Afinidade secreta 1

Um conto erótico de Lígia
Categoria: Heterossexual
Contém 2988 palavras
Data: 01/09/2010 21:28:50
Última revisão: 03/09/2010 12:02:30

Talvez ele a sentisse uma escrava submissa apenas quando algemada. No entanto, para ela as algemas materializavam sentimentos de um coração totalmente aprisionado.

Àquele homem que não teve certamente a intenção, mas que foi capaz de substituir uma dor intensa por uma sensação adolescente de um amor à primeira vista..

Um dia, após alguns anos de muita angústia por motivos que não cabem aqui, ela se sentiu no direito de deixar aflorar suas próprias dores. Sua irmã, prontamente sugeriu um médico que conhecia e também providenciou alguém para que a levasse ao consultório. Tão forte tinha sido a sua dor, que não seria prudente que ela dirigisse.

Naquele momento de tão grande fragilidade, ela se sentia amparada e protegida e, provavelmente, buscava, inconscientemente, algo que a permitisse ser dependente e a fizesse vibrar e esquecer tantos momentos de tristeza.

Ele não sabia de nada. Ele apenas estava lá. E nem sabia que ela apareceria e como apareceria. Ela esperava apenas que ele a examinasse e descobrisse a causa daquela dor. E fosse tão bom médico quanto sua irmã o considerava. Isso porque, em certa ocasião, quando sua irmã sentia uma forte dor nas costas, o procurou. Ele, surpreendente e acertadamente, disse a ela que parecia ter levantado um engradado de cervejas...e, realmente isso tinha acontecido.

Ela não esperava tanto acerto assim; apenas o remédio certo para que a dor cessasse. Era isso que ela esperava, enquanto aguardava ansiosa na sala de uma clínica médica.

Após algum tempo foi chamada pela recepcionista, que a orientou como chegar ao consultório. Ela subiu a escada sozinha, sem imaginar o quanto aqueles próximos degraus interferiram nos tantos próximos anos de sua vida.

Entrou no consultório, e mais, muito mais que suas dores, se manifestaram inexplicáveis estremecimentos no seu corpo todo. Ele, num dia como outro qualquer, sem saber quem entraria ali, a recebeu, como tantos outros pacientes, com a calma e a segurança de quem se preparou para solucionar problemas clínicos. Mas não sabia que, com o passar do tempo, ele próprio seria a causa de maiores e futuras dores. E que remédio então ele prescreveria ?

Ela, intimidada por não entender o que acontecia com seu corpo, de alguma forma sabia que algumas manifestações eram reações à presença dele. Destas ela não falou.

Ele, logicamente, perguntou o que ela sentia. Era constrangedor para ela explicar. Mas, vencendo a timidez, contou a ele que na madrugada passada tinha sentido dores abdominais horríveis, chegando a desmaiar, sendo reanimada pelo então marido, apavorado.

Ele, sem imaginar, a cada movimento a fazia estremecer mais. Pediu que ela se deitasse para examiná-la. As mãos dele, que até hoje a faz morrer de saudades, apalpavam cautelosamente seu abdômen, tentando identificar a causa da dor que não mais ali, hoje ele encontraria. Pediu que ela descesse e andasse. E ela, obedientemente o fez, mesmo sabendo que se houvesse algum desequilíbrio no andar, seria por saber do olhar dele, que tanto a intimidava.

Durante a consulta não houve por parte de ambos a menor demonstração de algum outro interesse que não fosse o motivo daquele encontro.

Por fim, ele disse que talvez fosse uma diverticulite. Ela ficou assustada. Tancredo Neves recentemente havia morrido por tal conseqüência, pelo menos assim havia sido divulgado.

Fez alguns exames solicitados por ele. Mas aquela dor havia passado, e ela não teve coragem de retornar para apresentar os resultados. Não só porque os exames não confirmavam o parecer inicial, mas também, e principalmente porque ela não tinha coragem de se colocar frente a ele. Agora sem a dor, provavelmente todo o estremecimento do seu corpo se evidenciaria de forma intensa demais para que ele não percebesse.

Então aquela dor desapareceu. Mas ele ficou. Ele, e só ele, invadiu e tomou conta dos pensamentos e de todas as fantasias dela. Não existia mais dor. Apenas prazer em imaginar as mãos dele novamente. Não mais procurando uma dor, mas sim os lugares que ela quisesse ser tocada, como se o toque dele a desprendesse de tudo que era permitido e ruim.

Agora ela não pensava e não precisava mais de um médico. Ela só pensava e sonhava com aquele homem. Aquele que não teve certamente a intenção, mas que foi capaz de substituir uma dor intensa por uma sensação adolescente de um amor à primeira vista..

