O Retorno do Demônio

Um conto erótico de Hella
Categoria: Heterossexual
Contém 4466 palavras
Data: 06/09/2010 16:11:37

Já dizia Eça de Queiroz que os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam na cidade... as grandes cidades escondem muitas coisas nas vielas e becos. Novas histórias e mitos crescem nas cidades pulsantes, quentes, vivas. Era nas palavras de Eça de Queiroz que Ayeska pensava quando atravessava uma rua, saindo de um Tribunal de Justiça em direção a uma cafeteria mais sossegada. Fazia um calor terrível, abafado, naquele dia; as pessoas a sua volta transitavam roboticamente pelas calçadas, pensamentos perdidos em problemas e compromissos, olhares vagos e desinteressados (salvo uma ou outra espiada masculina dirigida furtivamente à bela ruiva. As vezes a velha e boa humanidade voltava a tona de formas misteriosas...).

Ayeska chega ao local, seu vestido branco de mangas curtas, que deveria ser discreto e comportado, já não o era tanto; o calor que lha fazia ficar firmemente colado ao corpo, expondo suas curvas sem cerimônias. O cabelo rubro preso. Tirou o casaquinho social, deixando pendurado junto a cadeira onde sentara, e descalçou um pé do sapato de salto alto negro, discretamente, por debaixo da mesa, com ou outro pé. Havia ficado o dia inteiro na correria. Não via a hora de descansar.

- Um cappuccino, com canela, por favor. – Pediu a garota à atendente, sorrindo, enquanto tentava conseguir uma ligação no celular.

- Alô...? – Uma voz lhe atendeu do outro lado da linha. A ligação estava ruim, haviam chiados.

- Amana? Amanita? Estou aqui, no local...não consigo te ouvir, você está passando por um túnel ou algo assim?

- Ayeska, tenha cuidado...você sabe que...ele...

A ligação entrecortada por ruídos e dissonâncias distrai a atenção de Ayeska, que mal vê alguém sentar na cadeira a frente da mesa onde está. Ela leva um susto repentino.

- Olá. Prazer, meu nome é Dante. Ayeska, presumo? – O homem lhe estende a mão em cumprimento. O telefone para de receber sinal, nada mais se ouve dele. Ayeska simula um “tchau, falo com você depois”, cumprimentado o sujeito enquanto guarda o aparelho na bolsa. Sente as mãos ásperas fortes.

- Sim, sou Ayeska. Prazer, Dante. Amana...me falou muito de você.

- Mal, espero.

- Profissionalmente, apenas. Então deixe-me ver. Houve alguns erros nos processos contra você, e precisa de consultoria agora, é isso? Creio que posso ajudá-lo.

O homem a fica observando alguns minutos, antes de falar qualquer coisa. Olhos ferinos, num estranho tom de cinza, gélido. Exótico, mas bonito. Ayeska não pode deixar de reparar nos traços fortes do rosto, nos cabelos negros crescendo depois de raspados, na cicatriz viril sobre o olho direito. Era um espécime masculino e tanto. Ele não fazia muita questão de esconder que olhava do rosto suave da moça para seus decote, seus seios protuberantes demarcando o tecido justo na pele.

- Hmm. Sim, sim. Tenho certeza que pode. Se a Amanita te indicou, então deve ser muito boa.

- Obrigada. Muito bem, então seus papéis...

- Nossa amiga, em comum, a Amanita. Lembro do primeiro dia que estive no escritório dela. Haviam umas flores e um bilhete de boas vindas. Dizia “beijos molhados de sua Ayeska”. Sempre fiquei imaginando quem seria a Ayeska, que mandaria esse recado para a Amanita. Agora que estou conhecendo – ele deu um sorriso – acho que nunca mais vai me sair da imaginação a cena das duas, trocando beijos molhados.

Ayeska baixou a cabeça dando um sorriso, antes de voltar a atenção a ele.

- Amanita me alertou sobre você, quando me falou de seu caso. Me disse de sua séria tendência a desviar do assunto e tenra constranger o interlocutor. Disse também, que, provavelmente, você me paqueraria.

- Ah, é? Interessante. Ela deve ter contado de outras coisas então.

- Já disse, só o necessário.

- Ela também me falou de você. Disse que era uma profissional de extrema competência, em quem ela confiava muito, como uma irmã. Deixa ver que mais, disse que seria uma ruiva bonita, para eu te achar fácil aqui nesse local. Foi fácil mesmo.

