Capítulos de Mim - 04

Um conto erótico de Passarinho
Categoria: Homossexual
Contém 1547 palavras
Data: 23/12/2013 13:23:24

- E quem é esse? – Falou ele se dirigindo ao menino de olhos cor de safira que se chamava Jean – Ignorou o meu tolo ‘oi’ completamente.

- Esse é o dito que derramou suco na Priscilla – Falou ele me olhando como que pedindo desculpas por me entregar.

Guto me olhou avaliativamente e então veio se aproximando devagar. Ao andar, ele abriu levemente os braços em formato de meia lua. Encorporou aquele típico bad boy que eu tanto desprezo – então quer dizer que tu gosta de derramar suco na namorada dos outros?

- Eu não gosto, foi um acidente – Falei desesperadamente tentando conter a situação.

- Acidente é o cassete mermão... Tu vai é levar uns cascudo pra aprender a olhar por onde anda.

- Por favor, não precisamos agir com violência, tudo se resolve com paciência e diálogo. – Ele me olhou como se não acreditasse no que ouvia. Quer dizer, até eu fiquei surpreso com minha capacidade de proferir frases nerd’s nos momentos mais improváveis. Mas não pude dizer mais nada porque nesse momento a porta do quarto se abriu outra vez e o último ocupante de uma dos beliches acabara de aparecer.

Era um garoto mais baixo que eu, com cabelos negros que caiam sobre a testa e nos ombros. Usava uns óculos redondo e meio grosso e parecia meio desengonçado. Ele parou de chofre ao ver que estava em frente ao Guto e ao Jean. A expressão dos seus olhinhos miúdos demonstravam a surpresa por ter percebido que iria ficar um ano inteiro no mesmo quarto com os garotos mais encrenqueiros de toda a escola.

- Nylo? Eu não acredito que eu vou ficar um ano inteiro no mesmo quarto que esse nerdizinho seboso... Isso aqui tá ficando demais. Vou falar agora mesmo com o diretor. – Guto pegou as malas dele, saiu e me deixou sozinho com Jean e o nerd, ops... O Nylo.

Sorri pra ele condescendentemente agradecendo com os olhos. Se não fosse a entrada do garoto talvez eu tivesse levado uma sova grande já no primeiro dia. – Oi, prazer meu nome é Ruy! - falei o cumprimentando – Jean saiu discretamente pro quarto dele – Ele deu um sorrisinho tímido e disse que se chamava Danilo, mas todos o apelidavam de Nylo. – Falei umas amenidades puxando assunto, ele não ajudava muito na conversação, mas seria meu porto seguro ali! Percebi isso e me agarrei a ele como uma tábua de salvação (Tinha a impressão que ele achava o mesmo de mim, o que me fez pensar que talvez, nos tornássemos amigos).

- Então, você já conhecia esse apartamento?

- Bem, quase todos os apartamentos são idênticos. Mas ano passado eu fiquei com um menino no corredor norte e no ano anterior fiquei nesse mesmo andar, só não nesse quarto.

- Você já conhece seu quarto? Você vai ficar no mesmo quarto que eu, e os outros dois (Falei me referindo a dupla de encrenqueiros) ficará no outro quarto.

- Que bom! – Ele falou sussurando. – Eu ri indulgentemente demonstrando com os olhos que eu também achava ótimo não ter que dividir além do apartamento, o quarto com um deles...

Peguei minhas coisas (As do Nylo não estavam no quarto, ainda) e fui pro quarto, Nylo me acompanhou. Comecei a arrumar no guarda-roupa.

- Você pode dormir em cima? Tenho medo de cair a noite – Falou Nylo.

- Claro! Sem problemas. – Ele sentou na cama e ficou com uma carinha tristonha de dar dor. – Ruy, Não acredito que fiquei no mesmo quarto que o Hulk-bruguelo-de-urubu falou ele.

- Hulk-bruguelo-de-urubu? Falei sem entender.

- Xiiiiiiiiiiiiiiiiihhh! – Nylo falou em desespero colocando o dedo indicador no meio dos lábios, indicando silêncio! – Hulk-bruguelo-de-urubu é o apelido do Gustavo, mas se ele ouvir qualquer pessoa falando isso parte pra cima na mesma hora. Cara, o Guto fez da minha vida um inferno, ano passado. Passei dois dias em greve de fome pedindo ao meu pai pra me tirar dessa escola nessas férias. Mas ele se recusou dizendo que eu tinha que enfrentar meus problemas de frente. Não vou conseguir ficar um ano inteiro morando no mesmo apartamento que ele. Tenho medo do que ele pode fazer comigo enquanto eu estiver dormindo.

Fiz uma expressão de ‘sinto muito a vida é mesmo injusta’ e voltei a arrumar minhas coisas.

- Mas por que ele não gosta de você? – Perguntei.

Antes do Nylo, responder a porta do quarto se abriu com violência. Guto entrou no quarto e ficou apontando pro Nylo e depois pra mim como se fôssemos à prova viva de um crime hediondo. Logo atrás dele vinha o diretor com a cara impaciente.

