Nícolas - Parte CINCO

Um conto erótico de Nick. W.
Categoria: Homossexual
Contém 1314 palavras
Data: 27/04/2013 15:03:34
Assuntos: Gay, Homossexual

Capítulo 5

O Diário

ELE TINHA VOLTADO POR MIM. Não sei como, mas algo dentro de mim já me afirmava isto antes mesmo de ele afirmar. O modo como ele chegou, atencioso, correndo em direção ao meu quarto e gritando o meu nome, foram provas suficientes de que, para ele, eu era algo mais que um simples colega de quarto. Ao me segurar em seus braços, (depois de nos beijarmos e sermos brutalmente separados por um trovão), enquanto minha cabeça repousava em seu peito e suas mãos, macias e suaves, acariciavam delicadamente meus cabelos, pude sentir e apreciar o "algo mais" que nos rodeava aquele noite. Contemplando o deslumbrante momento de troca de amores entre dois seres humanos, pude - pelo menos em minha mente fantasiosa - sentir Eros passando com suas asas imaculadamente brancas, despejando flechas e mais flechas em nossas direções, enquanto nossos olhares, loucamente apaixonados, se encontravam por sobre a cama.

O que meu pai diria se soubesse que estou citando deuses pagãos em minhas descrições? Me pergunto sobre isso. Na verdade, o que ele diria se soubesse que eu escrevo essas histórias? Pensando bem, diante das reais circunstâncias em que me encontro, citar um deus pagão no meio de toda essa "podridão generalizada", de todo esse "sodomismo" em que eu vivia seria um fato completamente irrelevante, vocês não acham?

- Aconteceu alguma coisa? - Marcelo me perguntou após eu me remexer desconfortavelmente sobre a cama. Lá fora os últimos pingos de chuvas ainda eram ouvidos. O vento diminuíra e os relâmpagos, juntamente com os trovões, tornavam-se cada vez mais escassos. Estávamos deitados em forma de concha sobre a cama.

- Nada - sentei-me na cama abraçando os dois joelhos.

- Aconteceu sim alguma coisa - Marcelo sentou-se do meu lado enquanto olhava para mim - . Só não sei o que é.

- Não é nada - menti -. Só estou tentando processar algumas informações. Já faz algumas horas que meu raciocínio está lento. E, eu lembrei que a "pombinha" ainda está desaparecida. Ela caiu assim que eu fechei a porta.

- Que pomb... Ah! o pingente... Do seu pai... - Marcelo pronunciou a palavra "pai" com menos intensidade, como se ele tivesse acabado de deduzir alguma coisa - Seu pai tem alguma coisa a ver com seu "mal-estar" repentino?

Não respondi. Eu ainda estava confuso com aquela situação, pois, enquanto parte de mim sabia e gritava aos quatro cantos da terra que precisava e estava extremamente feliz pelo Marcelo estar ali; um outro pedaço de mim, lá dentro, ainda me condenava sem piedade tornando um dos meus melhores sonhos, num começo de pesadelo. Dúvidas... Dúvidas... Aquela inquietação por dentro drenava todas as minhas forças, enquanto eu me via em uma encruzilhada: amor ou princípios com os quais eu, até então, jurava não ter mais vínculos?

- Dê tempo ao tempo - Marcelo disse por fim -. Pense melhor e podemos resolver depois. Não quero te pressionar a fazer nada.

- Obrigado - eu disse, segundos antes de receber mais um abraço caloroso que me convidava para dormir ao seu lado hoje. Deitei na cama e o Marcelo envolveu-me com o seus braços, pressionado minhas costas contra seu peito. "Nícolas!", uma voz me chamou enquanto eu dormia, mas não era ninguém, apenas minha consciência pedindo-me para decidir.

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Bárbara. Esse foi o nome no qual eu mais pensei o dia inteiro. A morena, cujos olhos transmitiam bondade e era extremamente bem humorada, seria uma boa pessoa para me aconselhar CASO eu tivesse a coragem de lhe explicar o que estava acontecendo comigo. Mas a maior prova de que "ser decidido" não é, definitivamente, uma das minhas qualidades foi o fato de o nome da garota vir e voltar durante o dia todo sem eu ao menos considerar um única hipótese. As raras vezes em que eu a esquecia eu estava com o Marcelo. Mas, por revolta do destino, Marcelo encontrava-se fora em pleno domingo. Motivo? Churrasco com os amigos para comemorar o aniversário de um dos colegas. Felizmente as previsões marcavam chuva apenas para o período noturno, caso contrário, eu entraria em pânico novamente perdendo pela segunda vez meu pingente encontrado, com muito esforço, atrás do pé da cama.

