Armário de Corno [4/4]

Um conto erótico de Fauno
Categoria: Homossexual
Contém 2258 palavras
Data: 28/08/2014 19:56:38
Última revisão: 17/01/2017 20:37:37

[O final. Obrigado pelos comentários, notas e leituras!]

PARTE IV

Ouvi o ronco da cafeteira e me vi de costas na cama banhada pelo sol da manhã. Sentia-me cansado, satisfeito, culpado, tudo ao mesmo tempo. Alguém tinha que pagar por eu ter gostado daquilo, e adivinha quem sempre leva a culpa de todos os males e erros do mundo, desde Pandora e Eva? Samantha apareceu no quarto vestindo um baby-doll branco sob um peignoir semi-transparente e me vi com inveja da sua juventude, sua beleza, sua feminilidade. Talvez eu fosse mesmo um dos afeminados do Ateneu. Talvez o tal do cross-dressing literário fosse a única coisa que me impedisse de desfilar na frente do espelho com as calcinhas da minha esposa.

Em menos de duas horas, eu tocava escandalosamente o interfone do psicanalista. Subi às pressas os quatro lances de escada pra encontrar a porta entreaberta e Marco recostado na parede do fundo do corredor, torso nu, botão das calças aberto, sorriso safado no rosto. Foi só eu entrar que o sorriso se ampliou, a língua umedeceu a boca, os dentes mordiscaram o lábio inferior e a cabeça se inclinou na direção do quarto. Convite mais franco impossível. Tentei ser breve nas minhas desculpas e avisos de que aquilo não poderia se repetir, mas Marco limitava sua resposta a um sorriso de canto e eu sabia o motivo: minha boca dizia 'casa', mas meus pés apontavam pra cama dele. Olhei meu relógio e pedi licença pra usar o banheiro. Com a porta aberta, claro.

"Saudade do meu pau?" sussurrou quase às minhas costas, enquanto eu ainda sacudia o meu.

Me agarrou pela gola da camisa e praticamente me arrastou pra cama. Rendido ao poder daquelas mãos firmes de macho, me deixei ser conduzido pra onde ele queria, como queria, calças caindo e tudo. Parei de quatro no colchão e pela visão periférica captei o movimento da espada sendo desembainhada e da mão direita remexendo a primeira gaveta do criado-mudo. Mão e pica fartamente lubrificadas do tubo quase novo de KY que tirou dali, puxou minha mão pro seu pau, guiou um lento sobe-desce e passou a dele entre minhas coxas pra me envolver com a pressão certa, criando uma passagem apertada e escorregadia. Com cerca de cinco minutos de bronha mútua, se estirou entre meus joelhos e ofereceu a boca pra eu foder. Ele me dava toda a liberdade, mas eu, receoso de errar o passo ou tempo, esperei que continuasse a me conduzir. Começou com uma sucção leve, língua mexendo sob a glande, lábios indo e vindo com calma e firmeza da cabeça ao talo, dedos lubrificados pouco a pouco se aventurando entre as bandas da minha bunda. Na terceira engolida, a pressão aumentou e um dedo abriu caminho. Marco tirou a boca, me olhou fixo e foi empurrando de mansinho a porta da câmara mais secreta. O dedo explorou livremente, se curvou em gancho e alisou a próstata como se chamasse o gozo. Isso fez meu corpo amolecer, derreter, virar geleia, com exceção de uma parte que, muito pelo contrário, não ficava tão dura desde a primeira vez que Sam me deu a bundinha na cama dos pais. Toda a tensão magicamente desfeita, como se aquele ponto sozinho comandasse meu corpo inteiro, a mão começou seu vaivém fluído e obstinado, sempre em busca do epicentro do terremoto que já me sacudia de norte a sul. Mais meio minuto daquilo e eu ia gozar.

Marco também estava em ponto de bala. Me abaixei pra retribuir o favor e gostei da ideia de ter que me esforçar pra abarcar seu diâmetro. Pra usar uma expressão pertinente, o cara era ‘cheio dos predicados’. Com um sorriso sacana de dominador, pegou o pau pela base e deu três pancadinhas com a cabeça na minha língua esticada, sinalizando a hora de a minha boca pôr em prática as lições aprendidas na foda anterior, mais uma vez, melhor. Lambi a glande em círculos, fiz pressão com os lábios no corpo do caralho, engoli até onde meus reflexos deixaram. Mamei como se fosse meu último cacete até ele chegar pela segunda vez à beira do descontrole e se ajoelhar atrás de mim. Dessa vez tirou da cômoda um pacote de camisinhas, que jogou no meio da cama. Quando me pediu pra eu abrir a embalagem, me perguntei se sua outra mão estaria ocupada e com o quê. Me virei e o vi tocando uma bela bronha pra minha bunda erguida.

