p.s.: Ainda te amo

Um conto erótico de Jason
Categoria: Homossexual
Contém 1319 palavras
Data: 14/06/2014 04:09:18
Última revisão: 22/08/2014 23:27:41
Assuntos: Gay, Homossexual

Era já um pouco tarde, olhei no meu relógio, e mesmo impulsionado a voltar para debaixo das cobertas, resolvi levantar e tomar uma ducha quente um pouco mais convidativa do que a primeira opção... só um pouco mais. Tomo minha ducha rapidamente e desço as escadas de uma forma tão monótona que acabo por achar interessante a minha mania de descer a escada sempre com a mão no corrimão esquerdo. De birra, volto os degraus que já havia descido e passo a descer me apoiando no corrimão direito. Achei um pouco engraçado, deveria fazer uma anotação disso mais a frente no meu livro.

Continuar meu livro, aí estava o problema... Há poucos dias atrás eu estaria muito satisfeito em deixa-lo de lado e seguir minha vida, mas agora já era algo pessoal. Quando Marcos meu recente ex apareceu milagrosamente em minha editora eu pensei que o atiraria qualquer arranjo de flores que estivesse ao meu alcance, e estava preparado para isso, mas ele não tentou falar ou se aproximar de mim, pelo contrário, entrou na sala da gerência e por lá ficou um tempinho, mas quando saiu me jogou um daqueles seus sorrisos que me derretiam, vejam bem que essa construção encontra-se no passado e de lá por mim não sairia, não tão cedo.

Então, "por coincidência do destino" ele estava sendo contratado pela minha editora, o pior era que ele tinha sido designado para cuidar do contrato de meu livro, então, nem que me custasse a vida iria fracassar. Tomei meu café preto para relaxar um pouco a tensão que estava se acumulando em minha mente e resolvi sair um pouco, ver pessoas, a natureza, sei lá, algo que me tirasse um pouco do dilema que estava presenciando.

- Tiriririririrm.

- Alô.

- Jay, você poderia passar amanhã aqui no escritório da Editora. - Ouvir a voz dele me deixou um pouco trêmulo, era a primeira vez que ouvia sua voz desde nossa separação e sua voz grossa e suave ao mesmo tempo me deixava um tanto quanto fora dos sentidos.

- Para você é senhor Jason e me diz uma coisa senhor Marcos, qual a finalidade dessa reunião? É mesmo necessária, ou só mais um de seus artífices para tentar me fazer voltar com você?

- Ok então, senhor Jason, devo lembrar-lhe de meu total profissionalismo com meu trabalho, mas quero lhe avisar que sou somente um pau mandado aqui dentro da empresa... Hoje é a data de sua reunião trimestral com a gerência da editora.

Puta merda, como fui esquecer da data da reunião, mancada demais da minha parte.

- Está certo, me desculpe, em pouco tempo chegarei aí, e muito obrigado por me lembrar da reunião.

- Não se preocupe, nos encontramos amanhã. - ouvi um suspiro longo e triste e em fim a chamada caiu.

Se eu estivesse lendo esse conto diria que toda a minha rejeição a Marcos só poderia ter partido de um lugar: traição. Para falar a verdade foi bem isso sim que aconteceu. Uma noite cheguei no loft que havíamos comprado juntos e estranhei as luzes acesas, Marcos estava viajando e não havia ninguém mais com a chave além de nós dois, um pouco com medo, liguei para ele e deu sem sinal como eu esperava. Achei então que só poderia ser um roubo, liguei para a polícia, pedi uma viatura e fiquei esperando. Dois policiais chegaram imediatamente e perguntaram se eu tinha uma cópia da chave ou se poderiam arrombar a porta, dei a chave para eles e fomos entrando, vozes vinham do quarto e quando os policiais seguidos de mim entraram no quarto meus ombros caíram e enquanto Marcos tentava se explicar eu só tive forças para sair por onde eu tinha entrado, mas não antes de dar um belo tapa em seu rostinho lindo. Os policiais, acho que entenderam tudo, somente saíram calados, mas pegar alguém que está com você há mais de cinco anos com uma mulher em sua cama foi muito ruim.

