Querido Bruno [4]

Um conto erótico de Tommy
Categoria: Homossexual
Contém 1942 palavras
Data: 30/12/2012 00:24:08
Assuntos: Gay, Homossexual

Na sexta-feira, o ultimo dia que ficaríamos juntos, combinamos de matar aula pra passarmos o dia juntos e eu faltaria no trabalho também, só o que importava era passar um tempo com o meu amor, era ficar com ele, nem que eu fosse demitido, mas eu precisava daquilo, precisava ter algo pra me consolar.

Os pais dele trabalhavam de manhã, então ficaríamos a sós, a não ser a empregada que tinha aceitado nos ajudar não contando nada aos pais dele. Esperamos o portão da escola se fechar, já que ele morava em frente e entramos na casa dele.

Ele me levou direto ao quarto, onde me beijava com certo desespero, me abraçava, chorava, era um misto de sentimentos, felicidade por estarmos juntos, tristeza por termos de nos separar em breve, alivio de estar com ele, mas a dor de ter que viver sem ele. Eu não imaginava a hipótese, tudo porque fomos descuidados, mas estávamos tão errados? Éramos jovens, queríamos amar, o que tem de errado nisso? Porque temos uma sociedade que prega o amor se ele não é aceito de todas as formas? É o mesmo que abrir a gaiola para que o pobre pássaro voe mas amarrar a pata na gaiola pra que fique sob controle e não fuja. Era, ou melhor, é frustrante.

Fizemos amor, tomamos banho, fizemos lanche, fizemos tudo que podíamos pra curtir o momento, tiramos fotos, peguei peça de roupa dele, dei minha camisa pra ele, meu endereço para que ele mandasse cartas, já que não tinha e-mail pois não tinha internet.

Mas o inferno, ou melhor, o final da tarde chegou, a hora que seus pais voltariam pra casa, nos abraçamos da maneira mais forte e terna que era possível, demos o beijo mais quente que podíamos e trocamos palavras carinhosas, mas nada disso mudaria a dor, ou diminuiria. Eu era isolado por muros altos e indestrutíveis, ele teve a capacidade de destruir esse muro, de me trazer pra luz, mas agora eu voltava a escuridão em meio a suas palavras.

Bruno: - Promete que nunca vai me esquecer?

Eu: - Prometo, isso é fácil.

Bruno: - Eu vou voltar por você, eu prometo, vamos ser felizes juntos, eu te amo e sempre vou amar, não importa aonde.

Eu: - Eu também te amo, eu vou esperar.

Bruno: - Promete?

Eu: - Prometo.

Ouvimos um carro adentrar a garagem, nos beijamos e sai fugido pelo outro portão, correndo, em meio a lagrimas, me faltava ar, me faltava fôlego, me faltava o Bruno.

Não dormi a noite inteira, não parei de chorar, não sabia o que fazer, mas o tempo chega, não adianta, eu não fui capaz de pará-lo, ninguém é.

No sábado logo que sai do serviço, fiz questão de ir até a casa dele, ver se ainda estavam lá, se eu podia fazer algo pra impedi-lo, mas era tarde, não tinha mais o que fazer, a não ser lamentar e sofrer.

Não foi fácil, eu fiquei mais depressivo do que fui minha vida inteira, era a maior dor que eu já sentira, varias vezes pensei em me suicidar, mas eu precisava continuar, precisava viver, ser forte, aguentar por ele, esperá-lo.

O resto do ano foi um lixo, como era a minha vida antes dele, nossa foto revelada umas 1000 vezes, tinha inúmeras copias e levava comigo aonde quer que eu fosse. Em abril, chegou uma carta, meu coração parou, ele me contava como era onde morava (em outro estado), como eram as pessoas, como era o clima em casa, dizia que sentia minha falta e que me amava, perguntava se eu ainda lembrava dele... E como não lembrar?

Respondi. E assim foi com o tempo, toda carta que chegava, meu coração disparava, a adrenalina subia, era sempre esperança. Até que...

Um dia meu avô pegou o envelope e leu a carta, como esperado, ele me deu uma surra, me humilhou, até urinou em mim, queimou minhas coisas e me expulsou de casa. Na carta, Bruno dizia sacanagens, coisas de sexo, dizia que se masturbava o dia todo pensando em mim, no meu cheiro, na minha bunda, em como nossos movimentos eram uniformes e etc.