- Aí estão, vê? – Falou Guto.

- Sim o que têm? – Falou o diretor se dirigindo ao Guto com a cara emburrada.

- Não vou ficar no mesmo quarto com esse Nerd e esse outro aí! Ele Derramou suco na minha namorada... Mude-os de quarto agora, Bernardo! – Falou ele com autoridade.

- Foi um acidente! – Falei rapidamente antes que o diretor dissesse qualquer coisa.

- Em primeiro lugar, o nome do garoto é Danilo. Você convive com ele desde a sexta série. Acho que já dá para chamá-lo pelo nome... Em segundo lugar, esse é o Rubens...

- Ruy – Cortei.

- Esse é o Ruy – Falou o Bernardo se corrigindo – Ele ganhou uma bolsa de estudos aqui e espero que seja tratado muito bem por vocês!

- Um bolsista!? – Falou Guto em tom de falsete, como se aquilo fosse o cúmulo do absurdo! – Isso explica os trapos e as roupas roídas que ele está usando (O que era uma mentira, não usava roupa de marcas, é verdade mas ruídas é demais) – Você me pôs no mesmo quarto que um bolsista? Troque... Troque agora mesmo ou eu vou ligar para o meu pai!

- Escute aqui Gustavo, em primeiro lugar você não me ameaça... Em segundo lugar, lembre-se que você está na corda bamba... O racha que você participou no final do ano passado e que quase matou um inocente ainda pesa na sua ficha e não vou tolerar nenhuma má-criação sua esse ano ou você se comporta como um homem ou pode pegar suas coisas e ir para casa! Não se esqueça da conversinha que tivemos com seu pai e como ele está contente com suas atitudes, acho que se depender dele, a nossa instituição poderia te por no tronco que ele apoiaria, então se quiser ligar fique a vontade – Falou ele de uma vez encarando o Guto, que para minha felicidade, pareceu murchar um pouco – E não vou tirar ninguém desse quarto – Ele emendou – Você vai ter que aprender a conviver com os diferentes ou vamos ter um sério problema nas mãos, está avisado!!! E nem pense que vai fazer com o Danilo, o que fez no ano passado. Tentar colocar a cabeça do garoto dentro do vaso sanitário foi o cúmulo do mau caratismo. O pai do Danilo é um contribuidor muito generoso para nosso educandário e quase tirou seu filho da escola por causa do bullying que vinha sofrendo especialmente de você. Espero todos vocês em trinta minutos no pátio para uma palestra. – Falou ele e saiu do quarto.

Guto lançou ao Nylo e a mim um olhar assassino e saiu do nosso quarto batendo a porta!

Após arrumar as poucas coisas que havia trazido. Conversei um pouco mais com o Nylo. As coisas dele logo foram trazidas e ele organizou a maioria também. Diferente de mim, ele tinha trazido muita coisa. Até que ele disse:

- Então você é bolsista?

- Sou sim... Morava em uma cidadezinha do Pernambuco.

- Nossa, que mudança, ehm? – Falou ele me indicando o caminho da porta, sinalizando que já deveríamos descer para a tradicional palestra de abertura do ano letivo.

- Pois é! Falei sorrindo...

- E agora moras onde?

- Disse onde morava e ai o Guto falou - Caramba... Isso tá demais pra mim, não acredito que vou ficar dormindo do lado de um favelado! – Ele estava sentado de pernas estiradas no sofá mexendo num tablet. Nem tinha visto o garoto ali. Nesse momento o Jean saiu do outro quarto.

- Você tá vendo as roupas desse manezão, Jean? Mais parecem trapos... Essa escola tá tirando uma com nossa cara, só pode! – Jean não respondeu ao pensamento do amigo e Guto me lançou um olhar de desprezo e falou ao amigo – Vamos mano, pensei que não viesse mais. Só não se esquece de passar a chave na porta. Lembre-se que do nada, nossos pertences podem sumir misteriosamente.

Não suportei ouvir aquilo e falei: - Escuta aqui garoto, você pensa que é melhor que o resto do mundo só porque tem dinheiro? Você pensa que tem o rei na barriga, mas as coisas não funcionam assim não meu filho. As pessoas devem ser medidas pelo caráter e a honestidade e não pela conta bancária ou pelo endereço. E se formos medidos pelo caráter, acredite, eu valho muito mais que você.

Ele me ignorou totalmente e saiu como se eu apenas tivesse balbuciado. Jean o seguiu. Quando os vi saírem percebi que estava prendendo a respiração e então suspirei pesadamente!

- Poxa, que malas ehm? – Falei...

- Nem me fale – Disse o Nylo olhando para a porta fechada. Nossos olhares se encontraram e começamos a rir. Foi naquele momento, vendo aqueles cintilantes olhos que percebi que poderia encontrar naquele garoto, um amigo que me ajudaria a lidar com aqueles dois durante aquele ano, o que logo se percebe que não seria nada fácil.

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Comentários

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Esse garoto é um ridiculo, isso sim.

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