Medicina para inumanos (1): Inumanopatia

Um conto erótico de Victor Voldi
Categoria: Homossexual
Contém 4068 palavras
Data: 30/06/2014 20:02:16

_Senhor Voldi, o convidado chegou. – disse-me Susane, a secretária do meu pai, Orlando Voldi, e eu quase sorri ao me ver sendo chamado de “Sr. Voldi”.

_Ok, diga para ele entrar. – eu disse, pensando se teria tempo de ter a aula de violoncelo depois de terminar aquele assunto.

Passou-se um minuto, no qual eu fiquei girando uma colher na minha xícara de chocolate quente e observando aquela sala extremamente exagerada de meu pai. Acho que é algo necessário quando você lida com empresários e chefões do mundo que podem a qualquer momento virar-se contra você. É preciso mostrar quem está no comando a todo momento. Papai sabia fazer isso de uma forma maravilhosa, e ainda assim, me colocou naquela situação: participar de uma reunião com um representante importante de uma empresa fornecedora. Era certeza que aquilo era um teste daquele velho. E eu passaria. Eu sempre passo.

_Boa... – um homem em seus cinquenta anos entrou na sala e estacou quando viu meu rosto, como se fosse (e era) uma surpresa - ...tarde?

_Olá, Sr. Alvareda. – eu disse – Eu sou o filho do Orlando, meu nome é Victor Voldi.

Bernardo Alvareda era o representante de uma empresa que fornecia aparelhos para processos químicos e manutenção delas para a Voldi, uma das mais importantes concorrentes na indústria de medicamentos mundial. Era um homem acima do peso, atarracado, calvo, usava óculos e tinha uma barba perfeitamente feita. Usava um terno bastante caro e carregava uma maleta. Ele olhava para mim de forma incerta, e tudo bem, era compreensível. Eu possuía uma estatura menor que a de meu pai, com uns 1,70, e ficava bastante impotente naquela poltrona grande, na frente daquela mesa enorme e naquela sala gigante. Além disso, meu cabelo tinha um corte desfiado e desleixado que o fazia parecer levemente bagunçado e juvenil, eu era um pouco pálido por não gostar muito de ambientes externos. Embora eu tivesse 18 anos, eu parecia ter menos, mesmo usando um terno (que eu não utilizava havia um certo tempo).

_Desculpe, meu pai não pôde estar aqui. No momento, ele está viajando. Talvez esteja no Canadá... ou no Japão... – olhei para o nada e pousei a ponta do dedo nos lábios para mostrar que eu estava pensando.

Bernardo ainda me olhava com certo receio, mas desfez seu rosto num sorriso e algo que eu detectei de imediato: alívio. Aquilo era um mau sinal. Embora tenha sido bem sutil, minhas aulas de leitura facial me permitiam detectar qualquer coisa, a não ser que eu estivesse diante de um psicopata.

_Sente-se, Sr. Alvareda.

Ele se sentou, colocou a maleta ao lado da cadeira, estendeu a mão para mim e disse:

_Nunca imaginei conhecer o filho do Sr. Orlando Voldi.

_Ora, sou uma celebridade lá fora, então? – perguntei com um sorriso e o cumprimentei.

_Os boatos dizem que você é superprotegido.

_Ou seja, dizem que sou um garotinho mimado preso em seu mundinho, certo?

Bernardo adquiriu uma feição cuidadosa e contornou:

_Não foi isso que eu quis dizer, Sr. Victor.

_Sei que não. Mas a verdade é que eu não saio mesmo. Mantenho-me na propriedade e gosto de investir o tempo adquirindo conhecimento sobre, basicamente, tudo. É o meu hobby. – recostei-me na poltrona, adquirindo uma posição de relativa superioridade. – O senhor gostaria de beber alguma coisa? Café, chá, whisky?

_Um chá estaria ótimo.

Usei o telefone para falar com Susane, a secretária do meu pai:

_Susane, traga um... Earl Grey? – olhei para Bernardo esperando confirmação, ele afirmou com a cabeça – Sim, um Earl Grey para o Sr. Alvareda.

Em um instante Susane apareceu na sala com um carrinho cheio de ervas, pós e bebidas e começou a preparar o chá de Bernardo ao nosso lado.

_O que você me trouxe, Sr. Alvareda? – eu perguntei, finalmente.

_Ah, sim. Aqui eu tenho um orçamento do pedido mensal de equipamentos para a Voldi. Preciso da confirmação direta do Sr. Voldi. – ele disse entregando-me alguns papeis de sua maleta.

