Minha Historia, Parte XVII

Da série Minha Historia
Um conto erótico de Nandinha1994
Categoria: Trans
Contém 5147 palavras
Data: 10/12/2025 17:51:20

Deixa eu avisar, esta é uma parte chata, triste, não tem nenhum glamour, nada erótico é apenas uma historia!

Desculpe os erros de português, as vezes eu escrevo rápido, me empolgo e mesmo revisando sempre fica algo para trás, em algum momento eu reviso e corrijo!

De volta a historia.....

1º de janeiro de 2013, eu decidi que aquele seria o primeiro dia em que a Fernanda iria tomar o mundo para ela, faziam 6 meses desde o seu surgimento e no próximo dia 7 seriam 4 meses de terapia hormonal, os efeitos estavam cada vez mais visíveis, até o dia 20 de fevereiro quando retornava as aulas da universidade, seria a Fernanda a voltar às aulas.

No dia primeiro meu pai ligou dando com os desejos de ano e me avisando que chegaria em casa no domingo 17 de fevereiro, que estaria no de volta ao Brasil na segunda dia 11.

Porém iria ficar em SP para ver o carnaval com a pessoa que ele estava saindo e viria para o sul dia 17, que deveria chegar após o meio dia aqui, o voo saia de SP as 13:00 devia chegar aqui uma hora depois.

Não posso culpar ele por isso, eu fiquei feliz por ver ele tentando colocar a vida dele nos eixos de novo, conhecer outra pessoa, perdi a conta de quantas vezes vi ele chorando sozinho na cozinha ou em seu quarto olhando pela janela, então eu ficava feliz por ele, de verdade.

Para quem se pergunta pelo Rodrigo, fiquei um bom tempo sem notícias dele, o que sabia era o que a Natalia ou o Igor me contavam, mas ele seguia firme o namoro com a garota dele.

Já eu, passei o mês de janeiro praticamente em casa, ia pedalar sozinha, a única novidade em janeiro foi que Natalia e eu cumprimos a promessa achamos uma academia, no começo eu fui meio sem jeito, com vergonha, medo, mas em pouco tempo estava entrosada e era tratada como igual por todos, claro que às vezes um que outro que nunca tinha me visto, ou não tinha notado que eu era uma trans, sempre dá para notar, me olhava com cara de nojo ou me ignorava.

Tirando a academia, nada de relevante aconteceu, nós saiamos a noite, nos finais de semana, para beber ou comer algo, as vezes Natalia, Igor e eu, as vezes minha tia e eu, as vezes Pati e eu, às vezes era a noite das garotas.

No dia 15 de janeiro eu me olhei no espelho e pela primeira vez vi que tinha seios, a aréola tinha crescido, se expandiu e agora o seio começava a se elevar e se projetar para foda do meu corpo, meu mamilo tinha aumentado de tamanho tomando forma, nos dias seguinte eu passei a me olhar todos os dias e parecia que crescia durante a noite, (claro que era coisa da minha cabeça, crescia sim, mas não que eu fosse notar de um dia para o outro),.

Ao me olhar no espelho de corpo inteiro outras surpresas, minha cintura agora era notável, visível sem esforço, meu quadril estava mais saliente ainda, minha bunda tomou uma forma arredondada e empinada, mesmo quando eu não queria empinar, talvez fosse a academia que tivesse acelerando esses resultados, minhas pernas principalmente minhas coxas pareciam mais torneadas com uma aparência inegavelmente feminina.

Tentei manter isso em segredo, mas logo foi notado pela minha Tia e pela Natalia, fiquei vários dias sem ver a Patrícia, ela pegou férias no trabalho dela e foi viajar, mas minha tia e Natália se encarregaram de me atormentar;

-Agora você sabe como é que uma mulher se sente quando está passando por essa fase!

Perdi a conta de quantas vezes ouvi isso!

Chegou o fevereiro e foi no dia 10, já faziam 5 meses que eu tinha iniciado a terapia e não sei em que momento exatamente, por algum motivo o universo sorriu pra mim como digo e meu corpo entendeu o recado dos hormônios.