Ayeska ajeitava papéis sobre a mesa, sem tirar os olhos de Dante. Mas olhava desafiadora para ele, um sorriso de leve, bem de leve no canto de seus lábios, como quem insinua “conheço seu tipo”. O homem continuou.

- Deixe-me ver. Ela também me falou como sua língua é quente e habilidosa. E como sua pele é doce. E como você se arrepia fácil quando alguém lhe morde a orelha.

Ayeska de repente ruborizou. Sua expressão assustada. A boca entreaberta, pronta para protestar diante daquelas palavras.

- Calma, calma, só brincadeira essa última parte. Relaxe, foi uma piada.

Alguns segundos depois de assimilar a peça pregada por Dante, Ayeska, mais calma, mas com vigor, lhe fala.

- Sr. Dante, se espera que eu o ajude, é melhor que seja mais cooperativo. Caso não tenha percebido, eu tenho mais o que fazer. Vou pedir desculpas a Amanita por faltar com o favor e depois brigar com ela por ter me colocado no caminho alguém tão obtuso quanto você.

Ayeska já se preparava para sair dali, arrumando suas coisas, quando sentiu a mão de Dante pousar sobre a sua, com certa leveza, ao menos o que era possível para ele.

- Tudo bem. Excedi-me um pouco. Como sabe, passei um bom tempo na prisão e sai a pouco, isso faz uma merda com os modos da gente. Serei um bom menino.

- Seu cappuccino , senhorita. E para o senhor, moço? – Apareceu de repente a jovem atendente. Ayeska percebeu o olhar da mulher sobre o corpo de Dante. Era mesmo um homem atraente.

- Um café russo. Com uma dose de Vodka.

Ayeska o observou, intrigada por aquele homem. A curiosidade a fez permanecer ali. Recolocou os papéis sobre a mesa, assumiu postura, e passou a apontar a ele vários detalhes, de forma compassada e didática. Em dado momento, Dante pega sua cadeira e leva bem ao lado da de Ayeska, para acompanhar melhor os relatos. Ela repara que atenção dele parece mesmo voltada a explicação, mas não deixa de perceber, perspicaz que é, como os movimentos dele são calculados. De vez em quando, ele faz seu braço roçar de leve no busto dela, a perna dele lhe encostar por debaixo da mesa. Ela sente o odor de seu perfume. Um perfume exótico, estranho, algo que ela, bastante entendida de fragrâncias, nunca havia sentido antes. De repente um pequeno ruído se faz debaixo da mesa.

- Acho que derrubei algo. – Diz Dante, logo em seguida se abaixando ao móvel.

- Não, espera, não precisa, é só...- Vai dizendo a jovem ruiva, para tentar impedi-lo. Novamente, fica envergonhada. Sente uma mão sobre seu pé descalço.

- Ah, é seu sapato, Cinderela. Deixa que eu coloco para você. – Sem fazer cerimônias, ele calça o Alexander McQueen nos pés da moça, lhe explorando a pele a cada toque; ela, olha para os lados, tentando ver se alguém presencia a cena. Quando ele volta a tona, está com um sorriso matreiro nos lábios. Claro que ela percebe que ele viu mais do que devia. Mas mantém a compostura.

A conversa segue por mais um pouco. Dante fica eufórico ao saber que erros foram cometidos em seu processo. Ayeska estranha o fato em pensamento. Erros tolos, crassos, primários. Parecia que queriam condenar ele ao cárcere sem muitas delongas. Percebia ali que o homem era mais encrenca do que aparentava, e já aparentava muita coisa numa primeira olhada.

O corpo forte, as tatuagens de motivos cabalísticos, tribais, nos braços. Poderia parecer simplesmente um ex-presidiário e um golpe de vista, mas havia alguma coisa nele, algo estranhamente altivo no porte de seu corpo, algo de estranhamente inteligente em seu olhar, em sua voz grossa.

Depois de um tempo a mais, se despediram.

- Espero rever você em breve, Ayeska. Sem dúvida que a confiança da nossa Amanita em você é justifica.

- Nossa Amanita?

- É só forma de falar. Até breve, doutora. – Ele se adiantou para lhe beijar a face. Ela não deixou, o interpelou com um movimento dos braços, e o cumprimentou formalmente com a mão. Ele só sorriu e fez o mesmo.

