A História de Caio – Parte 65

Um conto erótico de Kahzim
Categoria: Homossexual
Contém 1966 palavras
Data: 27/07/2013 17:37:14
Última revisão: 14/08/2013 00:58:36
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

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A História de Caio, completa e revisada para leitura on line e download e contos inéditos no meu blog:

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- Lu, pelo amor de Deus, o que houve com meu pai? - Indaguei nervoso.

- Entra no carro, te conto no caminho. Precisamos chegar rápido.

Entrei no carro ainda pensando como tantas coisas poderiam acontecer comigo ao mesmo tempo. Mal sentei e o motorista já deu partida.

- Caio. - Começou Lu. - O cisto no rim direito do seu pai, não era um cisto, quando os médicos abriram para fazer a retirada, já tinha espalhado e passado para o sangue. Houve metástase, eles apenas fecharam sem nem mexer. Ele continua internado, vão fazer uma cirurgia mais complexa após novos exames.

- Como isso pôde acontecer, ele estava ótimo.

- E o Carlos, como está?

- Ainda internato, mas dizem que logo terá alta.

Eu não tinha procurado saber melhor sobre o estado de saúde do Carlos, só sabia que tinha saído do coma. E de repente, percebi que aquela loucura de espancador me fez esquecer todos os meus problemas relacionados à família e trabalho e eles tinham retornado com tudo, cobrando o preço do meu descaso.

- Quando vai ser a nova cirurgia do meu pai?

- Amanha às 08 da manhã.

Chegamos na empresa e descemos rapidamente. Minha avó não era o tipo de pessoa que podia se deixar esperando. A sala de reuniões principais, a mesma em que fui recebido estava com cinco pessoas dentro, pensei que estaria cheia como quando fui recebido, mas me apercebi que aqueles cinco eram os que realmente mandavam ali, os grandes acionistas, minha avó, minha tia Liz, o Borges e o filho mais velho, que era o rapaz mais jovem que vi da outra vez, minha avó estava lá, sentada à cabeceira, a quinta pessoa era o Dr. Vasques, e pela sua expressão notei que ele foi chamado às pressas também. A maioria ali estava excitadíssima com a situação, devia fazer cerca de 30 anos que ninguém via me avó comandando uma reunião.

- Avó, benção, me dirigi a ela. Bom dia a todos. Desculpem o atraso.

- Deus te abençoe. Você não estava sabendo desta reunião? Como deixam de avisar meu único neto não inválido desta reunião?

- Creio que não foi culpa de ninguém e sim minha. Eu sofri um assalto ontem. - Menti. - Estava mesmo desligado do mundo. Foi chocante ter uma arma apontada para mim.

A explicação pareceu acalmar ela e me fez um sinal com a mão para sentar do seu lado.

- Todo mundo sabe a situação em que meu filho está. Como presidente desta empresa, ele deixou o Dr. Borges no seu lugar, numa ausência que deveria ser de poucos dias. Meu filho tem uma doença grave e vai se operar amanhã. Não quero ser incomodada da minha dor de mãe se perdê-lo com questões de negócios, então como acionista principal deste grupo vim refazer a diretoria. Se meu filho se recuperar, ele pode refazer da forma que quiser, e se ele faltar. - Ela falou engolindo em seco. - Se ele faltar continua da forma que está.

- O Dr. Carlos voltará para nós, Dona Magonólia. - Falou Borges. - É o que todos esperamos.

- Esperar o bem se preparando para o mal. - Falou vovó. - Esse é o segredo de conduzir bem qualquer negócio. Otimismo aliado a precaução, Dr., Eu lhe nomeio, junto com meus dois netos para presidirem esta empresa, nenhum dos dois tem experiência para conduzir nada sozinho e sua palavra irá valer mais que a deles até que aprendam o suficiente e um deles possa assumir o que o pai deixou. Já tenho todos os papéis assinados aqui. - Falou ela entregando um envelope. - Era o que eu tinha para falar, repasse isso ao todos os diretores e aos acionistas menores, espero não ter que voltar tão cedo a esta sala.

- Vovó. Agradeço a confiança . – Falei.

- Você é um menino promissor. - Falou ela levantando-se. - Crie juízo e mostre mais amor por sua família. Pode ter defeitos mais foi a que Deus lhe deu. Seja grato.

