Eu Encontrei Você (Num Lugar Sem Esperança) - Cap. 9

Um conto erótico de Th£o
Categoria: Homossexual
Contém 2606 palavras
Data: 23/11/2012 19:55:00

- Então garoto, vai abrir queixa ou não? – pergunta o delegado, inquieto por ainda não ter resolvido esse “caso”.

Olho para Rafael, que está fitando suas mãos. Ele bem que tenta, mas não consegue esconder o nervosismo. Minha garganta está seca e tenho a impressão de que se falar vou arranhá-la. A palavra que sai a seguir fere... Depois sara.

- Não... – falo, numa linha tênue entre sussurro e zumbido.

- O quê?! – pergunta o delegado, incrédulo. Ao falar ele pigarreia, arrancando uma risadinha de Rafael.

- É... Hã... Eu já tenho meu celular de volta... Não quero levar isso adiante e... Éh... Se isso... For... Como eu posso dizer... Longe demais... Eu vou ter que ficar vindo aqui... Depondo... É muito chato! – estou sapateando internamente pelo meu tom pouco convincente, mas ao mesmo tempo sólido.

O delegado me olha de um jeito estranho, como se estivesse me analisando e prestes a dizer alguma coisa. De repente ele balança a cabeça e sorri:

- Entendo... Bem, você não iria frequentar a delegacia como pensa... Iria precisa vir mais duas ou três vezes aqui, mas tudo bem... Acho que o nosso queridão aqui já aprendeu a lição e não vai mais sair por aí pegando o celular das pessoas, né Rafael? – pergunta o delegado se virando para Rafael, que corresponde revirando os olhos.

Aperto a mão do delegado, que devolve o meu celular e saio da sala em seguida. Noto que Rafael me acompanha com os olhos, mas eu não correspondo. A essa altura só quero sair do perto dele e do campo elétrico que ele emana. Minhas bochechas estão ardendo de adrenalina... E medo. Lembro que agora terei que enfrentar a parte mais difícil desse “pseudo-julgamento”: minha mãe.

- O quê?! Você não abriu queixa?! Deixou aquele marginal ser solto?! – minha mãe está gritando no engarrafamento fenomenal que se formou após, acredito eu, um possível acidente mais a frente. O policial que está nos levando pra casa se assusta. Tinha conseguido a proeza de segurar essa informação até agora, longe da delegacia. Obviamente não guardaria isso até em casa.

- Sim mãe... É melhor... Não quero ficar indo até lá só por causa disso. – respondo, procurando o tom mais sensato possível.

- Por causa “disso”, Lippo?! Aquele pivete rouba teu celular e você evita que ele seja preso?! Já pensou em quantas pessoas ele já pode ter assaltado por aí ou até feito coisa pior?! – grita ela, virando-se na cadeira do passageiro e ficando numa posição desconfortável só para me fitar. Lembro-me de Rafael mostrando um estilete... Faca... Para a mulher no ônibus, ao passo que me recordo do jeito que nos enfrentamos no dia em que passei mal na rua. Minha mãe está usando o seu poder de convencimento que só se aprende nas faculdades de Jornalismo.

- É. Eu sei. – digo, olhando para baixo.

- Então? Você quer que ele faça isso com outras pessoas, ou até mesmo com você, Lippo... De novo?!

Vinícius já usou esse argumento, mãe, e eu já sei como sair dele.

- Tá mãe. Pode ser... Mas ele estava com o meu celular... Ele não vendeu. Quantos ladrões saem por aí contando que roubaram seu celular? Vamos esquecer isso! Por favor. – dessa vez estou sapateando mais feliz internamente com uma coreografia de “Singin’ in the Rain”.

- Ok Lippo. Essa sua bondade... Abriu o sinal, policial! – diz ela, interrompendo a frase pra repreender o policial que está atento a nossa conversa.

Chegamos em casa quase meio-dia. Minha mãe anuncia que vai para o quarto tirar um cochilo, pois está sem fome e diz pra eu esquentar a comida que está na geladeira. Percebo que ela está decepcionada comigo. Fico com a consciência pesada. Há muito tempo não erro com ela e sua expressão triste me deixa abalado. O casamento com o meu pai não deu certo e eu sempre me empenhei em não lembrar qualquer sensação ruim que ela tenha sentido. Olho a bina do telefone. Há duas ligações da casa de Vinícius. Meu corpo gela e minhas mãos me sabotam rediscando o número (sempre fiz isso... Porém, dessa vez não queria). Penso “idiota”, e antes que eu coloque o telefone no lugar uma voz responde prontamente do outro lado da linha:

- Alô? Lippo? – diz ele, como se estivesse esperando ansiosamente o meu telefonema.