_Tudo bem, hoje eu tenho a autoridade para autorizar esse tipo de coisa. – eu disse pegando os papeis.

Havia muitos números, muitos mesmo. Os pedidos da Voldi para equipamentos daquele tipo envolviam centenas de milhares de dólares. E pensar que meu pai deixaria algo do tipo em minhas mãos. Fui acompanhando as linhas. Logo percebi que alguma coisa não estava batendo. Não gosto dos negócios do meu pai, são apenas chatos demais, mas aprendi tudo de que podia relacionado à Voldi: seu funcionamento, sua infraestrutura, seus contatos, seus produtos. Eu sabia o mesmo ou mais que meu pai. Tudo isso porque eu simplesmente gosto de conhecer as coisas...

...e algo estava errado ali. “Espera... talvez eu esteja precipitado” pensei. Vi e revi as somas, o valor final não batia com o que deveria, e fui rápido, sempre fui bom com números. As tabelas com siglas de impostos e os nomes de equipamentos avançados não me incomodavam. Eu sabia para que serviam, quanto custavam e quais impostos recaíam sobre tudo aquilo, além de outras coisinhas mais complicadas. No final das contas, o valor estava maior do que o que deveria estar. Alguém estava tentando passar a perna nos Voldi, provavelmente era o Sr. Alvareda juntamente com algum funcionário da parte financeira da Voldi. Como se fosse fácil assim.

Normalmente, seria muito difícil enganar meu pai, já que ele conta com um funcionário especialista para ver essas coisas e detectar anormalidades, mas as pessoas são corrompíveis. Alvareda poderia ter subornado ou levado esse funcionário para seu lado. Claro, ele não contava com a possibilidade de eu estar no lugar do meu pai. O grandioso Sr. Voldi usava poder puro para controlar as coisas. Eu, seu filho único e herdeiro do império Voldi, contava com o conhecimento puro acerca de... bem... tudo que eu achasse necessário e interessante.

Susane finalmente serviu o chá a Bernardo, que me olhava com expectativa, embora eu não mostrasse expressão que denunciasse minha análise minuciosa.

_Gostaria de beber alguma coisa, Sr. Voldi?

Olhei para ela com um sorriso e pensei que fosse hora de começar a destruir o Sr. Alvareda.

_Susane, não gosto de você me chamando de Sr. Voldi. Guarde isso para meu pai, pode me chamar de Victor.

Ela sorriu de volta, eu adorava Susane, conhecia ela desde sempre.

_Tudo bem, Victor.

_Eu não quero nada, aliás.

Ela acenou com a cabeça e saiu da sala levando o carrinho.

Olhei para Bernardo com meu melhor sorriso juvenil.

_Sabe, Sr. Alvareda, na região ao sul da Índia cultivam uma erva que dá o mesmo sabor, aroma e cor do chá preto, mas mata a pessoa em dez minutos sem que ela sinta absolutamente nada. Se acrescentarmos o óleo de bergamota, vira um Earl Grey perfeito para assassinatos.

Bernardo parou de bebericar seu chá quando eu disse isso. Sua feição adquiriu um certo pavor, nada exagerado demais. Logo ele deu um risinho, levando na brincadeira.

_Ora, Victor... – ele começou a dizer com uma gentileza falsa.

_Por hoje, eu sou o Sr. Voldi para você, Bernardo. – eu o interrompi incisivamente e olhei para a xícara em sua frente – Não gostou do chá?

Ele olhava para mim atônito, provavelmente pela minha súbita mudança no tom de voz. Não esperei uma resposta dele.

_Esses cálculos estão errados, Bernardo, e eu gostaria que fosse um erro ocasional, mas nós dois sabemos que não é o caso. Você fez questão de tentar disfarçar o aumento habilmente, mas estas tabelas aqui... – eu apontei para o papel na minha frente- ...eu sei lê-las como se fossem o alfabeto.

Bernardo Alvareda tentou argumentar, mas sua face mostrava tantos sinais de mentira e nervosismo que eu senti vontade de rir.

_Sr. Vict... digo, Sr. Voldi, eu nunca...

_Não se dê o trabalho, Bernie. – eu apoiei meu rosto sobre minhas mãos e dei um sorrisinho – Não se sinta frustrado, meu pai descobriria também, talvez depois de um dia. Mas descobriria. Mesmo que você esteja tramando isso com algum ou alguns dos nossos funcionários. E nós iremos encontrá-lo.

