Eu Sou o Numero Quatro... Capitulo Quatro

Um conto erótico de John
Categoria: Homossexual
Contém 4550 palavras
Data: 03/09/2012 00:02:24

ACORDO ANTES DO DESPERTADOR TOCAR. A CASA ESTÁ AREJADA E SILENCIOSA. TIRO minhas mãos de debaixo da coberta. Estão normais, sem luz, sem brilho. Levanto-me da cama e vou até a sala de estar. Henri está na cozinha, sentado à mesa, lendo o jornal local e bebendo café.

— Bom dia — ele diz. — Como se sente?

— Melhor impossível — respondo.

Sirvo-me de cereal em uma tigela e me sento em frente a ele.

— O que vai fazer hoje? — pergunto.

— Resolver coisas, basicamente. Estamos ficando sem dinheiro. Estou pensando em fazer uma transferência bancária.

Lorien é (ou era, dependendo de como se examina a questão) um planeta rico em recursos naturais. Alguns desses recursos são metais e pedras preciosas. Quando partimos, cada Cêpan recebeu um saco cheio de diamantes, esmeraldas e rubis para vender quando chegasse à Terra.

Henri vendeu tudo e depositou o dinheiro em uma conta bancária no exterior. Não sei e nunca pergunto quanto temos lá. Mas sei que é suficiente para umas dez vidas, se não mais. Henri faz retiradas dessa conta uma vez por ano, mais ou menos.

— Mas não sei... — prossegue ele. — Não quero me afastar muito, caso aconteça alguma coisa hoje.

Não quero supervalorizar o dia de ontem, então faço um gesto de desdém.

— Vá buscar o dinheiro. Eu vou ficar bem.

Olho pela janela. A manhã se aproxima, banhando tudo com uma luz pálida. A caminhonete está coberta de orvalho. Há muito tempo não vivemos um inverno. Eu nem tenho casaco e quase todos os meus suéteres agora estão pequenos.

— Parece que está frio lá fora — comento. — Depois poderíamos ir comprar algumas roupas...

Ele assente.

—Estive pensando nisso ontem à noite, por isso preciso ir ao banco.

—Então vá — eu digo. — Nada vai acontecer hoje.

Termino de comer meu cereal, deixo a vasilha suja na pia e vou tomar banho. Dez minutos depois estou vestido com jeans e camiseta térmica preta, as mangas arregaçadas até o cotovelo. Eu me olho no espelho, depois confiro minhas mãos. Estou calmo. Preciso continuar calmo.

No caminho para a escola Henri me dá um par de luvas.

— Não se esqueça de carregá-las o tempo todo. Nunca se sabe. Eu as guardo no bolso de trás da calça.

— Acho que não vou precisar, estou me sentindo muito bem.

Os ônibus estão enfileirados em frente à escola. Henri para na lateral do prédio.

— Não é bom que fique sem telefone — ele diz. — Muitas coisas podem acontecer.

— Não se preocupe. Logo eu o terei de volta.

Ele suspira e balança a cabeça.

— Não faça nenhuma burrada. Eu volto no final do dia.

— Não vou fazer nada — digo, já saindo da caminhonete.

Ele vai embora.

Lá dentro, os corredores estão movimentados, os alunos abrindo e fechando armários, conversando, rindo. Alguns olham para mim e cochicham. Não sei se é por causa do confronto ou porque me tranquei na sala escura. É bem provável que estejam cochichando sobre os dois fatos. A escola é pequena, e em colégios pequenos todo mundo fica sabendo de quase tudo imediatamente.

Quando chego à entrada principal, viro à direita e encontro meu armário. Está vazio. Tenho quinze minutos antes que a aula de redação para o segundo ano comece. Passo pela sala só para ter certeza de que sei onde fica e depois continuo até a secretaria. A funcionária sorri ao me ver entrar.

— Oi — eu digo. — Perdi meu celular ontem e imaginei que alguém possa tê-lo entregado ao setor de achados e perdidos.

Ela balança a cabeça.

— Não. Lamento, mas não recebemos nenhum telefone.

— Obrigado.

