Três Formas de Amar - 15

Um conto erótico de Peu_Lu
Categoria: Homossexual
Contém 2129 palavras
Data: 05/08/2014 18:08:43

Três Formas de Amar – Capítulo 15

Naquela noite de domingo mal consegui dormir. Ficava pensando o tempo todo no que estava acontecendo comigo. “Você está namorando... e é um homem!”. Eu, um cara introspectivo que nunca tinha namorado na vida, já não saberia como agir se fosse uma mulher, imagina com essa informação adicional. “Será que caras trocam presentes de namoro? Com quanto tempo? Uma semana? Um mês?”; “Será que ele curte pegar um cineminha? E se quiser dar as mãos?”; ”E se ele falar que me ama? Putz...”; “Já pensou se sua mãe aparece aqui quando ele estiver? O que você vai falar?”... Adormeci inquieto, com uma profusão de pensamentos se atropelando.

Na manhã seguinte, acordei com uma pulga atrás da orelha. As últimas segundas-feiras tinham potenciais, mas vinham revelando surpresas desagradáveis ultimamente. “Não, não tem como hoje ser um dia ruim... Pensamento positivo!”. Engoli um café e parti cedo para a agência, aonde iria me reunir com Bruno antes de todo mundo chegar.

No elevador, já recebi a primeira mensagem:

- “Bom dia gigante! Um final de semana inesquecível me fez acordar assim hoje” – e mandou uma foto sorrindo logo em seguida.

Sorri para a tela, e respondi da mesma maneira:

- “Se a semana for o que foram meus três últimos dias, serei o cara mais feliz do mundo!”.

Não tinha muito jeito para escrever essas coisas românticas e ficava meio envergonhado de me pegar com um sorriso bobo no rosto, mas tentava corresponder da melhor maneira possível. Seguimos trocando mensagens até eu entrar no carro, na promessa de continuar assim durante o dia, sempre que possível.

...

Entrei na sala de reunião e vi que o Bruno já tinha chegado. Estava à minha espera, com um copo de café na mesa:

- Bom dia Luciano! Beleza?

- Beleza! E aí, o que manda?

Bruno pediu para eu fechar a porta, o que daria no mesmo, já que não havia ninguém na agência, só a moça da recepção. Aquilo me deu uma impressão de preocupação naquela conversa:

- Então Luciano... desculpa te chamar mais cedo aqui. Não queria falar isso pelo telefone e queria uma opinião sua.

- Que nada, problema nenhum madrugar aqui. Fica tranquilo.

- Certo. Olha só, tive uma reunião na sexta pela noite com o Marcelo. Ele queria me dar algumas diretrizes do novo cliente.

Escutava tudo atento.

- Durante a conversa ele me disse qual foi o rolo com a agência anterior deles. Mas ó, isso vai ter que ficar entre nós. Pelo menos por enquanto.

Bruno e eu éramos os profissionais de criação mais antigos da agência. Assim que me formei, trabalhei em dois lugares antes de começar a construir uma carreira ali. Admirávamos o trabalho um do outro e existia um respeito mútuo, apesar dele ser o meu superior.

- Claro, pode deixar – respondi – aconteceu algo sério?

- Então... parece que uma garota do atendimento da outra agência se envolveu com um dos diretores da empresa. A coisa ficou mais séria quando vazaram algumas fotos dos dois e insinuaram que a agência tinha aquela conta em troca de favores sexuais.

- Eita... que merda hein?

- Pois é. Aí a matriz ficou enfurecida, pediu a cabeça do diretor e pra não ficar queimada no mercado, abriram mão da agência. Como eles tinham montado um escritório em Salvador recentemente, não queriam jogar fora o custo desse processo todo e resolveram abrir outra concorrência pra alguma agência daqui.

Aquela informação explicava a pressa da empresa em resolver a situação. Acusação de favor sexual é algo grave no mercado publicitário (e acho que em qualquer outro também). Mas não estava entendendo o motivo de Bruno estar me contando aquilo tudo:

- Uma das coisas que o Marcelo me pediu foi que você redigisse uma carta para a empresa soltar como nota oficial para a imprensa, informando sobre a nossa contratação. Podemos seguir com a pauta do dia normalmente, e depois da apresentação do cliente, você pode pegar nisso.

- Certo... E qual é a outra coisa?

- Bom, a outra coisa é que o Marcelo mostrou certa preocupação com os bastidores da saída da outra agência. Ele acha que alguém do mercado vazou as fotos para prejudicar a empresa e quer estar munido contra qualquer possível problema... Por isso queria pedir uma opinião sua.

- Beleza – respondi no automático, sem ter ideia de onde aquele papo iria chegar.

- Você e a Luiza são amigos, certo? Vocês estudaram juntos? – Bruno indagou, mas mantendo o tom da conversa informal.

- Sim, sim. Nos conhecemos desde a faculdade.

- Entendi. Acho que todo mundo sabe da política da agência, mas ela é relativamente nova por aqui. Sem julgamentos, só entre a gente, você acha que ela pode ser um problema como atendimento a esse cliente?

