Converta-me Se For Capaz (1)

Um conto erótico de Contista Crônico
Categoria: Homossexual
Contém 2069 palavras
Data: 03/09/2014 22:10:27
Última revisão: 03/09/2014 22:11:22

Olá, leitores e escritores da CdC!

Depois de Medicina para Inumanos, eu tentei escrever tantas outras coisas, inclusive uma nova temporada de "Medicina...", mas não fluiu muito bem. Por outro lado, pensei nessa história recentemente e a coisa parece que vai fluir. Aos leitores de Medicina para Inumanos, não estranhem o tempo maior entre publicações. Naquela época eu estava de férias, então o tempo livre era grande, diferente da minha situação atual.

Espero que gostem dessa nova história. Não pensem nesse capítulo inicial que os personagens serão superficiais ou que a história será rasa. Tentarei ao máximo trazer algo bom.

Contato: contistacronico@hotmail.com

Boa leitura! :)

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CAPÍTULO 1

“Caia fogo do céu... queima este altar...”

Bem que poderia queimar mesmo. Olhei para os lados e vi apenas crentes fervorosos com as mãos levantadas, olhos fechados, balançando o corpo pra lá e pra cá, como se estivessem em puro transe. Loucos.

“Mostra pra esse povo que há Deus em Israel”

Mostra pra esse povo que eles estão apenas se segurando numa última pedra de apoio para não cair na loucura completa. Sim, esse é o meu pensamento: o cristianismo é o local de pessoas em estado terminal de sanidade. Eles levam uma pancada do destino e ficam totalmente desequilibrados, e então se apegam a uma religião, pensando que foi aquilo que os salvou. Coisa para fracos.

Meus pais estavam ao meu lado, tão hipnotizados quanto os outros. Suspirei. Claro que havíamos brigado mais cedo. Eles queriam que eu fosse à igreja, eu não queria, e então discutimos. Era sempre assim.

“Ôôôôôôô... Uôôôôôôô...”

Não era totalmente ruim ir à igreja, se eu fosse pesar tudo. Aquele novo baterista da banda de louvor era realmente gato. Foquei meu olhar nele enquanto ele movia seus braços com destreza. Braços... é o que eu mais prezo num cara. E os dele eram muito bons, na verdade os braços de bateristas normalmente são muito bons. Seu cabelo curto arrepiado num topete jovial e seu rosto jovem, mas ao mesmo tempo mostrando uma certa maturidade, o deixavam ainda mais atraente. Másculo, alto, forte, sexy... hétero. Que chato. Eu sabia que havia um novo baterista, mas nunca o havia visto (porque eu evito ao máximo pisar nessa joça). Se eu soubesse que tinha alguém assim ali, eu não teria sido tão contrário à ideia de ir ao culto. Olhei para meus pais com um sorrisinho saliente e malévolo. Eles eram tão inocentes... achando que seu filhinho iria mudar por estar ali naquele lugar. Nunca... Se Deus não me aceitava como eu era, então eu não o aceitaria de maneira nenhuma.

A música terminou e o pastor Lourenço pegou o microfone. Ele era um homem em seus cinquenta anos, com uma leve barriguinha avantajada, usava uma camiseta simples, uma calça frouxa e estava descalço sobre o altar. Usava óculos e deixava a barba crescer até ficar cheia. Não era o tipo convencional de pastor, e era isso que dava o “tchãn” da igreja. Era um local muito mais leve que as outras, com pessoas relativamente mais aceitáveis, embora estivessem longe do meu padrão de aceitação. Eu tolerava.

_Gostaram do louvor, irmãos? Eu fico triste em dizer que essa foi a última vez que ouviremos o Carlos cantar por um tempo.

Todos pareceram surpresos ao ouvir aquilo. Aparentemente, Carlos, o vocalista, era muito cativante e todos o adoravam. Eu era indiferente a ele, já que não era tão atraente assim.

_O Carlos foi transferido para São Paulo no emprego e não tem escolha a não ser ir. Ele vai dar uma mensagem para vocês.

Carlos subiu ao altar e pegou o microfone. O pastor Lourenço desceu e sentou-se numa cadeira junto conosco. Carlos começou a falar:

_Bom, pessoal... é com tristeza que eu me despeço dessa igreja, dos irmãos, dos pastores... Nunca antes eu tinha visto uma igreja tão unida, com uma fé tão forte. Minha vontade era ficar aqui pra sempre, mas Deus sabe das coisas, e se ele me está me mandando para São Paulo, é porque eu tenho uma missão lá.

Blá-blá-blá... que mané missão. Aquele cara devia estar agradecido por ir para um lugar tão mais legal, com caras muito mais gostosos, com mais lugares para frequentar. Eu pegaria o lugar dele numa boa.

