Eu acordei cedo naquele dia no sítio. Mal tinha dormido, na verdade. A imagem dos três caras vendo a Hérika pelada no chuveiro ainda rondava minha cabeça como se tivesse acontecido minutos antes.
A luz do amanhecer entrava pela fresta da janela do quarto, aquele cheiro de madeira úmida e lençol amanhecido... e eu sentado na beirada da cama, tentando entender que diabos eu estava sentindo.
E eu juro para vocês: era uma mistura que eu não sabia explicar.
Ciúme?
Raiva?
Tesão?
Tudo ao mesmo tempo, como se uma coisa alimentasse a outra.
Hérika saiu do banheiro arrumando o cabelo, com aquela roupa leve que usou pra dormir. E assim que ela me olhou, ela entendeu que tinha alguma coisa fora do lugar.
— Você tá estranho desde ontem… quer falar alguma coisa? — ela perguntou.
Eu respirei fundo.
Era agora ou nunca.
— Falar… eu queria que você falasse — eu disse. — Você parece não ter se importado muito, né?
Ela arqueou uma sobrancelha, como se estivesse prestes a sorrir.
— Do que exatamente você tá falando, Kadu?
E aquilo me irritou e me deixou mais confuso ainda.
— Do que eu tô falando? Hérika, pelo amor de Deus… aqueles três caras te viram pelada ontem.
E você… não ligou. Nem um pouco.
Ela foi até o armário devagar, se apoiando ali com os braços cruzados. Só que não era postura defensiva… era outra coisa. Uma confiança estranha. Quase provocadora.
— E você queria que eu fizesse o quê? — ela respondeu. — Gritasse? Chorasse? Me jogasse no chão?
Eu engoli seco.
Porque a verdade é que ela tinha um ponto.
E mesmo assim… não mudava o que eu estava sentindo.
— O que me pega — falei — é que você pediu pra eu buscar o xampu. Você sabia que a porta tava sem trinco. Tinha risco de alguém entrar. Por que você fez isso, Hérika?
Aí ela ficou em silêncio uns dois segundos.
E depois veio andando na minha direção, com calma.
Um passo… depois outro… como se estivesse calculando cada movimento.
— Engraçado… — ela disse. — Você fala com indignação… mas seu olho brilha quando toca no assunto.
Juro que eu senti meu estômago cair.
— Não muda de assunto — eu tentei responder, mas até minha voz saiu meio fraca.
Ela sentou ao meu lado. Perto. Perto demais para eu conseguir pensar direito.
— Ficou excitado, né, Kadu? Confessa.
Eu fiquei mudo.
Ela sabia.
Ela viu.
Ela sentiu ontem quando eu cheguei no quarto tentando esconder o estado em que eu estava.
— Você fala como se estivesse bravo — ela continuou — mas ontem à noite você mal conseguiu olhar pra mim sem ficar… diferente.
Eu passei a mão no rosto.
Estava quente.
— Eu não sei — eu disse. — É muita coisa na cabeça.
Ela inclinou a cabeça, observando cada detalhe do meu rosto.
— Então deixa eu facilitar — ela sussurrou. — E se… eu tivesse armado pra eles me verem peladinha, Kadu?
Meu coração deu um salto.
Eu virei o rosto pra ela na hora.
— Você… não fez isso — eu respondi, quase num sussurro.
O sorriso dela cresceu, mas não aquele sorriso comum.
Era algo mais afiado.
— E se eu tivesse feito?
Eu fiquei sem ar.
Literalmente sem ar.
— Eu… não sei o que eu faria — eu disse.
Ela aproximou o rosto do meu, quase tocando meu ouvido.
— Claro que sabe — ela murmurou. — Você teria sentido a mesma coisa que sentiu ontem.
Aquele misto de ciúme… e tesão. Teria ficado com o pau duro feito ferro como você ficou.
Eu fechei os olhos.
— Hérika…
Ela não deixou eu terminar.
— Confessa, Kadu.
Você ficou com tesão de corno, né?
Eu travei.
Meu corpo inteiro travou.
Mas ela tinha acertado no centro — e ela sabia.
Eu não consegui responder.
E ela interpretou meu silêncio melhor do que qualquer palavra.
— Ficou excitado em saber que sua princesa foi vista pelada por aqueles três safados… não ficou?
Eu soltei um suspiro, derrotado.
— Eu… não devia ter gostado — falei baixo.
Ela segurou meu queixo e me fez olhar pra ela.
— Mas gostou né.
E eu não consegui negar.
— Sim — eu admiti.
Foi aí que ela sorriu do jeito mais perigoso que eu já vi nela.
— Então me responde uma coisa, Kadu…
se você gostou tanto assim…
quer que eu deixe eles me verem pelada de novo?
Eu gelei por dentro.
— Hérika… — foi tudo o que consegui dizer.
Mas ela não recuou.
— É isso que você quer? Tem certeza disso? Depois não tem mais volta.
Meu peito subiu e desceu rápido.
— Confessa, Kadu…
você quer brincar com esse fogo.
Quer descobrir até onde essa fantasia vai não quer?
Quer ver… até onde você aguenta.
Ela tocou meu rosto de leve, olhando direto nos meus olhos.
— Eu deixo eles me verem de novo... peladinha... eu me exibo pra eles... se você realmente quiser.
E foi assim que terminou a conversa.
Com ela me encarando daquele jeito.
Com meu coração disparado.
E com uma pergunta martelando na minha cabeça:
Será que eu quero mesmo isso?