Amanita havia relatado isso a ela, pensava a garota quando se dirigia para seu carro. Dante tinha uma forma de se fixar nos pensamentos das pessoas. E era pensando no cinza daqueles olhos, gélidos olhos, que se passariam os próximos dias. Ayeska, utilizando-se de seus contatos e conhecimentos, tentou descobrir o nome real do ex-presidiário, um pedido de Amana, ao qual ela mesma se interessara após topar com o sujeito. Não obteve sucesso. Como tudo o mais nele, outro fato estranho.

Tentou se comunicar com a amiga, que estava em uma convenção de psicologia noutra cidade. Pouco conseguiu, sempre a correria interrompia uma melhor conversa entre ambas. Recebeu a ligação de um ex-namorado esperançoso. Não lhe alimentou esperanças.

Dois dias depois daquele primeiro encontro, já com a mente novamente centrada no trabalho, Ayeska vai voltando do trabalho no fim da tarde. A cidade, esse monstro de concreto, continua quente e abafada. Nuvens escuras ao céu. A garota estaciona o carro e volta-se a porta.

“Poderia chover” pensou ela. “Não chove a dias”.

Ao colocar a chave na porta de sua casa, pelo vidro, ela vê um vulto. Um rosto conhecido, de olhos gélidos e barba por fazer. Se volta rapidamente, apenas para ver uma pessoa passando na rua, rapidamente. Uma pessoa que não parece em nada com o que ela tinha visto no reflexo.

- Esse calor, esse estresse, já estou vendo coisas. Preciso relaxar mais. – falou consigo mesma. Entrou na casa toda escura.

Tateou o interruptor. Foi trocar de roupa, deixando a saia e blusa sociais do tailleur cinza claro, pela casualidade de uma calça jeans justa, um par de botas de montaria castanhas, de salto médio e uma camiseta regata branca, que lhe expunha um pouco do ventre.

Enquanto se trocava, uma rajada de ar lhe atingia as costas nuas.

Uma rajada de ar de fresta da janela, que jurava estar fechada. Trancou tudo e resolveu ir até a grande biblioteca municipal, um de seus locais de refugio daquela selva de pedra, a cidade.

Ao chegar à construção clássica, constatou com pesar que estava quase vazia. “Ninguém mais dá valor a leitura”, pensou. Pelo menos, podia ali se deleitar com certa tranqüilidade. Passou pela bibliotecária de meia idade, simpática como sempre, e foi se perdendo no meio das grandes estantes de madeira, abarrotadas de livros. Um labirinto de volumes, capas, cores. Cheiro de papel, aroma de cultura. Ayeska se sentia quase em casa naquele ambiente. Folhou uma obra contendo contos clássicos de escritores famosos e acabou por parar no “Trecho de um Romance”, um conto inacabado de Lord Byron. Se não se enganava, aquela história tinha inspirado o conto “O Vampiro”, uma das primeiras histórias a trazer o monstro mítico numa imagem galante. Tão perdida nos pensamentos que estava, levou um susto quando escutou um livro cair ao fundo da estante. Olhou, não viu nada. Percebeu que estava quase ao fundo da grande biblioteca, afastada de tudo.

Um pouco receosa, se dirigiu aquele local, mal iluminado. Se abaixou para pegar o livro caído, pode ler, em letras negras sobre capa vermelho sangue, “Os Demônios, de Fiódor Dostoievski”. Quando se levantou, se deparou com pernas, vestidas em calças jeans surradas.

- Olha quem eu vejo aqui. Ayeska, que coincidência.- Dante se revelava, uma camiseta preta lhe cobrindo o corpo musculoso, segurando um casaco social.

Ayeska segurou o fôlego por alguns instantes. Pensou no vulto que viu no vidro. Tomou coragem.

- Dante, você está me seguindo? Por que se estiver, eu sei muito bem como agir...

- Nem pensei nisso. Só queria devolver o casaco, que você deixou na cafeteria aquela dia, lembra?

Ela lembrava. Voltou no outro dia para buscar o casaco, já não estava lá.

- Queria devolver o casaco, mas como me encontrou aqui? Eu não acredito em coincidências.

- Nem eu. – Ele tirou do bolso do casaco dela um cartão da biblioteca, com muitas marcações. Entregou isso e a roupa para a moça. – Vim aqui durante alguns dias, para ver se você aparecia. Na verdade, eu já freqüentava antes, desde que saí da cadeia. Como pode ver, sou um rapaz que faz o tipo estudioso.

Os dois sorriram, Ayeska agora mais calma.

- Eu sempre venho aqui. Como não te vi antes?

