A iniciação (parte 1)

Um conto erótico de Contista1968
Categoria: Sadomasoquismo
Contém 7179 palavras
Data: 03/08/2008 11:11:18
Última revisão: 08/08/2008 20:18:45
Assuntos: Sadomasoquismo

I.

Eu me chamo Heloísa, nasci e cresci numa família de classe média no Rio de Janeiro. Era a caçula de dois. Tenho um irmão mais velho, Hugo, que, quando criança, era um garoto doce, mas muito irrequieto, que levava meus pais à loucura – sobretudo minha mãe, que não trabalhava fora de casa e passava os dias cuidando de nós. Lembro-me da minha vida tranqüila, ordenada, onde eu me sentia feliz e protegida. Meus pais eram muito amorosos um com o outro e conosco. Passeávamos muito, todos juntos. Papai, que tinha poucos e bons amigos, insistia em passar seu tempo livre a nosso lado e saíamos sempre em família para pequenas excursões pela praia, pela montanha, ou mais comumente pela cidade do Rio.

Quando cheguei aos meus nove anos, porém, nosso mundo feliz e perfeito ruiu bruscamente. Porque meu pai, voltando do trabalho, foi atropelado por um motorista embriagado e veio a falecer no hospital, pouco depois de dar entrada. Desnecessário dizer o que tamanha perda causou em nossa família. A vida virou de cabeça para baixo, literalmente. Minha mãe passou por uma longa depressão que lhe roubou a saúde, a juventude e a sua bela aparência. Virou um zumbi de si mesma e foi obrigada a buscar emprego – era algo inevitável. Papai havia deixado uma poupança, tínhamos apartamento próprio... mamãe recebeu o seguro de vida... Hugo e eu éramos beneficiários de uma pequena pensão... mas tudo isso viraria fumaça em poucos meses se não houvesse um salário para nos sustentar. Eu e meu irmão ficamos sem pai, sem o homem da casa e sem quem tomasse conta de nós. Por um tempo, quase acabamos em escola pública. Nossos avós maternos deram uma ajuda e passamos a praticamente viver na casa deles durante a semana, pois era para lá que íamos quando as aulas terminavam. Às vezes, mamãe chegava tão cansada do trabalho que nem ia nos buscar. Por isso, freqüentemente atravessávamos a semana sem quase vê-la, só falando ao telefone.

Nas férias, para dar um alívio a nossos avós, mamãe nos enviava à casa de nossa avó paterna, que vivia em um sítio nas imediações de Nova Friburgo, estado do Rio. Vovó Laura era bem diferente de Vovó Lídia, mãe de minha mãe. Esta, muito doce e amorosa. Aquela, muito irritadiça e impaciente. Recebia-nos como se fizesse um favor à mamãe e nos mantinha ocupados o tempo todo com pequenas tarefas, como pintar cercas, varrer a varanda, passar o ancinho no gramado. Regávamos a horta, cuidávamos das galinhas e dos patos, ficávamos horas arrancando ervas daninhas e mato das jardineiras. Como qualquer criança, queríamos ajudar e teríamos adorado fazer tudo isso se não fosse pela obrigação de fazê-lo. Vovó Laura não nos dava qualquer opção. Acordávamos cedo, trabalhávamos o dia todo e, lá pelo fim da tarde, mal e mal conseguíamos tomar banho, de tão cansados. Era o jeito de ela lidar conosco, sobretudo com Hugo.

Em um bom dia, Vovó Laura assaria bolos para nós e até poderia nos deixar ver tevê. Em um mau dia, se algo de errado acontecesse, se algo a deixasse aborrecida, zangada ou nervosa, chegávamos a apanhar da velhota que, na verdade, era bem forte. Nunca contávamos essas histórias para mamãe ou para nossos avós no Rio, em parte porque nos sentíamos culpados de alguma traquinagem – não éramos santos, sobretudo meu irmão. Muitas vezes apanhei injustamente, e porque Hugo havia aprontado isso ou aquilo. Vovó nos batia com varinha de marmelo, com um cinto, com chinelo – na verdade, com o que quer que ela conseguisse pegar no momento da raiva. Era uma pessoa de altos e baixos. Num momento, feliz. No momento seguinte, irascível. Depois de uma surra, acho que aquilo servia de alívio para os seus nervos e ela, já expurgada de seus demônios, arrependia-se. Era quando nos adulava de algum modo, muitas vezes nos deixando em paz. Outras vezes, massageando nossas costas e nossas nádegas com algum ungüento anestésico.

Hugo aprontava muito, não sei nem por quê. Talvez, fosse a falta que nosso pai fazia. Mesmo apanhando, ele ainda assim inventava uma nova travessura e o pior é que eu era punida mesmo sendo inocente. Uma vez, ele tacou fogo no varal – não de propósito, mas... também... o que ele pensava que iria acontecer, brincando com uma vara em chamas perto dos lençóis secos? Sei lá, acho que ele tinha um parafuso a menos. Nesse dia, Vovó Laura nos surrou de varinha e nos amarrou a uma cadeira. Foi algo realmente chocante, porque nossos pais e nossos avós maternos jamais nos levantaram a mão. E, de repente, estávamos com a bunda ardendo, sentados cada um em uma cadeira, as cadeiras de costas uma para a outra e amarrados com cordas grossas. Vovó Laura parecia fora de si. Tinha um brilho esquisito nos olhos e chegou a babar de raiva enquanto passava metros e metros de corda ao nosso redor. Disse-nos que éramos animais e que, como animais, deveríamos ficar amarrados. Estranhamente, lembro-me bem daquele dia. Porque, aos onze anos, amarrada daquele jeito, e com os vergões da varinha em meu lombo, senti um calor estranho entre as pernas. Foi a primeira vez e foi desconcertante.