E ele era tão absurdamente centrado no que fazia. Aquilo a deixava tão intrigada: Como ele não percebera o coração dela tão acelerado?

Ambos eram casados. Ela há 14 anos e tinha um casal de filhos. Uma mãe muito dedicada e uma e esposa que, mesmo com muitas insatisfações no seu relacionamento com o marido, até então, nunca tinha pensado em estar com outro homem.

Muito tempo se passou. Ela se mudou da cidade com a família, agora com uma expectativa de boas mudanças, inclusive no seu casamento. Mas isso não aconteceu. Agora ela percebia que suas insatisfações, mesmo que sentidas também pelo marido, não os tornavam capazes de contorná-las e serem felizes juntos.

Mesmo que mais distantes não o tirou da sua memória. Ao contrário, a cada minuto, pensava nele desde que o conhecera: Como estaria ele agora? Ainda no mesmo consultório ? Com a mesma calma e movimentos lentos que tanto a perturbara?

Ela se manteve distante, não ousou querer saber tais respostas.

Num dia qualquer, após sete anos daquela consulta, ele enviou - como quem o faria para qualquer outro paciente - através do cunhado dela que passou por uma consulta - um cartão chamado de “Afinidades”, que ela até hoje não tem coragem de se desfazer.

Então, sem que ele pudesse imaginar, isso foi o suficiente para que ela se enchesse de coragem, e escrevesse contando exatamente tudo o que ele, sem querer, havia causado. De todo o desejo que ele havia despertado e que ela havia guardado e sentido por tantos anos, sozinha.

Então, agora ciente, teria a opção de respondê-la ou ignorá-la.

Ele preferiu não ignorá-la. Talvez apenas por curiosidade de conversar com uma mulher que tinha sido tão clara e espontânea ao detalhar seus sentimentos. Quando ela atendeu ao telefone sabia que era a voz de quem há muito queria ouvir. Só não sabia se sua voz sairia, tal era sua extrema alegria.

Ele, receptivo, a ouvia confirmar tudo o que já havia dividido por carta. A partir de então começaram a se falar. Porém, ainda com uma freqüência menor do que ela gostaria. Ela se preocupava em não interrompê-lo durante as consultas. Às vezes deixava um recado, e ele deliciosamente retornava: ou num final de expediente, ou numa pausa no trabalho.

Então, ela descrevia toda a vontade de senti-lo: de abraçar o corpo dele por inteiro, de beijar aquela boca gostosa, de vê-lo sorrir, achando graça por inspirar tanto desejo. E a voz dele se alterava de excitação e ela sentia a reciprocidade do desejo.

Não falavam de amor, mas ela se expressava como alguém que ama. Ele falava de sexo.

Pouco falavam das suas vidas. Ela não se lamentava ou expunha o seu casamento ruim. Ele sem muitas palavras, deixava transparecer seu casamento estável, sem a menor intenção de terminá-lo. Mas isso não a interessava. Para ela bastavam aqueles preciosos momentos de prazer, suficientes para revigorá-la com excitação e alegria, até a próxima conversa.

Um dia ele pediu que ela enviasse uma foto. Ela se sentindo travessa pediu que sua filha a fotografasse de maiô, de bruços, tomando sol no quintal. Com aquela foto nas mãos, ele ligou e a excitou demais, descrevendo o que faria com ela naquela posição. Ela podia sentir o corpo dele roçando sobre o dela e certamente gemeria, abrindo as pernas para que ele entrasse. Era assim que ela desejava: bem forte e bem fundo para que ele preenchesse toda a falta que ela sentia.

E foram inúmeras cartas, bilhetes, telegramas e telefonemas até o primeiro encontro.

Isso aconteceu num dia e horário possível para os amantes. A excitação dela já se manifestava com o planejamento e a proximidade do encontro. Para ela isso era uma primeira experiência extraconjugal, com pretextos bem pensados para justificar sua viagem para São Paulo apenas com os filhos.

Para ele, ela não sabia. Mas não importava. Ele estava lá.

Ela estacionou o carro atrás do Fiesta vermelho sem saber como agir. Então ele desceu do carro e se dirigiu até ela, que se sentia trêmula, admirando como ele era lindo de calças jeans e camisa xadrez.

Ela usava um vestido de malha cinza, que discretamente marcava o seu corpo magro. Usava sapatos de saltos altos e tinha escolhido um lingerie branca de renda e meia-calça com ligas. Queria, logicamente, agradar aquele homem que sem qualquer preparativo um dia a fez sonhar com esse momento.

Então, agora os dois no mesmo carro, trocavam olhares e palavras de reconhecimento.