Dia 10, era um domingo estava um dia de solta forte, eu tinha levantado cedo e fui pedalar, quando voltei tirei a roupa e quando fui entrar para o banheiro parei na frente do espelho e sabem aquele momento que o cérebro parece fazer que nem o celular, “limpa o cache e por um segundo você perde a noção de espaço e tempo”, ao passar pelo espelho eu não me reconheci.

Ali estava uma pessoa desconhecida olhando de volta pra mim, com uma silhueta de ampulheta suave, com curvas que começavam a se definir, com traços faciais delicados, os seios começaram a formar uma elevação secundária do seio, mamilos grandes e definidos que eram acompanhados de dois seios embora pequenos mas com formas arredondadas, que quando pressionados formavam um decote muito maior que os com adesivos do sutiã de silicone, o volume agora era natural e visível com a maioria das roupas que eu usava.

A piscina de inflar fazia sucesso lá em casa, sempre tinha alguém querendo pegar sol comigo e naquele dia eu chamei, minha tia e Natália, mandei a mesma mensagem para as duas;

-Venham tomar sol e tomar alguma coisa na super piscina!

Logo as duas responderam que estavam a caminho, o sol rapidamente fez seu trabalho, estava mais de 30º, um termômetro que tinha no quiosque mostrava 34º, Natália chegou primeiro, ficamos na cozinha fazendo um coquetel de abacaxi com leite condensado, guaraná e vodka, (a gente chamava de combustível de foguete, e se não me engano é a mesma mistura que fazem o tal capeta), quando a minha tia chegou, ela gostava de correr, fazia o trajeto de Marau a Passo Fundo em meia hora.

Assim que as duas foram para o quintal, arrumaram as cadeiras, minha tia até arrumou a minha cadeira na sombra, mas enquanto elas estavam ali, eu fui no meu quarto e coloquei meu primeiro biquíni, não ficava perfeito na parte de cima, mas escolhi daqueles tipo cortina que dava para ajustar, cumpriu o papel.

Quando elas me viram, teve até salva de palmas!

-quem é você e o que fez com a Fernanda?

Fiquei ali me torrando no sol, com a minha tia e a Natalia, claro que passei bronzeador e claro que deu certo, fiquei com as minhas primeiras marquinhas de sol, e sim, foi de mais…

Fez muito sucesso a noite no skype!

Mas naquela tarde, além dos planos de irmos para o carnaval em POA, minha tia me lembrou do meu pai, que já devia estar de volta ao Brasil e que viria dia 17, então eu disse;

Eu -sim, tia, vou ligar para ele e conversar, por telefone mesmo

Tia -sim, é bom porque se não vai acontecer o que eu disse aquele dia

Tia -ele vai chegar aqui e ver uma garota em vez do filho!

Eu -sim, nem me fala, se não vou ficar com isso na cabeça e aí não vou com vocês para o carnaval.

Mas ela lembrou de algo importante que eu iria precisar resolver, naquele dia mesmo fizemos as malas e segunda feira cedo, eram umas 5:00 da manhã saiamos de Passo Fundo nos 4, sim, Natália, minha Tia, Igor e eu, em direção a POA, curtimos o carnaval na capital, sim foi incrível e não, não fiz nada digno de notas, e sim rolou alguns pegas, beijos, mão boba em mim, a minha mão boba pegando alguma coisa aqui e outra ali, algumas "saradas" como dizem, eu estava usando um shortinho daqueles que parece uma mini saia, nem sei onde a gente estava, mas uma hora eu encaixei em alguém que colocou as mãos em minha cintura e comecei a sentir o pau dele ir endurecendo e descendo dentro da bermuda, não sei se aquilo entrava em mim não, mas ficou por isso mesmo.

Ficamos em um motel, pegamos um pernoite em uma suíte com piscina nem faço ideia onde ficava, ficamos nos 4, e não, não aconteceu nada, mas foi uma experiência incrível, pegamos a estrada na quarta feira depois do meio dia, no final do dia estávamos de volta.