Eu nem sabia o que estava acontecendo. Meu corpo latejava. Eu sentia minha xoxota pulsar, como se alguém a estivesse apertando. Fiquei assustada com Vovó Laura, com as cordas, com a dor no meu corpo e, ofegante, nervosa, ansiosa, procurando não soltar um pio sequer, não consegui evitar – fiquei úmida. Apavorei-me, pensando no que Vovó Laura diria. Que mijei nas calças. Seria outra surra. Naquele estado de ansiedade, minha xoxota continuava latejando, latejando, latejando. Lembro-me muito bem disso. O pânico, a dor e aquela sensação úmida, morna e pulsante entre as minhas pernas. Hugo, de costas para mim, parecia totalmente alheio. Não tínhamos coragem de falar um com o outro, para não piorar as coisas, e ele – muito caracteristicamente – acabou pegando no sono. Eu não. Fiquei ali, atormentada, apertando as pernas. Quanto mais apertava as pernas, mais minha xoxota parecia pulsar. Mais úmida eu ficava. Era uma agonia e também um êxtase. Por fim, Vovó Laura veio nos soltar e nos mandou para a cama, direto, sem janta. Foi quando, debaixo das cobertas, toquei-me pela primeira vez. E gozei. Eu acho.

Contei esse episódio porque acho que isso explica todo o resto que aconteceu na minha vida e que me marcou tanto. Daquele dia em diante, comecei a masturbar-me com regularidade. Creio que ninguém nunca percebeu isso. Fechava a porta e, debaixo das cobertas, cheia de culpa, deliciava-me. Era um prazer proibido e, muitas vezes, motivado pela lembrança daquela memorável surra que eu e Hugo levamos. Ou de outras. Tudo isso me chocava, pois... à luz do dia... na vida normal... eu não era essa pessoa. Eu era normal e bem ajustada. Mas bastava ficar sozinha no banheiro, ou no meu quarto escuro, debaixo das cobertas, que esse demônio saía de dentro de mim. Era outra Heloísa, outra garota que vivia dentro de mim, contra a minha vontade, e que se manifestava à minha revelia. Passei temporadas tentando não me masturbar como um alcoólatra passa dias contando a sua sobriedade – e como um alcoólatra sem apoio, eu sucumbia.

Minha primeira relação sexual foi com um namorado que era um bom rapaz e que gostava de mim. Não foi prazerosa, mas... sei lá... isso é o normal, eu acho. Doeu, foi esquisito, grotesco... no final, fiquei feliz de tudo haver terminado em pouco mais de uma hora. Tomei um banho e forcei-me a um sorriso. Não queria magoar o Luís. Achava também – sinceramente – que as seguintes seriam melhores. Como de fato o foram. E, por um tempo, acreditei que estava livre das minhas fantasias. Acreditei que estava livre das minhas escapadas para baixo do cobertor, quando eu me imaginava personagem de um conto erótico – e contos cada vez mais sádicos – para tocar-me vigorosamente. Luís era bom comigo, muito atencioso. Infelizmente, porém, para gozar, eu precisava fechar os olhos e pensar em outras coisas... criar roteiros... divagar.

Depois do Luís, saí com uns e outros, tive alguns namorados, nenhuma grande paixão. Mas gostei muito de um colega de faculdade, André, com quem vivia em um relacionamento esdrúxulo, de idas e vindas, brigas homéricas, finais retumbantes e reconciliações dramáticas. Chegamos a terminar várias vezes. Eu arranjava alguém, ele arranjava alguém e, mais cedo ou mais tarde, largávamos nossos parceiros para ficar juntos de novo. André foi o meu parceiro mais apimentado. Era um garanhão, gostava de trepar com estocadas vigorosas e não raro me estapeava a bunda. Xingava-me de puta, vagabunda, putinha, cadelinha, sempre de um jeito sensual, e isso era algo que me deixava acesa. Acho que era por isso que nos dávamos tão bem, e que o nosso sexo era tão estimulante. Hoje, sei que realmente nunca amei André. Mas, na época, acreditava ser apaixonada por ele. Acreditava que aquele namorado era o tal. Na cama, André sabia ser rude na medida certa, gostava de ousar e não tinha preocupação em ser politicamente correto. Era o melhor amante que eu havia tido e o que me fazia gozar de um modo como eu nunca havia gozado antes.

Por causa do André, comecei a ler mais sobre sexo, sobretudo na internet. Minhas pesquisas me levaram aos sex shops, onde pisei, pela primeira vez na vida, tão profundamente mortificada e com uma vergonha tão grande que nem pude ver direito do que se tratava. Tremia com medo de ser reconhecida. Não que eu conhecesse tanta gente assim, mas... vai que aparece um conhecido...!? Como uma gata assustada, eu ia e vinha, até que finalmente fiz a minha primeira compra. Um par de algemas. Cheguei em casa nervosa e excitada com aquela travessura, louca para compartilhá-la com André. Ele, claro, ficou muito entusiasmado. Algemou-me na cabeceira da cama e fizemos sexo loucamente. Eu era uma boneca em suas mãos e adorei cada minuto. Dali por diante, nossas trepadas teriam sempre algum momento em que eu estaria algemada – algemada com os braços para trás, com os braços para frente. Algemada à cama, à mesa, à porta do carro. Éramos como dois animais em constante estado de excitação. Sentir-me presa me deixava em tal nível de ansiedade que, ao menor toque, eu já ofegava de prazer. Era o que acendia André – ele nunca realmente me machucava para valer, e parecia limitar-se à tensão do momento. Era uma fantasia, uma loucura.