- Vai ver não olhou nos cantos certos – Ele respondeu, enigmático. Ela lhe entregou o livro.

- Gosta de Dostoievski?

- Alguma coisa dele. E você? Deve gostar. Ayeska é um nome de origem russa, não é?

- É, têm, algo de russo.

Ele estende um livro para ela. “Jogo Perigoso”, de Stephen King.

- Já leu esse? É sobre um cara que algema a mulher cama. Dá errado a noite de brincadeira deles. Você já foi algemada na cama, Ayeska? Está um pouco vermelha. Acho que já.

- Dante, já tivemos nossa conversa sobre suas galhofas. – Ela se vira para a estante como se não desse importância a ele. Ele larga o livro num canto e a pega por trás, pela cintura. Ela faz menção de gritar, mas se segura, ao invés disso, solta um gemido baixinho. Ela a vira para si, ainda a segurando pela cintura, a encosta na estante maciça. Os dois se encaram.

- O que mais a Amanita te contou? Ela te contou sobre minhas idéias?

- Disse para ficar longe de você. Me solte.

Ela tenta se desvencilhar, mas ele a pega pelos pulsos, segurando ao lado da cabeça dela, contra a estante pesada. Ele pressiona seu peito forte nos seios firmes a jovem ruiva. Admira o rosto suave da moça, aproximando-se.

- Por que será que Amana te colocou no meu caminho, Ayeska? Será só coincidência? – Ele a fareja no pescoço, roçando a barba a fazer na pele branca. Ayeska quase começa a ceder aos impulsos, também se deleitando naquele movimento. Mas se recobra.

- Eu vou gritar agora, se não me...- Ele interrompe ela com um beijo másculo, dominador, possante. Suas línguas se entrelaçam, se exploram, combinadas. Se havia resistência antes, agora é uníssono. Se havia temor, agora, só sobrava, a excitação. Foi só quando ela sentiu o pênis dele erigindo por debaixo do jeans que ela o empurrou. Desta vez, ele não resistiu em nada. Apenas sorriu.

- Seu cafajeste.

- Eu não teria feito nada que você não quisesse.

- E como ousa achar que sabe o que quero?

- Pelo cheiro, Ayeska. A maioria dos homens é civilizada demais para perceber que uma mulher se revela pela fragrância. Quase imperceptível. Mas inconfundível.

Ayeska estava trêmula. Não sabia se gritava, se lhe dava um tapa, se o agarrava ali mesmo. Mas tinha força de vontade. Tinha brios e controle. Simplesmente virou e foi embora. No caminho, olhou de lado e agarrou um livro. Sonho de Uma Noite de Verão, de William Shakespeare. Uma antítese das coisas sombrias desse dia sombrio.

- Mais uma coisa, Ayeska. Vou te pedir mais um favor, amanhã. Uma coisa simples. Você me deve, pelo casaco que tive tanto esforço para devolver. Te ligarei, amanhã. – Falou ao longe, Dante. Ayeska não deu muito ouvidos, mas tinha certeza que ela a procuraria realmente.

Durante o dia seguinte, um sábado, ela ficou apreensiva tentando afugentar os pensamentos da cabeça. Trabalhou o dia todo, como sempre. Ao fim do dia, quando seu celular tocou repentinamente, já sabia quem era, mesmo quando não reconheceu o número no mostrador.

- Preciso de uma carona. Pela blusa que achei. Não gosto de cobrar favores, mas...

- Onde você está?

- Na penitenciária na saída da cidade. Tive de vir mais cedo resolver uns assuntos, umas pendências. O próximo ônibus que passa aqui, só de madrugada. Pode me ajudar, ruiva?

- Que seja. Não gosto de dever favores.

Continuava quente, a temperatura beirando os 40º C. O mundo, a cidade, tudo ficava meio nervoso nesse calor. Qualquer paixonite era incendiária, qualquer discussão virava um caso de violência.

Ayeska colocou um vestido curto azul claro, de alcinhas e um pouco rodado, com estampas primaveris, e um par de sandálias de salto fino, mas baixo. Usava conjunto de calcinha e sutiã brancos. Colocou um par de óculos escuros e prendeu o cabelo. Já sabia onde ficava a penitenciaria, devido ao seu trabalho. Dirigiu até se retirar da cidade, passando pela rodovia medianamente movimentada. Viu a construção claustrofóbica na planície do horizonte, o sol avermelhado se escondendo atrás aos poucos, como se fosse engolido pela instituição. Viu de longe, Dante. Chegando mais perto, reparou nele com uma camisa vermelha social um pouco desbotada, aberta nos dois primeiros botões, e uma calça social surrada. Tão logo ela parou o carro, ele entrou, sem dizer palavra. Começaram a voltar para a cidade. O céu foi se nublando. Após algum trecho, ele fala:

- Obrigado. Achei que não viria.