Saio da secretaria e não vejo Mark em lugar nenhum. Escolho uma direção e começo a andar. As pessoas ainda me olham e cochicham, mas isso não me incomoda. Eu o vejo uns quinze metros à minha frente. A descarga de adrenalina é imediata. Olho para minhas mãos. Estão normais. Fico preocupado com a possibilidade de elas se acenderem, e é justamente essa inquietação que pode causar isso.

Mark está de braços cruzados, encostado em um armário, no meio de um grupo de cinco caras e duas meninas, todos conversando e rindo. Tyler está sentado no parapeito de uma janela a uns cinco metros dali. Hoje, de novo, ele está marcante, com os cabelos pretos presos e repicados, vestido com calça jeans um Braddock_Alborg nos pés e uma camisa regata da hollister, numa mão segurava a Blusa de frio. Ele está lendo um livro, mas levanta a cabeça quando caminho na direção do grupo. Parecia fora de foco um cara vestido assim com aquele porte estar lendo arrisquei um sorriso leve.

Paro bem perto da rodinha, olho para Mark e espero. Ele percebe minha presença depois de uns cinco segundos.

— O que você quer? — pergunta.

— Você sabe o que eu quero.

Nós nos encaramos. O grupo à nossa volta aumenta. Agora são dez pessoas, e logo vinte alunos nos observam. Tyler se levanta e se aproxima da roda. Mark veste o agasalho do time, e os cabelos pretos estão ajeitados cuidadosamente para dar a impressão de que ele saiu da cama diretamente para dentro da roupa.

Ele se afasta do armário e caminha em minha direção. Para a poucos centímetros de mim. Meu peito e o dele quase se tocam, e o perfume forte de sua colônia invade minhas narinas. Ele deve medir um metro e oitenta e cinco, alguns centímetros a mais do que eu. Temos o mesmo porte. Mas ele não sabe que sou feito de uma matéria diferente da dele. Sou mais rápido e muito mais forte. Pensar nisso desenha um sorriso confiante em meu rosto.

— Acha que consegue ficar na escola por mais tempo hoje? Ou vai fugir correndo de novo, como uma mulherzinha?

Os risos se espalham.

— Acho que vamos ver, não é?

— Sim, vamos ver — ele responde, chegando um pouco mais perto.

— Quero meu celular de volta — anuncio.

— Não estou com seu celular.

Eu balanço a cabeça sem desviar os olhos dos dele.

— Duas pessoas viram você pegar o telefone — minto.

Ele hesita por uma fração de segundo, o suficiente para eu ter certeza de que deduzi corretamente.

— Ah, é? E se fui eu? O que vai fazer?

Agora deve haver uns trinta alunos à nossa volta. Não tenho dúvida de que dez minutos depois que a primeira aula começar toda a escola já vai estar sabendo do que aconteceu ali.

— Estou avisando — eu falo. — Você tem até o final do dia.

Viro as costas e saio.

— Ou você vai fazer o quê? — ele grita atrás de mim.

Não me dou o trabalho de aceitar a provocação. Ele que imagine a resposta. Meus punhos estão cerrados, e percebo que confundi adrenalina com nervosismo. Por que eu estava tão nervoso? Pela imprevisibilidade da situação? Por ser a primeira vez que enfrento alguém? Pela possibilidade de minhas mãos começarem a brilhar? Provavelmente, pelos três motivos.

Vou ao banheiro, entro em um reservado vazio e tranco a porta. Abro as mãos. Percebo um brilho sutil na palma direita. Fecho os olhos, suspiro e me concentro em respirar profundamente. Um minuto depois o brilho ainda está ali. Balanço a cabeça. Não pensei que o Legado fosse tão sensível. Continuo no reservado. Uma camada fina de suor frio cobre minha testa, minhas mãos estão quentes, mas, felizmente, a esquerda ainda parece normal. As pessoas entram e saem do banheiro, e eu permaneço no reservado, esperando. A luz ainda brilha. Finalmente, ouço o sinal anunciando o início do primeiro tempo de aula, e o banheiro fica vazio.

Balanço a cabeça, chateado, e aceito o inevitável. Estou sem celular e Henri está a caminho do banco. Somos apenas minha estupidez e eu, não posso culpar ninguém. Pego as luvas no bolso de trás da calça e as calço. Luvas de couro para jardinagem. Eu pareceria menos idiota se estivesse usando sapatos de palhaço e calça amarela. Vou mesmo passar despercebido... Chego à conclusão de que devo deixar Mark para lá. Ele vence. Pode ficar com o celular. À noite Henri e eu compraremos outro.

