Vida de universitário é foda 34

Um conto erótico de Fael
Categoria: Homossexual
Contém 2214 palavras
Data: 19/04/2014 01:13:40

De todos os momentos marcantes da minha vida, este certamente se destaca. A voz da mãe do Murilo entrou em minha mente me deixando em um estado de paralisia completa. Minha nuca formigava, meu corpo começou a tremer.

Como pudemos ser tão descuidados? Aparentemente a mãe dele tinha ido pra seu próprio quarto, mas esqueceu de dizer alguma coisa ao filho. E então, aquela situação desconfortável.

O Murilo também se assustou, e rapidamente se virou para encarar a mãe.

_Mãe!

_Mas o que significa isso, meu filho? Você estava beijando seu amigo?

_Mãe, fala baixo, alguém pode ouvir.

Eu nem consegui me manifestar. Quando percebi a mãe dele estava pedindo pra acompanharmos ela. Seguimos pela casa em silêncio até a piscina. Lá, poderíamos conversar sem que ninguém ouvisse.

_Mãe, eu posso explicar.

_Meu filho, você não pode explicar nada.

_Mãe, eu sei que você não entende, mas eu nunca contei pra você porque já imaginava que sua reação seria algo parecido.

Apesar de tudo, ela não tinha nenhum semblante raivoso ou algo parecido. Parecia preocupada.

_Apesar de saber que você certamente nunca mais será a mesma comigo, agora tenho que dizer tudo. Eu sou bissexual. Eu descobri a algum tempo que não são só as mulheres que me atraem. E logo depois de começar a faculdade eu conheci o Rafael. E desde então estamos juntos.

Ver aquela cena certamente não era algo legal. A dor presente nas palavras dele eram notáveis, uma vez que ele já estava lacrimejando. Mesmo assim, teve coragem e foi adiante.

_Eu sei mãe que eu não sou o filho que você queria. Talvez você até me abomine agora, mas mesmo assim eu não posso fazer nada pra impedir. Eu sou assim, não escolhi, aconteceu.

O silêncio dela era de cortar o coração. Caso ela tivesse uma reação histérica seria mais compreensível.

_Mãe, você e o papai sempre fizeram de tudo pra mim e eu sou eternamente grato por isso. Mesmo assim toda a educação que vocês me deram não pode mudar o que eu realmente sou. Eu não escolhi ser assim, mas eu sou e agora que compreendo o que se passa na minha cabeça, tenho orgulho de ser quem sou. Depois que eu conheci o Rafael eu cresci, amadureci e hoje sou uma pessoa melhor. Não é porque somos dois homens que não pode existir amor.

Ele olhou pra mim, e a visão me deixou com mais pena ainda. Ver ele sofrendo na minha frente não era lá uma grande novidade levando em conta o período em que ficamos separados. Mas agora era diferente.

_Quando você contar pro papai, é possível que ele nem queira me ver por aqui. Mesmo assim, queria dizer a senhora que eu ainda sou o mesmo. Eu ainda sou a mesma pessoa, com os mesmos defeitos e qualidades. A única coisa que mudou é que agora eu descobri uma nova parte de mim.

....

_Mãe, diz alguma coisa por favor.

_Vocês dois, vão dormir. Amanhã, quero conversar com mais calma. Logo pela manhã, depois do café, vou chamar ambos para ir ao supermercado comigo. Fora daqui conversamos.

E assim ela se foi. Ficamos sentados ali sem dizer nada um para o outro. Tentei imaginar o sofrimento a qual ele estava passando. Peguei ele pelas mãos e o guiei até a casa, de volta ao seu quarto.

Nos deitamos e ele ficou sobre o meu peito. Eu não sabia o que dizer, então fiquei em silêncio. Após um tempo ele começou a chorar feito uma criança que acabara de cair e se machucar. Meus carinhos não eram nem de longe suficientes para amenizar sua dor.

Ficamos assim por um tempo até que ele pegou no sono. Não consegui dormir, fiquei o tempo todo pensando no que a mãe dele seria capaz de dizer ao filho no outro dia. As minhas projeções não eram nada animadoras. É claro que ela não faria um escândalo no instante que descobriu para não fazer alardes. Porém o silêncio dela indicava que ela não iria engolir muito fácil.

