-;). Desculpem-me e obrigado. Bjs, Miguel. ;D

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Comentários

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Ah! Malvado. Você não deve sumir assim, rsrs. Ansioso demais! Posta logo, plis. Dez!

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ja vi tudo kkkkk(ou sera que eu imaginei d+???), Adorei o capitulo, não demora pra continuar pfv. Abração!!! Whats:::: (85)8929-1690

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Ótimo, e sim, senti sua falta. hahaha Continue logo ! hahaha :)

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