Entusiasmada com o sucesso das algemas, que usávamos o tempo todo, fiz outra compra. Trouxe um vibrador. Foi a glória. Ao contrário de outras mulheres, eu não o usava para masturbação, sozinha. O vibrador fazia parte de nossas relações. André me estimulava com aquele pênis de silicone que tremia e vibrava dentro de mim, fazendo minha boceta transbordar de sucos e gozo. Não era um vibrador grande – era até mais modesto do que um pênis de verdade. Mas já causava intenso prazer em alguns momentos e bastante incômodo em outros, quando André o introduzia em meu anus e me fodia como uma cadela, na boceta. Ou, ao inverso: quando ele deixava o vibrador na minha boceta e me enrabava, muitas vezes com tanto ardor, com tanta paixão, que eu mal conseguia mantê-lo dentro de mim. Acho que, por não ser tão largo, e por eu estar tão lubrificada, o vibrador de silicone acabava escorregando para fora enquanto André me estocava por trás. Nossas trepadas assim duravam uma eternidade, até cairmos sem vida, no colchão, os dois suados, trêmulos, ofegantes, eu enrabada ou com André ainda pulsando dentro da minha boceta. Era algo que eu jamais vou conseguir descrever direito em palavras, mas que tinha a ver com a sensação de plenitude, de perfeição, de ápice. De glória, arrebatamento e paixão. Era, em poucas palavras, mágico.

Depois das algemas e do vibrador, foi a vez da gag ball. Isso foi idéia do André, que a trouxe para mim um belo dia. Fiquei meio assustada com aquilo, talvez pelo fato de que a gag parecesse um pouco grande para a minha boca, e porque teríamos que prender as correias pela minha cabeça. Quando vi-me no espelho usando aquilo, levei um susto. Era aflitivo. Eu parecia uma cadela com uma focinheira. Foi me dando uma agonia, um nervoso... quando me dei conta, estava complemente úmida. André percebeu meu pânico e me fez um carinho, dizendo que tudo ficaria bem. Que era para eu relaxar. Senti quando ele levantou a minha saia, puxou a calcinha de lado e me penetrou sem qualquer poesia. Não houve carinho, não houve afago. Eu estava de pé, junto à parede, e ele, já bem duro, fez seu pau deslizar para dentro da minha xoxota sem qualquer problema. "Pomba, Helô! Você tá toda molhada, gata!". Aflita, desesperada, com medo, sufocada. Naquela trepada sem jeito, pensei que iria desfalecer. E, como uma cantiga velha e conhecida, não desfaleci. Minha dor e minha agonia viraram outra coisa. Viraram uma pulsação insana, um calor súbito e indescritível. Gozei como se meu corpo nem me pertencesse. Como se tivesse vida própria, independente da minha consciência. Vendo meu abandono, meu estado de profundo êxtase, André passou a me estocar com fúria. Fez de mim uma boneca, me arrastou para a cama e me cobriu como um touro cobre uma vaca. Fiquei de quatro, fora de mim, babando de prazer, de medo, de gozo, de loucura. Por trás, ele me penetrou na vagina inteiramente melada. Agarrou meus ombros e batia aquele pênis latejante dentro de mim, me cavalgando furiosamente. Não sei quantas vezes gozei. Já nem sabia se era um gozo só ou vários. Sei apenas que ele me dava palmadas, me chamava de vagabunda e que chegou ao ápice com um urro de prazer antes de tombar para o lado, satisfeito.

Até terminarmos de vez, cerca de um ano depois, fizemos uso dos nossos brinquedos e as relações foram ficando cada vez mais apimentadas. Na cama, essa rudeza era uma maravilha. Fora da cama, porém, não conseguíamos nos acertar. Brigávamos muito, demais. Tínhamos muito ciúme um do outro e pouco espírito de companheirismo. Um dia, no calor de uma briga particularmente explosiva, André perdeu a cabeça e partiu para cima de mim, desferindo um sonoro tapa no meu rosto. Um tapa que me fez perder o equilibro e tombar para o lado. Caí no chão, bati com a cabeça e ainda levei um chute do meu namorado bem na boca do estômago, algo que me deixou praticamente sem fôlego. Foi o que enfim selou o nosso destino. Hoje, acho que os rituais sado masoquistas foram tirando nossos pés da "realidade", até que, no meio de uma briga, ambos excitados – de raiva e sexualmente – ele perdeu a cabeça e agrediu-me para valer, com brutalidade. Sabe o que é mais estranho? Foi ele que ficou chocado. No chão, derrotada, com um fio de sangue escorrendo pelo canto da boca, eu queria André. Queria abocanhar seu pau e chupá-lo, misturando o gosto de sangue com o gosto de gozo, de pica dentro da cueca, de secreção. Queria que ele me algemasse e me comesse como uma cadela. Não fui eu que terminei o relacionamento – eu teria ido para a cama com André, teria transformado aquela loucura em sexo bruto e animal. Mas André caiu em si. Tirou-me do chão, trêmulo e muito pálido. Estava assustado com o que havia feito. Me levou para a cama, limpou minha ferida na boca e insistiu em me levar para o hospital. No dia seguinte, mortificado, disse que não poderia mais continuar comigo. Tinha medo do que poderia acontecer dali por diante e, de mais a mais, tendo estapeado a namorada assim, fora do contexto apimentado de uma relação sexual, acreditava não mais haver respeito entre nós. Curiosamente, quando eu o queria mais do que nunca, para ele, tudo esfriou.