Antes de o sol nascer, o Murilo acordou. Sentou-se na cama e ficou me olhando por um tempo.

_O que vai ser de mim agora?

_Acho que vamos ter uma longa conversa com ela.

_Ela não vai me aceitar.

_Claro que vai. Fica tranquilo. Mas ela pode não aceitar “nós”.

_Eu sei. Mas seja o que for, eu não quero ficar longe de você de novo.

_Eu sei. Fica calmo, independentemente do que acontecer eu vou estar com você.

_Você acha que ela vai contar pro meu pai?

_Vai. Não quero te desanimar, mas ela não pode esconder isso do seu pai. Mas eu inda acredito em algum desfecho favorável.

_Queria acreditar nisso.

_Não fique sofrendo antes da hora. Vamos tentar dormir um pouco.

_Te amo!

_Também te amo!! Estou com você, lembre-se disso!

Tentamos dormir, mas quando eu consegui logo ele me acordou, já que já tinha amanhecido e logo seria o café.

Nos arrumamos e fomos encontrar com o povão. Todos estavam felizes como nos outros dias, mas a cara do Murilo estava sofrível.

A mãe dele estava aparentando normalidade, mas era claramente apenas uma encenação. Após o café, ela colocou em prática a história de supermercado.

Fomos no carro dela, e no caminho ninguém disse nada. Ela nos levou até o seu consultório (ela é advogada).

Lá ela pediu para nos sentarmos a sua frente em sua mesa de trabalho.

_Bom, estamos aqui. Como vocês estão muito falantes, vou fazer as perguntas. Qualquer um pode responder.

....

_Quando vocês começaram a.... “ficar”?

Pensei em responder mas percebi que era o momento do Murilo.

_Alguns meses.

_Foi quando descobriram que eram.... assim?

_Eu não. Mas o Rafael sim.

_Vocês... namoram?

_Sim.

_E quando você iria me contar isso, meu filho?

_Não sei. Sempre fiquei com medo desse tipo de reação.

_Mas qual reação? Eu não disse nada a respeito ainda!

_Mas eu sei o que você quer dizer. O que o meu pai vai falar...

_Murilo, pare. Vamos discutir os fatos primeiro. Quando foi que você “percebeu”?

_Algum tempo. Alguns meses antes de ir pra universidade.

_Fora o Rafael, você já ficou com alguém? Outro homem, eu quero dizer.

_Sim.

A mãe dele deu um grande suspiro e olhou para mim. Fiquei até arrepiado com o que ela poderia me dizer.

_Seus pais sabem, Rafael?

_Não.

_E você pretende contar pra eles?

_Não.

_Por que?

_Bom.... essa não é uma coisa muito fácil de se fazer.

_Entendo. E o que você pensa a respeito?

_A respeito do que?

_De relações homoafetivas.

_Eu nunca me importei muito com isso. E depois que descobri que também sentia atração pelo mesmo sexo... vi que continuo igual. Ainda sou o mesmo Rafael de antes.

_Quando vocês descobriram foi um grande choque?

Ambos respondemos que sim.

_Vou dizer o que penso. Eu não sou alguém que teria capacidade de renegar o próprio filho por algo, mesmo assim não posso dizer que sou simpatizante à causa. Foi um grande susto. É claro que eu preferia que isso não fosse verdade, mas não podemos mudar nada a respeito. Murilo, quanto ao seu pai, vamos esperar os nossos parentes irem embora. Então será o melhor momento. Rafael, eu gostei muito de você. Mas não vou mentir, agora te vejo de uma forma diferente. Porém ainda não sei o que pensar de você. Por hora é isso. Vamos tentar fingir que nada aconteceu, por enquanto. E mais uma coisa, se acalmem. Não vou fazer como vocês previam, dar um chilique. Espero que por hora a situação esteja resolvida. Entendido?

Mais uma vez ambas as respostas foram afirmativas.

_Então vamos pra casa.

O restante do dia foi um misto de alívio e sofrimento para nós dois. É claro que o Murilo ainda estava chateado pela situação, mas mesmo assim a presença de seus parentes conseguiu criar situações de distração.

