A Casa do Sol Nascente - 06

Um conto erótico de O Corvo
Categoria: Homossexual
Contém 1106 palavras
Data: 07/01/2014 19:01:52
Última revisão: 26/06/2014 19:10:53
Assuntos: Gay, Homossexual

Pessoal, uma dica. Prestem um pouco a mais de atenção nesse capítulo porque ele muda de foco nos personagens rápido. Boa leitura.

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Nico acordou naquela manhã com o corpo completamente relaxado. Tinha dormido muito bem e estava se sentindo completamente feliz. Ergueu seus braços, se espreguiçando, ao mesmo tempo dava um sorriso iluminado. Retirou seu cobertor e olhou para o lado, imediatamente sentiu falta de Rafael.

- Rafael? – chamou.

Levantou da cama e olhou pelo quarto. Ninguém respondeu pelo seu chamado.

Pingos de goteira caem sobre a cabeça de Rafael o fazendo acordar. Sua cabeça doía e seu corpo estava dormente. Tropegamente ele levanta se apoiando em seus joelhos. O quarto estava um breu. Não havia nem um fiapo de luz.

- SOCORRO! – Rafael gritava.

Não houve respostas.

Nico atravessou o corredor. A Casa parecia estar vazia. Não tinha avistado Rafael nesse tempo e começou então a ficar preocupado.

Resolveu procurar por todos os quinze quartos, pela cozinha, pelo centro da casa e até pelos banheiros. Fez a mesma coisa no andar de cima. Nada. Já estava desistindo de achar alguém quando ele se sentou em uma cadeira e apoiou sua cabeça na parede, seu corpo foi relaxando até ele adormecer.

O desespero tomou conta de Rafael. Ele andava com os braços erguidos para poder apalpar o que pudesse estar na sua frente. Ele andava cautelosamente, pois o chão estava cheio de entulho e ele já havia caído duas vezes. O cheiro de enxofre estava nos quatro cantos daquele lugar. O cheiro do diabo.

Gritou mais algumas vezes por ajuda, só que parecia que ele estava isolado do resto do mundo porque nenhuma alma respondeu.

Nova Orleans – 20 de Dezembro dedias se passaram, Rafael estava deitado no chão faminto. Seu estômago parecia que já estava comendo seus outros órgãos. Sua boca estava aberta deixando a água da goteira molhar sua garganta seca. Nem se importava com o frio. Se apegou a única coisa concreta que tinha naquele lugar, os ratos.

A porta do quarto se abriu e a luz queimou os olhos de Rafael por um estante, alguém entrou ali – tentou ver quem era, mas não conseguiu – e jogou o resto de uma comida no chão. Sua fome era tamanha que mesmo se arrastando ao chão ele foi de encontro com o monte. Comeu com as mãos mesmo, tentou afastar os roedores de sua refeição, mas os ratos insistiam em comer ali. Desistiu e começou a comer dividindo com os bichos.

Nico tinha acabado de se levantar e foi ao banheiro. Ao sair da porta viu Pezão. A primeira pessoa que tinha visto em dois dias inteiros.

- Onde está todo mundo? – Nico perguntou afobado.

- Semana de limpeza. – Pezão não fez questão de olhar para ele.

A barriga de Nico gelou. A semana de limpeza acontecia de tempos em tempos, mas era sempre a mesma coisa. Nazaré trazia “mercadoria” nova para a Casa, geralmente um grupo de crianças e outro de adolescentes. Como esse grupo novo precisava de algum lugar para ficar, os antigos eram eliminados. Dentre os 15 prostitutos antigos 14 eram mortos e tinham suas partes extraídas para o outro ramo lucrativo - o tráfico de órgãos.

Por ironia Nico nunca foi escolhido, talvez por ainda conseguir lucrar e ter preferência de vários clientes ou então para Nazaré ter alguma testemunha de seu poder. Nico pensou em Rafael.

- Onde está o Rafael? – Falou aquilo em um suspiro, será que ele tinha sido levado?

- Ele viajou para buscar mais mercadoria com a mãe dele. Ele ficou repetindo que tinha feito uma burrada na noite anterior da sua viagem e que estava com nojo dele mesmo.

Nico engoliu em seco. Sabia que a burrada em questão era a noite em que passaram juntos. Nunca imaginou que ele teria coragem de fazer isso. Agora estava explicado o porquê dele ter saído da cama sem nem mesmo se despedir.

Pezão saiu. Nico assistiu ao homem se virar e suas lágrimas começaram a escorrer. Sua vida foi em base de decepções atrás de decepções. Ninguém se importava com ele, era só um objeto. Não queria mais saber de ninguém, não queria ver novamente crianças e adolescentes serem abusados naquele lugar, só queria que tudo isso acabasse.

Ele correu para o quarto 13, vestiu uma roupa e pegou um pacotinho com dinheiro que ele escondia embaixo do colchão. Dinheiro que ele extraviava esperando por esse momento. Nico aproveitou que a casa estava vazia e esperou calmamente Pezão usar o banheiro externo. Na primeira oportunidade passou pela porta da saída e correu com toda a força que sua perna tinha. Ele sabia exatamente com quem se encontrar.

- Oi – Nico disse a um rapaz negro que estava virado de costas.