Meu fim de faculdade foi deprimente. Eu era louca por André e ele não queria mais saber de mim. Não respondia meus telefonemas. Não me procurava, não falava comigo, não queria ter notícias minhas. Era como se nem me conhecesse. Acho que fez isso porque tinha medo de voltar atrás e recomeçar o ciclo, só que dessa vez uma oitava acima, escalando a violência para além de ponto até o qual estava disposto a ir. André colou grau e não participou da formatura, acho mesmo que para me evitar. Soube que ele arranjou uma namorada pouco depois de terminar comigo, engravidou a menina e teve um menino com ela. Acabou casando com outra garota. Passou em um concurso para o Banco Central e mudou-se para Brasília. Nunca mais o vi e ele sumiu de minha vida por completo. Nosso rompimento foi terrível, me deixou com uma sensação de vazio e de abandono que era insuportável. Verdadeiramente insuportável. Doía o tempo todo, como uma pressão no peito – sabe como é que é? Quando alguma coisa está muito, muito errada na sua vida, e você se arrasta pelo dia querendo se ocupar de outra coisa, para não pensar, não sentir... mas aquilo fica lá, doendo, sem parar? Era assim. Eu passava muito bem, muito bem, e, de repente, tomando café, lendo um jornal, no meio de uma conversa, me batia aquela tristeza, aquele vazio, aquela sensação terrível de vácuo não preenchido.

Depois de sair com um e com outro, sem me interessar por ninguém, finalmente cheguei à conclusão de que deveria dar um tempo a mim mesma. Dei-me conta de que, desde os catorze anos, eu estava pendurada no braço de algum rapaz. Havia namorado cinco ao todo – namoro firme, de compromisso. Havia tido rolos. Havia ficado, tido meus casos, tudo que garotas da minha idade fazem, e que não é nada demais. Ao contrário de minhas amigas, porém, por algum motivo, sozinha mesmo eu nunca ficava. A qualquer momento, tinha companhia. Não era difícil conhecer rapazes, bons rapazes, me interessar por eles e despertar o interesse neles. Um namorado praticamente engatava no outro e eu não sabia o que era não contar com um homem a meu lado. Por isso, naquele momento de solidão, pensei que talvez devesse dar um tempo a mim mesma e viver plenamente aquela solidão. Achei por bem ficar sozinha. Era melhor assim – limpar a cabeça e começar de novo, sem ranço, para até poder voltar a me interessar por alguém. Nessa nova fase, passei a dedicar-me ao trabalho. Estava formada e comecei a trabalhar numa firma de importação e exportação. Estudava para concursos e queria fazer uma boa figura no meu emprego. Por isso, foi o momento mais sério da minha vida. Trabalhava, estudava, estudava, trabalhava. Quase não saía, a não ser para ver algumas amigas mais queridas. Nessa época, já morava sozinha, em um pequeno apartamento comprado com uma parte do dinheiro que meu pai havia deixado. Eu estava indo bem e me sentindo dona de mim mesma.

A não ser por um velho vício. Do fundo do armário, saíram as algemas. E eu voltei para baixo do cobertor. Foi quando, de repente, meu pequeno segredo deixou de ser um segredo. E tudo mudou na minha vida.

[continua]

II.

[continua]

Na privacidade de meu quarto, sozinha e sem ter que dar conta a ninguém, fui cedendo aos meus instintos, às minhas fantasias e passei a experimentar mais. Passei a usar todos aqueles “brinquedos” que haviam feito parte da minha relação com André. Pouco a pouco, ia sofisticando, incorporando uma coisa e outra. Ia criando histórias na minha cabeça, com enredos mirabolantes e fantásticos. As personagens eram celebridades do cinema e da tevê, pessoas que eu conhecia na vida real e até eu mesma, em cenários de fetiche, clichês de excitação, praias paradisíacas, oficinas de mecânico, elevadores, becos escuros e abandonados... a minha criatividade era toda uma biblioteca de erotismo.

Para apimentar tudo, eu ia usando meus apetrechos. Comecei com as algemas e o vibrador. Eu ficava nua, na cama, debaixo dos cobertores – acho que para “esconder” do mundo aquele meu prazer perturbador - , com as mãos algemadas para frente e me masturbando com meus dedos. Era uma delícia. Usava o vibrador na minha boceta, que pingava de excitação. É uma coisa engraçada quando a boceta inunda, tomada dos sucos que brotam de dentro do nosso corpo. A gente vai ficando mole, zonza, com aquele calor, aquela sensação de umidade, até que o gozo irrompe, como uma força da natureza, fora de controle. Dependendo da época do mês, da minha criatividade, de algo que houvesse me excitado na teve ou na internet, eu ficava ali, por horas a fio, parando apenas para retomar forças. Sentia o meu grelo inchar, pulsar, latejar. Usava o vibrador dentro de mim – aquele mesmo, que não era nem tão largo nem tão grosso quanto um pênis, mas que vibrava deliciosamente e me ajudava a chegar a um êxtase maravilhoso.

Com o tempo, resgatei a gag ball. Mais do que as algemas, a gag ball me deixava muito, muito aflita. Eu me olhava no espelho, nua, pálida. Minha imagem dizia tudo. Segurando a gag ball na mão, eu era o reflexo do pânico primário, básico, de todo ser humano, de toda criatura viva, que é sentir dor. A gag ball passa essa coisa, de que você perdeu a sua humanidade, de que você vira um animal. De que você ficou vulnerável e impedido de gritar por socorro, pedir ajuda, tentar se salvar. Nesse delírio, eu me impunha a gag ball. Colocava a bola cor de laranja na minha boca e afivelava aquela coisa na minha cabeça. Meu pânico era imenso. Era o que eu via naquele espelho – uma Heloísa que não era a Heloísa que eu achava ser. Com a gag, eu me algemava e ia para baixo das cobertas. Usava o vibrador. Meus dedos buscavam o grelo, que logo inchava e pulsava. No auge do gozo, eu sentia o carocinho e apertava aquela carne latejante com força, querendo prolongar os espasmos ao máximo. Minha boceta logo transbordava dos sucos e do gozo que brotavam com espantosa facilidade. Sempre tive muita secreção e muito gozo – André dizia que eu era uma dessas mulheres que esporram. Acho que é verdade, eu esporro mesmo. A lubrificação é fácil e o gozo brota de uma maneira bem visível e viscosa. Um homem que realmente me conheça sabe quando eu gozo e quando eu não gozo, não dá nem para tentar enganar.

