A Vida Inesperada de um Adolescente [01]

Um conto erótico de Daniell
Categoria: Homossexual
Contém 1393 palavras
Data: 09/11/2013 13:05:24

Quando eu estava terminando de empacotar todas as minhas coisas – em Agosto de 2007 – minha mãe, Eleonora entrou subitamente no meu quarto perguntando:

- Tudo pronto Daniel?

- Quase mãe. – Respondi melancolicamente.

Eu sentiria muitas saudades daquele apartamento. Eu havia nascido ali. Havia sido criado naquele apartamento. Sentiria saudades daquele lugar. Não só do lugar, mas também das pessoas. Principalmente do meu melhor amigo, o cara que eu conhecia desde pirralho: Ícaro.

Minha mãe me conhecia muito bem é claro, então se aproximou de mim, e pousou suas mãos em meus ombros, e então falou:

- Sei que você está tristonho querido. Eu também estou triste por termos que ir. Mas nossa nova casa é muito maior, muito mais confortável, e você fará novos amigos no novo bairro, na nova escola. – Ela dizia como se fosse muito fácil para um cara como eu fazer novas amizades assim.

Não que eu fosse um E.T. de Varginha, mas sempre fui um garoto fechado e de poucos amigos. Eu nunca ia ter outro amigo como Ícaro, isto era fato comprovado cientificamente.

- É eu sei. – Respondi. Não queria desanimar minha mãe. Sozinha, apenas com a ajuda esporádica de meus avós maternos, ela me criou, pois o sacana do meu pai fugiu das responsabilidades paternas logo que comecei a crescer dentro da barriga de minha mãe.

Ela havia batalhado muito para termos nossa casa própria e eu não queria que ela se sentisse mal por minha causa.

– Eu estou feliz mãe. De verdade. Vou sentir saudades daqui, mas vou me adaptar em nossa nova casa! – Falei tentando ser o mais animado possível. Acho que fui convincente.

Então ela me beijou na testa, e já saindo do meu quarto – o que agora seria meu antigo quarto – ela perguntou:

- E o Ícaro, não vem se despedir de você?

- Já nos despedimos ontem. – Respondi então.

E era bem verdade isso. Ícaro e eu somos vizinhos e estudamos na mesma escola desde sempre. E agora eu estava indo para outro bairro e não estudaríamos mais juntos também. Claro que manteríamos contato, pela internet e pelo celular. Mas eu sabia que não seria mais a mesma coisa. A distância física muda completamente à relação das pessoas, e é uma ilusão isto de que a tecnologia une as pessoas. Ela afasta as pessoas. Isso sim.

***

A nossa nova casa, no bairro Céu Azul, em BH, era realmente muito maior que nosso apartamento no bairro Planalto, da mesma cidade. Meu quarto então era duas vezes maior agora. Sem falar na privacidade que eu teria, pois ele ficava anexado nos fundos da casa – como se fosse uma segunda casa, entretanto, tinha apenas um cômodo e um banheiro junto a ele.

Passei o final de semana inteiro arrumando-o. Coloquei todos os meus pôsteres de filmes e games na parede. Ser filho único tinha uma vantagem sensacional: tudo que eu pedia a minha mãe eu conseguia, e não tinha que dividir com ninguém. Minha escrivaninha era nova em folha e nela eu mantinha meu PC e meus livros – sim, eu adoro ler e escrever – além de minha coleção de miniaturas de carros de corrida de Fórmula Um, todas presenteadas por meus avós maternos Gilson e Nilda.

Ainda não tinha internet funcionando, mas eu podia me comunicar com meus amigos por SMS’s no celular.

Embora eu tivesse um quarto tão incrível, com tantas coisas legais para me divertir, eu sentia falta de uma coisa, aliás, de alguém: Ícaro, meu melhor amigo.

Ícaro tinha a mesma idade que eu – quinze anos completos naquele ano de 2007 – mas era gordinho (diferentemente de mim que era um palito de picolé) e tinha os cabelos crespos (também diferente dos meus, que sempre foram tão lisos), além de olhos incrivelmente verdes (diferentes dos meus pretos) e uma risada contagiante, sincera e divertida (enquanto eu mal conseguia dar um sorriso amarelado).

Desde pirralhos éramos amigos. A confiança foi mútua logo de cara e se firmou completamente sólida no dia em que Ícaro me revelou:

- Sabe... Eu quero te contar uma coisa, mas tenho medo de você pirar comigo. – Ele disse sem me encarar nos olhos.

- O que foi? – Perguntei um pouco assustado. – Seja lá o que for você pode me contar. Somos amigos, não somos?