- Não se preocupe com isso. É só uma carona.

- É, só uma carona. – Permaneceram calados depois disso por mais um bom trecho. Ele apenas olhando para ela, recostado no vidro. Ela se sentindo um pouco incomodada por aquilo, mas não tirando os olhos da estrada.

- Ayeska, a Amanita não te contou da proposta que fiz a ela? – Falou ele de repente. Passavam por um longo trecho de Mata Atlântica de um dos lados da rodovia. O céu tomado pela escuridão.

- Dante, você acha que ficamos conversando sobre você?

- Eu propus a ela, eu disse a ela que queria torturá-la. Prende-la, abusar dela, fazer de toda obscenidade possível em algum lugar, longe de incômodos. Com o consentimento dela, é certo. Eu queria estender o convite a você.

Ayeska olhou para ele abismada. Era sem dúvida nenhuma um tipo de loucura que ela ouviu ali. Ele disse a ela:

- Melhor olhar a pista.

Uma chuva torrencial começou do nada. De repente, com muita força. Tão logo desabou, um motorista apressado tentou fazer um ultrapassagem arriscada, perdendo um pouco o foco e o controle por causa da chuva. Seu carro vinha em direção ao dos dois.

- Cuidado – Gritou Dante.

Mesmo com o grande susto, Ayeska mostrando grande velocidade de raciocínio, joga o carro para a lateral, adentrando no trecho de mata fechada que beirava a rodovia. O carro passa por percalços, mas ela consegue mantê-lo estabilizado até parar em um pequeno barranco. O motorista imprudente desaparece. Muitos se assustam na rodovia, mais ninguém mais para. A cidade desumaniza, como dizia Eça. A chuva para, tão abruptamente como começou, fazendo subir um vapor do mata, devido ao calor que continua intenso.

Entre as árvores e mato, já longe da rodovia, Ayeska sai do carro, a respiração ofegante, os nervos a flor da pele. Fica acocorada junto ao chão, se recobrando. Sente um par de mãos fortes sobre suas costas.

- Está tudo bem? Você foi incrível, muito bem. Vou ter que parar de fazer piadas de mulher ao volante. - Ela se levanta e ele a abraça por trás. Ela segura em seus abraços, segurando as lágrimas.

Ele começa a beijá-la no pescoço. Talvez fosse a adrenalina a toda em seu sangue, mas ela aceitou aqueles lábios em sua pele. Virou para ele e se beijaram na boca. Ele a ergue e coloca por sobre o capo do carro, segurando em sua cintura delicada com mãos fortes, a beijando com fervor. Ela o abraça o pescoço.

Dante se coloca por entre as pernas da moça, e deslizando suas mãos pelas pernas, coxas dela, lhe chega a calcinha, a retirando e jogando de lado. Enfia a mão em seu decote, lhe baixa o sutiã, e esfrega seus seios. Ela desabotoa sua camisa, fazendo o tirar, observando seu abdômen bem definido, músculos muito rígidos. Suas tatuagens lhe correndo o corpo. Não era um tolo “Bad Boy” de academia, era um ser moldado pela crueza do dia a dia. Uma criatura marginal, diferentes dos robotizados cidadãos que se deixam levar pela torpeza da cidade. Assim como ela era diferente. Eram dois que tentava viver a vida, e não apenas passar por ela.

Ele lhe tira o vestido por cima, o jogando sobre o mato, rasga o sutiã, e se demora com a boca em seus mamilos, os lambendo, os sorvendo. Deixa uma mão entre as pernas da garota, acariciando o clitóris. Ao outra lhe segura o pescoço, segura pelos dedos dela, antes que lhe aperte demais. Com a outra mão, ela o afaga no pênis, por debaixo da calça.

Ele a empurra de repente, deitada por sobre o carro. Uma garoa fina começa a cair, farfalhando a vegetação, refrescando os corpos quentes. Ele pratica um sexo oral gostoso, forte. Sua língua lhe invade a vagina, se contorce lá dentro, arrancando gemidos da garota. Ela dá pequenas mordidas nos grandes lábios, enquanto leva seu dedo polegar a boca de Ayeska, que, para não gemer alto, começa a chupá-lo. Ele fica arremetendo a língua no sexo da ruiva até senti-la muito úmida, até sentir as contrações musculares do corpo dela. A ergue novamente, a carrega no colo até uma árvore. Ela massageia seu pênis no trajeto. Olham-se nos olhos, cheios de volúpia.

