EU ODEIO MEU CHEFE - CAPITULO 9

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 1203 palavras
Data: 20/12/2025 16:59:29
Assuntos: Gay

Alguns dias tinham se passado desde a última vez em que eu realmente parei para respirar. A rotina não tinha ficado mais leve, só mais silenciosa. Agora eu estava do outro lado da cidade, empurrando um carrinho meio torto no supermercado grande, aquele que todo mundo dizia ser mais barato. Era longe, cansativo, mas cada centavo economizado fazia diferença.

O lugar era enorme, luz branca demais, corredores longos demais. Eu segurava o celular com a calculadora aberta enquanto comparava preços, somando mentalmente tudo antes mesmo de colocar no carrinho. Arroz, feijão, macarrão, óleo. O básico do básico. O dinheiro que eu tinha ali não era exatamente meu — era o salário que eu tinha pedido para antecipar — e isso pesava mais do que as sacolas que eu ainda nem tinha enchido.

Enquanto eu encarava a prateleira de enlatados, a lembrança veio sem pedir licença.

Eu estava em frente à mesa do Sr. Alencar, as mãos suando, o coração acelerado.

— Antecipar o salário? — ele repetiu, com aquele sorriso torto que nunca significava coisa boa. — Está apertado assim, Akio?

Eu tentei explicar, mas ele me interrompeu com um riso baixo, debochado, reclinando na cadeira como se aquilo fosse entretenimento.

— Juventude de hoje… não sabe se organizar.

Aquilo me queimou por dentro. Engoli seco, respirei fundo e falei de uma vez:

— Eu preciso pagar contas atrasadas. E comprar comida.

O riso morreu na hora. O Sr. Alencar me olhou por alguns segundos longos demais, depois pigarreou, mexeu em alguns papéis e mudou completamente o tom. Não pediu desculpa, claro. Só disse que veria o que podia fazer. E viu.

O bip distante de um caixa me puxou de volta para o presente. Balancei a cabeça, como se pudesse espantar a lembrança, e continuei andando. Coloquei mais dois itens no carrinho e segui para a parte dos hortifrútis, tentando não ultrapassar o limite que eu mesmo tinha imposto.

Foi ali que eu ouvi meu nome.

— Akio?

Olhei para o lado e congelei por um segundo. Lucca estava ali, com uma cesta no braço, roupa simples, expressão surpresa que logo virou um sorriso aberto.

— Não acredito — ele disse. — Fazendo mercado aqui também?

Eu dei de ombros, meio sem graça.

— É… aqui é mais barato.

Ele olhou para o meu carrinho, depois para mim, como se tivesse entendido mais do que eu disse em voz alta.

— Eu vim de carro — falou, casualmente. — Se quiser, eu te levo pra casa com as compras.

Por um instante, eu só fiquei parado, sentindo um alívio estranho apertar o peito. Talvez aqueles dias não estivessem sendo só peso. Talvez, aos poucos, alguma coisa estivesse começando a mudar.

Cheguei em casa ainda com o coração um pouco acelerado. A kitnet ficava no fim de uma rua estreita, e eu agradeci mentalmente por Lucca ter aceitado me trazer até ali. Desci do carro com as sacolas, meio atrapalhado.

— Obrigado, de verdade — eu disse, fechando a porta.

Lucca sorriu, se aproximou mais do que eu esperava e depositou um beijo rápido na minha bochecha.

— Não foi nada, Akio.

Foi simples, quase inocente, mas o calor subiu pelo meu peito de um jeito inesperado. Fiquei parado por um segundo, vendo o carro se afastar, antes de finalmente subir as escadas.

Dentro da kitnet, tudo era pequeno demais: a pia colada no fogão, a cama praticamente encostada na porta do banheiro, uma única janela. Mesmo assim, era meu espaço. Guardei as compras com cuidado, alinhando tudo como se aquela organização pudesse me dar alguma sensação de controle. Depois tomei um banho rápido, troquei de roupa e vesti o conjunto de treino.

