O Demônio da Depravassão- Cap.02

Um conto erótico de Lucas
Categoria: Homossexual
Contém 1075 palavras
Data: 24/11/2012 16:28:17
Assuntos: Gay, Homossexual, parte 2

Assim que ele se foi a frase apareceu em minha mente: ESTOU SALVO!

No começo gostei, era como um troféu. Como se eu tivesse ganho o prêmio

da sedução perfeita. Sim, a sedução perfeita que muitos dizem ser uma mentira, uma

ficção, era agora um segredo meu, uma conquista e uma satisfação pessoal. Mal

sabia eu que aquelas duas palavras seriam a minha mais perfeita ruína...

Nos dias seguintes a satisfação circulava por todos os poros de meu ser.

Lembro-me de acordar, causar as sandálias e ir verificar se ele tinha morrido,"MORREU" pensei e logo depois vários amigos indo me visitar para dar os pésames da morte de meu "querido". Lembro-me da minha expressão forjada, ao ouvir deles que minha vítima

havia morrido em paz, de morte natural durante o sono. Lembro-me de ter inclusive

lacrimejado! Sem saber, eu era um ator e dos bons, afinal havia conseguido

enganar várias pessoas com minha encenação.

Essas memórias me dão, até hoje, uma sensação de conquista e de superioridade

que estariam completas se não fosse a existência do Demônio da Perversidade.

Engana-se quem pensa que o demônio tem chifres. Está errado quem acredita

que ele anda por aí a espetar as pessoas com o seu tridente. Não sabe nada da

vida quem acha que ele vive embaixo da terra, num inferno de labaredas. É até

engraçado pensar que, para muitos, o “demo” tem pele vermelha e uma cauda

pontiaguda. Sabe por que quem pensa assim está errado? Porque o demônio não

tem aparência nenhuma. Nem corpo, nem nada. Porque o demônio mora dentro

de nós. Dentro de nosso próprio cérebro. Talvez seu sobrenome seja consciência,

talvez seja moral, não sei. Sinceramente, meu espírito acadêmico anda cansado

para tais filosofias. Prefiro chamá-lo apenas de Demônio da Perversidade, a criatura

que me trancafiou nesta cela de condenado.

Durante anos eu vivi em paz e alegria com o meu crime, com a minha riqueza

e com meu parente morto, mas o demônio é ardiloso. Ele sabe esperar, ele

aguarda seu momento de fraqueza e então começa a incomodá-lo. Começou

de leve, aos poucos, com breves insinuações, apenas com lampejos, com a

frase ESTOU SALVO. Mas, com o passar dos dias, das semanas e dos meses, foi

crescendo numa OBSESSÃO perseguidora. Primeiro eram mínimas as vozes, depois seu volume foi aumentando e, por fim, eram várias vozes martelando minha

cabeça repetidamente com o coro:

“ESTOU SALVO”

“ESTOU SALVO”

“ESTOU SALVO”

O meu maior troféu, a minha glória pessoal, a minha grande façanha se tornou

um INCÔMODO sem precedentes. Um demônio perverso que me perseguia

onde quer que eu fosse. Que não me deixava dormir, nem me alimentar, nem

fazer minha higiene. Se eu corresse ele corria atrás, ou melhor, dentro de mim. Se

eu ficasse parado a sensação era de descontrole. Era impossível trabalhar ou me

divertir. Resumindo: era impossível viver!

A cada segundo que passava, o refrão

“ESTOU SALVO”

“ESTOU SALVO”

“ESTOU SALVO”

afundava seus caninos em meu cérebro.

Passei a falar sozinho, para que minha voz me distraísse de minha voz interior.

É óbvio que as pessoas percebiam e se entreolhavam ou me olhavam com

ares críticos. Para não ficar malfalado, passei a cantar, na esperança de que minha

cantoria me trouxesse alívio. Só que nunca fui um bom cantor, além disso tinha

vergonha de cantar na presença de outras pessoas. Minha situação ia piorando a

cada dia. Por isso eu tentava me distrair no campo e na floresta. Lá meus cabelos

e minha barba cresceram, mas depois de algumas semanas a vida campestre não

satisfazia mais o meu ser e não me dava mais paz. Tive que voltar para a cidade.