Quando chegou o anoitecer, jantamos e ficamos fazendo uma social na piscina até o horário de dormir.

Quando fomos para a cama, ficamos discutindo o futuro e qual seria a reação do pai dele. Mesmo em clima de tensão, demos uns beijinhos para distrair. Ficamos cansados e dormimos.

Ao amanhecer comecei arrumar minhas coisas na mochila, já que após o almoço eu iria retornar para a casa dos meus pais.

Um pouco antes de partir, a mãe dele me chamou no escritório que eles tinham em casa. Fiquei um tanto nervoso, já que não esperava palavras bonitas.

_Sente-se.

Fiz o que ela pediu e tentei não ficar olhando pra baixo.

_Preciso dizer algumas coisas para você.

_Pode dizer, eu já esperava por isso.

Ela deu uma risadinha nervosa e me fitou.

_Antes, eu gostaria de saber mais sobre você.

Contei a ela sobre minha família, sobre meus costumes e um pouco sobre minha relação com o Murilo. Ela ouviu tudo atentamente fazendo perguntas pontuais. Por fim ela continuava me encarando.

_Já que meu filho também sente atração por homens, vejo que pelo menos ele tem bom gosto.

Na hora devo ter ficado vermelho.

_Obrigado pelo elogio.

_Sabe Rafael, eu quero acreditar que você possa contribuir para a vida do meu filho. Espero que você tenha consciência de que vão passar por dificuldades.

_Eu sei disso.

_E eu não quero que meu filho sofra, sob hipótese alguma.

_Compreendo.

_É por isso que eu quero lhe pedir um favor.

_Qual?

_Faça o meu filho feliz.

_Eu estou tentando, juro.

_Sabe Rafael, meu Murilo sempre foi um garoto solitário. Nunca gostou de ser extrovertido para o mundo. Sempre fechado em seu “casulo”, sempre no seu cantinho, com seus livros, seus jogos, suas músicas. Às vezes eu queria compreender o meu filho melhor. Durante a adolescência ele tinha uma dor no olhar, que sempre me cortou o coração. Talvez ele não tivesse bons amigos, talvez existisse algum problemas ou talvez eu e meu esposo não estivéssemos fazendo nosso papel como deveria ser. Quando ele fez 15 anos as coisas pioraram. Não sei se ele lhe contou, mas chegamos a leva-lo a alguns psicólogos. Mas nada ajudou. A solidão era sua melhor amiga. Isso sempre doeu em mim e no meu esposo. Não conseguíamos ver nosso filho alegre. Isso perdurou até o momento em que ele foi aprovado na universidade. Pela primeira vez, vi um entusiasmo nele. Logo que ele começou a cursar o curso que queria. Mas eu e meu esposo passamos por alguns momentos de crise financeira, e isso chegou a ameaçar a permanência dele longe de casa. Foi então que ele nos contou que um amigo tinha o chamado pra ir dividir um apartamento. No começo ficamos receosos, mas não queríamos que ele interrompesse os estudos, então aceitamos. Após algum tempo, quando ele vinha pra casa, nos falava muito sobre você. Na primeira vez meu marido chegou a comentar comigo a surpresa em ver ele falando de alguém com tanto entusiasmo. Depois, sempre por telefone, pessoalmente ou ainda pela internet, o assunto Rafael era sempre presente. Ele sempre nos falou muito bem de você, e isso de certo modo era um alívio pra nós. Nosso menino tinha feito um bom amigo. Mas do nada, ele avisa que vocês tinham discutido, mas não nos deu detalhes, e que iria ter que morar sozinho de novo. Mesmo que de forma menos intensa comparado a adolescência, logo ficou perceptível a dor que isso trouxe a ele. E a alguns tempo, ele veio nos visitar. Durante uma madrugada, enquanto fui pegar água na cozinha, o ouvi falando enquanto dormia. No dia pensei ter ouvido errado, mas agora vejo que era verdade. Ele dizia “Rafa, você vai me perdoar”, repetidas vezes. No outro dia o ouvi conversando com alguém pelo celular, chamado Matheus se não estou enganada, e após a conversa ele disse que precisava ir até a sua casa. Agora entendo tudo.