Ele assentiu com a cabeça. E ainda sem conseguir me encarar nos olhos, revelou:

- Eu não gosto das meninas.

- Quais meninas? As da nossa sala? – Perguntei confuso.

- Não. Todas elas.

- Não entendo. – Eu continuava confuso.

- Eu me sinto... Diferente... Gosto de outros caras e não de meninas... Entendeu agora? – Ícaro revelou envergonhado. Seu rosto pálido enrubesceu.

E então eu sorri e falei:

- Você não é diferente de mim então.

Os olhos de Ícaro se iluminaram. Tão verdes e tão vivos. O sorriso, tão sincero e tão espontâneo, surgiu no rostinho gordinho dele. E então nossas mãos se tocaram e nossos dedos se entrelaçaram. Nós não trocamos nenhuma outra palavra depois. Simplesmente revelamos um para o outro nosso maior segredo. Isso tínhamos treze anos, no ano de 2005. Depois deste dia, nada mudou, continuamos sendo os melhores amigos. Pelo menos era o que eu acreditava, até o dia anterior da minha mudança, em Agosto deAcho que devemos nos despedir agora. – Ícaro falou.

- Por quê? – Perguntei sem entender. – Eu só me mudo amanhã. Você pode vir a minha casa e me ajudar a empacotar minhas coisas.

- Não quero fazer parte disto Daniel. – Sua voz expressava rancor e eu não entendi o porquê daquilo – Você consegue tudo da sua mãe, e nem tentou convence-la de continuar morando aqui no bairro.

- O que? – Perguntei ainda mais confuso.

- É! – Ele respondeu raivoso. – Você poderia ter pedido a ela para continuar morando aqui, eu duvido que ela não fosse atender seu pedido, ela sempre atende seus pedidos!

- Por que você tá bravo com isso cara? Eu também vou sentir sua falta cara, mas eu não podia pedir a minha mãe isso. É o sonho dela morar numa casa de verdade desde sempre! E ela batalhou muito por isto, seria injusto eu pedir que ela sacrificasse esse sonho por mim. – Expliquei. E era verdade, eu não podia pedir isso de minha mãe.

- Mas e em nós, você não pensou nisto? Na nossa amizade? Como vai ser agora? Você deveria ter pensado nisto também. – Ícaro dizia, e me soava muito injusto que ele dissesse isto, como se eu tivesse uma escolha, como se fosse fácil para mim.

- Claro que eu pensei! Você é meu melhor amigo cara.

- É, mas eu não queria ser só seu melhor amigo...

Aquilo me pegou de surpresa.

- O que?

- Você não vive neste mundo? Cara, eu sou apaixonado por você há um tempão, será que não notou isso? – Ícaro disse indignado.

Não, eu não notei. Dois anos antes ele havia me contado que não tinha atração por meninas e sim por caras. E então eu também revelei que comigo não era diferente. Mas eu nunca me apaixonei, nem sabia se eu era capaz de me apaixonar, seja lá por um cara ou por uma menina. Eu sentia atração sexual por outros caras – em outras palavras, meu pau ficava duro quando eu via um cara atraente, mas era só isso!

- Cara... Eu não sei o que dizer. – Foi o que falei então naquele momento.

Ícaro bufou e virou as costas para mim. Após um silêncio constrangedor de uns dois minutos – ou mais – ele enfim quebrou o jejum de palavras e falou pesaroso:

- Eu achei que talvez você gostasse de mim.

E então eu respondi, com a voz branda e sincera:

- Eu gosto de você. Você é meu melhor amigo.

- Não. Não como melhor amigo. Como namorado. – Ele disse frustrado.

- Eu... Sinto muito. Não gosto de você desta forma. – Fiz uma pequena pausa e concluí então: - Eu sempre me dediquei à amizade cara, a nossa amizade é importante pra mim, nunca te vi com outros olhos, não assim. Desculpa Ícaro.

Não mais vi o rosto de Ícaro. Ele foi embora assim que proferi aquelas palavras. Mas não antes de dizer:

- Boa sorte Daniel, com sua nova casa e sua nova vida. Acho melhor não nos falarmos por um tempo. Eu preciso superar isto.

Eu sentiria saudades de Ícaro, ele era meu melhor amigo... Mas eu não podia corresponder o sentimento, não da forma que ele esperava. Eu gostaria até de corresponder... Mas eu não podia. E acho que de verdade, eu nem queria.

[Continua]

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Comentários

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Morrendo de inveja aqui :O. Cara você foi o único que conseguiu me fazer chora na primeira parte, essa história promete é muito. É só um aviso, se eu me esquece de comenta qualquer parte eu estou sem tempo.

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