Era uma tarde quente, estava caminhando pelas ruas do centro, tentando

me distrair das vozes, quando a depravassão dominou minha boca e comecei

primeiro a tirar a roupa no meio da rua e ficar totalmente nú e depois balbuciar lentamente:

— Estou salvo. Estou salvo.

E depois a murmurar baixinho:

— Estou salvo. Estou salvo.

Antes que pudesse reagir eu já estava falando e logo gritando aquelas palavras

curiosas que poderiam pôr em jogo a minha liberdade assim que alguém

me perguntasse:

— Afinal, de que é que você está salvo?

Por isso comecei a correr. Pretendia me esconder novamente com vergonha do que fiz na rua, eu ia me esconder na zona rural da

cidade ou em alguma floresta, onde ninguém me escutasse. Mas o povo ficou curioso e várias pessoas começaram a me seguir em minha gritaria. Alguns otários pensaram

que eu era uma espécie de MESSIAS, algum tipo de líder religioso PREGANDO a

salvação. Sua crença só piorou minha situação, pois ficavam repetindo:

— Ele está salvo!

— Sim, ele encontrou a salvação!

— É isso! Ele diz que está salvo, então ele sabe o caminho!

— Ele é o escolhido!

— Ele é o novo messias...

— Mas não era ele que estava nú um dia na rua?

Essas tolices acabaram atraindo a atenção de mais gente. Algumas pessoas

ficaram revoltadas comigo e também resolveram me perseguir:

— Cala a boca, falso messias!

— Nenhum IMPOSTOR pode tomar o lugar do filho de Deus!

— LINCHEM esse mentiroso — gritavam os que não estavam de acordo com

a falação do primeiro grupo. De minha parte, eu só queria correr e fugir dali. Longe

de ser um enviado de Deus, eu lutava contra meu próprio demônio interior e, após

alguns minutos, contra o cansaço físico. Seria uma situação engraçada, não fosse

tão dramática e perigosa.

É claro que aquela gritaria toda chamou a atenção da polícia. Em pouco

tempo, guardas a pé e a cavalo se infiltravam na multidão. Para um policial, ver

um único homem fugindo de dois grupos numerosos de pessoas só significa uma

coisa: que eu era um malandro que precisava ser detido. A cavalo, um guarda

tomou a dianteira e conseguiu me derrubar. Caí no chão frio e rasguei as calças e

os joelhos. Membros da “minha seita” vieram me socorrer. Gritavam:

— Homens fardados novamente estão maltratando o filho de Deus!

— A história se repete!

— Mas desta vez não vamos permitir que humilhem o filho do Senhor! —

gritavam os novos fanáticos.

Alguns deles partiram para a briga com os policiais. A tropa jogava os cavalos

sobre o povo e a confusão estava armada. Nove outros policiais me cercaram e

algemaram. Com tiros para o alto eles me protegeram do grupo que queria me

adorar e do grupo que queria me linchar. Por alguns instantes, meus “seguidores”

tentaram me libertar da polícia:

Continua...

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Comentários

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Parece que eu fui mais uma vez imcompreendido como crítico nesse site, não precisava remover meu comentário, desculpe se alguma vez eu ofendi você ou seu conto, só fiz uma brincadeira e fui sincero, mas desta vez vou te dar 9 ,e porquê não te dou 10? porque seu texto está mal estruturado, e também porque desta vez eu gostei, gosto dos temas abordados, concordo com você , o demônio não existe, ele está na nossa cabeça, nós somos eles, assim como Deus também não existe, e também é coisa da nossa cabeça .Desta vez eu te paranebenizo pelo conto, fique com os meus mais sinceros parabéns!

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Menino discordo de você no tocante a existência do D******, já vi coisas nessa vida que você duvidaria, não sou uma pessoa fanática em religiões como você pode pensar, mas depois do que presenciei, não duvidarei jamais que ele e principalmente Deus, existam. Seu conto é muito interessante, a loucura do personagem mostrada por ele mesmo é um diferencial, uma leitura pra fugir da rotina!!!! 10!

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