Politicamente Incorreto - Capítulo 4

Um conto erótico de Mr. Characters
Categoria: Homossexual
Contém 810 palavras
Data: 19/01/2013 07:31:13

Por um momento pensei que, talvez, ele não fosse como havia imaginado no início. Devia ser o bolo de chocolate que havia me deixado mais doce. Parei de comer, parei de pensar. Ele era político, enganava um número considerável de eleitores. Não poderia ser mais um desses, justo eu que nunca caí na lábia de políticos.

Capítulo 4

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Os dias que passaram correram absolutamente bem, apesar de ser estritamente profissional, nossa relação estava muito boa, trabalhávamos bem em equipe. Eu passava as orientações, ele opinava – não gostava disso – mas acabávamos sempre concordando e a ação dando um bom resultado. Se continuasse assim, além de um resultado de sucesso, o trabalho encerraria rápido. Trabalho, lembrei de Vic. Disquei seu número, apesar de falarmos via e-mail, gostava de ouvir sua voz, por mais arisca que fosse. E era:

_Sabe que horas são? Espero que o motivo seja bom._ Simpatia era o forte dela.

_Saudade. Não vivo sem esse amor que você exala._ Não segurei o riso, mas ela se mantinha em um silêncio desconcertante. _Além do mais, são só duas horas da madrugada, horário perfeito para que você me coloque a par dos acontecimentos aí no escritório._

_Os e-mails eu mandei só pra fazer volume na sua caixa de entrada, ou estava falando grego?_ Ela respondeu. Ah Vic! Se tivesse que te comparar com uma flor, seria com uma delicada e sensível rosa.

_Sabe que gosto de ouvir sua voz!_

_Ih, qual o problema?_ Ela se adiantou. Minha flor também era sensitiva. Quanto amor.

_Nenhum._ Desconversei.

_Aham. Primeiro, o seu trabalho com o prefeito safadinho – adoro essas ironias. Vic, minha mestra! – vai de vento em popa. Sem nenhum conflito ou briga entre vocês, sendo que você o odiava antes mesmo de conhecer. Agora me liga no meio da madrugada? Gosto de ser subjetiva, mas tem limites!_ Ela disse impaciente.

Silêncio.

_Se não te conhecesse, e soubesse que você não tem sentimentos, diria que está apaixonado._ Ela sugeriu mais calma.

_Quanto romantismo Vic!_ Falei de forma discordante. _Sabe que eu te diria que no máximo fico interessado._ Oi de novo, subjetividade. Para bom entendedor meia palavra basta.

_E eu diria que você é o ser humano mais burro do universo._ Ela me deu um tapa de luva via telefone. _Agora vou fingir que nunca tivemos essa conversa antes e voltar a dormir. Você sabe que se eu não carregar aquele escritório nas costas, as coisas não andam._ Quanta humildade naquelas palavras.

_Ok._ Concordei. _Vic?_

_Sim._

_”Vento em popa” é uma expressão tão anos 90 que mais parece anos 80. Isso entrega a idade, amiga._

_Lipe._

_Diga._ Esperei.

_”Política é um caminho sem volta, amigo”._ Desligou.

E era mesmo.

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Era sexta à noite de novo. Mais uma de trabalho. Eu amo meu trabalho, mas as sextas-feiras – à noite – eram sagradas. Era meu dia de sair e pegar meus amigos, os mesmos “amigos” do prefeito. Matar meu desejo sexual, já que bem como lembrou Vic, não tinha sentimentos. Só que hoje o mais próximo disso que conseguiria era o prefeito atordoando meus pensamentos.

Aquele gabinete estava uma loucura, todos os milhões de assessores dos assessores de um lado para o outro. Tinha um motivo. Teríamos o resultado da pesquisa de satisfação e aceitação do prefeito. Se fosse bom, e não teria porque não ser, meu trabalho estava concluído. Adeus pensamentos com aquele homem.

_Saiu o resultado da pesquisa!_ Uma voz gritou no meio daquela pequena multidão. Todos se exaltavam e formaram um circulo ao seu redor.

Em seguida a onda de comemoração. Gol em Copa do Mundo era pouco diante daquilo.

_Noventa e dois por cento!_ Bradavam e comemoravam.

_Feito!_ Outros diziam, em meio a abraços e cumprimentos.

E eu ali no meio daquilo.

Olhei o principal afetado por aquele resultado, pouco empolgado. Comemoração modesta e discreta com os outros. Ele era realmente indecifrável, pensei. Virei os olhos e recebi um olhar fulminante de seu assessor. O mesmo do aeroporto, lembrei. Na verdade não era assessor. Naqueles dias pude descobrir que era seu braço direito, o secretário do gabinete. Grande coisa.

Ele se aproximou de mim. Com a voz de um pai que repreende o filho por um grave erro, me disse:

_Não sei como você convenceu o Bernardo, mas nós não trabalhamos assim. Isso está muito errado. Propina e promessa de cargos nunca aconteceram aqui. Esse é o caminho errado._ Ele esbravejou e foi embora.

Não havia clichês o suficiente para descrever aquele momento. Uma facada nas costas, um tapa de luva, quebrar as pernas. Nada descrevia. Ele havia jurado que não escondia nada. E eu precisava, ou melhor, preciso acreditar nos meus clientes.

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Gente, agradeço as leituras!

Até mais,

Próximo capítulo previsto para:

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Comentários

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Atualmente esse conto é o meu preferido, é uma pena a demora pro próximo capitulo :/

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Pow, seu texto é mto bom. O foda é essa demora na publicação :/ Mas ficarei a espera, pois ao menos consigo me surpreender positivamente (: 10!

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