Saio do banheiro e percorro o corredor vazio até minha sala de aula. Todos olham para mim quando entro, e depois para as luvas. É inútil tentar escondê-las. Pareço um idiota. Sou um alien, tenho poderes extraordinários, com outros ainda por vir, e posso fazer coisas com que um humano jamais sonharia, e ainda assim pareço um idiota.

Eu me sento no meio da sala. Ninguém fala comigo, e estou agitado demais para ouvir o que o professor está dizendo.

Quando o sinal toca, junto minhas coisas, guardo-as na mochila e penduro as alças no ombro. Ainda estou com as luvas. Ao sair da sala, levanto um pouco a luva direita para espiar a palma da mão. Continua brilhando.

Percorro o corredor com passos firmes. Respiro devagar. Tento não pensar em nada, mas não funciona. Quando entro na sala da aula seguinte, Mark está sentado no mesmo lugar de ontem, com Sarah a seu lado. Ele me olha com sarcasmo. Tenta se fazer de valente e nem nota minhas luvas.

— Qual é, fujão? Soube que a equipe de corrida está precisando de gente nova.

— Deixe de ser idiota — diz Tyler ao lado de Sarah.

Olho para ele ao passar, para os olhos azuis que fazem eu me sentir tímido e constrangido, que fazem meu rosto queimar. O lugar onde me sentei ontem está ocupado, por isso vou para o fundo da sala. A sala fica lotada, e o garoto da véspera, aquele que me preveniu sobre Mark, senta-se a meu lado. Ele está usando outra camiseta preta com o logotipo da Everlast no meio, calça camuflada e tênis Nike. Tem cabelo louro-claro, despenteado, e olhos castanho-claros parecerem enormes. Ele pega um bloco de anotações cheio de diagramas de constelações e planetas. Olha para mim sem sequer tentar esconder que está me encarando.

— E aí? — pergunto.

Ele dá de ombros.

— Por que está usando luvas?

Abro a boca para responder, mas a Sra. Burton começa a aula. Durante boa parte dela, o garoto à meu lado desenha imagens que parecem ser sua interpretação da aparência dos marcianos. Corpos pequenos; cabeça, mãos e olhos grandes. As mesmas representações estereotipadas que às vezes são mostradas nos filmes. Abaixo de cada desenho, ele escreve seu nome em letras pequenas: SAM GOODE. Ele percebe que estou olhando, e desvio o olhar.

Enquanto a Sra. Burton fala sobre as sessenta e uma luas de Saturno, eu olho para a nuca de Mark. Ele está debruçado sobre a mesa, escrevendo. Depois levanta os ombros e passa um bilhete para Tyler. Ele o devolve sem ler. Isso me faz sorrir. A Sra. Burton apaga as luzes para exibir um vídeo. Os planetas projetados na tela na frente da sala me levam a pensar em Lorien. Ele é um dos dezoito planetas habitados do universo. A Terra é outro. Mogadore, infelizmente, é mais um.

Lorien. Fecho os olhos e me permito lembrar. Um planeta velho, cem vezes mais velho do que a Terra. Cada problema que a Terra enfrenta hoje — poluição, superpopulação, aquecimento global, falta de alimento —, tudo isso Lorien já enfrentou. Em dado momento, vinte e cinco mil anos atrás, o planeta começou a morrer. Isso aconteceu muito antes da habilidade de viajar pelo universo, e o povo de Lorien foi forçado a agir para sobreviver. Lentamente, mas de maneira firme, eles assumiram o compromisso de garantir que o planeta se tornasse para sempre autossustentável, mudando sua maneira de viver, dispensando tudo o que era prejudicial — armas e bombas, substâncias químicas tóxicas, poluentes —, e com o tempo o dano começou a ser revertido. Com o benefício da evolução, ao longo de milhares de anos, certos cidadãos — a Garde — desenvolveram poderes a fim de proteger e ajudar o planeta. Era como se Lorien houvesse recompensado meus ancestrais pela previdência, pelo respeito.

