Medicina para inumanos (7): Período Refratário

Um conto erótico de Victor Voldi
Categoria: Homossexual
Contém 2526 palavras
Data: 12/07/2014 02:39:11

Olá, leitores e escritores do CdC!

Irish, não se preocupe em palpitar, ver que há pessoas pelo menos minimamente envolvidas pelos meus personagens faz com que eu fique animado.

Chele, o Hector é mesmo um engraçadinho por baixo daquela couraça de indiferença dele.

Cintiacenteno e FabioStatz, muito obrigado pelos votos e comentários!

Boa leitura!

Contato: contistacronico@hotmail.com

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<PERÍODO REFRRATÁRIO>

DOIS DIAS DEPOIS

Bom... na sexta-feira, quando pela primeira vez conversei com Eduardo, eu me ofereci para ajudá-lo com química, e eis que a prova ocorreria na terça-feira da próxima semana, então a ajuda era urgente. Marcamos para o domingo, eu ofereci meu apartamento. Também chamei ele para almoçar comigo, Hector e Aline. Nos domingos, eu sempre preparava o almoço para manter minhas habilidades gastronômicas que adquiri com Oliver. Passei a chamar Aline para fortalecer nossa amizade (e para que ela fosse uma jurada da minha culinária), e pensei que seria legal se eu expandisse meu círculo social... Ok, quem eu quero enganar? Eu queria mesmo era uma proximidade a mais com Eduardo. E eu me sentia ridículo por isso. Nunca lutei por homens, e não acreditava que eu estava quase fazendo isso com aquele semi-desconhecido.

A campainha tocou e Hector foi abrir a porta. Era Aline. Olhei para ela e dei um risinho. Ela carregava três cadernos de dez matérias e dois livros: um Lehninger e um Guyton (muitas páginas, acreditem). A coitada estava até mesmo curvada mediante o esforço. Ela usava um vestidinho branco meigo, com alcinhas finas e que chegava à altura dos joelhos. Ela usava uma trança colocada para frente do peito.

_Hector, ajude ela. – eu disse enquanto cortava cenouras.

Hector pegou os materiais de Aline, que pareceu aliviada. Ele levou as coisas para a sala e colocou tudo sobre o sofá.

_Obrigado, Hector. – agradeceu ela – O que teremos para hoje, Vic?

_Yakisoba. – eu disse despejando as cenouras da tábua de cortar para um recipiente metálico e analisando o apelido “Vic”.

_Hum... faz tempo que eu não como yakisoba. Ah, vou revisar bioquímica enquanto você prepara.

_Já disse para não se preocupar, Aline. Vamos, me ajude a cozinhar, é divertido quando todos participam. – eu a convidei - Você pode ficar aqui à tarde e estudar. Vou ensinar química para o Eduardo.

_Quem é Eduardo? – perguntou Aline, parecendo curiosa.

_Hum... olá, pessoal. A porta tava aberta e... – disse uma voz grave, atraente e conhecida (eu claramente estava descontrolado).

_Ah, Eduardo, pode entrar. – eu disse em voz alta.

Eduardo passou do corredor de entrada para a cozinha com um caderno em suas mãos. Ele usava uma bermuda bege, uma camiseta branca com uma estampa da Casa Lannister e mangas curtas que se ajustavam ao seus braços, tênis casual marrom e seu gorro cinza. Parecia um garoto, ainda mais com aquele sorriso sexy por entre sua barba castanho clara e... percebi que eu havia parado de fazer qualquer coisa. Desvaneci os pensamentos e apresentei Aline:

_Eduardo, essa é a Aline, também faz medicina comigo. Aline, o Eduardo faz filosofia e história na ESOM.

Os dois cumprimentaram-se e Aline perguntou:

_Como você consegue arranjar tempo para dois cursos?

_Ah, um é matutino e outro é vespertino, então é moleza. – disse Eduardo com cara de quem não sentia peso nenhum.

_Fora as várias disciplinas de núcleo livre que ele pega junto comigo e com o Hector. – eu disse pegando brócolis e couve-flor na geladeira.

_Ah, então você é desses que gostam de aprender mecânica quântica enquanto faz um curso de humanas? – Aline perguntou para Eduardo, mas olhando acusadoramente para mim.

_Na verdade, eu já tive aula disso ano passado. – ele respondeu com um sorriso culpado e passando a mão na nuca.

Achei que Aline jogaria uma faca nele, mas ao invés disso, apenas disse:

_Não entendo vocês...