- Éh... Oi... Vinícius. – respondo pausadamente.

- Oi... Éh... Eu passei na sua casa hoje... Você tava dormindo... Liguei duas vezes depois e ninguém atendeu, pra perguntar se podia passar na sua casa. – sua voz oscila entre a timidez e uma naturalidade falsa. As coisas estão mudando.

- É... Eu fui à dele... Quer dizer... Saí com a mamãe. – respondo, tentando “atrasar” o inevitável.

- Hum... Éh... Você já entrou no twitter? Eu deixei uma DM pra você. – diz ele, tossindo depois de falar a última palavra.

- Não... Vou entrar agora.

- Hum... Então tá. Quer beber alguma coisa hoje à noite, antes de eu ir trabalhar? Eu posso passar na sua casa... Mais tarde... Se você quiser... – pergunta ele, diminuindo a entonação em cada intervalo.

Admiro a coragem e o desprendimento de Vinícius. Até eu, que sempre fui muito seguro das minhas preferências sexuais, apesar de nunca ter contado pra ninguém, numa situação dessas estaria perdido. Ele está inseguro, é óbvio, mas focado. Peraí? Focado em quê?! Respondo.

- Por mim tudo bem... Que horas?

- Às nove, tá bom pra você?

- Sim.

- Então tá... Éh... Tchau.

- Tchau.

Coloco o telefone no lugar. Sou capaz de ouvir as batidas do meu coração abafadas pela camisa. É muita emoção pra um dia só, sendo que ainda não acabou. Ele disse que deixou uma DM pra mim no Twitter. Preparo os suplementos e o ambiente. Ligo o ar-condicionado no quarto. Cozinha. Esquento a comida. Quarto. Ligo o computador. Google Chrome. Abas. Twitter e Facebook, respectivamente. Vejo primeiro o Facebook. Quatro novas solicitações de amizade. Duas são de colegas da faculdade. Uma é afim do Vinícius que já me pediu pra aceitá-la pra falarmos sobre ele. Blé. A outra é filha da vizinha que falou comigo no ônibus um dia desses. Como ela descobriu meu nome e meu Facebook? Stalker! Recuso. As outras duas solicitações são de colegas que entraram agora na livraria. Aceito. Twitter. Sinto tambores rufando internamente. Clico em “Mensagens Diretas”. Lá está:

“Eu não sei como aquilo aconteceu, só sei que gostei muito. A gente precisa conversar ou então nunca mais te dou carona! Abraços.”

Ele conseguiu resumir em menos de 140 caracteres o que sentiu. Estou batendo palmas e gritando “Bravo!” pra ele internamente. Nunca pensei que Vinícius pudesse tomar a iniciativa de tudo, se é que isso pode ser entendido como uma iniciativa. Pego o meu celular, dessa vez o que foi tomado de mim. Escrevo:

“Antes de tudo, recuperei meu número e meu celular (percebeu?) e por favor, te peço que só fale disso hoje à noite, quando estivermos bêbados kkkk. Em relação ao que aconteceu ontem... Eu não sei explicar. Eu gostei. Foi inesperado, mas foi legal. Só espero que isso não afaste a gente. Vou dormir agora. Me acorde às oito kk. Abraços.”

Aperto em enviar. Ele responde minutos depois:

“QUE HISTÓRIA É ESSA? Só não ligo agora pra saber disso porque estou ocupado demais pensando na minha playlist de hoje. E quanto a ficarmos bêbados. Não vou ficar, quero ficar sóbrio... E você sabe o porquêPorque eu posso beber de graça no meu trabalho kkkkk! Agora me deixa em paz, até mais tarde.”

Como em qualquer situação embaraçosa, a escrita é o melhor meio para se expressar, ou pelo menos tentar transparecer algo. Bom, pelo menos por enquanto, o assunto “mal-estar com Vinícius” está resolvido. Minha comida está esfriando. Como, depois hiberno.

Acordo com o meu celular tocando. Só existe uma pessoa que me liga enquanto estou dormindo:

- Lippo, você ainda tá em casa?

Esfrego os olhos, são 18:30. Dormi mais do que durmo numa noite. Minha mãe repete a pergunta:

- Lippo? Tá me ouvindo?

- Sim mãe... Tô ouvindo... Tô sim... – respondo, ainda sonolento.