Ele desfez a feição apavorada e deu um sorriso cínico.

_Você é astuto, Victor Voldi. O que é que você vai fazer agora?

_Bom... primeiro a Voldi vai quebrar o contato com sua empresa e faremos uma parceria com a Halven Chemicals.

_Impossível, o contrato não pode ser quebrado. – ele deu um sorrisinho falsamente resignado.

_Na verdade, pode sim. Se você ler o terceiro parágrafo da vigésima terceira página, vai ver o que eu estou falando.

Fui até um arquivo atrás da poltrona e vasculhei alguns papeis até achar o contrato. Entreguei a Bernardo, que foi até a página que eu disse. Seus olhos se arregalaram.

_Essa condição não estava aqui no contrato original! Eu sei que não, eu estava lá colaborando para a elaboração disso. – ele sacudiu o papel na minha frente.

Ele não estava mentindo. O contrato original não tinha aquele parágrafo, mas meu pai deu um jeito de colocar ele ali na véspera da assinatura. Não foi de má fé, mas é algo que o ajudaria caso uma situação como essa, com pessoas tentando se aproveitar da Voldi, aparecesse.

_Hum... mas está aí, não está? Não diga que é mentira, porque meu pai assinou isso na sua frente. Quando chegar no seu escritório, vá até o seu chefinho e peça o contrato dele, vai ver que isso está lá. – olhei para ele em desafio – E agora, o que você vai fazer?

Bernardo parecia totalmente perdido. Era compreensível.

_Não... você não tem provas de nada. Aqui diz que você só pode quebrar o contrato mediante provas de fraude.

Tirei um pequenino gravador de dentro do bolso do meu terno e olhei como se nunca o tivesse visto antes.

_Nossa, como foi que isso surgiu aqui? – perguntei sorrindo em deboche.

O sangue subiu para o rosto de Bernardo. Ele inclinou-se em minha direção, seu rosto estava perto do meu. Seu hálito cheirava a gordura.

_Você não devia zombar de pessoas como eu, Sr. Voldi. Coisas ruins acontecem nesse mundo que você acha que conhece.

Ele deu um sorriso que seria amedrontador se eu fosse uma criança de seis anos. Olhei para ele com total desprezo.

_Isso é uma ameaça? – perguntei e olhei para o lado logo depois – O que acha disso, Hector?

_Lamentável. Combinaria se estivéssemos num filme de mafiosos. – disse Hector, na parede lateral da sala, ele estava ali, silencioso, imóvel e indetectável. Ele sabia fazer isso como ninguém. Era assustador.

Bernardo olhou para Hector e assustou-se. Eu ri.

_Você deveria prestar mais atenção no ambiente que o cerca. Não é essa uma das regras do “mundo que eu acho que conheço”? – adquiri uma expressão calma e de total triunfo – Agora é sério... quantas maneiras você conhece de matar alguém, Hector?

Hector era alto, com seus 1,85 de altura, corpo forte, não exageradamente, mas adequado para sua função principal: me proteger, o que requeria mais habilidade do que força bruta. Seu cabelo escuro tinha um corte de um cara jovem normal, curto, um pouco menor nas laterais, um pouco bagunçado na frente. Mas ele gostava de usar uma barba rente e contínua com as costeletas para parecer um pouco mais velho, embora eu soubesse que ele tinha apenas 24 anos, mas o deixava bonito, então eu não comentava. Hoje ele estava usando um terno preto que lhe caía muito bem e realmente o fazia ficar parecido com um segurança, o que era engraçado. Normalmente, ele usava roupas normais, foi uma coisa que eu pedi para que ele fizesse. Eu realmente gostava dele, quase como um irmão mais velho.

_Talvez umas 147 maneiras. – ele disse depois de pensar um pouco, sem qualquer expressão facial.

_E quantas delas são realmente dolorosas? – perguntei usando um tom trágico e olhando para Bernardo nos olhos.

Hector pensou mais um pouco e disse:

_93.

_E quantas poderiam ser realizadas nesse momento? – perguntei, por fim.

Hector olhou à sua volta, e depois de uma análise dos itens à sua disposição, fez um leve sinal afirmativo com a cabeça, como se aprovasse a situação.

_21.

_Uau, tantas assim!? – eu exclamei exageradamente.

_CHEGA! Com quem você acha que está lidando, garoto? – Bernardo estava exaltado e socou a mesa.

