A Cigarra e a Formiga - 02

Um conto erótico de Kahzim (Ian)
Categoria: Homossexual
Contém 1835 palavras
Data: 03/09/2013 21:18:06
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

Acordei cedo como sempre para ir ao colégio, tomei meu banho a força e me vesti. Caminhei como um zumbi pelas ruas até o colégio. Foi difícil me concentrar nas aulas naquela dia, mais do que de costume, pois o Alisson não me sabia da cabeça. No fundo eu estava me achando um idiota, porque tinha visto o garoto uma vez e ele ainda tinha sido grosso comigo. Além do mais, não havia qualquer sinal de que aquela atração precoce poderia ter qualquer tipo de futuro.

Se eu tivesse um mínimo de juízo, faria de tudo para que aquele sentimento inusitado sumisse da minha cabeça. Mas confesso, eu não tinha lá muito juízo e o pouco que tinha estava ocupado em maquinar a melhor forma de me aproximar dele e nem cogitava de forma alguma afastá-lo.

Quando ia sair do colégio esperei a Evilene mas não a vi. Comecei a fazer o caminho sozinho quando vem alguém correndo e emparelha comigo.

- E aí Matheus, quero falar contigo. - Era o Júlio, um colega de sala que tentava ser meu amigo e eu não dava muita bola.

- Pode falar, cara.

- Bora jogar game comigo hoje a tarde? A última vez que chamei você ia sair com tua mãe.

- Eu tô praticando violão a tarde cara. Não rola. - Expliquei. A saída com minha mãe na semana anterior também havia sido uma desculpa.

- Matheus, de boa. Qual o problema com o povo aqui da cidade? Você não gosta de quem é do interior?

- Para com isso Júlio, eu sou muito na minha mesmo.

- Cara, vamos lá, deixa o violão para amanhã. Se você não curtir se divertir, nunca mais te chamo para nada. Você tá a seis meses na cidade e não fez amigo nenhum.

- Tá certo, eu vou. Mas tenho que voltar cedo, beleza? Para não deixar de praticar violão.

- Beleza, sabe onde é minha casa?

- Sei sim. - A casa dele ficava próximo à igreja matriz, não era difícil achar.

- Falou, te espero lá.

Ele se despediu porque morava na direção oposta, havia me acompanhado apenas para fazer o convite. Droga, pensei, deveria ter dado uma desculpa e sido firme, não ia poder ir para o riacho ver se o Alisson aparecia. Mas eu estava mesmo sendo bem indelicado com o Júlio, todo mundo no colégio me achava nojento, ter ao menos um amigo ia aliviar. E jogar video-game não era algo que iria expor minha sexualidade ou algo do tipo. Pelo menos era o que eu achava.

Quando entrei em casa para almoçar não estavam nem meu pai nem minha mãe. Perguntei à Fátima, a empregada e ela disse que nenhum dos dois viria por causa do trabalho. Era mesmo raro almoço em família ali. Sentei e comi sozinho. Depois subi e tomei um banho bem caprichado, vesti uma roupa casual e entrei na internet para verificar as coisas.

Da minha janela, observei o riachao e imaginei se o Alisson estava lá, provavelmente não, porque o sol ainda estava muito quente. Então me apressei para ir logo na casa do Júlio, quanto antes fosse, mais cedo voltaria.

Eram cerca de 13h00min quando bati na porta da casa dele, era uma casa antiga no centro da cidade, devia ter mais de cinquenta anos de construída. As paredes eram escuras de tão velhas. Ele mesmo veio até a porta e me viu do lado de fora porque o muro era de grades de ferro.

Assim que entrou ele me apresentou à avó, que estava na sala tricotando. No caminho para seu quarto ele me disse que morava apenas com a avó, que a mãe havia ido embora para o Pará com outro homem.

Achei triste a história dele, mas depois ele falou que estava muito bem com a avó, que fazia tudo por ele. Realmente, seu quarto mostrava isso, tinha um computador excelente e internet (não era todo mundo que tinha internet em casa), ele também tinha TV de LED e um Xbox. Eu nem mesmo video-game tinha, então ele ganhava de mim em posses. A cama dele era de solteiro, mas tão macia que me joguei nela.