A agência em que trabalho possui uma política bem clara sobre relacionamentos. Qualquer profissional contratado não pode ter qualquer envolvimento amoroso ou sexual com clientes. É tolerância zero. Os sócios sempre deixam isso claro em reuniões anuais, fugindo de qualquer roubada que possa surgir. Quando a coisa era interna, mudava um pouco de figura. Ninguém nunca comentou sobre “rolos” entre funcionários da agência, já que um dos sócios foi casado com uma menina da produção. Nesse quesito eles eram mais liberais, apesar de nunca ter dito nada sobre o meu caso com Luiza.

Fiquei pensando sobre aquela pergunta. Os últimos dias estremeceram a minha amizade com a Luiza, mas conhecia o lado profissional dela. Não acreditava que ela seria capaz de algo do tipo:

- Um problema em que sentido? Você quer saber se ela poderia se insinuar ou começar um caso com alguém deles?

Bruno apenas consentiu com a cabeça, de forma direta.

- Bruno... Sinceramente, não posso colocar a minha mão no fogo por ninguém – não queria essa responsabilidade - Mas acredito que Luiza é muito profissional. Não acredito que ela tenha esse perfil. Creio que levará esse assunto da forma mais ética possível – defendi.

Bruno relembrou as regras da empresa e ressaltou a preocupação dos sócios em fazer aquilo dar certo. Continuei reforçando a minha teoria. Procurei tranquiliza-lo, apesar de saber que se tratava de um assunto muito delicado, ainda mais para expor para um funcionário comum como eu. Por outro lado, saí da sala de reuniões com a certeza de que eles confiavam no meu profissionalismo para não comentar sobre o tema.

...

Durante a manhã, o trabalho transcorreu normalmente. A reunião para apresentação do cliente e dos profissionais que seriam a nossa ponte com eles aconteceria pela tarde, então estava procurando adiantar tudo o mais rápido possível. Para não perder muito tempo, resolvi fazer um lanche no terraço durante o almoço, e aproveitaria para bater um papo rapidinho com o Rodrigo. Antes mesmo de discar o número do seu telefone, coloquei o celular de volta no bolso quando avistei Luiza, aparentemente colocando em prática a mesma ideia que a minha, desembrulhando um sanduíche numa das mesinhas espalhadas pelo local. Pensei em voltar, mas concluí que seria colocar mais lenha na fogueira. Resolvi agir com naturalidade, e sentei em outra mesa, apesar de sermos os únicos ali.

Continuava comendo tranquilamente enquanto mandava algumas mensagens para Rodrigo, sem ter nenhuma resposta. “Deve estar na correria”, imaginei. Em seguida, percebi Luiza passando por mim, já se dirigindo para a saída, até parar antes de apertar o botão do elevador. De repente, virou-se olhando para mim, e começou a andar na minha direção. “Ah não, hoje não, na boa...”.

- Oi, posso sentar rapidinho? – ela disse educadamente.

- Claro Lu, fica à vontade – prossegui tentando parecer amistoso.

Ela puxou uma cadeira e começou:

- Olha... Vamos esquecer toda essa confusão, certo? – disse na lata.

- Concordo.

- Acho que você tem razão em algumas coisas. Não tínhamos obrigações nenhuma, você não é nada meu, eu não sou nada sua. Talvez eu tenha mesmo quebrado as minhas próprias regras...

Prossegui em silêncio, assimilando o que ela estava dizendo.

- Ainda assim, acho que você precisa concordar que foi meio sacana comigo por não falar que não conhecia o outro cara. Você poderia ter dito qualquer coisa, me dado um sinal...

- Luiza...

- Mas vamos deixar isso pra lá – ela me atropelou, sem querer começar outra discussão – Como você mesmo disse, é passado. Nos conhecemos há muito tempo, e a nossa amizade não merece isso.

Em seguida, Luiza me estendeu a mão:

- Por um novo ciclo – disse me aguardando.

Aquela conversa estava me surpreendendo.

- Por um novo ciclo... – apertei concordando.

Depois de um breve silêncio, Luiza prosseguiu:

- Ah, e por favor, não vamos deixar de ser sinceros um com o outro.

- Tudo bem – esbocei um meio sorriso.

Cheguei a ensaiar abrir a boca para perguntar o motivo da mensagem para o Rodrigo, já que poderia colocar em prática o desejo dela, mas preferi ficar quieto.

- E a namoradinha? – ela me acordou do pensamento mudando de assunto, já querendo retomar a nossa intimidade.

- Ah, vai bem... estamos nos conhecendo ainda – respondi sem graça.

- Quero só ver se não vai me apresentar hein? – disse levantando e se dirigindo para o elevador.

- Pode deixar – ainda tive tempo de responder.