Hector, pela primeira vez naquela reunião, lançou um olhar ameaçador para Bernardo. Foi o suficiente para fazê-lo baixar a bola.

Levantei-me da poltrona, espalmei as duas mãos na mesa e me inclinei sobre Bernardo, que continuou sentado.

_Com que VOCÊ pensa que está lidando? Você acha mesmo que meu pai criaria um filho fraco? Você conhece meu pai, mas não me conhece. Eu posso destruir você da mesma forma que ele pode, mas a diferença é que eu tenho mais criatividade.

_Você... – ele começou a dizer.

_Hector, conduza ele para fora da propriedade, por favor. – eu disse, virando as costas.

_Você me paga, Victor! – ele começou a gritar.

Hector o pegou pelo braço e o puxou. Bernardo não tinha escolha a não ser segui-lo.

Depois de ele sair da sala, peguei meu celular e disquei o número do meu pai.

_Alô. – respondeu ele, com uma voz sonolenta.

_Bernardo Alvareda estava tentando ganhar em cima da gente. Desfiz o contrato e vou ligar para a Halven e propor um novo. – eu disse calmamente.

_Hum... tudo bem. Foi divertido? – ele perguntou com um tom de voz falsamente intrigado.

Eu sorri. Eu tinha o pai mais idiota existente.

_Qual parte? Foi uma lição prática interessante. Pude usar minhas técnicas artísticas para intimidação, técnicas de leitura facial e até botânica e venenos. Você dizia que plantas seriam inúteis na minha vida, lembra?

_Hum... você não o matou, certo? Isso seria errado. Mas me diga... como é a sensação de arranjar um inimigo?

_Acho que ele não é digno de ser chamado de inimigo. – eu dei um suspiro – Ah, pai, hoje eu pensei em contratar um professor de interpretação de sonhos. E eu também quero aprender pencak silat*, já pesquisei um mestre aqui no Brasil mesmo. Posso?

*Pencak Silat é uma arte marcial da Indonésia.

_Na verdade, meu filho, acho que seria bom para você frequentar uma universidade. O que acha?

Achei aquele pedido estranho. Muito repentino.

_Isso é uma lição prática? Quero dizer... eu quase nunca saí de casa. Provavelmente, você quer que eu aprenda a viver a vida real e não o mundinho no qual eu vivi até hoje. – eu disse objetivamente.

_Você é assustador, Victor. Pare de ler as mentes das pessoas. Você contratou um professor para isso alguma vez na vida? Foram tantos... – meu pai disse em tom brincalhão.

_Na verdade, sim. Ele se chamava Albert Leinand, aquele estadunidense com doutorado em dedução mental. Ficou aqui em casa por uns 3 meses.

_Ah, é verdade, lembrei. Mas é isso mesmo que você disse. Seria bom para você. Ainda mais se fosse um curso como economia ou administração... quem sabe direito...

Revirei os olhos em indignação.

_Pai, eu conheço essas áreas como uma tabuada de um a dez.

_Então escolha qualquer curso que quiser.

Pensei um pouco.

_Medicina é algo que eu nunca pude ter em casa. Seria interessante. – respondi.

_Então tudo bem. Coincidentemente o vestibular para aquela universidade renomada acontecerá depois de amanhã, e estranhamente, sua inscrição já está feita. Melhor você correr e pegar um avião. – meu pai disse um com uma surpresa fingida.

Eu ri baixinho.

_Você sabia que eu escolheria medicina, seu besta!

_Claro que sabia, lembra que você pediu para ter um laboratório de anatomia em casa, mas era proibido por lei?

Lembranças vieram à minha mente de quando eu tinha quinze anos.

_Ah, sim. Foi trágico. Mas tudo bem, eu irei.

_O Hector irá junto.

_Eu já esperava por isso. Boa noite, desculpe por ter te acordado.

_Não foi nada, boa sorte com o vestibular. Se quiser eu posso comprar sua vaga. – ele disse e riu.

_Como se eu precisasse, seu velho. – desliguei o telefone com um sorriso.

Saí da sala de meu pai, pedi para Susane fazer ligações para arrumar a viagem e um apartamento decente próximo do campus. Decidi que iria tomar banho, mas antes passei pela cozinha para encontrar Oliver. Ele era um chef de cozinha francês que meu pai contratou para me dar aulas de gastronomia e só falava a língua materna – o francês. Era um homem alto, levemente forte, ruivo, com um cabelo liso e bem curto, uma barba da mesma cor, que ele gostava de deixar crescer um pouco. Tinha 36 anos e, secretamente, me dava aulas práticas de... outras coisas. Ele estava usando seu traje de cozinha normal, com um lenço preto e branco que ele amarrava na cabeça como uma bandana. Estava cozinhando alguma coisa numa panela de ferro que parecia pesada, mas ele a sacudia no ar segurando o cabo como se não fosse problema. Sexy.