"Põe a camisinha pra mim." Balançou a pica de um lado a outro da virilha com pentelhos recém-aparados e marca de sunga. Tracei com a ponta do dedo a linha que delimitava a área de acesso restrito e desenrolei a camisinha até a base. "Pro chuveiro." Me encoleirou com a mão e foi me guiando. "Fecha os olhos e só abre quando eu mandar."

A água começou a correr e fui virado pra parede por duas mãos ensaboadas. Estendi a minha pra trás, mas ele recuou e me proibiu de tocá-lo. Sem a visão ou o tato, tive que caçar a rola no faro e na audição, ajudado pelos comentários e risadas do Marco, que fugia entre pistas esporádicas, achando graça da minha urgência. Ficou só fazendo suspense, provocando, até eu jogar minhas últimas reservas por terra e me empinar despudoradamente. Não adiantou. Pra sentir de novo tudo aquilo dentro de mim, eu ia ter que rebolar, literalmente. Enfim entraram dois dedos e depois o pau, quente e tão duro que parecia me rasgar a cada investida. Diferente da outra vez, Marco acelerou o ritmo com lentidão enlouquecedora, como se pra prolongar ao máximo nosso prazer. Não fosse a força dos seus braços, minhas pernas teriam me feito escorregar pro chão.

Acabou rápido demais. Quando vi, estávamos deitados na cama, banho tomado, eu aninhado no seu peito hirsuto, discorrendo sobre Sam e nossas incursões eróticas num site para escritores chamado Recato das Letras ou coisa parecida.

"Vale tudo... desde que com amor. Abaixo os falsos pudores... desde que sempre com a mesma pessoa", resumiu o que eu contava com meu orgulho de homem que acredita ter escolhido certo. "Essas são as regras dela, e pelo visto um fardo tão pesado que precisa ser dividido com todas as outras mulheres. Odes e mais odes ao casamento. Não é óbvio o desespero?"

"Ela aguenta. Casou virgem."

"Isso não é vantagem, pelo contrário. Imagina se você só tivesse tido uma mulher na vida. Não ia estar doido pra conhecer outras?"

"Hum. Mas enquanto ela estiver criticando, é porque não está fazendo."

"Não necessariamente. A hipocrisia nem sempre é inconsciente, Nelsinho. Você sabe disso." Abriu um sorriso acusador. "Aliás, já que gosta tanto de ser as mulheres dos seus contos, deve gostar de ser também nas suas trepadas. Quero que na próxima venha com uma calcinha da Sam.”

"Que tipo de calcinha?"

"Uma bem safada, daquelas que a bunda engole." Riu. "Só tem uma coisa. Se você vai se vestir como mulher, eu vou te tratar como mulher."

Só a promessa já me deixou aceso a ponto de no mesmo dia rodar várias lojas de lingerie. Acabei parando numa sex shop, caso ousássemos ir além. Sim, cinta-liga, meias 7/8, saltos e tudo mais que faltasse pra uma produção digna de suíte com hidro e espelho no teto.

Fui quase todo montado por baixo da roupa social, os sapatos de salto numa sacola que me recusei a abrir até estar tudo preparado. Ele disse que ia tomar banho, mas nem deu tempo. Quando apareceu enrolado numa toalha, eu já estava só de cinta-liga, meias, saltos e calcinha preta fio dental, bunda no ar e testa no travesseiro, pronto pra levar palmada de deixar marca, enterrar o nariz naqueles sovacos suados de macho provedor, tomar leitada na cara e fazer tudo que a maioria das mulheres detesta.

A visão inesperada fez Marco parar na porta do banheiro. Daquele meu ponto de vista invertido, no triângulo formado pelas minhas pernas escancaradas e a cama, vi ele deixar a toalha cair pro chão e vir crescendo no meu campo de visão até se reduzir a um par de coxas, um saco peludo e um pau apontado pro teto. Se ajoelhou no colchão, me segurou pelas ancas e lambeu minhas costas da cintura à nuca. Passou um dedo sob a junção dos fios em Y cuja espessura era tão próxima à de um fio dental que mal tapava meu cu depilado e foi deslizando bem devagar pelo comprimento, desenterrando centímetro por centímetro aquele arremedo de roupa íntima. Empinei mais e ensaiei um rebolado tímido. Suspirava de antecipação quando ele puxou o fio pro lado, abriu minha bunda com as duas mãos, correu um dedo de cima a baixo e esticou o pescoço pra um banho de língua que teria me prostrado de tesão se a promessa do outro dia não me fizesse reerguer a bunda no último segundo, na expectativa de um tapa.