Solução: Eu e minha mãe fomos morar em uma pensão, que parecia um albergue, sujo, comida horrível, caindo aos pedaços, mas era o que podíamos pagar.

No final do ano, fui bem nos vestibulares, passei na FUVEST e pude realizar meu sonho de estudar Psicologia na USP.

Não foi nada fácil, eu não era o mesmo, eu era realmente incompleto, as cartas não chegavam mais, ou se chegavam, iam pra casa dos meus avós e eles com certeza davam um jeito pra que não chegassem até mim, era um sentimento de agonia sem igual.

Com o tempo, fui promovido a gerente na loja, tinha um salário melhor, pudemos alugar uma casinha pacata, mas era o paraíso perto daquele albergue. Já guardava dinheiro pra ajudar minha mãe a montar a lojinha que ela tanto sonhava e esse sonho estava próximo, mas eu ainda sentia tanto a falta dele.

Já se passavam 3 anos, eu não aguentava mais a solidão, continuava sozinho e intocável escondido por trás dos meus muros, até que encontrei outro cavalheiro disposto a atravessá-los, comecei um outro relacionamento, não era a mesma coisa, mas já era alguma coisa, eu não era totalmente feliz como antes, mas era menos infeliz.

Me perguntei por diversas vezes onde estaria Bruno, torcia pra ele aparecer e me salvar, me completar, fingir que tudo aquilo era um pesadelo. E realmente era, um pesadelo sem fim.

O Luiz meu namorado, estudante de Física, era uma graça, carinhoso, atencioso, tinha aproximadamente 1.80 também, era moreno claro, olhos pretos, cabelos lisos meio jogados, magro, super inteligente. Não vou dizer que ele me fazia mal, mas eu confesso que transava com ele por obrigação de relacionamento e sempre pensando no Bruno. Demorei meses pra contá-lo sobre meu avô, pra contar minha história que contei tão rápido ao Bruno.

Não parava de pensar em como estava o Bruno, o que ele fazia, se trabalhava, se estudava, se pensava em mim, se estava solteiro, os anos foram realmente se passando, lenta e cruelmente, dizem que o tempo cura tudo, mas o tempo não me curava, apenas fazia um leve curativo, que vira e meche, se abre de novo, feito aquelas casquinhas de machucado que a gente cutuca e sangra tudo de novo.

Quando me formei, já haviam passado 5 anos que o Bruno me deixara e eu não tinha noticias, dei todo o dinheiro que tinha guardado pra minha mãe iniciar sua loja, que depois de 3 meses sem lucro, depois de muito sacrifício, começou a lucrar, a fazer sucesso, minha mãe era boa naquilo, ela estava com 38 anos, ainda tinha o pique. O jeito modesto dela, a humildade atraiam mais e mais clientes, logo ela pode abrir outra e outra loja, já não éramos mais tão pobres como antes.

Dessa vez meus avós tentaram reconciliação, minha mãe aceitou o perdão deles, já que ela achava família algo sagrado, eu nem com todas as minhas forças conseguia fazer a mesma proeza que ela, pra mim ela era quase uma santa.

Pouco tempo depois de ter me formado, passei em um concurso publico pra trabalhar em postos de saúde, unidades de saúde do município com uma parceria do estado, como consequência, tinha um trabalho estável, um salário bom e acabei indo morar com o Luiz em um apartamento que alugamos juntos. Minha mãe como retribuição por tê-la ajudado com a loja, me deu meu primeiro carro, o que me deixou muito feliz.

Eu quase me convenci que era feliz naquela época. Depois de pouco tempo que estava no trabalho, em um posto de saúde, consegui uma aprovação pro meu projeto na área, que era uma região carente. Eu fazia atendimento individual e em grupo de pessoas que sofreram violência sexual e/ou domestica.

Eu atendia mulheres e homens, adultos, que sofreram algum tipo de abuso ou violência, física ou psicológica em casa. Eu amava meu trabalho, podia ajudá-los a superar aqueles traumas, aquela dor, uma vez que tive que superar os meus também antes de poder ajudá-los. Era reconfortante, cada pessoa que eu ajudava a melhorar era uma vitória, uma pessoa a menos com ódio da vida, uma revira-volta, uma chance de felicidade, uma luz no fim do túnel. Eu me emocionava a cada caso, mas lógico, não podia me envolver, eles sabiam minha história, mas eu deixava claro que estava ali pra ajudá-los na deles.

