Ágape 3

Um conto erótico de Caique Hurst
Categoria: Homossexual
Contém 1623 palavras
Data: 16/07/2013 02:46:31
Última revisão: 16/07/2013 03:22:52

Três dourados meses se passaram. Lucca não deixava de vir aqui em casa sempre que dava, perguntando sobre mim. E saíamos juntos também, íamos no parque, cinema, andar de bicicleta. Mas ultimamente Lucca ficou meio calado, guardando um segredo dentro de seus lábio úmidos. Quando perguntava, ele dizia que não tinha importância e que nada aconteceria... mas aconteceu!

Aconteceu em uma sexta-feira, fim de tarde, eu e minha mãe estávamos fazendo o jantar -nas sextas nós dois íamos para cozinha juntos, ela preparava o prato principal e eu o acompanhamento-. Quando ouvimos um grito vindo da casa vizinha, a casa de Lucca.

-O que foi isso?- indaguei.

-Veio lá da casa dos Malvinno.

Antes que conseguíssemos proceder as informações outro grito veio alto e longo, tão longo que eu pude identificar a voz. Era Lucca. Só Lucca tinha uma voz tão aveludada como aquela, mas agora aquela voz bela se resumia em fortes gritos vindos do fundo da garganta, daqueles fortes gritos que pareciam rasgar os gorgomilos.

Corri para a casa dos Malvinno, o crepúsculo pintava a paisagem de laranja, os pinheiros pareciam mais imponentes essa noite, um ao lado do outro como soldados prontos para guerrilhar. Vi as janelas da casa brilhando com suas luzes amarelas. No quintal estava a mãe de Lucca, Mariane, usava uma camisola que ia até os joelhos, suas pernas eram de aparência jovem, apesar de já ter completado seus 43 anos. Mariane estava ao telefone, com as mãos tampando a boca escancarada. E um estrondo é escutado de longe, um forte estrondo na parede de madeira.

E foi naquele momento que perdi o chão, perdi a razão e os medos. Imaginei que algum bandido havia atacado a casa com Lucca lá dentro.

-Graças a Deus você está aqui!- ela manifestou um medo em seu tom de voz que me fez gelar dos pés a cabeça.

Nem falei com a senhora, nem podia, Lucca estava sofrendo lá em cima.

Enquanto subia as escadas outro estrondo ressoou pelos corredores da casa. Pisei no ultimo degrau levando a mão a cabeça, minhas pernas tremiam e meu rosto se enrugava-se em total desespero.

Abri a porta do quarto e o vi de costas, com os fios dourados de seus cabelos molhados e vestindo aquele mesmo moletom que o encobria no parque à duas semanas atrás, mas ele não estava usando calças, pelo contrario, usava uma samba-canção de seda que estava à se escondendo por debaixo de seu moletom gigantesco.

Ele pegou a tela do computador e a jogou pela janela, enquanto ainda gritava.

-Lucca!- clamei.

Ele se virou para mim. Foi só ai que vi que suas mãos estavam sangrando, levando o sangue a escorrer pelas suas coxas. Sorriu. Correu. Me abraçou. O abracei também, ainda estávamos em estado de choque.

-Você veio para fugir comigo? Vamos logo! vamos, vamos!- ele suplicava.

-Do que você está falando?

-Minha mãe quer nos separar. Minha mãe quer me ver longe de você, Caique. Se fugirmos agora, poderemos ficar juntos!

-Sua mãe sabe do nosso namoro?

-Não.

-Como pode achar que ela quer nos ver separados se ela nem sabe que namoramos?

-Convenhamos, mães sabem de tudo!

-Vamos conversar, Lucca. O que ela te fez?

-Ela quer me tirar da cidade, quer me enfiar em um intercambio lá para Londres, um intercambio de 3 anos e eu não quero ficar longe de você, Ca!

-Lucca, o que aconteceu com suas mãos?

-Eu as bati na parede- ele deu um enorme sorriso que me fez indagar sobre sua sanidade no momento-, se minha mãe não quer me deixar junto a ti, não deixarei ela viver em paz...

-Lucca, você esta tendo um acesso de raiva. Pelo amor de deus, Lucca, não podemos ir para nenhum lugar. Nós não podemos fugir!

Vi seu sorriso sumir do rosto, agora me encarava de cima a baixo.

-Você não me ama não é?- ele perguntou- NÃO ME AMA, CAIQUE?

Ele se soltou dos meus braços. Estava socando a parede novamente, dessa vez com mais força, deixando a mão em estado de carne viva.

-Lucca, não faça isso!

Prendi seus braços nos meus, caímos os dois ao chão. A cena a seguir foi a pior que já vivi. Vi as bochechas de Lucca totalmente molhadas por traços de lagrimas. Ele se batia como louco no chão. Havia perdido novamente a sanidade. Só eu podia acalma-lo, tinha que fazer alguma coisa...

-EU NÃO TE AMO!- gritei com o máximo de clareza possível -EU NÃO QUERO VOCÊ COMIGO, LUCCA!

Senti meus olhos serem levados pela água das minha lagrimas. Estávamos os dois no chão de madeira. Ele parou de se bater, estava estático, olhando para o vacou do ar bem a nossa frente. Ele estava catatônico encarando o nada. Parecia que com aquelas palavras eu havia expulso sua alma, e o que sobra-rá ali era apenas seu corpo oco e seu olhar sem esperança.

-Sai do meu quarto- pediu em um sussurro.

Me levantei deixando-o caído no chão. Ele ainda estava com o olhar estático observando o vazio.