A Sra. Burton acende as luzes. Eu abro os olhos e olho para o relógio. A aula está quase acabando. Sinto-me calmo outra vez, e havia esquecido completamente minhas mãos. Respiro fundo e abro o punho da luva da mão direita. A luz se apagou! Eu sorrio e removo as luvas. De volta ao normal. Ainda tenho seis aulas hoje. Preciso permanecer em paz até a última.

A primeira metade do dia transcorre sem qualquer incidente. Continuo calmo e não tenho outros encontros com Mark. No almoço me sirvo do básico, depois encontro uma mesa vazia no fundo do refeitório. Quando estou na metade de um pedaço de pizza, Sam Goode, o garoto da aula de astronomia, senta-se na minha frente.

— Vai mesmo brigar com Mark depois da aula? — ele pergunta.

Eu balanço a cabeça.

— Não.

— É o que as pessoas estão dizendo.

— Estão enganados.

Ele dá de ombros e continua comendo. Um minuto depois, pergunta:

— Onde foram parar as luvas?

— Tirei. Minhas mãos não estão mais frias.

Ele abre a boca para falar alguma coisa, mas uma almôndega gigante, que tenho certeza de que foi arremessada em minha direção, acerta-o na nuca. Seus cabelos e ombros ficam cobertos de pedaços de carne e de molho de espaguete. Um pouco disso tudo respinga em mim. Estou começando a me limpar quando uma segunda

almôndega voadora me acerta no rosto. Ohs ecoam pelo refeitório.

Eu me levanto e limpo o rosto com um guardanapo, sentindo a raiva tomar conta de mim. Nesse instante eu nem me importo com minhas mãos. Elas podem brilhar como o sol, e Henri e eu podemos ir embora antes do final do dia, se for necessário. Mas não vou deixar passar mais essa. Não mesmo! Achei que houvesse acabado depois do confronto do início do dia, mas agora...

— Não — Sam me aconselha. — Se lutar contra eles, nunca mais terá paz.

Começo a andar. O silêncio que domina o refeitório é impressionante. Cem pares de olhos estão fixos em mim. Meu rosto é uma máscara de fúria. Há sete pessoas na mesa de Mark, todos rapazes. Os sete se levantam quando me aproximo.

—Algum problema? — um deles me pergunta. O garoto é grande, e tem o porte de um atacante. Tufos de cabelos vermelhos crescem em seu rosto e no queixo, como se ele tentasse cultivar uma barba. O efeito é uma aparência meio suja. Como todos os outros, ele também veste um agasalho do time. De braços cruzados, ele se coloca à minha frente.

—Você não tem nada a ver com isso — digo.

—Vai ter que passar por cima de mim para chegar nele.

—Vou passar, se não sair da minha frente.

—Não acredito que consiga — ele me desafia.

Empurro o joelho diretamente entre suas pernas. O ar fica preso na garganta do grandalhão, e ele se dobra para a frente. Todos no refeitório emitem exclamações de choque e pavor.

—Eu avisei — digo, passando por cima dele para chegar em Mark. Quando estou quase na frente dele, sou agarrado por trás. Viro-me com a mão fechada para dar o primeiro soco, mas, no último segundo, reconheço o funcionário do refeitório.

—Já chega, garotos.

—Veja o que ele fez com Kevin, Sr. Johnson — Mark se queixa. Kevin ainda está no chão, segurando as partes ofendidas. Seu rosto está vermelho como uma beterraba. — Mande-o para a diretoria.

—Cale a boca, James. Os quatro, fora daqui. Não pense que não vi quando arremessou aquelas almôndegas. — Ele olha para Kevin no chão. — Levante-se.

Sam aparece do nada. Ele tentou limpar a sujeira dos ombros e do cabelo. Os pedaços maiores de carne desapareceram, mas o molho só se espalhou. Não sei bem o que ele faz ali. Examino minhas mãos, pronto para fugir ao primeiro sinal de luz, mas, para minha surpresa, está apagada. Por causa da urgência da situação, eu me comportei sem o nervosismo prévio? Não sei.

Kevin se levanta e olha para mim. Ele está tremendo, ainda com dificuldades para respirar. E agarra os ombros do garoto ao lado dele para se apoiar.