Não mesmo. Ainda era muito cedo para me abrir assim para ela. Continuava mentindo, admito, mas algo me dizia que a recíproca também era verdadeira. Apesar de toda boa vontade e iniciativa de Luiza, a minha confiança ainda estava abalada, e ela teria que fazer mais para a situação mudar de figura. “Sejamos sinceros... até parece”. Olhei mais uma vez para o celular e não tinha nenhuma mensagem ainda. Aquele silêncio me fez achar que só conseguiria falar com Rodrigo pela noite. “Droga...”.

...

Estagiários agitados. Esse era o sinal de que a movimentação na agência já tinha começado. Sempre que rola um acontecimento desses, eles são sempre os mais animados com as novidades. Aos poucos, os setores foram chamando alguns profissionais para a apresentação do cliente. Ou melhor, “O” cliente. Com aquela conta na agência, já seria possível almejar um aumento no salário. Já começava a ter ideias para as próximas férias, tamanha empolgação.

Segui para a sala de reuniões e me acomodei, enquanto o pessoal do planejamento ajeitava o projetor para mostrar algumas informações. Não demorou muito para a sala encher. Luiza entrou e sentou à minha frente, próximo ao telão. Trocamos sorrisos amistosos e relembrei a conversa do almoço, pensando no quanto toda aquela situação tinha sido meio estranha e inusitada. Mas não queria aprofundar aquela história, não naquele momento.

A tarde estava passando rápido e eu ainda não tinha notícias do Rodrigo. Não queria parecer chato de ficar mandando mensagem toda hora, mas era raro ele ficar tanto tempo sem dizer nada. Resolvi mandar uma última pedindo para ele me ligar assim que possível, mas percebi a ausência do celular quando passei a mão no bolso. “Puta merda, esqueci meu celular na sala da criação!”. Olhei para o relógio e vi que daria tempo de ir lá buscar.

Ao abrir a gaveta, lá estava a resposta: nove mensagens do Rodrigo. “Putz, até que enfim!”. Comecei a ler a primeira. “Oi Lu, tá a maior correria aqui, te ligo já!”. Quando fiz menção de começar a ler a segunda, o Bruno entrou me procurando:

- Ah, você tá aqui. Corre lá pra sala de reunião Luciano! O cliente tá na recepção e Marcelo quer todo mundo lá. Vamos... – disse me apressando.

“Porra!”. Não tinha jeito, o celular teria que ficar pra depois. Pelo menos, sabia que estava tudo bem. Coloquei no bolso e saí a passos largos, seguindo o Bruno.

...

De volta ao meu lugar, e com todos acomodados, Marcelo começou explicando que aquela era uma grande vitória para todos nós, num discurso bastante otimista. Seguiu falando sobre o cliente e o seu ramo, um pouco da sua história e da sua importância. Meu celular vibrou no bolso, e provavelmente seria mais uma mensagem. “Merda, na hora que não posso falar, ele desanda a escrever...”. A apresentação continuava e procurava me manter atento. Marcelo apresentou Luiza como o atendimento oficial da conta e pediu que os representantes da empresa entrassem logo em seguida:

- Pessoal, esse é Geraldo, um dos diretores da matriz, e esse é o gerente de Marketing em Salvador... o Rodrigo.

“O Rodrigo”. Aquilo ecoou na minha cabeça de supetão, me fazendo perder totalmente a cor no rosto. Fiquei paralisado, sem acreditar que estava presenciando aquele cara alto e ruivo adentrando a sala.

(continua)

...

Oi galera! Acho que chegamos num segundo ponto da história, onde as coisas podem ficar bem tensas. Espero que continuem curtindo! Ru/Ruanito e Geomateus, obrigo pelos elogios! Drica Telles, esse era o meu maior temor (rs). Irish, adoro os seus comentários. Estar apaixonado é tudo de bom, uma pena que nem tudo seja um mar de rosas... Stylo, pois é, bendita hora que o mundo real mostra as caras! KaduNascimento, bota complicada nisso! Obrigado, de coração, a todos os votos e comentários pessoal! Amanhã tem mais. Abração!

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Comentários

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Era o meu medo também!Mas espero que tenha dado tudo certo e que estejam juntos e muito felizes,é tão lindo o amor de vocês!Abraços ao casal.

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Caraca, e a coisa so melhora, entendi tudo agr, Meu Deus, isso que eu estou pensando nao pode acontecer(se é que ja aconteceu ne, kkkkk, os fortes entenderao, é so prestar atençao). Abração!!! Vc foi excelente ligando os pontos, Alguem alem de mim percebeu a situação???kkkk

Aguardando a continuação.

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Nossa! E agora? Que se mantenham firmes nessa tempestade que se aproxima. Um casal lindo desses (tenho certeza que são perfeitos juntos), não vai ter o amor abalado por isso, né? Olh esse cara chato que comentou, "bobo da familia", parece esquizofrênico, rs, e ainda deu plantão no meu conto semana passada, reclamando da "violência" do capítulo que escrevi! Só rindo mesmo.

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Acho que ele termina com o Ro por um tempo ou pede demissão. Não quero eles separados! Bjs

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