Apenas Amor, parte 4 - A manhã seguinte

Um conto erótico de Sociólogo
Categoria: Homossexual
Contém 2456 palavras
Data: 23/09/2014 13:25:24

Acordei pela manhã sem entender de fato onde eu estava e o que estava acontecendo. Na verdade, eu não entendia o que estava me prendendo como se eu estivesse aprisionado. Demorei alguns segundos até minhas írises se adaptarem à luz solar que insurgia por entre as cortinas de voil negro que agitava com o vento matinal.

Com o passar do tempo, além de sair do estado limiar entre o desperto e o sonolento, eu me recordei o lugar em que estava. Aquele lugar ainda não me era familiar. Apesar de não estar totalmente alcoolizado quando havia chegado na casa do Lucas, não me recordava de todos os detalhes, até porque eu não me atentei a todos os detalhes.

Era isso! Havíamos dormido na mesma cama. O homem que havia transformado minha adolescência num inferno, feito com que eu o odiasse com todas as minhas forças; estávamos agora dividindo a mesma cama, compartilhando o mesmo ambiente. Eu não o via desde que ele se formou e foi embora estudar em São Paulo, momento de alívio parcial, vis-à-vis sempre me enviar algum presente com intuito de lembrar as chateações que ele me fazia sempre que nos encontrávamos.

Esse sossego acabou, pensei comigo mesmo ao saber de seu retorno. Minha mãe me obrigou a ir vê-lo e prestigiá-lo na inauguração de uma grande academia. Eu fui, fiz algo que nunca havia feito antes, ingerir bebida alcoólica. Um leve pileque, um assédio, uma briga, alguns xingamentos, um soco mal dado no novo Lucas que eu havia encontrado. O garoto franzino e branquelo, agora era enorme, extremamente forte, corpo bem formado, rosto angular, barba loira por fazer, olhos profundos, cabelo espetado, pelos por toda extensão do corpo, de um tom de loiro mais claro que os dos cabelos e barba.

Sim. Eu reparei. Na verdade foi impossível não reparar no corpo desnudo do Lucas quando voltei do banho e o encontrei sentado na cama, encostado no espaldar desta, com o edredom cobrindo-lhe apenas da cintura para baixo. Eu parei por alguns instantes e mirei aquele corpão gigante sobre a cama. Mas consegui me controlar. Havia feito um pequeno curativo imobilizando a minha mão e punho, e tentei focar na pequena dor que ainda era possível sentir. Voltei para o lado direito da cama, onde havia um travesseiro já posicionado e o lugar vago pra mim. Confesso que não era o maior lugar possível, a cama era uma King Size, mas ainda assim o Lucas conseguia ocupar mais da metade dela.

Aconcheguei-me no lugar a mim reservado, virei-me de costas para ele e desejei um “boa noite” bastante constrangido. Ele me respondeu da mesma forma simples com que eu me dirigi a ele, e me fez um carinho com sua mão direita – bastante pesada, diga-se de passagem – bagunçando meus cabelos ainda úmidos.

Isso foi o que me acontecera na noite passada. Agora eu compreendia o que me havia acontecido, tudo o que eu havia feito, ou melhor, tudo que eu conseguia me lembrar. Eu tentei olhar para o Lucas, mas isso foi impossível. O corpo forte e massivo me prendeu com bastante força. Durante a noite ele conseguiu colocar seu braço direito por sob o meu pescoço, enquanto trançou suas pernas densas por sobre as minhas, completando o travamento com seu braço esquerdo por sobre meu tronco. Eu estava, totalmente, imobilizado. Provavelmente, devo ter passado toda a noite aprisionado pelo corpo enorme, branco e loiro como de um deus nórdico.

Eu sentia a respiração forte e quente em meu pescoço, assim como a barba por fazer roçando minha pele. Minhas costas estavam mais aquecidas em razão de seus pelos osculando minhas costas lisas. Sentia, pela primeira vez, a virilidade do homem que estava grudado em mim açoitar minhas nádegas. Eu estava constrangido com a situação, possivelmente, era apenas o natural de todo homem, o famoso “tesão de urina”, mas ainda assim me constrangia. Devo ter permanecido naquela posição por cerca de trinta minutos.