- Olha só quem está aqui. Meu pequeno anjo. – Ele, sorrindo, passou a mão direita nos cabelos de Nico o dando um selinho. A contragosto ele retribuiu.

- Preciso de um favor seu. – O rapaz se chamava Tomás, era um ex-soldado do exército americano que em uma noite visitou a Casa e se encantou com o charme de Nico.

- Claro, meu anjo. Tudo que eu puder fazer.

- Preciso que você me leve em São Paulo no Brasil com seu avião.

Tomás arregalou os olhos e foi logo negando com as mãos.

- Não. Não posso mais pilotar você sabe disso. – Nico olhou no fundo de seus olhos e implorou.

- Por favor.

- Me desculpa. – O ar gelado chicoteou sua pele juntamente com aquelas palavras.

Nico se sentou no chão e abaixou a cabeça. Estava perdido.

- Ela vai me matar, ninguém pode sair de lá com vida. – Os olhos já estavam avermelhados.

- Isso realmente é importante para você? – Tomás perguntou baixo.

- Muito.

- Vamos.

O homem colocou Nico em seu carro e eles foram até uma garagem que ficava por entre um campo de milho. Um avião de pequeno porte tinha escrito a palavra AILES em um contorno azul marinho. Asas em francês. Estava estacionado dentro da garagem. Era limpo e bem cuidado. Nico subiu e se sentou ao lado de Tomás.

- Eu posso ser preso por isso, mas quer saber? Que se dane! – Ele começou a rir e deu a partida. Em poucos minutos o avião estava cortando o céu.

Finalmente, livre. Pensou Nico.

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Bom foi aí mais um capítulo para vocês e tenho uma notícia ruim, pelo menos para mim. O conto está acabando :( Eu o fechei com dez capítulos para não ficar muito maçante. O lado bom é que já está vindo o próximo conto chamado ESPELHOS. Uma pergunta: Vocês preferem narração em primeira pessoa (personagem narrando) ou em terceira pessoa (narrador onipresente e onisciente como esse)? Conto com vocês!

Obrigado pelos comentários, até a próxima

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Comentários

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eu quero participar.bom o conto ficou maravilhoso e eu nao acho que muitos capitulos poe os contos maçantes mais sim otimos de seguir.em relaçao a pergunta porque o povo na maioria das vezes ja se acustumou a viver asssim

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Só me promete uma coisa: a cadela da mãe do Rafael será internada num hospício bem capenga onde o tratamento é feito choque elétrico, porque não se trata nem cachorro assim, quem dirá o próprio filho!. Ahhhhh me fala que o Nico foi procurar o Rafa porque acredita que ele foi pro Brasil buscar "mercadoria" nova...; Tímido pra sexo? Ahãn, já fez coisa pior nessa vida que eu sei hahahaha. Ahhhhh sim, entendi o motivo do sorriso. Realmente é muito gratificante quando as pessoas conseguem entender e principalmente quando se envolvem na história... Mas pra você é fácil, você estuda psicologia, você compreende parte da mente humana e das emoções dos indivíduos, é fácil escrever e ser compreendido, assim não vale haha. Ahhhhh falando no seu curso, até eu fiquei com vontade de cursar. Dá pra perceber que você é apaixonado pelo curso, - mas também como não se apaixonar, é praticamente o paraíso: não tem gente chata na sala, as pessoas são maduras e cultas porque leem bastante... Mãe, acho você terá um filho psicólogo haha -. Você sempre quis cursar psicologia? Quais são as características indispensáveis para ser um bom profissional? O que faz parte da grade curricular? Quanto tempo dura o curso?... (sou curioso? Não, magina hahaha)

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Eu já li ACEDE, mas não o tenho na minha querida pequena estante...me segurei pra não chorar.

Saber que você gostou do meu conto é uma honra, me fez ficar tão alegre, pena que estou em um bloqueio tão grande que ate o projeto do meu livro está atrasado...mas logo a historia do "Príncipe das Trevas" vai iniciar :D

Seu conto tá ótimo e o Nico me lembra muito meu outro "Nico" e também o meu "Príncipe das Trevas" e é uma honra ter um personagem com o mesmo nome que o meu: "Rafael"

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Eu quero participar! E sabe porque o ser humano não consegue resolver nada? Por causa de uma coisa idiota chamada egoísmo, as pessoas não conseguem se livrar disso. Não é fácil deixar de ser egoísta, pois o ser humano já é assim por "natureza". O importante é ensinar novos valores para as nossas crianças e fazer sempre o que está ao nosso alcance...

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Em primeiro lugar,para de dizer que vc é feio,já te pedi...Sobre o conto,ele esta ótimo a cada capitulo e sempre vou acompanhar qualquer conto que vc escrever aqui amor,vc sabe que te apoio em tudo né?te amooo meu gatinho lindo.ps.Tay cris não acredita no que ele falou pois ele é muito lindo,digo porque já vi e já falei com ele varias vezes.Ahhh ja ia me esquecendo "eu quero participar".resp.por pura acomodação,porque esperam que os governantes façam.

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Muito bom. Que bom que o Nico fugiu daquele lugar, pena que sem o Rafael. E o conto está demais. E a resposta: por pura falta de consciencia e de deixar pros outros tomarem a atitude, enquanto ele deve partir de todos.

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