Seria ótimo compartilhar a novidade, e isso eu não nego. Mas não queria me expor, não agora. Sabia que nem eu nem Marcelo estávamos preparados para uma revelação pública. Eu, por exemplo, não tenho nem certeza se o Marcelo gostaria disso. Todavia, guardar os medos, as alegrias e as dúvidas para mim mesmo estava se tornando inviável, e pedir conselhos em bate-papos na internet não seria uma boa ideia, visto que ninguém pode dar bons conselhos sem conhecer pessoalmente uma pessoa. Poderia falar com o Rick? Acho que não; não consigo imaginar a sua reação. Eu poderia ao menos desenhar, e mostrar para a vadia da minha mente a peça que ela está me pregando. Fora isto eu teria mais uma opção... "Sim, essa eu poderia". Um sorriso alegre invadiu o meu rosto e me levantei, num salto, do sofá. Desliguei a televisão e subi as escadas em direção ao meu quarto. Abri uma de minhas gavetas e retirei dela um caderno dividido em matérias, inutilizado. Joguei-me em minha cama e comecei a escrever.

Descobri que a expressão querido diário é ridícula e por isso arranquei a primeira folha do caderno. Escrever para o diário como se ele fosse me responder era tão, tão infantil; no mínimo eu deveria escrever algo para mim, algo para minha própria consciência. Mas por onde começar? Um turbilhão de informações circulava desorganizadamente em minha cabeça, causando acidentes, congestionamentos e problemas psíquicos, forçando-me a fechar os olhos e por alguns minutos refletir sobre o que eu iria fazer. Peguei em minha caneta e deixei que as palavras fluíssem, sem pressão.

"Quem disse que o ódio corrói os ossos não conhece as dúvidas...", consegui escrever, "... não que eu seja a favor de odiar, não que eu tenha uma mente doentia e ache extremamente normal as pessoas se matarem, mas ter dúvidas e não saber como tirá-las é tão desgastante e consome tanta energia quanto planejar um assassinato". Dei uma pausa na escrita e pensei mais um pouco sobre o que continuar escrevendo. "Eu amo o Marcelo, eu sei disso; sentir o calor do seu corpo e dormir protegido em seus braços foram as melhores coisas que já me aconteceram. Ouvir a voz dele dizendo 'Nícolas" é tão romântico. Beijá-lo é maravilhoso, e desde o dia em que ele me abraçou, no bosque, meu corpo me disse que o quer mais e mais. Mas eu tenho medo. Medo do que vai acontecer; medo do que eu vou fazer; medo do que ele vai fazer. Deveríamos fazer nossas escolhas juntos a partir de agora? Ou estou indo rápido demais? Será que estou pronto? O amor entre dois homens é muito mais complicado do que parece ser. Enquanto eu escrevo, mais perguntas são acrescentadas enquanto pouquíssimas são respondidas, o que me faz ficar mais apreensivo em relação a tudo o que está acontecendo."

Eu sorri, prestando atenção na quantidade considerável de coisas que eu escrevera em meu diário. "Eu poderia simplesmente confiar no Marcelo e ver o que poderia acontecer... Como ele mesmo disse, eu poderia dar tempo ao tempo."

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- BOA NOITE! - O Marcelo me disse assim que ele chegou em casa. As primeiras gotas de chuva já estavam caindo - Cheguei antes da chuva - ele me beijou.

Seitei-me no sofá enquanto Marcelo subia para tomar um banho. Os primeiros trovões já ressoalvam fazendo-me aumentar o volume da televisão, a fim de inibir o barulho externo. Minha cabeça estava sob uma almofada vermelha, e meus pés encolhiam-se procurando uma forma de se aquecer. A chuva foi aumentando gradativamente. Mas desta vez eu estava mais calmo. Consegui me conter até o Marcelo descer.

- Você precisa vencer o medo - Marcelo veio em minha direção.

- ata, senhor Clichê, como?

- Confia em mim? - ele perguntou com uma voz inocente. Eu apenas assenti silenciosamente.

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Comentários

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Ele não está fazendo planos para o futuro... A única coisa que ele pergunta é se ele "Deveria" fazer planos com o Marcelo. Ou seja, ele se mostra tão confuso quanto você Max_Ju. Em nenhum momento o Nícolas deu certeza de alguma coisa, tanto é que ele finaliza a escrita em seu diário com as seguintes palavras "Enquanto eu escrevo, mais perguntas são acrescentadas enquanto pouquíssimas são respondidas, o que me faz ficar mais apreensivo em relação a tudo o que está acontecendo."

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Gente, só eu que fui lerdo o suficiente pra não entender em que parte eles começaram a se relacionar? Ultima coisa que lembro de ter "algo a mais" foi o beijinho que deram no fim do cap 4. E agora o Nick já tá pensando em planos futuros e blá? Gente, help ;-;

Tirando isso, o conto pra mim está ótimo, adorando cada vez mais :)

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Mas tu demorou hein bichinho!!! E as turbulências amorosas só aumentando. Será que Marcelo vai conseguir você perder esse medo? Não demora!

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Me perco lendo teu conto, é maravilhoso! Continua logo!

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Ah muito bom seu conto,estou muito ansioso pelo próximo capitulo.

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Sua historia e incrivelmente calma e gostosa de se lê, vc escreve de forma fantastica, conta seus medos, duvidas, erros, de uma forma apaixonada e cativante! Tenho alguns palpites com relação ao fim, mas prefiro não comentar, vou continuar acompanhando e torcer pra eu estar errado com relação ao fim que imagino! Parabéns!

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\o/ que bom que você voltou. Não demora pra postar outro capítulo não

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