Ela saiu sem esperar minha resposta. Fiquei ali na sala sem saber o que falar. De repente minhas responsabilidades tinham crescido a um nível que eu talvez nem pudesse suportar. Seria prudente de minha parte ir ao trabalho todos os dias, não podia ser um dos cabeças e ficar completamente de fora.

O que ela falou sobre família me fez pensar muito no meu pai. Desci para a rua para pegar o Mário, que havia se dirigido para lá, refletindo sobre aquilo. Não me lembrava de ter recebido carinho dele na minha infância e até quando ele me ofendeu profundamente, foi incapaz de pedir desculpas. Não sei porque me lembrei das palavras do Yoh quando me aconselhou sobre o Roney, “quem não perdoa, sempre está sem razão”.

Cheguei em casa mas não almocei, segui direto para uma capela que havia na mansão. Eu nunca havia ido nela após voltar a habitar ali. Era uma sala pequena e comprida com alguns bancos dispostos nos cantos com um corredor no meio e um altar ao final. A finalidade dela era a celebração de missas privadas para a família e também para quando quiséssemos rezar em um ambiente mais religioso. Lembrei de pagar castigos rezando terços naquela salinha, então ela não me trazia lá grandes recordações. Mas naquele dia me senti incrivelmente reconfortado quando entrei ali.

Havia uma imagem enorme de Nossa Senhora da Soledade, muito apropriada para aquele momento, não para o momento mais para mim em si. Sabia que minha mãe era devota dela. A santa das angústias, das Dores, da Solidão. Dos que sofrem calados sem saberem o que fazer. Encarei os olhos da imagem e vi que além da matéria que o constituía, havia algo além, havia a compreensão e o amor de uma mãe. Eu senti que ela esteve me esperando ali por muito tempo e chorei muito aos seus pés, pedindo para tirar meus rancores do peito, minhas dores que tanto me impediam de perdoar e de crescer. Naquele início de tarde de um ano qualquer de nosso senhor, encontrei finalmente alguém que eu poderia chamar de mãe novamente. Alguém que me entendia, e naquele dia eu recuperei a minha fé e levantei disposto a fazer algumas coisas com aquela nova força que havia encontrado em mim.

Repentinamente meu apetite voltou, eu comi bastante no almoço e sem tirar nenhum momento para descansar, segui para o hospital onde meu pai estava.

Me identifiquei como filho e soube que ele estava acordado. Ainda bem que não havia horário fixo para receber familiares, desde que a pessoa desejasse receber. Por alguns instantes imaginei que ele poderia recusar falar comigo. Mas me enganei, em pouco tempo uma auxiliar de enfermagem chegou e disse que ele gostaria de me ver.

Ele ficava em um apartamento privativo, sozinho. Quando entrei ele estava de cabeça baixa e não me olho imediatamente.

- Pai, benção. Desculpa não ter vindo antes, eu não sabia.

- Tudo bem. - Falou ele ainda sem olhar para mim. - Eu entenderia até se você não viesse.

- Jamais deixaria de vir. O Senhor é meu pai. A vida nos machucou bastante mais nosso laço nunca vai ser rompido.

- Eu queria te falar umas coisas. Pode ser que não possa mais.

- Pode falar o quanto quiser. - Sentei ao lado dele e pus minha mão sobre a cama. - Eu não vou sair daqui.

- Antes de falecer a última conversa que sua mãe teve foi comigo. Naquele dia ela falou que você era gay. Que havia percebido isso há um bom tempo e que quando crescesse mais iria viver essa sua vida. Ela disse que tinha medo de falecer e não poder apoiar você nesses momentos difíceis. - Lágrimas corriam pelo seu rosto. Ele nunca falava nela. - Ela me pediu para fazer isso por ela. Me pediu para apoiar se você um dia assumisse.

Eu não pude conter minhas lágrimas. Me dóia muito lembrar de minha mãe e ainda mais naquelas circunstâncias. Eu nunca imaginei que mesmo eu criança ela já sabia aquilo de mim.

- Eu não tive forças para isso. - Continuou papai. - Eu fui um fraco. Eu apenas odiei ter um filho homossexual. E persegui você desde então. Eu detestei você. Eu fiz tudo ao contrário do que ela pediu. Te fiz ter medo de ser quem você é. Passei a exaltar tudo que o Júnior fazia apenas por ele não ser um gay como você era. Dolores me deu uma informação para eu salvar um de nossos filhos de sofrer na vida e eu estraguei nossos dois filhos. Ela deve ter imaginado que eu poderia não entender e perseguir você. Por isso ela deixou tudo que pôde para você. Se eu não quisesse mais te dar nada, o que ela deixou em testamento lhe bastaria para viver tranquilo. E até isso eu te neguei. Eu neguei a abertura daquele testamento. Eu quis destruí-lo mas não sabia a senha. Então me afastei daquela casa, com raiva de tudo que ela representava: meu fracasso como esposo, como pai e como homem.