Oliver me viu encostado na porta o observando e disse:

*tradução simultânea de francês para português*

_Olá, patrão. Quer que eu faça alguma coisa para você? – ele deu um sorriso de canto de boca.

_Hum... aquela torta de limão de hoje mais cedo estava realmente gostosa. Ainda tem aí? – eu disse com um francês perfeito, fruto de muita prática.

_Sim. Vou pedir para alguém levar até o seu quarto. – ele disse enquanto mexia habilmente o que quer que estivesse fazendo.

_Não, eu vou querer mais tarde. Antes de dormir. Você pode levar?

Ele parou de mexer a panela e olhou para mim por um instante, em dúvida, depois recomeçou seu processo sagrado de cozinhar.

_Claro. – ele disse.

***

Alguém bateu na minha porta, e eu sabia que era Oliver. Abri a porta e lá estava ele segurando um pratinho com um pedaço da torta de limão, usando uma camiseta lisa, uma bermuda e chinelos. Ele estava com o cabelo úmido e com cheiro de limpeza. Devia ter acabado de sair do banho.

Oliver foi contratado pelo meu pai a meu pedido como cozinheiro. Claro que o fato de eu estar tendo um rolo com ele influenciou nesse pedido. Só um pouquinho. Fazia quase um ano desde que eu o havia conhecido como meu professor particular de gastronomia, e um tempo quase igual como amante secreto.

_Posso entrar? – ele perguntou.

Saí do caminho como sinal afirmativo. Fechei a porta após ele passar. Ele pousou o pratinho sobre o meu criado mudo e virou-se para mim, automaticamente dando-me um beijo quente. Era assim que as coisas sempre mudavam, mas dessa vez não fomos direto para a coisa em si. Ele disse pertinho do meu rosto:

_Achei estranho você me chamar hoje. Normalmente sou eu quem vai atrás de você.

Corei um pouco. Droga, eu sempre me sentia mais incerto com Oliver. Todos os professores particulares que eu já tive e nenhum para me dar uma aula sobre “comportamento com o cara com quem eu transo”.

_Eu vou embora amanhã. Talvez eu não volte por um bom tempo. – eu disse.

Ele ficou em silêncio e olhou-me com seus olhos azuis escuro. Voltou a me beijar, dessa vez de forma mais branda. Tirei sua camiseta e deixei-a no chão. Ele fez o mesmo. Passei uma mão sobre seu peito com alguns pelos ruivos.

Ele levou-me para a cama enquanto ainda nos beijávamos e nos deitamos primeiramente com ele por cima, mas eu dei um leve empurrãozinho e ele entendeu, deixando-me por cima. Fui beijando seu corpo a medida que ia descendo, dando uma pausa em seu mamilo. Segui o caminho que seus pelos faziam em seu abdome, do umbigo até a calça, desabotoei-a e tirei seu pênis para fora, já em riste. Brinquei um pouco, contornando aquele membro, sentindo seu cheiro, usando a língua. Finalmente coloquei sua cabeça na boca, e comecei a chupá-lo. Oliver começou a gemer.

_Ah... delícia...

Após uns segundos, fui além e desci minha cabeça até o fim. Oliver deu um quase urro e segurou-me pelos meus cabelos lisos, que caiam levemente sobre minha testa. Olhei para ele, e ele me olhava em êxtase. Praticamente tudo que eu sabia de sexo eu havia aprendido com Oliver. Eu sou um bom aluno e ele era um bom professor. Eu me sentia nervoso no que antecedia o sexo, mas durante... a história era diferente.

Ele me puxou para cima dele e me beijou, todo meu corpo encostado no seu, como se fossem feitos para isso. Ele disse em um intervalo:

_Você já merece um diploma nessa matéria.

_Então vamos conversar como profissionais. – eu dei um risinho.

Ele sorriu e me colocou de barriga para baixo. Senti seu hálito quente em minha nuca, antes de ele dar um beijo e ir beijando minhas costas, descendo aos poucos. Eu já estava arfando. Ele tirou meus shorts de dormir e minha cueca, apertou minhas nádegas e as abriu. Senti sua língua dentro de mim, e gemi talvez alto demais. Diminuí o volume um pouco. Ele fazia com que eu não quisesse que ele parasse. Mexi meu quadril, quase num pedido para mais.