-Sai daqui!- rogou.

Desci as escadas tentando limpar a camiseta branca das marcas de sangue. A mãe dele estava ainda no mesmo lugar que havia a deixado, na frente da casa.

-Como foi? - ela questionou.

Minha vontade era de pular no pescoço dela, bater aqueles tufos de cabelo ruivo na quina da escada, até que sua nuca se abrisse e eu pudesse me lambuzar de seu miolos, mas só falei:

-Vá ver por conta própria.

Não olhei nos olhos daquela mulher, não poderia, ela estragou toda a minha vida.

Fui para casa. Naquela noite eu não comi, na verdade eu não comi durante 2 dias, imaginado o olhar vazio, os lábios úmidos e o cabelo mal penteado de Lucca jogado ao chão do quarto. Foi o suficiente para me deixar totalmente aflito.

No dia em que Lucca foi para o intercambio eu havia acordado mais cedo para vê-lo. Coloquei o café em uma caneca branca que a tempos eu não usava e me aconcheguei em frente a uma janela. O sol estava começando a aparecer por entre as colinas ao horizonte. No dia passado eu havia me certificado de que Lucca não conseguiria me ver por entre as sombras da janela. Levei o café quente em direção a cavidade bucal, queimei levemente meu lábio superior, aquilo me lembrou de assoprar bem antes de tomar, e foi isso que fiz. Estava nervoso, meus dedos não paravam de batucar a mesa de madeira a minha frente.

Ouvi o carro muito antes de vê-lo. Seria rápido e breve o momento no qual ele passaria, tinha que ficar atento a qualquer movimento, como um tigre ao atacar um coelho. E foi aí que vi, o carro Land Rover cinza sendo conduzido pelo motorista da família no banco da frente, a mãe de Lucca no outro banco de couro dianteiro, e por ultimo no banco traseiro Lucca, ele usava uma toca preta com algumas mechas loiras tampando uma pequena parte de sua testa, seus olhos estavam fechados, ele dormia como um anjo. Mas algo aconteceu, ele acordou rapidamente como um cão quando escuta um ruído. E olhou diretamente para a janela que eu estava. Seus olhos me encaravam, sim eu tenho certeza que os olhos dele me encaravam. Ele olhava diretamente para o fundo dos meus olhos que estavam tão longe um do outro. Eu não entendo, pois, na manhã passada eu havia me certificado de todos os modos possíveis de que ele não conseguiria me ver, de jeito nenhum! Mas ele viu. Me encarava com aqueles dois círculos azuis luminosos que eram seus olhos... E o carro foi embora, se escondendo por entre as arvores.

E eu me arrependo. Me arrependo de não ter gravado aquele rápido momento. Me arrependo mais que tudo!

As borboletas que antes batiam suas assas no meu estomago, agora, morreram intoxicadas pelo meu acido gástrico. E foi com aquela sensação de aperto no coração que eu tinha que viver daqui para frente.

Cada sorriso que a televisão mostrava podia ser confundido com o sorriso de Lucca. Cada toque que minha pele sentisse podia ser confundida com o toque de Lucca. Cada personagem dos meus livros podia ser visto como Lucca. Eu estava perdido. Perdido entre as lembranças que eram as únicas coisas que eu tinha guardadas daquele garoto charmoso.

Eu ainda não havia esquecido ser cheiro. Não havia esquecido seu rosto. Não havia esquecido seus lábios. Não havia esquecido o gosto de sua saliva. Ele ainda estava em mim. Podia sentir em cada esquina que agora estavam sem vida, em cada casa que agora me pareciam apenas mausoléus desocupados.

Minha vida havia experimentado a pior droga: o amor.

Eu sinto tanta falta dele. Minha vontade é de comer seu sorriso e tomar seus sonhos. Eu queria abraça-lo, te-lo para mim. Esconde-lo em meio aos meus cobertores e o defende-lo de todo o mal que um dia possa ameaçá-loNotas:

Vocês me convenceram a aumentar essa estoria, então não fiquem preocupados que não acaba aqui... Teremos continuações e vou postar o mais rápido possível, esse foi curtinho pois eu queria acabar essa primeira parte com o desencontro de Lucca e Caique. Agora, se eles vão voltar vocês só ficarão sabendo no próximo capitulo haha.

Amante de Séries: Estou feliz por estar gostando, cara. Nunca li esse livro mas agora que citou, me sinto na obrigação de ler.

chicao02: haha, obrigado! Me sinto lisonjeado. Já vou adiantando que essa historia tem um final um pouco triste...

Luucaas': Obrigado Lucas, vou fazer ele grandinho... hahaha

Ru/Ruanito: Sim, não só pode como com certeza tem! haha

Lipe*-*: Ok, ein? Só por que você pediu! haha

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Comentários

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Partiu ler o 4 capítulo *u* Nota 10,5 rs

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Nossaaaaaaaaa... Que talento o sei... Realmente diferente de muitos contos daqui e muito bom... Continue logo :) Gosti, apesar de ser triste, é mais realista que muitos outros contos.

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mesmo que seja triste não faz mal, afinal já imaginava que não teriamos um final convencional, mas esse capítulo como os outros me emocionou bastante, só tendo muito amor pelo outro para abdicar de sua presença para tentar faze-lo feliz de alguma forma...

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adorei continue logo o mais rápido possível 10

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Ahahaha so foda u.u, amando umm... Entao esse tempo que eles vao ficar distante o lucca encontra um novo amoreco no intercambio?

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