Por uma temporada, tive medo que o onanismo me dominasse inteiramente. Que, de tanto me satisfazer sozinha, eu nunca mais achasse graça na companhia de um homem. Li alguns artigos sobre o assunto em revistas femininas e masculinas – alguns até interessantes, porque explicavam o tabu religioso em torno da masturbação. Em algumas religiões, existia mesmo o medo de que um homem, se masturbando, desperdiçasse sêmen à toa e perdesse o desejo pelas mulheres. Isso me parecia ridículo, mas fazia sentido. E o sentido é que, na minha caverna, escondida debaixo das cobertas, eu estava me transformando em uma garota solitária, que se realizava sozinha e preferia não se arriscar em outro relacionamento. Pensei em freqüentar terapia. Pensei em falar com o meu ginecologista. Pensei em tomar remédio. Mas a verdade é que, mesmo chocada com o meu comportamento à luz do dia, eu nada fazia para mudá-lo, porque eu gostava de amarrar, me amordaçar e ir para baixo das cobertas. Essa história de tomar remédio, por exemplo?, acabou assim: pesquisando se haveria algum inibidor sexual, acabei lendo a respeito dos estimulantes sexuais. Eu considerava me castrar quimicamente e acabei comprando uma caixa de pílula azul pela internet. Fiquei curiosa. Tomei uma e passei o final de semana com a cabeça nas nuvens, como se eu houvesse bebido meia garrafa de champanhe. Meu clitóris, inchado, pulsava. Era como se estivesse duro o tempo todo – se fosse um pênis, estaria ereto. Mal consegui sair de casa. Nada do que eu fizesse me trazia satisfação. No final, não foi nem tão legal assim, porque o orgasmo não era seguido daquela sensação de relaxamento e alívio. O Viagra me deixava acesa, irrequieta, insatisfeita. Acabei jogando aquela besteira fora.

Foi numa tarde pacata de domingo, eu sozinha em casa, que meu pequeno segredo saiu do fundo do baú. Eu estava algemada, gozando na cama com o meu vibrador, quando o alarme de incêndio do prédio começou a tocar. No pânico, não achei as chaves da algema, que ficavam sempre na mesinha de cabeceira. Eu muito provavelmente derrubei as chaves sem querer, enquanto me mexia na cama, e, na confusão, não tive cabeça nem tampouco frieza para procurá-las. Era isso ou morrer queimada, sei lá. Com as mãos algemadas, consegui remover a gag ball e até vesti uma calça para sair, mas estava com os seios de fora. O alarme de incêndio ainda tocava insistentemente. Desesperada, peguei uma mini saia de elastano e puxei-a para cima, como se fosse uma blusa tomara-que-caia. Achei um casaco e saí correndo, desesperada. Quando abri a porta de casa, em rota de fuga, acabei trombando com um dos meus vizinhos, que me amparou da queda.

“Calma...!” – ele me disse, gentilmente: - “Não é nada... alarme falso... literalmente”. Simpático, sorriu para mim. Acabamos rindo da idiotice. Eu estava pálida, descabelada, vestida como uma idiota e escondendo meus pulsos algemados por baixo do casaco, que eu segurava contra o meu peito. “Como é que a gente vai confiar nesse alarme, não é mesmo? Da próxima vez que tocar, ninguém vai dar bola”. “Será que foi mesmo falso...?” – perguntei, ainda trêmula de medo. “Foi. O porteiro acabou de me ligar. Por sorte, tem pouca gente no prédio”. Suspirei, aliviada. Era tudo muito ridículo. Minhas pernas tremiam, não sei se por causa do medo de morrer queimada ou pelo fato de ter sido arrancada de meu pecado secreto. Era como se a Divindade houvesse me punido pelas minhas travessuras. Não sei, maluquice. “Obrigada...” – murmurei. “Imagina. Tudo bem com você?”.

Como eu poderia responder aquela pergunta? Meu vizinho, apesar de morar na porta em frente, era alguém que eu mal via. Às vezes, cruzávamos no corredor ou no elevador, e só. Eu mal reparara em seu rosto antes. Agora, via que era um homem de seus quase quarenta anos, com uma bela barba aparada, olhos de um azul escuro muito bonito e braços fortes, de quem faz ginástica. Não sabia nem o seu nome direito. Ricardo, eu achava, mas não tinha certeza. Ele era sempre muito simpático comigo, muito educado, com modos de cavalheiro. Puxava a porta do elevador para eu poder entrar ou sair, me cumprimentava e sempre sorria de um jeito bondoso. De vez em quando eu o via saindo para passear com um cachorro pastor alemão grande, que ele chamava de Tuli. Muito correto, usava o elevador de serviço. Lembro-me de uma ocasião em que Tuli estava com uma focinheira e esse meu vizinho me explicou que iria passear pelo calçadão. Pensei, quieta, que aquele cachorro parecia comigo, quando eu usava a gag ball. Ou era eu que parecia com Tuli. Eu era uma cadela. Aquilo era perturbador, me deixava com a sensação de meus vícios eram muito errados – mas, quanto mais errados, mais prazerosos.

“Eu acho que eu preciso... me deitar um pouco... não sei, acho que fiquei nervosa...” – desconversei, querendo voltar para casa. “É, boa idéia... eu vou descer e falar com o Juvenal. Acho que temos que chamar o síndico para resolver essa história de alarme ainda hoje”. “É... tem razão...”. Eu estava aflita para abrir a porta. Obviamente, havia algo de errado comigo, porque eu não largava o casaco. Quem é que tenta achar uma maçaneta por baixo do pano, agarrada ao casaco que, naquele calor, não fazia qualquer sentido? “Você precisa de ajuda...?” – ele me perguntou gentilmente, apesar de algo desconfiado. “Não, tudo bem... a maçaneta não... não trava por fora...”. De fato, não. Mas quando finalmente a fiz girar, abrindo a porta, o casaco escapuliu e caiu pesadamente no chão.