_Bom dia, Rafinha! – ele disse sorridente, como que aquele fosse o melhor dia de sua vida. Eu sempre imaginei que ele acordaria todos os dias de mau humor, mas ao menos no dia de hoje eu o vi de uma forma diferente, contudo, não lhe daria este gostinho.

_Bom dia? – eu disse fingindo um mau humor que, realmente, não existia. - o que tem de bom, Lucas? Você está me esmagando!

Ele riu alto. Eu fiquei, agora sim, irritado. Não sabendo que ele faria algo que me irritaria mais ainda. Acho que era seu dom conseguir me irritar. Se bem que no fundo, acho que estava sentindo raiva de mim mesmo. Ele aproveitou o meu comentário e me apertou ainda mais, quase me sufocando e, logo após, começou a fazer cócegas em todo o meu corpo. Eu me retorci e gargalhei contra a minha própria vontade. Até que ele parou.

Até eu me recompor permaneci de olhos fechados, deitado de costas no colchão. Minha respiração foi se abrandando, então eu abri meus olhos. Surpreendi-me com um tigre branco por sobre meu corpo. Ele me observava atentamente. Os olhos profícuos se focaram nos meus olhos, os claros estrangularam os escuros. O ar que havia reencontrado o ritmo normal, estava agora ausente. Ele era muito grande, inclusive seu sorriso. Sua pele, em algumas partes que ficaram pressionadas e comprimidas, estava avermelhada. Os cabelos loiros estavam bagunçados, a respiração quente dele estava forte sobre meu rosto, o perfume amadeirado e forte, junto ao seu aroma natural de suor quente e másculo. Seu cheiro embriagou meu ser e me senti eu outro lugar. Ficamos parados olhando um para o outro. Ele sobre mim e eu sem me mover sob ele.

_Lucas… – eu fiquei sem graça com tudo quando eu caí na real. Abaixei meu tom de voz e falei calmamente para o meu algoz. – Tem como você… erhhh… sair?

_Ah! Me desculpe! – ele disse, com um sorriso sem graça, ele não havia feito por mal, nem eu. Não queria cortar o barato do momento, mas queria acabar com essa situação embaraçosa. – Vou tomar um banho e vamos tomar café, ok?

_Tá bom. – eu disse, enquanto ele continuava sua trilha até o banheiro. Seus movimentos eram rápidos, porém pesados, praticamente exigiam passagem ao próprio vento e ao próprio chão. Eu fixei meus olhos nas costas musculosa. Era grande e forte, formando um trapézio no qual a base menor era sua cintura e a base maior seus ombros. Reparei em como sua cintura era larga, e sua bunda empinada, mas bem menor que a minha. As pernas roliças e grossas, os músculos saltando, quase que exigindo à pele passagem para fora.

Eu permaneci deitado na cama, esperando que ele saísse do banheiro, preferencialmente vestido. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Deveria estar ficando louco. Algo em mim estava quente e fogoso. Eu queria manter os contatos físicos entre o Lucas e mim, assim como queria ter nosso olhar ligados um no outro como se estivessem presos por uma linha invisível. Mas ao mesmo tempo eu não queria nada disso. Meu desejo era sair do apartamento e ir pra casa, mas nem sei onde estava, e seria complicado explicar aos meus pais como eu cheguei em casa sem o Lucas. A confusão se instalou dentro de mim, tanto em minha mente quanto em meu coração. Eu estava no meio do caminho, numa encruzilhada, e não fazia ideia de qual caminho seguir.

_Pronto, Rafinha! – Ele disse saindo com o dorso ainda molhado, os pelos lisos e loiros sobre seu tórax seguindo a direção do que eu não queria olhar, e olhei. Ele estava envolto numa toalha negra, bastante felpuda, disse isso já virando para o armário procurar alguma roupa que eu só viria a saber quando saísse do banho.