Foi um sucesso, a prefeitura expandiu o trabalho pra outras comunidades, aumentaram meu salário e etc. Cada dia mais eu era procurado pelas pessoas que queriam ajuda, ou apenas conversar.

Acabei me casando com meu trabalho, tinha o Luiz em casa sempre pra cumprir minhas obrigações de marido e tinha minha carreira pra fugir daquela vida. Quase achei que o amasse, ou melhor, eu o amava, quase achei que o amava como eu amava o Bruno.

Era tão bom ver minha mãe prosperando no trabalho, Luiz com uma carreira brilhante e sonhos lindos e meu trabalho que era perfeito pra mim. Todos os dias, quando saiam os pacientes e eu ficava só na minha sala, eu chorava, chorava como se não tivesse fim, mas me sentia bem por ajudá-los naquela busca, naquela transição.

Um ano depois, eu já tinha 23 anos, eu sofri uma agressão na saída do trabalho, eu tinha muitos amigos/fãs do meu trabalho, mas lógico tinha inimigos, como os estupradores dos meus pacientes que acreditavam que eu os envenenava e alguns que odiavam homossexuais e sabiam que eu era.

Esse dia, sai do trabalho eram 23:30, me lembro como se fosse hoje, estava no estacionamento, que dá acesso as ruas e não tinha iluminação, estava chegando próximo ao meu carro quando sinto algo se chocar contra mim, era um pedaço de pau, cai na hora, a pessoa veio e me chutou, me socou, quase me matou, só parou porque realmente achou que eu estivesse morto.

Eu tive que me afastar um tempo e me tratar novamente, tentar superar aquilo, investigações encontraram o culpado, mas eu tinha uma cicatriz interna (memória) e uma externa no supercílio, que não me deixaria esquecer aquela noite jamais. Mas eu não podia viver sofrendo, logo que tive condições voltei ao trabalho, como se nada tivesse acontecido, mas na hora de ir embora, tinha medo, sempre tentava pedir a alguém que me acompanhasse até o carro.

Mais um ano depois, minha mãe me liga com a noticia que tinha encontrado Bruno, eu tinha passado os dados dele pra ela. Ela havia dedicado anos a procura dele, eu não falava muito sobre ele na frente do Luiz, porque sabia que o Luiz não gostava nada, lógico, quem gostaria?

Minha mãe tinha conversado com ele na internet e me jogou a bomba:

Mãe: - Filho, ele me disse que... – ela parecia criança, nem conseguia se conter de alegria. – Que ele está voltando pra cá mês que vem, ele pediu transferência no quartel. Ele vai voltar filho.

E me abraçou.

Eu não sabia bem o que aquilo significava, tinha medo das consequências, dele ter magoa, ou ódio de mim, ou pior, de eu ter dele.

Afinal, havia se passado 7 anos...

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Meus queridos leitores, espero que a história esteja agradando vocês, sei que pode parecer meio triste, não é uma história linda e convencional de principes e amor perfeito, é o oposto, mas prometo que terão alegrias também.

Obrigado pelo carinho e continuem opinando/votando.

A proxima parte já está exatamente no ponto que eu queria a história, que acho que vai ficar mais emocionante...

Um abraço a todos vocês.

Até mais

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Comentários

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emocionante a história já está.Verdadeira lição de vida.

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maravilhoso, tu escreves divinamente bem, sua escrita é formidável. Parabéns.

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Valeu por postar tua histtoria aqui, é bastante agradavel ler. Esse cap foi um pouquinho melancolico, mas é apenas o 4° cap. Acompanho o conto por ele, apesar de ser real, nao ser cliche, parabens

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Pra mim a sua história é mágica do jeitinho que é, e como eu chorei, como sempre, fiquei feluz em saber que o Bruno vai volrar,mais como será a chegada dele e como vai ser com o Luiz, estou prevendo que no proximo capitulo terá fortes emoçoes.

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aiin como eu chorei! amei de oaixão me emocionei muito, continua logo please! amei muito muito, virei seu fã!

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Oi pessoal, estou escrevendo uma série de contos hétero bem explicitos. Quem curte sacanagem beeem detalhada e muito romance não pode perder... beijos

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Nossa nem sei o que você vai fazer, se separar do Luiz ele vai ficar deprê e bem capaz de lhe prejudicar em algo. Mas se não é feliz com Luiz o jeito é terminar logo. Continha logo

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Uau! Não sei nem o que falar. Essa parte foi demais. Espero acordar a amanhã e ver uma nova parte desse conto. Parabéns!

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