Foi um desses momentos pivotais, em que nada é dito e tudo é compreendido. Tudo, absolutamente tudo. Trocamos um olhar e foi o que bastou. Não sei se por causa de minha inexperiência, e por toda a culpa que eu carregava, ou se porque ele era muito experiente e foi capaz de captar tudo no ar. Corei logo. Meu rosto, muito vermelho, queimava de vergonha. Algemas, fora de um contexto policial, não costumam ter outro uso mais explicável do que um óbvio fetiche. Sozinha no apartamento, então, o que aquilo parecia? Como qualquer pessoa que esconde um segredo, achei que tudo estava muito bem estampado em letras garrafais na minha testa: tara. Masturbação. Gag ball. Vibrador. Puta, safada, doente. Masoquista. Gosta de ser amarrada. Gosta de levar tapa. A Heloísa das algemas, que eu guardava tão bem guardada debaixo das cobertas, estava agora exposta à luz do dia, e para um virtual estranho. “Se você precisar de ajuda...” – ele ofereceu, ainda muito gentilmente, como se não quisesse me embaraçar. “Não, tudo bem... tudo bem... eu me viro sozinha...”. “Ok... mas, se você mudar de idéia... meu nome é Rogério... não sei se você se lembra...”. “Rogério, claro... me lembro sim... me lembro... obrigada, Rogério... Eu me chamo Heloísa...”. “É, eu sei. Bom, Heloísa, eu vou descer. Vou falar com o porteiro. Mas fique tranqüila porque foi mesmo um alarme falso”. “Obrigada...”.

Acho que amei Rogério de imediato, naquele momento. Ele foi um cavalheiro, fingiu que não viu, que não entendeu, e me poupou um grande embaraço. Sorri um sorriso débil e entrei no meu apartamento, meu santuário, minha alcova de pecados, e fechei a porta gentilmente atrás de mim. Minhas pernas ainda tremiam e a sensação de idiotice era como uma faca me atravessando o peito. Como seria dali por diante? Como seria cruzar com Rogério no corredor? Era uma vergonha, um vexame horrível. Toda vez que me visse, ele também veria uma puta. Meu vício, minhas fantasias, minhas intimidades guardadas debaixo de sete chaves acabaram reveladas por acidente a alguém que, sem me conhecer, iria me julgar da pior forma possível. Fui para meu quarto, arrasada, e – depois de revirar tudo – achei as chaves debaixo da cama. Tudo por nada. Minha vergonha havia sido em vão porque, de fato, minha vida nunca estivera em risco. Só podia ser um castigo divino mesmo, sem sombra de dúvida.

Na semana seguinte, por uma bênção qualquer, não encontrei Rogério. Não que eu sempre esbarrasse com ele pelos corredores, mas... não querendo vê-lo de jeito nenhum... temia o acaso. É a história do pão de pobre, que cai com a manteiga virada para o chão. Meus horários não eram os horários do Rogério, mas – se eu estivesse sendo vítima de uma grande sacanagem do destino – certamente seria obrigada a cruzar com ele todos os dias, para que o suplício não tivesse fim. Não foi, porém, o que aconteceu. Quando a sexta-feira chegou, eu já estava bem menos aflita, achando que a coisa toda iria ficar o dito pelo não dito. Que é assim mesmo, ninguém deve nada a ninguém e cada um cuida de si. Quem não tem seus segredinhos? Essa era a medida da minha autoconfiança. Estacionei meu carro na garagem e, muito calmamente, tomei o elevador.

Estava cansada depois de um dia inteiro de trabalho. Havia a tentação de me jogar na cama e ver televisão, mas – naquele fim de tarde, princípio de noite – eu realmente fiz planos. Pensei em tomar um banho quente e sair para relaxar. Queria ver um filme, talvez fazer umas compras no shopping. Tive a idéia de ligar para uma amiga e convidá-la a sair comigo quando cheguei ao meu andar. Estava tudo tão quieto, tão calmo, que aquela aflição dos dias anteriores não me ocorreu – eu nem trazia a chave de casa na mão. Tranqüilamente, abri a minha bolsa e, revirando aqui e ali, procurei pelo chaveiro. Foi quando senti a presença de mais alguém a meu lado. Ergui o rosto e lá estava ele – Rogério. Meu vizinho, com seu sorriso simpático.

Meu coração deu um pulo selvagem no peito. Eu não o havia ouvido. Eu não havia ouvido qualquer ruído, nada. Nem do cachorro, Tuli, que ele trazia na guia. Como isso era possível? Não ouvi coisa alguma, só senti a presença dele, como uma espécie de instinto animal. Do jeito que uma caça sente a presença do predador, já tarde demais para fugir. E, exatamente como uma caça, uma pequena presa, empalideci, sem qualquer reação – paralisada mesmo. “Olá, Heloísa... tudo bem?”. Não sei por que eu estava tão amedrontada. Rogério olhava-me como o perfeito cavalheiro que sempre havia sido. Não sei por que intuí a ameaça. Porque, naquele momento, não era vergonha que eu sentia, mas uma avassaladora sensação de vulnerabilidade. “Olá...” – balbuciei, em um fio de voz. “Eu assustei você?”. “Não...”. Claro que havia. Era algo estampado em meu rosto. Ele devia estar sentindo o cheiro do meu medo. “Você parece assustada”. “Não... não, não tô não... impressão sua...”. Minha voz mal registrava. Meu peito arfava. Eu mal conseguia olhá-lo nos olhos. “Que bom”.