— Você vai se arrepender — ele me ameaça.

— Duvido — respondo. Ainda estou carrancudo e continuo coberto de comida. Nem penso em me limpar.

Nós todos nos dirigimos à diretoria. O Sr. Harris está sentado atrás de sua mesa, almoçando alguma comida de micro-ondas, com um guardanapo preso no colarinho para proteger a camisa.

— Lamento interromper, mas tivemos um problema durante o almoço. Tenho certeza de que os rapazes aqui vão gostar de dar as explicações — resume o funcionário do refeitório.

O Sr. Harris suspira, retira o guardanapo do colarinho e o joga na lata de lixo. Com a outra mão, empurra o almoço para um canto da mesa.

— Obrigado, Sr. Johnson.

O Sr. Johnson se retira, fechando a porta da sala ao sair, e nós quatro nos sentamos.

— Então, quem quer começar? — o diretor pergunta em tom irritado.

Eu permaneço em silêncio. Os músculos na mandíbula do Sr. Harris estão tensos. Olho para minhas mãos. Ainda apagadas. Mesmo assim, apoio as palmas na calça jeans, só por precaução. Após dez segundos de silêncio, Mark começa.

—Alguém atirou uma almôndega nele. Ele pensa que fui eu, por isso deu uma joelhada nas bolas de Kevin.

—Modere a linguagem — o Sr. Harris o previne. Depois olha para Kevin. — Está tudo bem?

Kevin move a cabeça em sentido afirmativo, com o rosto ainda vermelho.

— Então, quem jogou a almôndega? — o Sr. Harris me pergunta.

Eu nada digo, ainda furioso, irritado com todo o episódio. Respiro fundo tentando me acalmar.

— Não sei — respondo. Minha raiva atinge novos níveis. Não quero lidar com Mark por intermédio do Sr. Harris. Prefiro resolver a situação sozinho, longe da sala do diretor.

Sam me olha surpreso. O Sr. Harris levanta as mãos num gesto frustrado.

— Muito bem, então, por que diabos estão aqui?

— Essa é uma boa pergunta — diz Mark. — Estávamos apenas almoçando.

Sam se manifesta.

— Mark jogou a almôndega. Eu vi, e o Sr. Johnson também viu.

Eu olho para Sam. Sei que ele não viu nada, porque estava de costas para os garotos quando a primeira almôndega foi arremessada, e na segunda ele estava ocupado, tentando se limpar. Mas fico impressionado com o que ele disse, por tomar partido e ficar à meu lado, mesmo sabendo que isso o põe em risco com Mark e os amigos dele. Mark já o encara com ar ameaçador.

— Por favor, Sr. Harris — Mark suplica. — Amanhã tenho a entrevista para o Gazette, e o jogo na sexta-feira. Não tenho tempo para me preocupar com essas bobagens. Estou sendo acusado de algo que não fiz. É difícil me manter focado com essa merda toda acontecendo.

—Olhe a boca! — grita o Sr. Harris.

—É verdade.

— Acredito em você — o diretor declara e suspira profundamente. Ele olha para Kevin, que ainda tenta recuperar o fôlego. — Precisa ir à enfermaria?

— Eu vou ficar bem — diz Kevin.

O Sr. Harris assente.

— Vocês dois, esqueçam o incidente da hora do almoço, e Mark, foco. Já faz algum tempo que estamos tentando conseguir essa matéria. Talvez até nos ponham na primeira página. Imagine, a primeira página do Gazette — ele diz sorridente.

—Obrigado — Mark responde. — Estou muito animado com isso.

—Ótimo. Agora, vocês dois podem ir.

Eles saem, e o Sr. Harris olha para Sam com ar de reprovação. Sam sustenta seu olhar.

— Diga-me, Sam, e eu quero a verdade: você viu Mark arremessar a almôndega?

Sam estreita os olhos, mas não os desvia.

— Sim.

O Sr. Harris balança a cabeça.

—Não acredito em você, Sam. E por isso vou lhe dizer o que farei. — Ele olha para mim. — Então, uma almôndega foi arremessada...

—Duas — Sam o interrompe.

—O quê? — O Sr. Harris olha para Sam com ar muito irritado.

— Duas almôndegas foram arremessadas, não uma. O Sr. Harris dá um soco na mesa.