A academia era um dos poucos benefícios reais daquele trabalho. Ficava a algumas quadras dali, moderna, cheia de espelhos e máquinas novas. Coloquei o fone, escolhi uma música alta e comecei o treino tentando esvaziar a cabeça.

No agachamento livre, eu me concentrei na respiração, na força das pernas, no movimento repetido. Foi então que senti aquele incômodo estranho, como se alguém estivesse me observando. Levantei o olhar pelo reflexo do espelho e o vi.

Sr. Alencar não estava muito longe, braços cruzados, expressão avaliadora. Meu estômago revirou. Aumentei o volume da música no fone e fingi que não tinha percebido, continuando a série como se nada estivesse acontecendo.

Não adiantou.

Uma mão tocou meu ombro. Tirei um dos fones, já sabendo quem era.

— Você está fazendo isso todo errado — ele disse, em tom crítico. — Um absurdo nenhum instrutor vir aqui te corrigir. Pagam caro nessa academia e deixam qualquer um se machucar.

Eu fiquei em silêncio, segurando a barra, sentindo a presença dele perto demais. Sr. Alencar sorriu, daquele jeito que nunca era só simpatia.

— Olhando bem… você nem é tão gordo assim — comentou, descendo o olhar sem pudor. — A bunda até que é durinha.

Meu corpo travou, mas antes que eu pudesse responder, ele continuou, como se estivesse falando de trabalho.

— Ah, e se prepare. Vou precisar viajar nos próximos dias. E você vai ter que ir junto.

Ele deu um último sorriso e se afastou, me deixando ali, parado, com o peso da barra muito maior do que antes.

Eu ainda estava tentando me recompor quando um instrutor se aproximou. Camiseta justa com o logo da academia, postura confiante demais.

— Oi, você é o Akio, né? — ele perguntou. — O Sr. Alencar pediu pra eu te ajudar com o treino.

Engoli seco.

— Ah… obrigado.

Ele começou corrigindo a postura, ajustando a distância dos pés, a posição das mãos. No início, parecia normal. Mas logo as correções passaram do necessário. Mãos demoradas demais nos meus quadris, nos ombros, nas costas. Cada toque me deixava mais tenso, e eu sentia o corpo enrijecer não pelo exercício, mas pelo desconforto.

— Assim, relaxa — ele dizia, aproximando-se outra vez.

Eu assentia, tentava manter a educação, terminava as séries mais rápido do que devia. Quando finalmente encerrei o treino, fui direto para o vestiário, como se estivesse fugindo.

O banho foi rápido, água quente demais, tentando levar embora aquela sensação grudada na pele. Vesti a roupa com pressa e saí da academia ainda meio desligado, cabeça baixa, pensamentos confusos.

Foi aí que aconteceu.

No degrau da saída, meu pé escorregou. O mundo deu um solavanco e eu caí para frente, esbarrando com força em alguém. O impacto foi seco. Nós dois fomos ao chão.

— Merda — ouvi uma voz grave.

Antes que eu conseguisse pedir desculpa, o homem já tinha se levantado e me puxado com facilidade impressionante. Era um policial, uniforme escuro, corpo forte, braços firmes demais para ignorar. Ele me segurou pelos braços, num reflexo automático, expressão dura, avaliando a situação.

Meu coração disparou instantaneamente. Eu conseguia sentir os batimentos no peito, acelerados, quase ensurdecedores. A proximidade fez meus músculos reagirem, tensão pura, como se meu corpo estivesse em alerta máximo. A mão dele era pesada, quente, segura demais.

— Calma — ele disse, soltando um pouco o aperto ao perceber meu estado. — Você tá bem?

Assenti rápido, a voz presa na garganta.

— Tô… foi sem querer. Desculpa.

Ele me soltou de vez, ainda me observando por um segundo longo demais, antes de dar um passo para trás. Eu respirei fundo, tentando recuperar o controle do corpo e da cabeça, sem saber por que aquele encontro inesperado tinha me deixado tão abalado.

Continua...

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