- E então? O que acha de minha proposta?

Ela nada responde.

O corpo nu é apoiado por sobre a bifurcação da árvore, e Ayeska enlaça uma de suas pernas em volta de Dante, a qual ele apóia com um de seus braços fortes. Com seu membro muito duro, avantajado, ele vai aos poucos o encostando na abertura vaginal dela, lubrificada pela chuva, pela saliva, pelos seus próprios fluídos sexuais. Ela a provoca um pouco, a vê se equilibrar ali no quase escuro da mata, mal iluminada pelos faróis acesos do carro. Ela se apóia na ponta do pé ao chão, ainda calçado com a sandália, abraça-o, arranha as costas. Num repente, ele arremete-se contra Ayeska, pressionando seu corpo contra o dela, e ainda mais, seu membro viril por entre o sexo. Ela grita, crava fundo as unhas. Ele começa a se movimentar, ritmadamente, ela só escuta a respiração intensa dos dois. Ele se movimenta frenético, fazendo seu membro explorar o sexo da mulher, sentindo o calor aquela vagina. As costas da moça roçam na casca da árvore, ela nem liga, nem percebe a dor.

Limpa suor e água do rosto, dos cabelos.

Como que combinado, um trovão estrondoso marca o orgasmo dos dois. Jorros de sêmens a invadem, enquanto ela recupera-se dessa culminância. As mãos de Dante lhe pousam na pele nua, a apertando em conjugação ao seu prazer, deixando marcas vermelhas.

- Você quer experimentar tudo o que a Amana experimentou? Então...

Ele a vira. Segura as mãos dela para trás, pelos pulsos, como se estivessem amarrados, segura forte. Basta-lhe uma das mãos para isso. Com a outra, ele a apalpa na nádega. De leve, a pressiona para a frente, fazendo-a apoiar o tronco na árvore. Busca, com seu membro de novo em riste, a entrada do ânus da moça. E nele penetra. Ela geme, vira o rosto para trás para encará-lo. Ele continua, ela o recebe. Doloroso, mas prazeroso. Uma espécie de desafio.

E mais uma vez coordenam seus movimentos. As mãos dela atrás de seu corpo, firmes na força quase que demoníaca do homem. São gemidos intensos, abafados por chuva e trovão. Ele urra quando atinge o clímax. Relaxa por sobre a moça, finalmente lhe soltando as mãos.

Exaustos, se deitam ao chão, sobre a relva, trocando mais beijos e caricias. Com os corpos entrelaçados, faces muito juntas, ela pergunta:

- Essa sua proposta...

- Por mais que pareça o contrário, só faço a certas mulheres... Especiais.

- Pensei que gostasse da Amanita. Pensei que estivessem tendo algum... Relacionamento.

- E gosto, muito mesmo. Há, não temos relacionamento, pelo menos do tipo convencional, não mesmo. Não se preocupe, Amanita me conhece. E você também está conhecendo. Já disse o que eu quero, o que eu desejo. Como me excita ver um corpo feminino. Se debatendo, nas cordas e correntes...

- E essa proposta que fez a mim, fez a ela, minha amiga.

- Sim. E ainda me ocorreu, seria ainda melhor fazer com as duas juntas. Dominar mesmo tempo. Eu as faria conhecer seus limites. As faria fazer coisas que nunca pensaram... Pelo menos em voz alta. Isso seria... um ápice.

Ayeska assistiu a sua face, muita séria no que dizia. Era uma proposta terrível, dos desejos daquele homem que não se continha quando queria realizar seus desejos. Era limitado, claro, percebia ela agora, o que já tinha lhe falado Amana, por um estranho e muito pessoal senso de honra.

Aceitar tal proposta seria como selar um pacto infernal. Que conseqüências teria?

Diante do silêncio da jovem advogada ruiva, Dante lhe diz.

- Dei tempo a Amanita pensar. Também dou a você.