_A vaga para vocalista da Ardente vai ficar aberta...

Ei... espera aí... AH, NÃO! DROGA DROGA DROGA, agora eu sabia o que iria acontecer, agora eu sabia porque minha mão queria tanto que eu fosse para a igreja naquele dia. Estava óbvio. Olhei para meus pais e eles olhavam com certa expectativa para mim. Fiz uma cara de quem achava um absurdo. ERA UM ABSURDO.

_...e eu espero que ela seja preenchida por alguém que consiga fazer essa igreja verdadeiramente sentir a presença de Deus.

Eu estava estático. Pode ser que meus pais não fossem realmente fazer “aquilo”. Olhei novamente para eles... Estava escrito na cara daqueles dois. Eles iam fazer. Merda, merda, merda...

_A igreja é quem vai escolher o próximo vocalista. Quem é que se candidata? – disse Carlos com um sorriso cheio de expectativa.

Aquele momento pareceu passar em câmera lenta. Minha mãe, Márcia, levantou a mão com um sorriso.

_O Miguel vai tentar. – ela disse.

Miguel Nimério era o meu nome. Olhei para Carlos de forma assustada, balancei negativamente a cabeça, mas antes que eu pudesse fazer qualquer outra coisa, meu pai, Ricardo, deu um empurrão em minhas costas e eu fui forçado a me levantar. O pastor Lourenço, que estava perto de mim, deu-me tapinhas nas costas em apoio. Olhei para ele com indignação. Olhei para frente, Carlos estava com um sorriso e esperava que eu subisse. Vi os membros da banda. O guitarrista, Alberto, estava surpreso, e não da forma boa. Ele sabia quem eu era de verdade, e com certeza era contrário àquela ideia de eu fazer parte da equipe. O baixista tinha um sorriso no rosto, ele era da vertente “adoramos o Miguel porque os pais dele são super engajados”. Sim, havia duas vertentes: os que gostam de mim por causa dos meus pais, e os que não gostam de mim porque eu sou um completo herege. A maior parte gostava de mim por não saber do que eu era capaz ou o que eu fazia fora das paredes sagradas da igreja. Bom... eu sou naturalmente cativante quando eu quero.

Caminhei lentamente até o altar, analisando minhas escolhas. Eu poderia me recusar a cantar e dizer que não queria participar, eu poderia cantar maravilhosamente bem e todos iriam gostar ou eu poderia cantar mal de propósito para que nunca mais quisessem ouvir minha voz na vida. Obviamente, eu não iria me humilhar usando a última opção. Nesse caso, eu iria apenas dar meia volta e dizer que não queria me candidatar. E então eu olhei para o baterista novo. Ele tinha um sorriso estranho, como se pensasse “quem é esse cara?”. Não o culpava, a maior parte das pessoas me achariam peculiar logo de início. Meu cabelo era bem liso e estava até um pouquinho longo, eu mesmo o cortava, desfiando-o em todos os lugares. Eu o deixava levemente bagunçado, ele fazia leves curvas na altura da nuca e dos lados. Uma franja que colocava de lado ajudava a dar um ar de garoto rebelde. Outra característica peculiar é que eu usava, na minha mão direita, uma luva de couro preta que cobria as palmas e as costas da mão, e ia até a metade dos meus dedos. Meus pais faziam eu usá-la na igreja para cobrir minhas tatuagens. Além disso, eu também usava camiseta preta de manga longa, porque eu tinha também uma tatuagem no antebraço esquerdo. Isso se aliava aos meus olhos cinzentos e frios, 1,68 de altura e à minha pele clara, calças jeans escuras e um tênis casual. Basicamente, eu parecia um garoto de quinze anos completamente rebelde. Na verdade, eu tinha 19.

Bom... no final das contas, o baterista não me conhecia, não sabia quem eu era. Eu poderia ser bem surpreendente se eu quisesse... E o Alberto, o guitarrista, não poderia causar discórdia no grupo de louvor, era uma regra. Portanto, o baterista não descobriria que eu era gay, que eu era uma pessoa fria e sarcástica, uma pessoa que era seria capaz de destruir o que quisesse para chegar aonde quer.

Achei que seria interessante brincar ali um pouquinho...

Abri um sorriso e subi no altar enquanto pensava em qual música iria cantar.