_Olha, eu nem sei o que dizer.

_Não me diga nada. Eu só peço que continue na vida do meu menino. Acima de tudo eu sou mãe, e mesmo não compreendendo essa situação muito bem, sou capaz de reconhecer a sua importância na vida dele. Rafael, eu sei que você é uma pessoa boa, e é por isso que vou me esforçar para reconhecer essa união.

_Obrigado pela confiança, espero não desapontar você.

_Eu sei que não vai.

Depois de mais alguns comentários, saímos do escritório. Eu precisava partir. Me despedi de toda família dele, que lamentou a minha insistência em ir pra casa. No lado de fora, já na rua, ele estava preocupado com a minha conversa com a “sogra”. Tratei de acalmá-lo, mas não contei muitos detalhes. Eu acreditava que a própria mãe dele iria fazer isso.

Nos despedimos e eu retornei para a cidade dos meus pais.

Alguns dias depois, ele me ligou dizendo que os parentes iriam embora no outro dia, e que sua mãe já tinha avisado a ele sobre o momento para revelar tudo ao pai. Desejei força a ele.

Dois dias depois, ele me ligou aos prantosGalera, mesmo sendo época de feriado prolongado, estou com o tempo meio escasso. Mas vou tentar terminar o conto o quanto antes. Ainda não tive tempo para ler os e-mails, mas em breve o farei. Continuem mandando suas perguntas para lá ou comentando aqui no site mesmo. Abração! Bom feriado a todos!

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Fael07 a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

Gostei da coragem dele de falar tudo. Bom, mesmo que os pais não façam nada é sempre bom ficar com o pé atrás, poderá ou poderia ocorrer com seus pais quando você se assumir se aceito ou não. Que bom a mãe dele foi super gente boa, apesar de que vejo que o pai dele deve não ter aceitado, pelo um está do lado de vocês. Com essa explicação sobre o Murilo encaixa tudo agora, essa falta de força dele em superar o término do relacionamento. Pra quem era super quieto e do nada se apaixonar fortemente deve ser complicado a perda. Porém é uma pena pessoas assim, digamos que fracas para superar algo, já estava até com medo dele cometer suicídio. Seu caso se repete em vários contos que li, destaco o conto "Eu te amo", onde o cara conseguiu melhorar e muito depois que namorou um homem e até os próprios pais perceberam as mudanças e aceitaram o relacionamento, a mãe então nem se fala hehehe.

0 0
Foto de perfil genérica

O melhor de tudo foi o reconhecimento de como foi bom a vida do Rafael com o Murilo. Com essa força será mais fácil encarar o pai. Já estou tenso. Kkkkk

0 0
Foto de perfil genérica

não demora posta outro, estar de parabéns!! nota 10000000.00000

0 0
Foto de perfil genérica

não demora posta outro, estar de parabéns!! nota 10000000.00000

0 0
Foto de perfil genérica

Excelente :) A reação da mãe do Murilo foi d+ . Resta saber se o pai agirá da mesma forma.

0 0
Foto de perfil genérica

Legal a reação da mãe, mas creio que a do pai não foi a mesma!

0 0
Foto de perfil genérica

Demais cara. A mãe do Murilo me surpreendeu, imaginei um escândalo mas ela foi de muita classe e sinceramente acho que ela agiu como toda mãe deveria agir. Mãe nenhuma gostaria que seu filho fosse gay, quer dizer, mãe que preste né, pq tem umas aí que só tem o título de mãe. Voltando, elas não querem que os filhos sofram e óbvio, rola também a frustração de não ver os sonhos que projetam nos filhos se concretizarem. Por isso que acho que a mãe dele foi demais, não quis conversar com a cabeça quente e manteve a linha, não xingou e tal. Resta saber se esse choro dele agora no fim do conto será de alegria ou desespero. E vc, bom, agora mais do que nunca vc sabe a importância que tem na vida dele por tudo que a mãe contou. E estou prevendo mudanças de reações aqui nos comentários, do odiado Murilo para o "to morrendo de dó dele, ajude ele no que puder." Rsrs. Abraço Fael

0 0