- Ei macho, levanta daí. Bora jogar. - Chamou Júlio.

- Tua cama é gostosa viu. Já comeu muita menina aqui?

- Nenhuma. - Falou ele encabulado.

- Mentira, se eu fosse mulher, ia querer dar numa cama macia como essa. - Falei sem pensar.

- Deixa de zoeira, meu. Já que tu quer ficar na cama, vou colocar um filme.

- Melhor mesmo. Sem falar que eu sou pato em games, você ia ganhar facinho.

Ele colocou um filme no DVD e nem vi qual era. Depois deitou-se do meu lado e ficamos colanos um no outro na cama, porque ela era meio apertada.

Quando começou o filme, vi que era uma comédia romântica com zumbis, “Todo mundo quase morto”. Eu ri muito durante o filme e nem vi o tempo passar, ele levou refrigerante e biscoito quando terminou e ficamos conversando.

- Está vendo, não está sendo horrível está?

- Não Júlio, está sendo massa.

- De boa, porque você não curte muito fazer amigos? Você é um cara bacana, legal de passar o tempo.

- Eu sou apenas estranho mesmo. Liga não.

- É porque você sabe, é bom ter amigos cara. E depois, o povo fica é falando merda de você por causa disso.

- Como assim?

- Nada cara.

- O que falam de mim, Júlio?

- Nada, Matheus. Fica calmo.

- Não cara, agora você tem que falar.

- Cara, ficam dizendo que você é esquisito sabe.

- Esquisito como?

- Os meninos ficam dizendo que você é viado. Mas cara, deve ser só inveja, porque você é bem de vida e não da bola pra ninguém, chamam todo mundo de viado.

- Quem é que que me chama de viado?

- Ninguém em específico.

- Niguém em específico é o caralho. Me diz quem é?

- Cara, que importa?

- Claro que importa, porra. Fala logo. - Esbravejei dando um empurrão nele.

- O que você vai fazer cara? O que vai fazer se souber quem é? - Perguntou ele me segurando pelos ombros.

- Eu vou. - Falei sem saber o que dizer e baixando o tom de voz. - Sei lá cara, vou tomar satisfações.

- Satisfações para quem? Só para se expor?

- Como assim se expor?

- Matheus, não precisa mentir para mim.

- O que?

A resposta dele foi segurar minha cabeça para me dar um beijo. O empurrei e ele quase cai da cama.

- Nunca mais falei comigo, seu filho da puta. - Gritei enquanto saia pela porta de sua casa e corria para a rua sem nem mesmo dar adeus à sua avó.

Cheguei em casa morto de cansado. Subi as escadas sem ver se havia alguém em casa e fui direto tomar um banho. Fiquei tentando pensar no que havia em mim para duvidarem da minha sexualidade. Eu era péssimo em auto análise, sai do banheiro sem imaginar nada. Talvez o Júlio tivesse razão, fosse apenas uma questão de inveja por posição social. Mas não no caso dele, de alguma forma ele tinha certeza que eu curtia caras, senão aquela tentativa de beijo frustrada não teria ocorrido.

Sai do banho e peguei o violão para tocar alguma coisa e me distrair. Isso me fez imediatamente pensar no Alisson, eram 15h30min, se ele fosse para o riacho, a essa hora estaria lá. Não pensei duas vezes, peguei o violão e sai.

Quando me aproximei do famoso barranco, não o vi. Olhei para baixo para não ser surpreendido outra vez, ele não estava lá. Havia uma ponte de madeira não muito longe, próximo a um bananeiral, resolvi caminhar até lá. Da ponte podia ver amplamente as margens do riacho e não havia ninguém além de mim. Meu amigo construtor de barcos aparentemente tirara o dia de folga. Sentei na ponte e comecei a dedilhar alguns acordes.