Na quinta feira dia 14, eu levantei, fiz café e fiquei a manhã toda na cozinha sentada olhando para o vazio pensando o que falar para meu pai, como falar, não podia ser nada do tipo, papai eu me descobri uma garota ou pai eu sou mulher agora.

Enquanto eu estava lá sentada na bancada da cozinha, meus dois celulares estavam na minha frente e aconteceu algo que eu nunca teria imaginado ou poderia esperar.

O número do Fernando recebeu uma mensagem, eu tinha trocado o celular novo para a Fernanda e deixado o velho para o Fernando e esse aparelho não mostrava notificações como o mais novo que já era como os atuais, se podia ver de quem era a mensagem mesmo com a tela bloqueada.

Quando coloquei a senha e a tela abriu era uma mensagem do Pedro!

Pedro -oi, tudo bem?

Pedro -Feliz ano novo, meio atrasado mas é sincero!

Pedro -te desejo tudo de bom nesse ano novo, conquiste tudo que desejar!

E aí, meu coração acelerou, a boca ficou seca, afinal ele era o culpado por tudo isso, ele ligou a chave que deu vida a Fernanda, e agora o que respondo?

Voltei até a falar sozinha!

-Respondo?

-O que respondo?

-Devo responder?

E lá no fundo de tudo a voz que eu ouvia a voz do Fernando, agindo como minha consciência

-Sua garota idiota, fez tudo isso por causa de uma fungada no cangote

-agora que esta no controle vai ficar se fazendo de difícil

-Responde ele e seja o que Deus quiser!

-Mas primeiro resolve o problema com o pai!;

E o Fernando estava certo, primeiro eu tinha que pensar o que fazer com meu pai!

Fiquei mudando de um lugar para o outro, comi qualquer coisa, fui para o sofá e quando vi o dia tinha terminado, fiquei ali assistindo TV até a madrugada chegar, dormi, tive pesadelos terríveis, que meu pai tinha me posto para fora de casa, que tinha falado que iria me deserdar, que eu tinha parado morando na rua, até que estava fazendo programas sonhei.

Foi a noite mais longa da minha vida!

Era sexta feira dia 15, nesse dia voltava às aulas na universidade, mas nesse dia eu tinha outra missão então eu falei, não costumava ter nada muito importante.

Esperei chegar às 9 horas da manhã, peguei o telefone e coloquei o numero do meu pai na discagem e fiquei nem sei quantos minutos me preparando para discar.

Quando discou e começou a chamar, chamou uma, duas, três, quatro vezes, quando achei que iria para caixa postal e estava me preparando para desligar ele atendeu.

Pai -alo, Fernando!

Eu -alo pai

Pai -tudo bem?

Pai -aconteceu algo?

Eu -s…

“engasgado do outro lado”

Pai -Fernando, esta ai?

Eu -sim, pai estou aqui

Pai -então, aconteceu algo?

Eu -sim, pai aconteceu algo

Pai -o que houve, é grave

Eu -talvez possa ser sim pai

Pai -fale logo o que houve

Pai -o que você fez?

Eu -bom, pai, fiz algo bem complicado

Pai -vamos desembuche logo

Eu -calma pai é complexo, deixa eu falar

Pai -tá bom deixa eu fechar a porta da sala e temos todo tempo do mundo

“escuto algumas vocês no fundo e o som da uma porta fechando”

Pai -pronto, sou todo ouvidos!

Eu -pai, aconteceu algo comigo, não fiz nada errado ou ilegal, não matei ou roubei ninguém, tão pouco comecei a usar drogas.

Pai -tá… e o que fez então?

Eu -é complexo, já ouviu falar em transexual, alguém que se identifica com o sexo oposto

Pai - sim, claro que já, aqui em SP é o que mas tem, algumas até estão nas esquinas fazendo programa a noite

Eu -bom pai como reagiria se eu te falasse que sou assim, não sei explicar nem como nem porque

Eu -um dia me olhei no espelho eu vi que tinha algo errado e eu não sabia o que era!

E houve um silencio na ligação, esperei algumas segundos e o silencio continuou, então;

Eu -pai, ainda esta ai!