Eu entrei no banheiro e fiquei por muito tempo debaixo d’água, sentindo a temperatura morna escorrer por sobre o meu corpo. A água tentava, junto ao meu corpo, lavar todas as incertezas, todos os problemas que agora brotavam em minha mente. Eu estava sentindo algo estranho pela pessoa que me infernizou por muito tempo, eu estava não odiando tanto o meu nêmesis como sempre o fiz. Algum medo, principalmente quanto aquela montanha de músculos se enfurecia, eu admito sentir, os olhos se enfurecem e tornam-se de um tom escuro e incompreensível. A docilidade, que por incrível que pareça, há por detrás do deus olímpico que agora o Lucas é, desaparece nos momentos de ira, intimidando-me, enquanto na sua ausência, ele consegue me cativar.

Saí do banho me sentindo renovado, olhei focalizando meu rosto revigorado, e meus cabelos longos molhados por sobre a face. Reorganizei-os, sequei com cuidado, penteei-os e vesti um roupão branco felpudo, da mesma cor da toalha que havia utilizado. Ele ficou praticamente no tamanho perfeito para o meu corpo, apesar da diferença de corpo entre nós, a altura era, praticamente, quase a mesma.

Sou interrompido de meus devaneios por duas batidas ocas batidas na porta do banheiro, olho em direção à porta e vejo a maçaneta girar. Ainda bem que já estava vestido com o roupão.

_Tá pronto já, principezinho? – Ele disse colocando apenas sua cabeça para dentro do banheiro, já vestido com uma camiseta regata branca e uma bermuda, que vi depois, de brim verde musgo. – Pra que tanta demora, não tem como você ficar mais bonito, Rafinha! Vamos!

_Nem vou falar nada, Lucas! – eu disse com a face rubra. – Se eu estivesse pelado?

_Nossa! – Ele disse estampando em sua face um sorriso grande e perfeito. – Seria melhor ainda te ver peladinho.

_Vai continuar tirando sarro com a minha cara? – Eu disse ficando extremamente constrangido. – Você nunca perde a chance de me constranger. – Gritei ficando já exasperado com ele, nem percebi que ele estava apenas brincando. Acho que pelo fato de ter tido várias vezes me constrangido, eu já ficava com dez pedras na mão ao vê-lo, ainda que por alguns instantes tivesse perpassado em minha mente o fato de conseguirmos estabelecer algum tipo de amizade. Afinal, apesar das brincadeiras que ele fazia a todo o instante, havia dentro de mim a certeza de sua heterossexualidade, e mesmo se não fosse, eu não queria nada com ele, ou, agora, queria, mas ele sempre me irritava e isso me fez encher os olhos de lágrimas. Fiquei, de fato, muito irado com suas palavras.

O Lucas vendo que eu havia ficado extremamente chateado, tratou logo de corrigir o mal entendido. Ele adentrou o banheiro, abraçando-me fortemente e beijando meus cabelos, ainda um pouco úmidos.

_Calma, Rafinha! – Ele disse carinhoso, aconchegando-me entre seus braços fortes, fazendo um leve carinho na minha cabeça. Era estranho as atitudes que ele estava tendo ultimamente, ou melhor, desde a noite anterior. A forma como ele me chamava, estava me tratando extremamente bem, com algumas pequenas exceções, o protecionismo da noite anterior, o receio de ficarem muito próximos a mim na noite anterior; nossa! Muita coisa acontecendo num curto espaço de tempo.

_Eu não estou tirando sarro da sua cara. – Ele disse sério, contudo carinhoso e cuidadoso. – Estou sendo sincero com você. Quis apenas descontrair um pouco, para animar o ambiente, contudo, tudo o que eu disse tem seu fundo de verdade. Não é para você chorar.

_Eu não estou chorando! – disse fazendo muxoxo, confesso que sou extremamente mimado. – Você que me irrita e me tira do sério!

_Bom saber que eu te tiro do sério. – Antes que eu pudesse dar alguma resposta, ele tratou logo de fazer com que eu não brigasse mais, ele colocou o dedo indicador direito sobre meus lábios, sorriu (e que sorriso, diga-se de passagem, na verdade todo o conjunto da obra é perfeito!), fazendo com que eu permanecesse silenciado.

_Não vamos brigar, meu principezinho… - ainda continuando com o dedo sobre meus lábios eu não tentei nenhuma forma de argumentação, fazendo com que eu me indignasse, sim, pela forma com que ele me chamava. – Vou sair e deixar você terminar de se arrumar e vamos almoçar, tudo bem?