O tapa não veio. Veio beijo do cóccix ao pescoço, afago nos flancos e o rosto barbado no meu, rumo à minha boca virgem de língua de macho. Fiquei parado, sem encorajar nem rechaçar, mas ele virou minha cabeça e amassou os lábios nos meus. Morto de vergonha do Marco e de todos aqueles espelhos refletindo a cena, estiquei a língua com a relutância de uma adolescente tímida receosa do primeiro beijo e deixei que ele a lambesse sensualmente, saboreando.

"Você está muito gostosa nessa calcinha. É da Sam?"

"Não, é de sex shop. Minha esposa não tem nenhuma roupa tão safada quanto eu." Sorri e ele me deu um beijo que me deixou sem ar. Dessa vez não ia dar pra esperar o boquete.

"Deita.”

"Como quiser, meu macho."

Marco riu da minha subserviência e acariciou minha nuca. "Hoje você é uma mulher, não um sub. Você quer deitar?"

"De costas", impus a condição e ele se deitou entre minhas pernas abertas pra uma chupada de revirar os olhos. Um esguicho de gel frio se espalhou pelo meu rego e meus quadris liberaram o acesso. "Enfia dois dedos na minha buceta."

“Melhor que a encomenda." Me olhou nos olhos e atendeu o pedido por etapas, avançando e voltando três ou quatro vezes enquanto me chupava.

"Caralho! Assim eu gozo!"

“Então vem, gostosa! Mostra a mulher que você é e faz o que quiser comigo.” Pôs uma camisinha e sorriu. Montei no corpanzil estendido e me preparei pra descer por vontade própria, agora sim numa cena digna de todos os espelhos. “Olha pra trás”, sussurrou com voz rouca. O que vi no espelho foram suas mãos abrindo minha bunda como se pra me rachar ao meio e a cabeça apontada bem pro olho do cu. “Abre você mesma e vem descendo devagarinho. Quero uma visão privilegiada dessa bundinha gulosa engolindo meu pau até o talo.”

Forcei devagar até a passagem se abrir. Era grande a vontade de ver, mas ainda maior a dificuldade de manter os olhos abertos naquela nova posição que me permitia sentir melhor que nunca os 19cm me recheando por completo. Um beijo me despertou e duas mãos guiaram meus quadris num sobe-desce frenético, me fazendo pular naquele mastro. A direita saiu pra me punhetar gostoso e o instinto se encarregou do ritmo. Rebolei, quiquei, esfolei o rabo naquela pica dura como ferro até o gozo chegar.

Lavei a alma, e de quebra a cara do Marco. De porra. Quando abri os olhos, o caldo branco lhe escorria pelo rosto sorridente, gotejando do queixo pra uma poça na depressão do pescoço. Um rio de suor escorria pelas minhas costas. Eu transpirando e arfando feito corredor de 110 metros com barreiras em final de prova e ele lá me olhando com um sorriso, apenas um espectador daquele meu recorde de esforço físico e psicológico. Sem pausa pra respirar, desencapei o pau e mamei até ele começar a gemer e descer uma mão pra terminar na punheta, jorrando vários jatos de porra quente nas minhas faces, nariz, boca e queixo. Direto do produtor, sem intermediários.

Faltavam quinze pras oito quando cheguei em casa. Sam estava ao computador, nariz enfiado na tela, ombros curvados como se sob um peso invisível, exatamente como eu sabia que estaria. Me chamou pra ler um conto de outra autora assídua do tal site.

"Mais um de sexo casual. Quanta liberdade! E essa foto?" perguntou enojada.

"Que tem a foto?"

"O sorriso. Como pode uma mulher ser feliz desse jeito?"

"Quer dizer sem viver numa prisão?" fui sincero. Ela me olhou sobressaltada. "Você também pode, Sam."

"Ahn?"

"Pode ver outras pessoas. Eu entendo."

"Mas o que... Como... Jura?"

"Juro."

Sem concordar nem discordar, inventou no outro dia um cinema com a vizinha. Fiquei só olhando enquanto se arrumava no espelho.

"Sam?" perguntei no último segundo. Ela congelou na porta do quarto, como se por medo de me ouvir dizer que estava brincando e mandá-la esquecer tudo. "Leva isso." Estendi uma camisinha, que ela pegou sem dizer nada, uma mistura de perplexidade e desconfiança no rosto. "Vai em paz. Eu te amo."

Não era brincadeira. Eu sabia que lhe devia isso; por cada elogio rasurado, cada rima perfeita perdida na tradução, cada licença poética mal-intencionada, cada poema sem poesia, cada ironia velada, cada traição, cada promessa quebrada, cada vez que ela precisou da minha compreensão e eu, bicho egoísta, só enxerguei meu próprio umbigo. Depois que saiu, respirei fundo e puxei a cadeira pra escrever, agora sem os impulsos refreados, a crítica implacável e o castigo simbólico apregoado pelos caça-dízimos. Quebrando todas as regras.

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