Recolheram suas roupas encharcadas e voltaram ao carro danificado. Dante ficou apenas fazendo do seus comentários sarcásticos, Ayeska não ficou atrás, também soube se mostrar ferina, enquanto conversavam, na volta a cidade. A chuva aumentava e dissipava um pouco do calor dos últimos dias. Ele pediu para ficar em um canto qualquer ao arredor do perímetro urbano. Enquanto se afastava, ela via Dante, pelo retrovisor, uma mancha escura em meio a neblina que teimava em levantar depois da chuva, evanescendo aos poucos.

Uns dias depois, ela voltava ao seu ritmo de trabalho. Relaxando em sua casa, em frente à tela do computador, só de calcinha branca e uma camiseta regata de igual cor, semi-transparente, com as pernas em cima da cadeira, enquanto lia algo no monitor.

- Uma moeda pelos seus pensamentos. – Uma voz feminina irrompeu na sala. Amana deixa uma caneca com chá gelado ao lado escrivaninha da amiga. Está vestida com uma curta camisola, rosa, de cetim, com alcinhas. A jovem psicóloga de longos cabelos lisos, cruzou os braços e se apoiou na porta, olhando ternamente para Ayeska. Havia ido posar com a garota, depois de dias sem se verem, para por os assuntos em dia. Ayeska sorri. Amana continua.

- Então, ele ofereceu mesmo a proposta a você, hein? Eu disse que ele faria.

- Sim. E também propôs nós duas ao mesmo tempo.

- Típica fantasia masculina. Hm, um pouco distorcida na visão dele, admito.

- É mesmo. O que você respondeu a ele quando o encontrou naquele estacionamento?

- Mandei esperar mais um pouco – As duas sorriram. Ayeska continuou.

- Amana, ainda custo a crer que você cogitou... ou cogita mesmo isso. Que loucura, amiga. Você engana com essa carinha. Que diria que pensaria em algo assim, hardcore.

- Nem eu sei direito, Ayeska. Mas vêm cá... Eu disse como o sujeito era na cama... ou melhor, no mato, com você, né? Depois eu que sou fetichista.

- Amanita!!! – Fala Ayeska com cara de jovial indignação. – Foi um acidente, quase morri.

- Sei bem do que você quase morreu.

Caíram na gargalhada. Amana se aproximou e pousou as mãos delicadas nos ombros de Ayeska. Ambas olharam a tela do computador. A psicóloga aproximou a cabeça ao lado do ombro da advogada. Havia uma foto de Dante no monitor, com alguns dados do lado.

- Falta agora a gente decidir, o que fazemos a respeito dele e suas proposições. Até onde ele vai? E até onde a gente vai?

Quando duas mulheres assim tramam, até mesmo demônios devem ter cautela....

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Comentários

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Olá Hella, como está você? fico aqui imaginando o que aconteceu, o por quê da sua ausência esses anos todos como autora? Esse capítulo de Demônio é tão interessante e bem narrado quanto o anterior, mesma áurea de mistério, sobrenatural e sedução, perigo, ousadia, clima de tensão e tesao, escrito com esmero, você usa os elementos, clima, arquitetura, situações cotidianas a seu favor na confecção de sua obra. Bem não vou conseguir ser melhor e mais descritivo em meus elogios do que os leitores que já comentaram seu conto incrível Hella!

Quando nos conhecemos através desses comentários, você me falou que estava afastada tanto da leitura quanto da autoria de contos daqui do CCE, e me pediu uma ideia que te motivasse a voltar, bem eis o motivo, essa é a idéia! Ela já está em você, continue com essa série, você está em plena forma aqui. Petulância minha afirmar isso não? Sem ao menos te conhecer, ter lido alguns contos seus? Mas é isso que me passa, você neste conto está a vontade, no ambiente que gosta, um pouco de horror/suspense,encontros selvagens de personagens querendo se libertar, não aceitar regras impostas, a sensibilidade de cada olhar, gesto, da sedução, dos encontros e desencontros. Sem deixar de lado um bem vindo e prazeroso gosto por D/s.

Volta Hella, vai ter um leitor, esse que vos fala te aguardando, ansiosamente a esperar por suas histórias e nossas breves conversas...

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Oi, Morfeus. Só posso ser grata pelo seu comentário. É caloroso, culto e doce. Fico muito feliz em poder ler e responder.

Minha ausência não têm uma grande história por trás, rs. É bem mais simples. Eu comecei a escrever quando saí do colégio para começar a graduação. Depois veio o peso todo do curso superior e basicamente, não consegui mais escrever como queria, ou com a qualidade que os leitores mereceriam.