Ela contendo a pressa de abraçá-lo, não via a hora de estarem num lugar onde não pudessem ser vistos. Afinal, ela ainda era casada.

E assim quando entraram naquele quarto de motel, ela ainda numa tentativa de paciência, colocou a bolsa sobre a mesa observando e comentando os detalhes daquele lugar. Mas não fez isso por muito tempo.

Logo se aproximaram e começaram a se abraçar e beijar muito ardentemente. Ele, num movimento delicado, a afastou e começou a se despir calmamente, olhando pra ela, como quem pede um pouco de paciência. Nu, abriu os braços com receptividade, mostrando-se preparado para recebê-la e ajuda-la também a se despir.

Sentir e vê-lo excitado era delicioso demais. Ela queria sentir tudo ao mesmo tempo: Acariciar os cabelos, beijar aquela boca gostosa, sentir a língua dele enroscada na dela, roçar o corpo dele, procurando onde se encaixar. Ele perguntava como ela o queria e primeiro a fez flutuar de prazer quando a tocava com sua língua quente.

Ela se sentia tranqüila porque ele, provavelmente por ser um médico e casado, nenhuma das vezes esquecera de usar a camisinha.

O tempo que ficaram juntos não foi muito longo. Tínham motivos para que não fosse.

Despediram-se sem o compromisso do reencontro. Ela não estava segura que isso aconteceria, talvez porque quisesse muito que se repetisse. Como nas conversas anteriores por telefone, sempre esperava que ele falasse das suas vontades, sem que ela perguntasse.

Agora não era só imaginação. Ela tinha de fato sentido no corpo dele tudo o que tinha vontade. E então ela sabia que ia querer mais e outras vezes.

Passou então a fantasiar e imaginar como poderia ser um próximo encontro. Como seria surpreendê-lo no consultório ? Ela quis saber a resposta.

Já sabia dos horários dele. Planejou para que fosse sua última “paciente”. Na recepção comportou-se como paciente real, mas estava vestida como uma mulher que pretende ser desejada. Estava com um vestido preto de alcinhas, com um decote generoso que sutilmente era disfarçado por um sobretudo. Desta vez, com lingeries e meias pretas. Ele, desta vez, claro, todo de branco.

Entrou na sala e o viu ali sentado, com o evidente cansaço estampado após um dia de trabalho. Quando a viu, pareceu não acreditar. Ela sentou-se a sua frente, aparentemente calma, mas sentia-se toda trêmula de excitação. Mostrou a ele alguns reais resultados de exames, perguntando sedutoramente se era aquela dosagem hormonal que a fazia só pensar em estar com ele.

Aos poucos ele se recompôs da surpresa e foi cedendo à fantasia dela, que dizia provocantemente precisar ser examinada. Então lentamente se levantou e aproximou-se dela. Agora ela o abraçava e beijava como já havia feito antes, tentando não deixá-lo todo marcado com o seu batom; e ele por vezes a controlava, para que os sons não fossem ouvidos nas salas ao lado. Abriu a camisa dele e beijava seu peito, descendo, percebendo o que ele queria que ela fizesse quando abaixava o zíper da sua calça.

Então ela soube a resposta: Tinha sido gostoso e excitante demais, mas ele preferia ter sido avisado. Ele era o Mestre e gostava de ter tudo sob o seu controle.

Ela ainda não tinha se separado do marido, mas o deixou e voltou para São Paulo com os filhos. A separação já estava decidida por ela e era apenas uma questão de tempo.

Chegaram as férias do verão e com a viagem da esposa e filhos dele, desta vez poderiam, ter mais tempo juntos. Assim, sentiam-se mais livres. Ele sem a família por perto e ela já se sentindo separada, faltando apenas oficializar, embora não fosse essa a pretensão do ainda marido.

Era noite, e como sabia que voltaria muito tarde, desta vez foi de táxi pelo receio de voltar sozinha. Para todos os efeitos, visitaria uma amiga que não via desde que se mudara para o Interior.

Exceto algum imprevisto com os filhos, nada a deteria de encontrá-lo. Nem mesmo a súbita decisão do marido de passar o final de semana com a família. Talvez tivesse notado a inexplicável alegria da esposa, ou quem sabe suspeitado que algo que ele não sabia fosse acontecer. E aconteceu.

Desta vez ela estava apenas de vestido, branco. Ele a queria sempre sem lingeries e totalmente depiladinha.

Quando entraram no Peugeot Azul ele a tocou e confirmou que ela estava mesmo como ele gostava.