Depois ele me procurou algumas vezes, mas sem achar sucesso de forma alguma foi se infiltrar em minha vida da maneira mais intrometida que ele sabia, no meu trabalho. Sempre fui apaixonado por escrever, meus pais, e meus avós sempre escreveram, e eu havia aprendido com eles esse amor. E agora, eu estava sentado em meu balcão trocando minha rotineira xicara de café por uma xícara de chá de camomila, esperando meu nervosismo passar para encarar aquele que por cinco perfeitos anos esteve ao meu lado.

Saí do carro e estava descendo uma chuva torrencial. Corri para o prédio para não me molhar. Já dentro cumprimentei o porteiro que falou algo sobre o tempo, mas nem dei muita bola, entrei no elevador e subi para o andar da gerência tremendo na base. Não me levem a mal, não estava nervoso com a reunião, pra falar a verdade, aqueles encontros só tinham a finalidade de tentar mostrarem que estavam de alguma forma a par do desenrolar do projeto, estava receoso de não aguentar a pressão de estar perto de Luciano.

Enquanto o elevador se arrastava para o andar da editora um quadro me fez ter flashes de uma vez em que estávamos em um hotel fazenda, ele havia me dado sua mão para caminharmos na campina um pouco antes de escurecer e a tonalidade alaranjada do céu deixava nas flores diminutas um aspecto lindo, como se estivéssemos em uma pintura onde nada fosse imperfeito, onde ninguém conseguiria nos separar, mas infelizmente a perfeição não durou e como na realidade em pouco tempo depois tudo escureceu.

Finalmente o elevador tinha parado e aquela confusão de papeis e vozes, tão conhecida por mim, não me afetaram nem um pouco, continuei seguindo até meu destino, a sala mais afastada da entrada do andar, com uma imponente porta de madeira que só servia de enfeite numa sala totalmente exposta pelas paredes de vidro que a circundavam. Marcos já estava lá, bem como o editor chefe e alguns outros membros da diretoria. A reunião, como eu havia previsto, foi um total desperdício de tempo, eles queriam saber do andamento do livro e dei-lhes alguns novos capítulos de amostra que havia escrito já há muito. Não parei de olhar para Marcos que veio um tanto quanto triste demais me entregar alguns documentos no fim da reunião... sua boca, seus olhos, seu cheiro, tudo me hipnotizava e eu me odiei por saber que aquela tristeza era minha culpa.

Fui para casa, tomei meu banho, depois desci e fui até a sala de estar acender a lareira, resolvi checar a pasta de documentos com uma bela taça de vinho e ao som de um pouco de The Cinematic Orchestra, uma música que me fez lembrar daquele dia na campina, To Build a Home, me fez voltar a sentir aquele mesmo sentimento de perfeição, de segurança, uma lágrima rolou e mais uma lembrança boba me veio a mente, quando eu vi que em uma cantinho rabiscado na pasta havia escrito “Desculpa meu anjo. p.s: Ainda te amo.”. Ainda naquela tarde na campina, eu estava sentado no meio de suas pernas e ele beijava minha nuca...

- Será mesmo que o céu é infinito? – eu dizia um tanto quanto abobalhado olhando aquelas nuvens que mais pareciam algodões doces gigantes passando.

- Não sei amor, mas de uma coisa eu tenho certeza, meu amor por você é infinito.

Essa lembrança em particular, me fez relembrar tudo o que já havíamos passado juntos e no final de tudo, colocando na balança, um só gesto ruim dele, não conseguiu competir com os milhares de bons que ele já havia feito. Corri para o carro e fui até o nosso antigo loft, tudo era um monte de borrões enquanto estava dirigindo, passei correndo pelo porteiro e resolvi subir as escadas porque não aguentaria esperar, cheguei, respirei fundo, abri a porta, tomei coragem e fui pegar de volta o homem que era meu passado, meu presente e meu futuro.

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Comentários

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Perfeitoooo, espero continuação logo para essa historia magnifica :)

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Lindo está perfeito dear. Amei a forma como escreves é magica.

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