— Que diferença faz quantas foram? John, você agrediu Kevin. Olho por olho. Vamos deixar tudo como está. Entende o que eu quero dizer?

Ele está muito vermelho, e sei que neste momento é inútil discutir.

—Sim — respondo.

—Não quero ver vocês dois aqui de novo — ele avisa. — Podem ir.

Saímos da sala do diretor.

—Por que não contou a ele sobre seu telefone? — Sam me pergunta.

— Porque ele não se importa. Só queria voltar para o almoço — respondo. — E tome cuidado. Agora você estará na mira de Mark.

Tenho aula de economia doméstica depois do almoço — não necessariamente por gostar de cozinhar, mas porque era isso ou coral. E, embora eu tenha muitos poderes e habilidades considerados excepcionais na Terra, cantar não é um deles. Por isso vou para a aula de economia doméstica e me sento. A sala é pequena, e pouco antes do sinal soar, anunciando o início da aula, Tyler entra e se senta a meu lado.

— Oi cara — ele diz.

— Oi.

Meu rosto esquenta e meus ombros ficam tensos. Pego uma caneta e começo a girá-la entre os dedos da mão direita, enquanto com a esquerda dobro os cantos de meu caderno. Meu coração dispara. Por favor, mãos, não brilhem. Olho para elas e suspiro aliviado por estarem normais. Mantenha a calma, penso. Ele é só um garoto.

Tyler está olhando para mim. Tenho a sensação de que tudo dentro de meu corpo começa a derreter. Ele talvez seja o cara mais lindo que já conheci.

— Desculpa o Mark ser tão cretino com você — ele diz.

Eu dou de ombros.

— Não é culpa sua.

— Vocês não vão brigar, vão?

— Eu não quero — digo.

Ele move a cabeça em sentido afirmativo.

— Ele pode ser um cretino, mesmo. Sempre tentando mostrar quem é que manda.

— É um sinal de insegurança — respondo.

— Ele não é inseguro. É só um cretino.

É claro que ele é. Mas não quero discutir com Tyler. Além do mais, ele fala com tanta certeza, que quase duvido de mim mesmo.

Tyler olha para as manchas de molho de espaguete que secaram em minha camisa, depois estende a mão e tira um pedaço de macarrão endurecido de meu cabelo.

— Obrigado.

Ele suspira.

— Lamento pelo que aconteceu. — Tyler olha em meus olhos. — Não somos amigos sabe, e por causa da minha irmã.

— Não?

Ele balança a cabeça. Estou intrigado por ele ter sentido necessidade de deixar isso claro para mim. Após dez minutos de instruções sobre como fazer panquecas — sem que eu tenha ouvido um minuto sequer —, a professora, Sra. Benshoff, nos põe para trabalhar juntos, Tyler e eu. Passamos por uma porta no fundo da sala e chegamos a uma cozinha três vezes maior que a sala de aula. Ela contém dez unidades, cada uma delas com refrigerador, armários, pia, fogão. Tyler entra em uma das unidades, pega um avental na gaveta e o coloca.

— Pode amarrar para mim? — ele pede.

Deixo escapar o laço e preciso amarrar de novo. Sinto os contornos da parte inferior das costas dele sob meus dedos. Quando termino de amarrar o avental de Tyler, coloco o meu e tento amarrá-lo.

—É assim, cara — ele diz e depois pega as tiras e as amarra para mim.

—Obrigado.

Tento quebrar o primeiro ovo, mas exagero na força e não consigo salvar nada dele para pôr na tigela. Tyler ri. Ela coloca outro ovo em minha mão e a segura, mostrando-me como quebrar o ovo na borda da vasilha. A mão dele permanece sobre a minha por um segundo além do necessário. Ele me encara e sorri.

— É assim.

Tyler mistura a massa, e seu cabelo fica com pequenos flocos de farinha, quero muito passar a mão por eles e limpa-los. A Sra. Benshoff visita nossa cozinha para verificar nosso progresso. Até então, tudo bem, graças a Tyler, é claro, porque eu não tenho a menor ideia do que estou fazendo.

— O que está achando de Ohio? — Tyler me pergunta.

— Legal. Mas meu primeiro dia na escola podia ter sido melhor.