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GUILHERME CAMPOS

O garoto estranho subiu no altar com um sorriso receptivo, o que era estranho, visto que, no começo, ele estava com uma cara completamente fechada. Ignorei esse fato. Será que ele cantava bem? Eu nunca o havia visto na igreja, mas também, eu estava ali havia apenas duas semanas. Se ele era filho da Márcia e do Ricardo, então ele deveria ser uma ótima pessoa. Aqueles dois eram muito ativos na igreja, eram gente boa e foram muito receptivos comigo. Eu estava intrigado para saber que tipo de pessoa ele seria, apesar daquela aura fria que ele passava. E aquela luva na mão direita... qual era o significado daquilo? Talvez ele tivesse alguma queimadura nos braços e nas mãos... era a única explicação para usar aquela camiseta de manga longa preta e aquela luva que ia até metade dos dedos num dia quente como aquele.

Ele foi em frente ao microfone e falou brevemente:

_Meu nome é Miguel, sou o filho da Márcia e do Ricardo. Como eles pediram, vou cantar uma música e vocês decidem se eu sou bom o bastante.

Então ele era, de fato, filho da Márcia e do Ricardo. Ele devia ser muito ligado à igreja. Mesmo ele não tendo cantado, eu já sabia que ele tinha uma boa voz. Ao falar, sua voz era controlada, leve, fluida, não grave, não aguda. Miguel se virou para a banda com um sorriso agradável e disse:

_Tu és Santo.

Não pude evitar um sorriso. Aquela era uma ótima música. (https://www.youtube.com/watch?v=UshD81yzy7s)

Começamos a tocar. Miguel parecia animado e dava passos para os lados com um sorriso contagiante. E então ele começou, junto com as duas cantoras, Beatriz e Yasmin:

“Tu és santo (tu és santo)

Poderoso (poderoso)

Tu és digno (tu és digno)

De todo louvor (de todo louvor)

Seguirei (seguirei)

Teus caminhos (teus caminhos)

Te amarei (Te amarei)

Pra sempre (pra sempre)”

Caramba...! Eu tinha que focar para continuar tocando e não parar para ouvir só ele cantar. Era mais que perfeito, era muitas vezes melhor do que o Carlos. Não havia dúvidas, seria ele. Continuei tocando. Miguel tirou o microfone do suporte e andou pelo altar com o braço direito levantado. Seus olhos estavam fechados e tinha um sorriso revigorante na boca enquanto cantava. Todos estavam surpresos, muitos já haviam levantado e cantavam juntos fervorosamente.

“E eu canto e louvo ao rei que é digno

E eu danço, me prostro diante de ti”

A vitalidade da canção aumentou e não havia mais ninguém sentado. Eu queria vê-lo cantar de frente, mas eu via apenas suas costas.

“Tu és meu Deus de paz

Quero viver minha vida em Ti...”

Agora era hora de todos da banda cantarem juntos, mas ninguém o fez. Todos pareciam pensar o mesmo, todos queriam ouvir somente a voz dele.

“Ôôôôôô, ôôôôô, ôôô...”

Márcia chorava com um sorriso de puro orgulho. Ricardo sorria satisfeito. Todos os presentes cantavam juntos com os olhos fechados.

Não havia dúvidas, seria ele.

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MIGUEL

Não havia dúvidas, seria eu.

Músicas gospel são tããããããããão chatas... mas tudo bem, é só colocar um sorriso no rosto, as mãos ao alto e cantar com vigor e todos iriam gostar. E estavam gostando. Minha mãe chorava de alegria, e eu só não revirei os olhos porque todos estavam me vendo. Dei uma olhada rápida para trás, o baterista estava surpreso e tinha um sorriso no rosto. Seus olhos eram de um castanho claro caloroso, quente... Ótimo, a primeira impressão foi um sucesso. Até o Alberto, que antes me reprovava com o olhar, agora estava tocando com vontade, impressionado com a minha voz. As duas vozes de fundo eu nem sabia o nome. Bom... o foco era o baterista mesmo.

Eu estava decidido, aquele cara ia cair nas minhas mãos. Bom... eu teria que dar o meu melhor e me disfarçar como um novo Miguel, mas tudo bem.

No final, converter o baterista iria valer a pena.

CONTINUA

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Comentários

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Nossa que bom que você voltou, acompanhei a sua outra História mas nunca cheguei a comentar mas hoje ca estou, simplesmente incrível! E parece que essa promete também em! Perfeito espero que continue o quanto antes!

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Ôooooôw,olha aí o preconceito com as Igrejas Evangélica hen? Ai ai ai. Nunca use "As" quando vc pode dizer "Algumas". Mas u conto é muito bom. Amei e já tow sonhando imag u próx. E o próx. E o próx dnovo...rsrs

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cara, tô aqui viajando na sua história. Nas igrejas evangélicas tem muita gente da irmandade escondida. Tô lokinho pra saber se o baterista vai pegar o Miguelito. tomará que isso termine no altar com a benção do reverendo barbudo.

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