Fiquei pensando na minha vida, como seria ela após aquela conversa frustrada com o Júlio, será que ele diria alguma coisa na escola? E o Alisson? Será que o aparecimento dele ontem no riacho havia sido um caso isolado? E porque ele perguntou se eu costumava ir ali? Entre tais devaneios brotou na minha mente de forma natural uma música do Green Day, uma das minhas bandas favoritas “time of your life” , que fala das minhas estradas bifurcadas que encontramos na vida, em especial na fase da juventude. Talvez no final as escolhas importem menos do que aprendemos ao tomá-las.

- Vou ter que trabalhar ouvindo você de novo? - A voz interrompeu a música quando estava quase terminando.

- Alisson? Pensei que tinha tirado o dia de folga? Minha voz te incomoda? - Perguntei tentando ser sarcástico.

- Não, pode continuar aê. É até legal.

Foi então que prestei atenção na forma como ele estava vestido. Estava sem camisa de novo, exibindo o corpo, mas dessa vez usava uma bermuda jeans azul, que deixava a mostra o elástico de uma cueca boxer branca. Parecia de propósito para eu não conseguir desviar o olhar.

- Se você acha legal, porque interrompeu?

- Não interrompi nada. Você que se assusta sempre que me vê. Mas bem que você podia cantar algo fácil.

- Fácil? Eu canto as músicas que eu gosto. Que tipo de música você gosta?

- Forró?

- Forró? Eu detesto forró. - Respondi ácido.

- Só curte esses rock aí é?

- Não, tem outras coisas que curto também. Tipo Ana Carolina, Cássia Eller.

- Sei, música de sapatão.

- Humm, Você é preconceituoso é?

- Elas não são sapatão não?

- São.

- Então não é preconceito. Seria se eu chamasse sem elas serem.

- Você devia curtir também elas. Melhorar seu gosto musical.

- Tô feliz com ele. E sabe, você está me atrapalhando. Vou continuar meu barco. Canta aí o que você quiser.

Comecei a cantar “segundo sol”, que ficava linda na voz da Cássia Eller.

- Quando o segundo sol chegar. Para realinhar as órbitas dos planetas. Derrubando com assombro exemplar. O que os astrônomos diriam se tratar, de um outro cometa...

- Que porra quer dizer essa música? - Perguntou ele parando seu trabalho com o barquinho.

- Nunca parei para pensar. - Confessei.

- Como você diz que a música é boa se você nem sabe o que significa. Eu sei o que signifficam todas as minhas músicas de forró.

- Também, só falam de dinheiro, bebida e boceta. Se você não soubesse era um completo retardado.

- Você é muito metido a besta. Pode continuar ai sua música.

Terminei segundo sol e cantei mais umas 5 músicas, até que o sol começou a baixar e ele começou a guardar suas coisas em um saco.

- Já vai?

- Vou.

- Você mora onde?

- Quer me visitar é?

- E se eu quisesse?

- Não curto levar amigos em casa. Mas volta amanhã que te mostro um local legal. Agora está ficando tarde.

- Que horas volto?

- Três da tarde tá ótimo. Te espero na ponte.

Voltei para casa com o coração pulando de felicidade e muita expectativa pelo dia seguinte. Que lugar seria esse que ele me mostraria? E claro, também tinha ficado surpreso com o convite, ele estava realmente mais dócil comigo. Será que eu conseguiria ao menos sua amizade? Eu estava achando que sim. E proximidade dele era tudo que mais desejava.

Continua...

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Comentários

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Cara foi um sonho com uma ótima ideia o que você teve, realmente é muito interressante!

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Ixi vai rola um triângulo amoroso nesse meio aí .#

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...to vendo que o Matheus vai se "apaixonar" pelos dois...to adorando o conto...

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O Júlio ainda vai mexer nessa história, mas não sei como você consegue um triângulo perfeito e depois interrompe sem nos magoar

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Adorando este teu novo conto Ian, ele é demais. Não que eu não goste da História de Diego. É que este tem uma carga emotiva mais leve. Tu és um ótimo escritor.

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