_Ok, ok, não precisa entender para cortar brócolis. Faça favor aqui, Aline. – eu disse entregando a faca a ela e a posicionando em frente a tábua.

_Hector! – eu disse em voz alta, ao que ele respondeu com um “sim?” preguiçoso – Vem fritar a carne, eu vou preparar o caldo.

Eduardo tirou seu gorro e seus cabelos curtinhos e bagunçados estavam lindos como nunca. Encarei-o, ele deu um sorriso e falou:

_Onde posso colocar essas coisas – disse mostrando-me seu caderno e seu gorro.

_Ah... pode colocar no sofá.

Ele foi e voltou. Hector chegou usando um shorts esportivo que ele normalmente usava em casa e uma regata branca. Eduardo chegou logo depois, e que bom que a cozinha era realmente espaçosa. Hector sabia se virar na cozinha, Aline também era relativamente boa. Mas Eduardo era uma negação. Pedi para ele cortar pimentão, mas vi que ele segurava a faca de forma desleixada.

_Tente segurar a faca assim, Eduardo. – mostrei para ele segurando a minha de uma forma que dava mais firmeza.

Ele tentou reproduzir a forma que eu segurava, mas não conseguia.

_Coloca no lugar pra mim. – ele disse estendo sua mão que segurava a faca.

Então... ele queria que eu tocasse na mão dele? Admito que nunca havia me sentido tão nervoso, e nem tão idiota por me sentir nervoso. Fui até ele e, com as duas mãos, encaixei a faca no lugar certo, coloquei seus dedos no lugar certo. Eu fazia isso tocando delicadamente em suas mãos, e embora fosse uma coisa simples e rápida, para mim pareceu ocorrer em câmera lenta e minuciosamente demais.

_Eu sempre fui terrível na cozinha. – ele disse com um sorriso constrangido, e eu estava próximo demais para ignorar.

_É tudo uma questão de aprender. – olhei para ele e sorri também – Acho que você concorda comigo.

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O processo todo e o resultado foram muito legais. Conversamos bastante enquanto preparávamos o prato, até Hector falou algumas frases. Acabei percebendo que aquela é uma ótima maneira de socializar. Aline e Eduardo conversaram de forma leve e descontraída, eu e Hector treinávamos nossa sintonia magistral enquanto ajudávamos um ao outro e consegui saber mais sobre o intrigante Eduardo.

A conversa seguiu-se enquanto comíamos e admirávamos o resultado do nosso trabalho. Claro que a maior parte havia sido trabalho meu, e claro que eu neguei quando eles afirmaram isso.

_Bom, pessoal, tem a sobremesa ainda. – eu disse levantando-me e indo para a cozinha.

Abri a geladeira e lá estava ela: a fabulosa Torta de Morango do Oliver. Sim, o nome era Torta de Morango do Oliver. Isso porque é uma receita com retoques dele, e era simplesmente gostosa demais. Felizmente, eu era capaz de reproduzir a receita quase igual Oliver a fazia, mas obviamente não era a mesma coisa. Mesmo assim, era muito boa. Admito que a fiz para impressionar um pouco o Eduardo.

_Meu Deus, Vic! Parece maravilhoso. – disse Aline boquiaberta.

De fato, a aparência estava ótima, os morangos por cima, um creme branco no meio e uma massa bege por baixo. Isso formava três camadas preenchidas com uma calda especial do Oliver. Hector pegou os pratinhos e os talheres. Todos nos servimos.

_Caramba... Victor, você é muito bom! – disse Eduardo após engolir a primeira colherada.

Corei. Olhei para o lado e vi que Hector novamente tinha um sorrisinho debochado. Contive-me para não cair na porrada com ele.

_Ai Vic, eu me casaria com você se você não fosse ga... y... – Aline percebeu que falou demais quando já havia dito quase a coisa toda.

Hector não demonstrou reação. Eu olhei para Aline de modo neutro enquanto colocava mais um pedaço na boca. Eduardo continuou comendo, até que olhou para a cara estática de Aline e caiu a ficha:

_Ah, não se preocupe, Aline. Eu não sou preconceituoso nem nada do tipo.

_Eu também não me incomodo com as pessoas saberem, Aline. – eu disse acalmando-a.

_Ah... hum... desculpe, mesmo assim. Eu não tô acostumada com esse tipo de amizade. – ela disse dando um sorriso nervoso.

_É compreensível. – disse Eduardo – Além do mais, todos os gays reconhecem uns aos outros de imediato, não é mesmo, Victor?

Dei um risinho e balancei a cabeça em concordância. Era verdade que eu já havia percebido que Eduardo era gay. Veja bem, minha mente é controlada o bastante para eu não me permitir sentir algo forte por heterossexuais.