Para meu desespero, Rogério estendeu a mão e me tocou no rosto. Eu cheguei a reagir como se esperasse um tapa, mas ele só queria me fazer um longo afago. “Sim, você decididamente parece assustada...” – e ele sabia o quanto aquele carinho me assustava. Era bom, mas me assustava. Com a ponta dos dedos, Rogério desenhava o contorno das minhas feições de um modo tão delicado que era como um cócega deliciosa. Eu ofegava de medo, me sentindo encurralada contra a porta e ameaçada pela presença do cachorro, que me olhava diretamente nos olhos. “Não fique assustada, Heloísa... porque eu não quero fazer mal a você”. “Por favor...” – murmurei, numa súplica. “Ssh, meu anjo... não fique assim...”. Os dedos escorregaram suavemente pelo meu pescoço e chegaram ao meu colo, brincando no contorno do meu bem comportado decote. Naquele momento de ansiedade, meu corpo latejava loucamente. Eu me sentia pequena, fraca e vulnerável, perdendo o fôlego, num misto de pavor e excitação. “Vamos entrar, Heloísa...? Eu quero dar uma olhada no seu criado-mudo”. “Meu... o quê...?”. “Seu criado-mudo. Sua mesinha de cabeceira”. Oh, ele sabia. Ele sabia. Seus dedos acariciavam agora um dos meus seios, por cima da roupa, fazendo os mamilos endurecerem ao seu primeiro toque. “Vamos, Heloísa... abra essa porta... vamos entrar”.

Tenho seios pequenos, como os de uma adolescente. Quando resolveu usar sua mão – que era grande e macia – tudo coube em sua palma. Brincava com um e com outro, talvez se divertindo com o fato de os mamilos estarem agora tão duros que, como carocinhos, marcavam o tecido da blusa a despeito do sutiã. “Vamos, meu anjo... seja uma boa menina”. Eu estava tão atordoada pela presença do Rogério que meu pânico era também um pouco fascinação. Ele é um homem bonito, charmoso, de feições marcantes e modos suaves. Deixei que tomasse a bolsa de minhas mãos e pegasse as chaves do meu apartamento. Foi ele que abriu a porta de casa, sorrindo-me de um modo muito gentil. “Vamos...”. Ainda lembro de ter virado o rosto em outra direção, como quem pensa em recusar, fugir, pedir socorro. Mas meu medo não era aquela força animal que traz o instinto de auto preservação. Meu medo era debilitante, me deixava zonza, frágil, muito fraca das idéias. Meu medo era a minha sedução. Rogério pegou-me pela mão e levou-me para dentro sem que eu tentasse impedi-lo, e éramos seguido por Tuli.

Uma vez dentro do apartamento, assisti, como uma criança impotente, quando Rogério trancou a porta e guardou as chaves em seu bolso. Tuli não latia, como um cão fiel e bem treinado. “Eu gostaria de ver o seu quarto, Heloísa... ou o lugar onde você brinca”. “Rogério, por favor, não...”. “Ssh, ssh, ssh, meu anjo... não faça assim. Você me leve ao lugar onde você brinca”. Não era um pedido, era mais como uma instrução. Era isso o que talvez me deixasse tão indócil – Rogério era gentil e me falava muito polidamente. Mas, por trás daqueles olhos aquilinos, daquele sorriso bondoso, havia um brilho que eu instintivamente reconhecia. Tinha o comando da situação, como um adulto que, sem precisar dizer nada, tem o comando de qualquer criança. “Por aqui...” – balbuciei, mostrando o caminho. Rogério fez-me um sinal para que eu fosse na frente embora se tratasse de um apartamento de quarto e sala. Mal cruzamos o corredor e já estávamos em meu quarto, com tudo muito limpo e arrumado. Meu quarto... eu não podia acreditar que estava levando aquele estranho e o seu cachorro direto para o meu quarto, onde eu ficaria ainda mais vulnerável.

“A sua casa é muito bonita, Heloísa...” – ele comentou, olhando discretamente ao redor: - “Vê-se logo que você é uma moça de bom gosto”. “Obrigada...”. Senti meu rosto enrubescer. Rogério me olhava e sorria, como um tio querido. Aproximou-se e acariciou-me de novo. “O que foi, anjo...? Por que esse medo todo...?”. “Porque... não sei...”. Lágrimas brotaram em meus olhos enquanto Rogério me afagava de novo. Havia algo nele, algo em sua estudada polidez que me deixava com a sensação de calma antes da tormenta. “Ssh, ssh, anjinha... não, nada disso... não fique assim...”. Ele afastou meus cabelos para trás, como se eu fosse uma criança, e desabotoou o primeiro botão. Eu estava perdendo o fôlego. “Você é uma boa moça, Heloísa... dá para ver isso no seus olhos... uma boa moça com gostos que boas moças têm medo de admitir...”. Quando o segundo botão saiu da casa, os dedos tocaram no vão entre os seios, causando um espasmo involuntário ao longo de minha espinha. “Você anda muito sozinha, não anda...?”. “Não...”. “Anda sim... o que é uma é uma pena, porque... boas moças como você não devem ficar assim, sem alguém que cuide, e proteja, e lhes dê carinho... você me entende...?”. “Rogério, eu...”. “Ssh, ssh, ssh...” – com um dedo, ele silenciou meus lábios. Com outro, soltou o terceiro botão. “Heloísa, como você é linda... você parece uma boneca... uma linda boneca, dessas antigas, com rostinho delicado e perfeito...” – o quarto e o quinto botão cederam facilmente. Assustada, comecei a chorar de mansinho enquanto ele fazia o tecido de seda escorregar pelos meus braços, até cair no chão.