Oliver parou e me virou novamente, fiquei de costas para a cama. Ele começou a chupar meu pênis, e ele parecia ser bem melhor do que eu, porque eu tive que me controlar para não gozar naquele momento. Ao mesmo tempo, ele enfiava seu dedo médio em mim, fazendo um movimento bem lento de vai e vem. Enfiou mais um.

Ele subiu até o meu rosto, me recostei num monte de travesseiros e ele começou a me beijar, continuando com seu dedo dentro de mim fazendo um movimento maravilhoso. Ele retirou seu dedo e colocou-se entre minhas pernas abertas. Lubrificou seu pênis com sua própria saliva, segurou-o com uma das mãos e ficou passando sua ponta em volta da minha entrada enquanto me beijava lentamente. Desvencilhei-me de seus beijos e disse em seu ouvido num sussurro:

_Eu quero você dentro de mim, Oliver.

E ele obedeceu. Sua cabeça entrou, e aos poucos seu pênis foi entrando mais e mais. A dor era aguda, mas eu sabia que ela desapareceria. Oliver sabia o que estava fazendo. Enquanto isso, ele beijava meu pescoço, meu rosto, minha boca. Aos poucos, o movimento de investida que ele fazia ia ficando mais rápido e eu fui ficando cada vez mais excitado. Seu abdome roçava no meu pênis a cada movimento, nossos corpos estavam muito próximos. Eu passava a mão pelo seu peito, sentindo a leve aspereza de seus pelos. Minha mão explorava cada contorno dos músculos de seu braço forte. Meus sentidos estavam no máximo de apuração: seu cheiro de limpeza agora misturado com suor; seu olho no meu, era como se eu olhasse por uma janela; o gosto perfeito da boca de Oliver quando ele me beijava entre suas investidas; o som de seus gemidos fortes; o atrito de um corpo contra o outro e a temperatura quente permanente de seu corpo, como se estivesse sempre numa cozinha.

Aquela era a melhor coisa que existia. Pensando bem... talvez perdesse para aprender coisas novas e interessantes.

Ou talvez...

Eu não sabia.

Não saber algo era excruciante.

***

No dia seguinte, eu acordei e Oliver não estava ao meu lado. Por alguma razão, eu senti que não o veria mais. Para confirmar, fui até a cozinha. Naquele horário, ele normalmente estaria preparando o café da manhã.

Encontrei Susane na cozinha. Ela olhou para mim e disse:

_Espero que não se importe, Sr. Victor, vou substituir o Oliver hoje. Ele não apareceu de manhã. Ele deve ter ido a algum lugar, mas não atende o telefone. Não sou uma profissional, mas consigo lidar com uma cozinha.

Sorri preguiçosamente para ela. Eu devia estar acabado. Ainda usava meu pijama.

_Ah, tem um bolo aqui se você quiser comer. Estava pronto quando eu cheguei, acho que foi o Oliver quem fez, embora seja muito simples.

Então eu vi o bolo no balcão. De fato, era simples. Era um bolo de cenoura com cobertura de chocolate, a primeira receita que eu preparei junto com Oliver, como iniciante. Era algo que eu sempre gostava, comidas sofisticadas demais costumavam me enjoar rápido, então Oliver sempre fazia coisas diferentes, raramente repetindo um prato. Peguei um pequeno pedaço e coloquei na boca. Realmente, tinha sido feito por ele. Estava simplesmente bom demais. Ele nunca havia feito um. Provavelmente porque ele era um profissional renomado, e aquilo era simples demais. Mas aquilo era dele.

_Quando ele voltar, eu digo o que você quer para o almoço. Às três da tarde é a sua viagem. Qual sua preferência para hoje? – disse Susane em seu avental, o que era bem peculiar.

Dei um sorriso triste para ela.

_Ele não vai voltar, Susane.

<Continua>

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 3 estrelas.
Incentive Contista Crônico a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Este comentário não está disponível
Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

Eta povo talentoso que não para se surgir no site!Coisa linda esses escritores que capricham no texto,nos enredos cada vez mais interessantes!Nossa gente é foda de talentosa,né?Chupem homofobicos!Cara,esse Oliver é enigmatico e a pergunta que fica é:porque ele sumiu?Para dar lugar a outro na vida do protagonista?

0 0

Listas em que este conto está presente