Passado tanto tempo, carreira mais estabelecida, eis-me aqui olhando de novo as velhas escritas. Eu tinha toda uma trilogia de histórias com temáticas diferentes no caderninho de anotações. Talvez tirar o pó dele? rsrs.

Abraços doces.

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Olá escritora! Feliz eu me sinto pela gentileza que sempre me trata, disposição e boa vontade de me responder Hella.

Bem Hella, espero que você ao pegar seu velho caderninho de anotações anime-se e volte a se inspirar e nos agraciar, leitores com sua arte de escrever e encantar com histórias tão belas, sensuais e criativas, sempre com sabor de perigo,suas personagens nos passam aquela sensação de estar vulnerável ao outro, a mercê da vontade do outro, dos fetiches alheios. Esse sentimento de estar no limite, na borda, é muito estimulant, além das narrativas com descrições de cenas meticulosas e muito criativas.Estou indo para seu último conto postado, espero que não seja nosso último contato. Abraço carinhoso!

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Senhorita, fico impressionado pela capacidade de uma tão jovem mulher saber escrever tão bem... Como sempre digo, idade é só um número. Será que mereço um endereço de e-mail para algumas dicas com contos, ou talvez escrevermos um conto juntos?

Assinado, Leroy (felipeleroybh@gmail.com

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Perfeito seu conto Hella. Gostaria de dizer mais além desse simples elogio, mas creio que não tenho palavras apropiadas para descrever seu conto. Além do mais, Nêmesis já disse tudo. Além de ser envolvente, ser excitante, não contém baixarias. Também adorei a personagem Amana, e Dante ... bem, não tenho o que dizer, apenas sei que ele realmente despertou em mim, desejos. Espero que tenha uma continuação. Realmente espero.

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PRÓXIMO ??????? POR FAVORRR

10

SEMPRE.......

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Nêmesis...

Nem tenho palavras, por que nunca imaginei que um conto erótico meu fosse receber uma crítica semelhante a sua, tão bem construída, tão cativante, tão fascinante, do tipo que vemos engrandecer uma escrita. O tempo em fazer os dois contos, esse sim, me valeu a pena, só por ver esse comentário, essa dissecação da minha amadoresca, insisto, obra. E com certeza, incentivo para melhorar.

Uma relação mais próxima aos fetiches de Dante, a demonstração do Dante em sua plenitudade, era algo que eu mesma não teria coragem de escrever, acho que me apeguei a Amana também. Pretendia que essa série ficasse com fechamento em aberto. Mas após dito o que disse, penso em rever meus conceitos sobre uma continuação...

Abraços e Beijos.

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Caçadora, obrigada, fico feliz que tenha apreciado.

Muitos abraços.

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Hella, valeu muito a pena a espera de 4 meses pelos teus próximos contos. Estão cada vez melhores.

Enquanto "escritora amadora" (como te autodefiniste num comentário anterior de "Demônio"), tua narrativa mostra-se perspicaz, envolvente. Tem uma boa evolução na sensualidade, com toques de suspense e até mesmo de humor muito apropriados. E admiro muito a tua elegância ao descrever teus personagens com lascívia, porém sem vulgaridade.

Dante é sombrio e inteligente, lascivo na (des)medida certa, com uma insolência charmosa; é evocativo com seu "estranho e muito pessoal senso de honra" (não força Amana ou Ayeska à dominação, mas convida-as a pular por vontade própria num abismo onde ele terá o controle); e ele tem um toque sobrenatural com seu olfato para mulheres. Ayeska também tem personalidade forte e independente; é inteligente e desenvolta. Mas a personagem de quem mais gosto é Amana, delicada e com sua aura de conto de fadas.

Senti falta da Amanita nesse conto. Já me preocuva se ela teria cedido à proposta de Dante e estaria presa em algum lugar (com seu consentimento, mas sem vislumbrar o quão longe o amor torto de Dante poderia levá-la...). E, quando menos espero, ela retorna à narrativa com uma caneca com chá gelado para a amiga. E ela ainda revolou-se com personalidade forte por ter imposto a um demônio um prazo maior de espera! Pergunto-me como será o desenrolar da história, mas minha maior torcida é para Amana. Imagino como seria um relacionamento afetivo entre Amana e Dante. Afinal, como um demônio amante, ele poderia estar disposto a dominá-la por completo, de corpo, alma e coração.

Mal posso esperar pelos teus próximos contos (aliás, eu espero. Nem que tenha que aguardar por outros quatro meses ou mais).

Um abraço entusiasmado de uma admiradora.

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