- Eu tive que vir aqui no instituto rapidinho – penso “sabia que ela não iria aguentar um dia inteiro” – se você for sair, fecha a janela porque eu acho que vai chover.

Olho para a janela. Realmente, o céu está bem escuro. Comemoro o fato de o Vinícius vir de carro me pegar... Ou melhor... Me buscar para sairmos. Respondo:

- Ah, tá mãe... Eu fecho, pode deixar...

- Tá bom meu filho, até mais tarde então.

- Tchau mãe, beijo.

Saio do quarto. Fecho a janela. Volto pra cama. Durmo de novo.

Sou acordado novamente pelo celular. É uma mensagem de Vinícius:

“ACORDAAAAA que eu já estou me arrumando”.

Recuso-me a responder, estou atrasado demais. Levanto e vou para o banheiro. 20:15. Demoro pra escolher uma calça jeans escura, uma blusa vermelha e outra camisa com mangas compridas pra vestir por cima. Me visto. 20:50. Estou calçando meu épico all-star quando o celular vibra.

“Já to aqui na frente. Quer que eu te traga no colo?”

Sinto um frio na barriga. Será que ele falou isso de brincadeira como fazíamos antes ou dessa vez ele está falando isso em tom de brincadeira, porém com algum fundo de verdade. Estremeço. Saio do quarto pensando que outras prováveis brincadeiras ele pensou para serem feitas durante a noite. Olho pela janela da sala. Ele faz um engraçado sinal formando um olho com os dedos. Rio. Tranco o portão e saio. Entro no carro.

- Até que enfim! – diz ele num tom peculiar que há algum tempo eu não ouvia.

- Marcamos nove horas, ainda faltam quatro minutos. – digo, colocando o cinto de segurança.

- Eu quis vir mais cedo, algum problema?! – pergunta ele, ligando o carro.

- Sim, eu não passei perfume. – respondo, fazendo nós dois gargalharmos.

- Tem o do meu pai aí no porta-luvas.

- Não quero ficar com o seu cheiro do seu pai.

- O perfume é bom... Stilleto Silver... Eu uso ele também.

- Não quero ficar com o seu cheiro... – digo, em seguida me arrependo da brincadeira. Estou com medo de dar uma liberdade antes da hora, seja lá onde estamos indo com isso. Ele olha pra mim, incrédulo. Fico sem ação, minha boca seca. Ele ri.

- Hahahaha, você já ficou com o meu cheiro, esqueceu?! – diz ele, mostrando dentes brancos e bem alinhados. Ele é realmente muito bonito.

- Hahaha, não. Quer dizer... – meu cérebro não consegue formular uma frase. É a deixa que ele queria. Ele pisa no freio e desliga o carro. Olha pra mim.

- “Quer dizer”? Como assim? – ele está virado pra mim com o braço apoiado na janela. Em seguida o tira e aperta no botão a sua esquerda para as janelas subirem. Sinto-me num abatedouro. Olho pra ele sério... Assustado... Acessível. Ele continua – Quer lembrar?! – sua fala sai mais como um sussurro, algo muito sexy. E como da outra vez, ele puxa o meu pescoço e me beija. Dessa vez mais forte, mais intensamente. Ele já me conhece... Conhece a minha boca... A minha língua. Puxa a minha cabeça pra trás pelo cabelo e invade o meu pescoço. Sinto a sua barba que está nascendo roçando o meu pescoço. Seu shampoo é bom e o seu cabelo é macio, fazendo cócegas em meu rosto. Vou ao céu. Nunca senti algo assim. De repente ele pega a minha mão e a coloca em cima do membro dele por cima da calça. Duro. Quente. Ele sussurra no meu ouvido – Tá sentindo? É assim que você tá me deixando ultimamente. – e ele continua, dessa vez voltando pra minha boca. Ele puxa minha cabeça pra ele, levando sua língua ainda mais fundo. Nos soltamos e ele diz – Vem pra cá, sobe em mim, senta no meu colo – suas palavras saem arfando, porém são firmes, sensuais. Subo e fico de frente pra ele. Lembro que estamos numa esquina a poucos metros da minha casa. Ele volta a minha atenção pro que estamos fazendo. – Isso!...Fica fazendo assim... Tipo rebolando... – rio do “tipo rebolando” e obedeço, o que o faz revirar os olhos de prazer. Posso sentir o membro dele duro embaixo de mim, é uma sensação indescritível. Enquanto faço isso ele me beija, agora mais calmamente. O perigo e o prazer... Juntos. Pelo vidro de trás, vejo pessoas se aproximando. Saio imediatamente do colo dele e volto pro banco do passageiro. Ele se assusta.