Ele sorri.

—Afinal, o que aconteceu? Fiquei preocupado com você.

—Acreditaria se eu dissesse que sou um alien?

—Ah, cale a boca — ele responde brincando. — O que aconteceu realmente?

Eu rio.

—Tenho asma. Por alguma razão, ontem tive uma crise — digo, lamentando ter de mentir. Não quero que ele veja fraqueza alguma em mim, especialmente fraquezas que nem são reais.

—Bem, fico feliz por se sentir melhor.

Fazemos nossas panquecas. Tyler as empilha em um prato. Ele acrescenta uma porção absurda de calda e depois me oferece um garfo. Olho para os outros alunos. A maioria das duplas está comendo o que preparou, mas em dois pratos. Eu pego um pedaço.

— Nada mau — comento enquanto mastigo.

Não estou com um pingo de fome, mas ajudo Tyler a devorar todas as panquecas. Vamos nos servindo alternadamente até o prato ficar vazio. Quando terminamos, estou com dor de estômago. Depois, ele lava os pratos e utensílios, e eu os enxugo. Quando o sinal soa no corredor, saímos juntos da sala.

—Sabe, você não é ruim para um aluno do segundo ano — ele diz, cutucando-me com o cotovelo. — Não me incomodo com o que dizem.

—Obrigado. Você também é legal para um... seja lá o que for.

—Sou calouro Mané!

Caminhamos em silêncio por alguns instantes.

—Não vai realmente brigar com Mark no final do dia, vai?

—Preciso do meu celular de volta. Além do mais, olhe para mim — digo, apontando para minha camiseta.

Ele dá de ombros. Eu paro na frente do meu armário. Ele registra o número.

— Bem, não deveria brigar — opina.

— Não quero brigar. Ele revira os olhos.

— Esses caras e suas brigas. Bem, vejo você amanhã.

— Tenha um bom restante de dia — respondo.

Depois de minha última aula, história americana, caminho lentamente até meu armário. Penso em simplesmente deixar a escola sem chamar a atenção, sem procurar por Mark. Mas percebo que, se agir assim, serei rotulado eternamente como um covarde.

Paro na frente do meu armário e guardo todos os livros de que não vou precisar. Depois, fico ali parado, sentindo o nervosismo que começa a me invadir. Minhas mãos ainda estão normais. Penso em calçar as luvas por precaução, mas não é o que faço. Respiro profundamente e fecho a porta do armário.

— Oi.

A voz me assusta. É Tyler, e ele olha para trás antes de me fitar novamente.

— Trouxe algo para você.

— Não é mais panqueca, é? Ainda estou me sentindo como se fosse explodir.

Ele ri, nervoso.

— Não é panqueca. Mas, se eu lhe der o que tenho aqui, diz que não vai brigar.

— Tudo bem — concordo.

Ele olha para trás novamente e, depressa, enfia a mão em um compartimento externo da mochila, de onde tira meu celular. Tyler me entrega o aparelho.

— Como conseguiu recuperá-lo?

Ele encolhe os ombros.

— Mark sabe?

— Não. Ainda vai bancar o valentão? — ele insiste.

— Acho que não.

— Que bom.

— Obrigado. — Não posso acreditar que ele fez algo tão arriscado por mim, eu, alguém que ele nem conhece. Mas não estou reclamando.

— Não foi nada — ele responde, antes de se virar e se afastar apressadamente pelo corredor. Eu o observo o tempo todo, sem conseguir conter um sorriso, fiquei ali um tempo seguindo cada movimento até ele desaparecer analisando cada passo . Quando estou saindo da escola, Mark James e oito de seus amigos estão me esperando na porta.

— Ora, ora, ora — diz Mark. — Conseguiu ficar até o fim do dia, então?

— Com certeza. E veja só o que eu encontrei — digo, exibindo meu telefone celular. Seu queixo cai. Passo por ele sem pressa e saio do prédio.

(Sim povo postei mais um, aproveitem vou ver se posto mais alguém hoje mesmo se ñ for muito cansativo)

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Comentários

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simplismente fantastico...coontinua logo e posta sla mais uns 4 capitulos hahahaha

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Uau, você tem uma disposição gigantesca! Muito bom seu conto. continua logo.

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