“Não chore, minha querida... não chore... você é realmente muito linda... eu gosto muito de cadelinhas assim como você... pequenas e delicadas...”. Cadelinha. Eu me lembro do jeito carinhoso como ele disse “cadelinha”. Foi quando tomou meu rosto em suas mãos e beijou-me na testa. Eu tremia, paralisada de medo. Mas o medo também era algo diferente, algo que parecia uma revoada de borboletas em meu estômago, e que me fazia pulsar loucamente entre as pernas. O medo, para o meu intenso horror, me excitava. “Você anda sem dono, não?”. “Ah...?” – eu nem raciocinava direito. Com aquelas mãos macias, Rogério estava removendo o sutiã sem qualquer dificuldade. Quando me dei conta, meus seios estavam à mostra, para o deleite do homem que me afagava tão gentilmente. “Ah, Heloísa... são lindos... tão delicados... tão... branquinhos...” – meu rosto enrubesceu de vergonha, de medo, de constrangimento. “E esses mamilos... tão rosados...!”. Senti os dedos fecharem-se ao redor de um de meus mamilos. Ele me abraçou, fez com que eu repousasse minha cabeça em seu peito, e ficou brincando com o biquinho rosado. “Cadelas peitudas não são nada atraentes... não para mim...”. Enquanto falava, Rogério ia apertando meu mamilo. Apertando, apertando, apertando, numa pressão bem suave que, aos poucos, foi se tornando bastante incômoda, incômoda, incômoda, até ficar dolorosa. Gemi, mas aquela mão que me afagava na nuca fez com que meu rosto afundasse no peito dele. “Nada de grito, anjinha... nada de grito... senão, eu vou ter que castigar você...”. Ele apertava e torcia meu mamilo. A dor era terrível, lancinante, até que, para o meu mais absoluto horror, o desconforto foi virando outra coisa. Tentei arquear as costas, mas ele me prendia. Tudo pulsava. Entre as pernas, eu pulsava loucamente. “Assim, assim... boa menina... boa menina...”.

Com um puxão, Rogério me levou à loucura. A dor era muito forte. Meus gemidos eram abafados em seu peito, meu corpo se debatia, mas eu nada fazia para correr daquele abraço de urso que me torturava. Quando ele finalmente soltou meu biquinho, eu estava quase desfalecendo em seus braços. Aquela mão grande foi descendo, descendo, e chegou às minhas pernas. “Não... não... por favor... não...” – meus gemidos eram débeis e só faziam com que Rogério ganhasse mais controle da situação. Para ele, era como se eu estivesse implorando por mais. Senti quando ele pegou minha saia e a ergueu aos poucos, prolongando meu medo. Seus movimentos não eram rudes – eram firmes, experientes, bastante estudados. Ele ainda pressionava minha nuca contra seu peito quando finalmente afastou as minhas pernas e tocou em minha calcinha. Bastou escorregar o dedo pelo pano para senti-lo encharcado. Sim: em meu desespero, eu havia gozado sem sequer ter sido tocada. Era a confirmação de que precisava. “Heloísa... como você goza, neném...”.

Era um delírio. Ele me afagava e eu me contorcia, querendo escapar, mas também esfregando meu corpo contra o dele. A mão entrou por minha calcinha e me tocou direto na pele, causando um forte espasmo. “Calma, menina... calma...”. Eu não fiquei calma, não podia ficar calma. Onde quer que ele tocasse, era uma explosão, uma contração, um movimento latejante. Os dedos tocaram em minha vulva lubrificada e seguiram até o grelo, suavemente, me levando à insanidade completa. Eu estava gozando. Seus dedos brincavam com meu grelo, vai e vem, vai e vem. Eu gemia, chorava, gemia, chorava. “Isso, anjinha... goza... goza... goza...”. Aquela voz me embalava, era como uma deliciosa cantiga de ninar. Senti o primeiro espasmo, o gozo, gritei, e ele não parou. Continuou me acariciando, me bolinando, fazendo com que meu corpo todo tremesse desajeitadamente. Quando a segunda onda de espasmos despontou, ele parou de massagear meu clitóris e passou a beliscá-lo. Um único beliscão, forte, que me fez urrar de dor e prazer. Era algo indescritível. Dei um salto involuntário, ainda firmemente presa ao corpo de Rogério – era o meu gozo. Ele me beliscava e me puxava, com cada vez maior força. Meu grelo pulsava entre os dedos dele, algo que nós dois sentíamos como se dividíssemos o mesmo corpo. Meu gozo foi avassalador. Tombei, quase desfalecida, sentindo o amparo nos braços de Rogério.

“Oh, Heloísa... você gostou, não gostou...?” – ele segurou meu queixo e me fez olhar em sua direção. “Que cadela maravilhosa você é...! Eu juro, gozei só de ouvir os seus gemidos...”. Eu não tinha forças para lutar contra ele, nem tampouco queria lutar contra ele. “Vamos fazer o seguinte hoje, anjinha... vamos brincar com os seus brinquedos. Amanhã, se você quiser, brincaremos com os meus brinquedos... que tal lhe parece?”. Eu nem raciocinava direito. Assenti, meio zonza. Foi quando Rogério tomou-me em seus braços e me levou até a poltrona no canto do quarto, onde eu normalmente me sentava para assistir tevê. “Espere que eu já volto...”. Levei dois tapinhas de leve no rosto e vi quando ele se foi, deixando Tuli de guarda, na porta do meu quarto.

[continua]

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Comentários

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Este foi o primeiro e último conto de sadomasoquismo que eu li, nem mesmo o seu final me interessa. Só me fez sentir tristeza, e o único desejo que eu tive, foi de cobrir de carinhos uma pessoa assim tão carente. De qualquer forma, foi bom pra você desabafar tudo isso e nisso te dou dez, mas como erotismo é zero e a média é cinco. Espero que você tenha encontrado a verdadeira felicidade.

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Muito bom conto, mas muito longo também...

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Isso e pra ser um conto não um livro.Muito longo .Muito Chato ....Horrivel. Credo.

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