Mal entraram no quarto, e ainda sem tirar o vestido dela, a fez apoiar-se na cama, de costas pra ele, sabendo que ele tirava as roupas para fazê-la sentir - agora não com os dedos - toda a excitação dele que a obediência dela merecia.

Desta vez tiveram tempo pra conversar, descansar juntos na banheira sob o teto aberto, mostrando aquela noite que ela, certamente, nunca esqueceria.

E foram todas essas lembranças que tornaram um pouco mais leves os próximos meses de grande turbulência causada pela separação. Também os raros momentos que tinha para conversar com ele e suavizar sua expressão tão cheia de preocupações e responsabilidades. Nunca conversavam sobre o que a deixava triste. Ele sabia falar de coisas que a faziam feliz.

Agora, mais próxima dele, não escrevia mais. Também por não querer ser repetitiva se falasse sobre a saudade e o prazer que sentia. Falar e detalhar pra ele como eram seus sonhos constantes era muito mais excitante que as cartas que não tinham reações imediatas. E assim podiam planejar como seriam seus próximos encontros.

Não era explícita em falar de amor. Mas um dia ela precisava expor o que sentia por ele, mesmo que ele não visse. Aliás, era melhor que ele não visse ou soubesse que era pra ele aquela faixa colocada em frente ao seu consultório, escrita com muita clareza e com letras grandes e vermelhas: “Todo mundo vai ler, mas só você vai saber que sou louca por você”. Foi a maneira que ela encontrou de deixar escapar o amor, sem que ele se aborrecesse ou se sentisse obrigado a uma falsa reciprocidade. E não era mesmo isso que ela esperava dele; apenas as suas manifestações voluntárias a extasiava.

Então ela soube a resposta: Tinha sido gostoso e excitante demais, mas ele preferia ter sido avisado. Ele era o Mestre e gostava de ter tudo sob o seu controle.

Ela ainda não tinha se separado do marido, mas o deixou e voltou para São Paulo com os filhos. A separação já estava decidida por ela e era apenas uma questão de tempo.

Chegaram as férias do verão e com a viagem da esposa e filhos dele, desta vez poderiam, ter mais tempo juntos. Assim, sentiam-se mais livres. Ele sem a família por perto e ela já se sentindo separada, faltando apenas oficializar, embora não fosse essa a pretensão do ainda marido.

Era noite, e como sabia que voltaria muito tarde, desta vez foi de táxi pelo receio de voltar sozinha. Para todos os efeitos, visitaria uma amiga que não via desde que se mudara para o Interior.

Exceto algum imprevisto com os filhos, nada a deteria de encontrá-lo. Nem mesmo a súbita decisão do marido de passar o final de semana com a família. Talvez tivesse notado a inexplicável alegria da esposa, ou quem sabe suspeitado que algo que ele não sabia fosse acontecer. E aconteceu.

Desta vez ela estava apenas de vestido, branco. Ele a queria sempre sem lingeries e totalmente depiladinha.

Quando entraram no Peugeot Azul ele a tocou e confirmou que ela estava mesmo como ele gostava.

Mal entraram no quarto, e ainda sem tirar o vestido dela, a fez apoiar-se na cama, de costas pra ele, sabendo que ele tirava as roupas para fazê-la sentir - agora não com os dedos - toda a excitação dele que a obediência dela merecia.

Desta vez tiveram tempo pra conversar, descansar juntos na banheira sob o teto aberto, mostrando aquela noite que ela, certamente, nunca esqueceria.

E foram todas essas lembranças que tornaram um pouco mais leves os próximos meses de grande turbulência causada pela separação. Também os raros momentos que tinha para conversar com ele e suavizar sua expressão tão cheia de preocupações e responsabilidades. Nunca conversavam sobre o que a deixava triste. Ele sabia falar de coisas que a faziam feliz.

Agora, mais próxima dele, não escrevia mais. Também por não querer ser repetitiva se falasse sobre a saudade e o prazer que sentia. Falar e detalhar pra ele como eram seus sonhos constantes era muito mais excitante que as cartas que não tinham reações imediatas. E assim podiam planejar como seriam seus próximos encontros.

Não era explícita em falar de amor. Mas um dia ela precisava expor o que sentia por ele, mesmo que ele não visse. Aliás, era melhor que ele não visse ou soubesse que era pra ele aquela faixa colocada em frente ao seu consultório, escrita com muita clareza e com letras grandes e vermelhas: “Todo mundo vai ler, mas só você vai saber que sou louca por você”. Foi a maneira que ela encontrou de deixar escapar o amor, sem que ele se aborrecesse ou se sentisse obrigado a uma falsa reciprocidade. E não era mesmo isso que ela esperava dele; apenas as suas manifestações voluntárias a extasiava.

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