_É verdade... acho que chamam de “gaydar”, não é? Acho ridículo. – eu disse enquanto me inclinava para servir mais um pedaço de torta ao Eduardo – Quer mais um pedaço?

_Claro! – ele respondeu como se aquela pergunta fosse absurda.

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_Se você observar, vai ver que temos uma conformação eclipsada aqui. – eu explicava enquanto apontava calmamente para uma molécula esquematizada para Eduardo na mesa em que almoçamos, mas agora limpa.

_Entendi. Nem parece difícil agora, mas acho que eu tenho uma dificuldade especial com química. – disse Eduardo com um sorriso decepcionado.

_Claro que não, Eduardo. Você aprendeu muito facilmente. Não é, Aline?

A resposta não chegou. Olhei para o lado e a vi deitada no carpete com fones de ouvidos com música alta tocando, segurando um caderno para o alto e o lendo. Ela deu uma olhadela, percebeu meu olhar dirigido a ela e tirou o fone.

_Disse alguma coisa? – ela perguntou.

_Por que você tá escutando música para estudar? – perguntei achando aquilo estranho.

_Se eu tiver que focar mais no estudo, ignorando a música para prestar atenção apenas na leitura, eu consigo aprender mais pelo esforço. – ela disse como se aquilo fosse óbvio.

Eu e Eduardo nos entreolhamos com sorrisos duvidosos.

_É um método bem... – Eduardo começou a dizer.

_Estranho. – finalizei.

_Isso. – ele disse.

_Mas funciona. – disse Aline parecendo triunfante e voltando a colocar os fones.

Eduardo olhou em seu relógio com pulseira de couro marrom e disse:

_Tenho que ir, Victor. – ele disse.

_Ah... tudo bem, eu vou com você até lá embaixo.

Hector, que estava sentado no sofá ocupado com nada em especial, fez menção de levantar para me acompanhar. Com um simples olhar, sinalizei para ele que poderia ir sozinho. Bom... não somente poderia, como queria. De qualquer maneira, Hector entendeu e sentou-se, mas percebi certa tensão nele. Raramente nos separávamos.

Eu e Eduardo nos levantamos e nos dirigimos à saída do apartamento. Antes de sairmos, lembrei de oferecer:

_Quer levar um pedaço de torta para casa? – perguntei.

_Iria parecer muito indelicado dizer que sim? – ele disse com um sorriso meio envergonhado.

_Claro que não. – eu disse meio rindo.

Entrei e coloquei um pedaço dentro de uma vasilha com tampa. Entreguei-a para Eduardo enquanto saíamos do apartamento. Apertei o botão do elevador e ficamos esperando num silêncio constrangedor.

_Gostei de ter vindo. Obrigado pelo convite. – Eduardo quebrou o silêncio.

A porta do elevador se abriu e entramos enquanto eu falava:

_Não foi nada...

_Eu não estou sendo fático, Victor. Eu realmente me diverti. – ele olhou para o nada, pensativo, de repente parecendo despertar – Ah, tô viajando aqui. É que é raro eu gostar de um lugar ou alguém.

Olhei para ele com um sorriso e disse, quase sem pensar:

_Eu sei.

Ele deu um risinho e disse:

_Sabe, é?

Corei um pouco, e ele percebeu. Que droga.

_Quero dizer... lendo seus gestos e expressões dá pra saber.

Eduardo pareceu ainda mais intrigado, com um sorriso divertido. Ele parecia achar engraçado minha incapacidade de articular uma fala sensata.

_Leitura de gestos e expressões? – ele pareceu meio incrédulo.

_Eu... tive umas aulas disso. – esclareci.

A porta do elevador se abriu novamente e saímos para o térreo.

_Quer dizer que você me conhece sem eu precisar dizer nada? – perguntou um interessado Eduardo.

_É mais ou menos isso. Não funciona para tudo. – respondi.

_E o que denuncia o fato de eu raramente gostar de locais e pessoas? – ele perguntou com uma sobrancelha erguida, em sinal de desafio.

_É difícil explicar... é uma análise conjunta de vários aspectos seus. Tipo a forma como você olha para as pessoas ao mesmo tempo que essa pequena ruga na sua testa aparece, ou a forma como você desvia o olhar quando... – parei para pensar no que eu estava dizendo – Eu estou parecendo um maníaco?

Eduardo riu bastante, dessa vez.

_Não, Victor. Na verdade, eu acho isso muito legal. Eu não sou muito bom em falar sobre mim, então é bom ver que alguém me conhece sem eu dizer nada.