- Pai, não se emocione tanto. - Pedi.

- Não, eu preciso te falar isso. Falei com o Júnior hoje de manhã, trouxeram ele mesmo doente porque pedi, eu disse a ele tudo que fiz de errado e pedi para ele consertar o que pudesse. Eu ia pedir para você vir aqui hoje a tarde, mas antes que fizesse isso me disseram que você estava ai fora. Não sabe como fiquei feliz. Isso significou que talvez eu não tenha estragado um dos meus filhos. Eu sei tudo que te fiz passar. Eu criei mais aversão ainda por você porque quando descobri que você era abusado pelo Júnior, eu imaginei. Eu imaginei que era você que o tentava a fazer aquelas coisas. Eu nunca entendi essas coisas de homossexualidade, pensei que já novo você estivesse induzindo seu irmão a ser gay como você. Eu errei meu filho. Errei feio. E agora não há nada que eu possa fazer para consertar. E embora eu lá no fundo não me ache merecedor, eu preciso te perguntar isso. É muito tarde para pedir perdão?

- Nunca é, pai. - Abracei ele chorando. - Nunca é tarde para pedir perdão. Eu te perdôo.

Não sei quanto tempo ficamos abraçados os dois e chorando. Mas logo ele perguntou sobre os negócio e disse como estavam as coisas na empresa. Não sei como mas passamos a tarde e o início da noite conversando e rindo. Eu falei da reunião com a vovó e ele riu muito lembrando como ficou aterrorizado quando ela fez a última reunião, que foi para nomear ele presidente.

Acho que o cansei muito. Pois ele dormiu por volta das 19 horas, muito cedo. Mas não saí de lá. Continuei ao seu lado até que acordou por volta de 01 da manhã e pediu água. Eu mesmo levei e dei água na boca dele.

- Eu te amo pai. - Falei espontaneamente, nem sei de onde tirei a ideia de falar aquilo tão de repente.

- Também amo você meu filho …. - Falou voltando a adormecer. Foram as últimas palavras que ouvi dele. Meu pai faleceu naquela madrugada, exatamente as 04:32. nunca vou esquecer esse horário, eu estava segurando a sua mão. Pensando em como seria maravilhoso conviver com ele a partir dali.

Continua …

P.S: Esse capítulo me deixou triste. Vou dar uma pausa para arejar a mente. Obrigado a todos.

Scarlett: Yohan é inspirado em mim. e o Caio e o Dan são inspirados em um casal de amigos meus. Mas apenas o temperamento, a personalidade é inspirada, a história é 100% fictícia. Eu sempre faço isso, para não ficar horas pensando em como um personagem será, eu pego alguém que conheço e uso como modelo. Aí magicamente já sei tudo sobre a pessoa, até se prefere chocolate branco ou preto.

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Comentários

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Foi bem triste mesmo... Infelizmente muitos pais pensam assim e precisam de um empurrão da vida pra mudar de postura. Muito legal você passar essa imagem! Perfeito. Parabéns

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Bacana. Ele não devia morrer, e sim passar o resto da vida tentando compensar o que fez o Caio passar.

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Muito emocionante este capítulo, fico muito feliz que o pai do Caio pôde partir desta vida sem amargura no teu ser... apesar de triste, o capítulo foi muito bom!! Espero que o Jr.seja um IRMÃO de verdade agora!!

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Esse capitulo me emocionou muito, pois alem de ser devota de nossa senhora eu nunca tive um bom relacionamento com meu pai, ver o Caio perdoando o pai dele pra mim foi lindo de mais!

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Que bom que ele fez as pazes com o pai dele antes da morte.

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Ah chorei, sério, só falta ele ficar com o Yohan e tudo fica perfeito, não pelo fato do pai dele ter morrido, e sim pela primeira vez em muito tempo ter sido um pai de verdade pro caio.

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Que lindo..... O perdão è a melhor coisa que podemos nos presentear...... Como sempre PERFEITO......

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Na hora da morte quem sabe seu aoi tornou-se um pai menos ruim,enquanto ao seu irmão,com a quase morte,possa ser que ele torne-se um irmão.

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