Eu Encontrei Você (Num Lugar Sem Esperança) - Cap. 6

Um conto erótico de Th£o
Categoria: Homossexual
Contém 1001 palavras
Data: 14/11/2012 19:42:36

Meu corpo está pesado. É muita densidade para mover algum músculo. Sono. Muito sono. Consigo raciocinar, mas sou incapaz de abrir meus olhos. Meu corpo está na horizontal e o que está embaixo de mim parece ter sido desenhado especialmente para a minha coluna. Ouço zumbidos. O primeiro conta “pressão alta”. O segundo revela “má alimentação”. Minhas pálpebras estão ganhando força. Sinto algo razoavelmente dolorido no meu braço esquerdo. Abro os olhos. A visão embaçada de uma mulher e um homem branco surge. Ela vai ficando mais nítida. É minha mãe! Merda! E o homem está usando um jaleco incrivelmente menos branco que ele. Os dois olham pra mim e sorriem, como se tivessem visto um bebê acordando.

- Olá Felipe, tá se sentindo bem? – diz o homem albino.

- Sim. Ai... – movo o braço e sinto uma agulhada forte.

- É o soro Felipe, pra estabilizar sua glicose! – diz minha mãe, num tom afagador.

- Você teve uma alta de pressão... Geralmente acontece com pessoas que comem alimentos muito calóricos e logo em seguida tem uma emoção muito forte.

- Hum... – concordo, fazendo mentalmente um “v” em “alimentos calóricos” e “emoção muito forte”.

- Você vai terminar de tomar esse soro e logo em seguida já vai poder ir pra casa, ok?!- diz ele. O reflexo das lentes dos seus óculos é tão forte que é impossível fita-lo nos olhos.

- Ok! Obrigado, Doutor! – digo, bocejando entre cada palavra. Minha mãe me olha de cara feia pela falta de educação.

- Por nada! – sai logo em seguida.

Como se esperasse pra comentar um assunto sério, minha mãe acompanha o doutor saindo com olhos e se vira pra mim.

- Só você mesmo pra me fazer sair uma hora dessas da assessoria pra vir pra cá né Lippo? O que você andou comendo heim? – diz ela, ensaiando mais um de seus momentos de não-ouvirei-qualquer-palavra-só-falarei.

- Ah mãe, eu não sei! Comi um cachorro-quente com coca hoje. – digo, olhando para a agulha que está dentro de minha pele. Como enfiaram isso em mim e eu não senti nada?

- Um cachorro-quente?! Você tá doido menino?! É isso que você come todo dia?! E o dinheiro do seu salário que é pro almoço?! Você gasta com isso?! – é oficializado o momento. Enquanto minha mãe fala, observo a quantidade de líquido que ainda resta na garrafa de soro. Dessa garrafa saem gotas que vão pra outro compartimento menor que vão pro tubo (ou mangueira) e finalmente chegam à agulha enfiada na minha veia. Penso em transfusão sanguínea e inconscientemente me lembro de Aids...DST... Até chegar ao anônimo redimido com quem tive um duelo pelas ruas próximas ao prédio Galeria. Meu Deus! Só pode ter sido ele que me trouxe aqui! Minha mãe ainda pronuncia algumas palavras, e assim eu a interrompo:

- Mãe, quem me trouxe aqui? – pergunto.

- A enfermeira disse que foi um amigo seu! – diz ela, contraindo os lábios pela minha perda de memória e já associando à gravidade da situação.

- Que amigo? – pergunto com o coração batendo forte, desta vez, porém, sem o risco de perder o controle.

- Um tal de Fael! Não conheço esse aí, é da faculdade?! – pergunta ela, mostrando seu lado jornalista.

- Não não, é um conhecido. – digo, sombrio.

- Ele é seu amigo sim, pra ter te trazido aqui deve ser um anjo. Ele tinha carro? Vou chamar a enfermeira pra tirar essa agulha do seu braço, já volto! – diz ela, jogando um beijo no ar e saindo.

Não posso deixar de me sentir feliz. Sou capaz de traçar grande parte da personalidade desse cara e a única coisa que eu não sabia era o seu nome. Rafael, o nome do anjo iluminado que cura. Que ironia. Será que esse é seu nome mesmo ou isso é mais uma de suas atitudes “urbanas”? Minha mãe volta junto com a enfermeira.

- Mãe, você tá com o meu celular? – pergunto.

- Você foi roubado Lippo! Esqueceu disso também?! – diz ela, arrancando risadas da enfermeira.

- Acho que sim! – e me sinto uma peça de tabuleiro pisando na casa “volte pro começo do jogo”.

Passei dois dias afastado do trabalho e da faculdade. Vinícius a essa altura já tinha voltado a falar comigo e ligava constantemente pra minha mãe pra ter notícias sobre mim, o que deixava ela estressadíssima (mais do que já é). A essa altura também já tinha feito vários exames, indo desde ao cardiologista até o nutricionista. Recebi uma dieta especial e fui intimado a fazer algum tipo de atividade física. Minha mãe contou isso ao Vinícius durante uma de suas ligações diárias e ele sugeriu que eu fizesse academia. Sugestão que instantaneamente virou decreto oficial da minha mãe. Argh! Só de pensar em esteiras e halteres eu já me sentia como um vampiro perto de alhos e estacas. O bom disso tudo é que a academia fica próxima de casa e é a mesma que o Vinícius frequenta, ou seja, não me esforçarei pra socializar com algum desconhecido. Durante esses dias, mesmo eu estando de “férias”, não tive tempo para pensar no Rafael e no meu celular, que imagino eu, esteja com ele. Ainda é curioso pra mim chamá-lo pelo nome, o conheci como um estranho e no momento que tive a oportunidade de mudar esse “grau”, eu o tratei como se fosse mais alheio ainda pra mim. Começo a me sentir culpado. Culpado por ter sido tão “Dona Geise” jornalista e não deixado ele se explicar. Culpado por ter usado palavras tão pesadas. Apenas culpado. Ele só me atacou porque eu comecei primeiro. Ah, quer saber? Que se foda! Espero que ele tenha aprendido que não deve pedir desculpas apenas quando chega ao extremo de seus atos. No seu mundo desordeiro de drogas e infrações nem deve existir esse tipo de coisa. Afinal, quem pede perdão por ter sido idiota a não ser que esteja apaixonado? Minha mente volta ao momento que ele apertou o meu pescoço. Deito no sofá e tento me lembrar de cada movimento seu. Nada... Nada... Posso ver dois lábios corados se aproximando. Escuro.

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Comentários

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ele ta afim de você e você faiz isso kkk ta daora 10

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Li todas as partes e achei seu conto fantástico... Bem interessante! Continua logo, nota 10, parabéns!

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Por ironia do destino essa academia que você vai fazer, vai ser a mesma que ele faça ou que ele trabalhe ou algo parecido?

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A história está ficando mais do que interessante, muito bom de ler, sei que postou dois hoje mas poste assim que puder. Por favor.

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Ai ele esta caidinho por você .tinha que pelomenos deixar ele se esplicar e ter pegado um pouco mais leve com ele rsrsrs. mais ta muito bom cara nota 10

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