Fiquei um pouco constrangido com aquilo. Não sabia o que dizer, embora eu tivesse certeza de ter tido aulas para conversar com maestria e saber escapar de diversas situações usando apenas palavras. Nada da teoria me vinha à cabeça ali. Eduardo desfez a situação:

_Tente ler meus pensamentos agora. – ele disse com um olhar cheio de expectativa.

Fingi um olhar forçadamente analítico direcionado ao seu rosto.

_Eu consigo ler que você não entendeu a base da coisa.

Ele riu, e eu também. Andamos até a portaria. Eduardo disse no caminho:

_Pena que você não consegue ler pensamentos.

_Por quê? É algo que eu gostaria de saber?

_Não sei se você gostaria, mas poderia ser interessante.

_Então por que você não diz, simplesmente? – perguntei com um olhar de obviedade.

O porteiro abriu o portão e Eduardo saiu, mas antes de fechar o portão, disse:

_Eu não disse aquela hora? – deu um sorriso – Para mim, é difícil admitir que eu gosto de alguma coisa... ou de alguém.

O portão fez o estalo ao se fechar. Fiquei processando aquilo enquanto via Eduardo atravessar a rua.

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Entrei no elevador e meu telefone tocou logo em seguida. Tirei o telefone do bolso e vi que era meu pai. Atendi:

_Oi, pai.

_Como vai, filho?

_Bem, uns amigos vieram aqui em casa hoje. Cozinhamos.

_Fico feliz que esteja arrumando amiguinhos. – ele disse entusiasmado, mas eu notei o toque de deboche em sua voz.

_Não precisa me tratar como criança, velho. – eu disse incisivamente.

_Calma, Victor. – ele disse dando um risinho inocente – Olha, eu liguei por um motivo sério.

_Uau, isso seria novidade. – eu disse revirando os olhos.

Ouvi um suspiro de falsa decepção. Dei um sorriso.

_É sério, lembra do Reginaldo Miller, da Eletrocore? – ele perguntou com um tom realmente sério.

_Sim, sim, o pai do Leonardo. – eu disse.

_Ah, achei que você não se lembraria do Leonardo. – ele disse com um ar curioso.

“Difícil esquecer daquele idiota”, eu pensei.

_É que eu reencontrei ele na ESOM, nos lembramos um do outro. – eu disse com ar indiferente, simplificando as coisas.

_Que bom, porque é por causa do Leonardo que eu te liguei. – disse meu pai com seu tom de voz tornando-se mais sombrio.

Achei aquilo bem estranho, mas esperei para ouvir no que daria.

_Eu liguei para o Reginaldo hoje mais cedo, só para convidar ele para jogar conversa fora, mas ele estava bem abatido. Parece que o Leonardo está hospitalizado por causa de uma briga feia.

Por mais que eu não gostasse de Leonardo Miller, aquilo meio que me deixou abalado. Talvez, no fundo, ele ainda tinha um pouco da minha consideração por ter sido aquele que deu meu primeiro beijo. Além disso, eu havia vivenciado algo parecido com Gustavo, mais ou menos um mês atrás.

_Eu estava pensando que seria bom você fazer uma visita. Se não for por amizade, então pelo menos como consideração nossa pelos Miller.

Bom... por amizade é que não seria. Leonardo era um idiota completo. Mas eu iria, já que meu pai pediu.

_Tudo bem, eu irei. – eu disse, por fim.

<Continua>

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Comentários

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Cara, vou te confessar, so comecei a ler sua historia por curiosidade no capitulo 6, mais pelo nome estranho que nao lia antes...mas namoral que vacilo meu...sua historia é foda! PRA CARALHO! perfeita cara...um enredo fantastico com uma escrita unica...continua que ta perfeito =]

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Capítulo mágico e perfeito como sempre! Eu gostei do enigmático Eduardo, porém ele gosta dos Lannister :/ Broxei total HAHAHA NOTA 10!

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Você me faz sentir tesão pelo Eduardo e Hector. E me faz sentir culpado (e com um pouco de inveja, na realidade muita) por isso, pois sei que eles pertencem ao Vic. História excelente, e que titulo ótimo! Faz todo o sentido com a narrativa. Simplesmente beira a perfeição... Espero que essa historia se estenda por muito tempo e que eu possa por meses e que sabe até anos, acompanhar essa historia. Abraços desse velho leitor da CDC.

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Não será boa idéia essa visita...E Eduardo, vai rolar? Ele me pareceu adorável!

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