Disse isso e me deixou sozinho no banheiro, onde ainda fiquei por algum tempo sem entender os fatos.

Saí do banheiro, tinha na cama uma roupa para que eu me vestisse, uma camiseta de manga normal, na cor azul turquesa, e uma bermuda azul marinho, uma sandália do meu número.

_Lucas! Lucas! – chamei pelo seu nome, indo em direção à sala, onde ele se encontrava deitado no sofá, assistindo uma disputa de MMA.

_Oi, Rafinha! – Ele respondeu se erguendo do sofá, olhando em direção ao corredor de onde eu saí. – O que está acontecendo?

_Que roupas são aquelas na cama?

_São suas, eu dia desses fui ao shopping e gostei muito quando as vi na vitrine e comprei pra você, não sei se vai te servir perfeitamente, mas qualquer coisa, tem outras no lado direito do guarda-roupas, aí você escolhe.

Ele mal terminou de falar e voltou a se deitar no sofá e atentar-se ao seu entretenimento, ver a luta entre dois gladiadores num octógono, sem o menor propósito se não o de divertir o público. Odeio esse tipo de esporte, mas voltando ao fato principal, no fundo comecei a achar que o Lucas tinha se tornado um maníaco enquanto ficou em São Paulo, só pode ter esse fundamento, uma vez que ninguém compra roupa para um vizinho com quem não convive e que não vê há muito tempo. Novamente, comecei a ficar temeroso, sim, sou muito medroso e, talvez por gostar tanto de ler, fantasio demasiadamente.

Voltei ao quarto e me vesti com a roupa que ele tinha deixado separado, afinal, as cores me agradavam bastante, calcei as sandálias de couro, que também me agradaram bastante. A título de curiosidade, fui à parte direita do armário de roupas e abri as duas primeiras portas, vislumbrando uma quantidade grande de roupas: camisas, calças, bermudas, blusas, etc; todas com tamanho um pouco desproporcionais ao corpo do Lucas, mas que caberiam perfeitamente (ou quase perfeitamente) em mim, assim, abri as portas do lado, sendo que atestei possuir também sapatos, sandálias e chinelos do meu tamanho (nº40, enquanto o Lucas calça nº45), ocupando metade das 16 portas do guarda-roupas. Fortaleci minhas suspeitas e medos do que ele estava querendo fazer comigo, provavelmente ele se tornou um maníaco, mas fui em direção à sala.

_Pronto!

_Ah tá! – o Lucas levantou-se do sofá desligando a televisão pelo controle remoto, vindo em minha direção. – Então vamos!

Descemos e entramos em seu carro. Ele dirigiu por um curto tempo, foi em direção ao Diamond Mall, no bairro de Lourdes, zona nobre cidade, que ficava, praticamente ao lado da casa dele, cerca de dez minutos de carro, entramos e estacionamos o carro no estacionamento do shopping, fomos em direção à praça de alimentação, assim que chegamos ele perguntou qual o tipo de comida eu preferia…

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Comentários

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Você posta e nem avisa, pelo visto vou olhar aqui de ano em ano pra ver se você apareceu hahaha. Nossa, nossa, só falta o Lucas já te chamar pra morar juntos, já que comprou até roupas. Estou quase tendo orgasmos pra saber do Lucas como foi que ele apaixonou por você e mesmo longe queria você. Posta logo!!

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Nossa incrivel,perfeito,não sei se vai continuar,um dos melhores que ja li,me prendeu completamente, não some por favor.Parabéns.

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Mon cher, "descobri" seu conto hoje e já devorei todos os capítulos! Adorei o enredo! Sua escrita também é muito boa! Aliás, tenho encontrado escritores mais cuidadosos em relação ao uso da nossa língua! Sobre o tamanho dos capítulos, nem pense em torná-los mais curtos, viu, mocinho?! Fiquei assustada com o intervalo das suas publicações! :() Pena dos leitores que estavam na seca desde o mês passado :( Estou passando por isso com outros autores aqui da Casa - até desisti de acompanhar alguns, vou retomar a leitura só delz sabe quando. Acho que só voltaremos a nos "ver" em outubro, não é? He, he, he.... Gros bisous!

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