- O que foi Lippo? – pergunta ele, espantado.

Não posso deixar de notar o volume que se formou na sua calça.

- Tem gente vindo Vinícius!- digo, tentando colocar meus hormônios no lugar. Ele olha pra trás e balança a cabeça, frustrado.

- É... É melhor a gente parar, é muito perigoso aqui! – diz ele, ligando o carro.

- Nossa, que gênio você é! Acho melhor a gente ir beber pra esfriar um pouco. – digo, apertando o botão para abrir a minha janela.

- Você é que pensa. – responde ele, dando uma piscadinha.

Obviamente, não tocamos sobre o assunto “nós” a noite toda, já que encaminhamos tudo antes mesmo de conversarmos. Durante as nossas idas ao banheiro, ele sempre tentava algo, porém eu estava inseguro demais pra fazer qualquer coisa em um local público. Algumas mulheres que passavam na mesa olhavam para ele. Duas até o reconheceram da boate que toca. Ao falar com elas ele sempre fazia questão de não estender a conversa, me fitando o tempo todo, pensando que eu pudesse estar com ciúmes. Não sei se estou sentindo. Acho que ainda não. Bebemos três caipirinhas e duas ices. Já estamos felizes.

- Vamos embora? Preciso trabalhar!

- Ok... Ok... Vamos!

Pagamos a conta e saímos. Ironicamente, ele vai até a outra porta e a abre como um “chofer”. Rio e entro. Durante o caminho até em casa conversamos sobre tudo, e entramos no assunto sexo. Ele me conta que já transou com um cara depois de ter tocado em uma festa. Ele estava bêbado, ou seja, permissível. Brinco:

- Quer dizer que quando você está bêbado transa com todo mundo?! – pergunto rindo.

- Não... Nunca mais vou fazer isso. A partir de hoje só vai acontecer quando estiver sóbrio e só vai ser com quem eu quiser! – ele diz olhando pra mim, depois acaricia meu rosto.

Chegamos em casa e eu estou com vontade de vomitar. Não conto isso pra ele, o clima está sexy demais pra ser cortado com um comentário desses. Ele desliga o carro.

- E então? Tchau né? – diz ele, afagando meu cabelo

- Tchau... – digo, tentando ser o mais breve possível.

- Ligo pra você amanhã, ok?

- Sim, se você não estiver num quarto de motel por aí?! – respondo, impressionado por ainda conseguir fazer uma piada com um monstro se remexendo dentro do meu estômago.

- Hahaha, eu mando a recepcionista ligar pra você! – diz ele.

Rio e abro a porta, respirando fundo. Quando ia sair, ele me puxa.

- Ei... espera... – e me dá outro beijo, o que faz o monstro estomacal se acalmar um pouco. Ao terminar, ele me dá um selinho. Seus lábios são moles e macios.

- Amanhã te ligo! – ele dá uma piscadinha e eu saio do carro. Ele sai em seguida. Minha cabeça está girando de enjoo e eu preciso chegar ao banheiro em menos de dois minutos ou então minha mãe terá que lavar a calçada com mais água sanitária amanhã. Procuro a bendita chave do portão. Nesse momento percebo que alguém me observa... Se aproxima... Sinto medo... Não é bem isso... Continua se aproximando... Um arrepio que vai da ponta do pé chega as minhas bochechas, me fazendo deixar as chaves caírem. Me agacho e pego o molho. Uma voz surge... Ele está debaixo do único poste que fica ligado durante a noite na minha rua. Um chuvisco fino começa a cair.

- Felipe?!

Ele tem o dom de atrair as luzes.

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Comentários

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Nossa você ta bem em, dois disputando seu coraçao agora só falta a escolha...

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Cada vez melhor muito bom continua logo

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muito bom, incomparavelmente melhor q o primeiro. obrigado pela leitura.

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Realmente, a história só tem crescido. Parabéns, 10

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O que tenho a dizer dessa história? Vou confessar que depois do primeiro conto, eu estava gostando dessa história, mas o conto 9 me deixou arrepiado. Esse conto foi mais envolvente que os outros. Maravilhado com esse. Esse merece um 10, e a história tá seguindo um ótimo rumo. E eu tô torcendo para o Rafael.TimeRafael'

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Vc está me surpreendendo a história tomou rumos que eu não imaginei que fosse tomar, mais ainda assim está ótimo, continua maravilhoso. Por favor continua logo.

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