Pai -claro que estou, queria o que, que eu saísse soltando fogos?

Pai -meu filho acaba de falar que é um travesti

Pai -deixa eu processar isso tudo

Pai -só espero que não esteja se prostituindo também

Eu -não pai, isso nunca!

Eu -ainda sou eu, fui criado pelo senhor, nunca faria isso!

“novamente o silêncio era mortal e eu tremia de medo dos meus sonhos se tornarem realidade depois dessas respostas dele”

Pai -então como devo te chamar?

Pai -não me diga que escolheu um nome desse como Britney, Chelly ou Chelsea

Pai -porque são os mesmos nome de puta, que tem em anúncios em toda parte

Eu -não pai, outra coisa que nunca faria

Pai -sim já fez o mais difícil né!

Eu -pode me chamar de Fer ou Nanda, Fernanda na verdade, sem nomes inventados, gosto do meu nome.

Pai -tu tem noção que se tua mãe estivesse viva, isso causaria um infarto nela, toda certinha.

Pai -não sei como não causou um em mim!

Novamente outra pausa na conversa e mais silêncio!

Pai -sabe que isso explica uma coisa que eu vi pelas câmeras outro dia

Pai -nunca tinha aberto aquele aplicativo ai fui abrir para fazer uma gracinha

Pai -e vi a tua tia, uma garota que acho que é a filha do Silva

Pai -e uma garota a cara da sua irmã tomando sol no quintal com a sua tia

Pai -não dei bola, fiquei pensando quem era se era alguma parente.

Fui tentar falar mais alguma coisa e ele me interrompeu;

Pai -não fale mais nada deixa eu pensar sobre isso, não sei o que falar ou o que pensar

Pai -nos vemos dia 17, ai conversamos sobre isso e o que vamos fazer!

Pai -agora eu preciso ir tenho trabalho para cuidar

E desligou, no mesmo instante eu liguei para minha tia e contei para ela, eu estava em pânico, parecia que ia desmaiar, minha pressão caiu, quase desmaiei, ficamos ela e eu falando um bom tempo ao telefone ela tentando me tranquilizar que a reação não tinha sido das piores, então ela precisou desligar também, estava na loja, mas disse que viria no final do dia para ficar comigo.

Nem preciso falar que passei o dia trancada dentro de casa em choque, temendo e pensando tudo de pior que podia acontecer comigo, as imagens dos sonhos ficavam aparecendo o tempo todo em meus pensamentos.

Quando a noite caiu, minha tia me ligou, não poderia vir à noite, mas viria no sábado, iria ficar na loja até o meio dia e depois viria para Passo Fundo e iria ficar comigo até o domingo e iria junto comigo buscar meu pai no aeroporto.

No sábado 16, eram por volta de 15 horas minha tia chegou, eu estava parecendo a noiva cadáver, nem banho lembro de ter tomado, dormi quase nada, tinha os mesmo sonhos toda vez, me via fazendo programa na esquina aquela que passei com o Pedro quando fazia aula pratica no CFC, (veja não tenho nada contra, ao longo da minha jornada, tive muitas amigas trans que era garotas de programa, mas muitas não estão ali porque querem e sim porque precisam de alguma forma ganhar a vida, e para mim naquele momento, vivendo no conforto de uma casa onde nada nunca faltava, ter que recorrer a me prostitui era como um castigo divino pelas minhas transgressões),.

Tia -Fer, nossa que bicho te mastigou e cuspiu de volta?

Tia -vai tomar um banho e vem comer alguma coisa

E foi abrindo a casa e juntando tudo que deixei espalhado, depois do banho, desci fui para a cozinha ela tinha feito um lanche e café;

Tia -teu pai me ligou!

Eu olhei para ela com olhos esbulhados pronta para começar a chorar mas tentei me conter!

Tia -ele ainda está tentando entender tudo isso

Tia -mas pode ficar tranquila que para fora de casa ele não vai te colocar

Tia -pelo menos me prometeu isso

Tia -me disse que não vai deixar você na rua, nem nada do tipo

Tia -em quanto estiver estudando ele vai continuar pagando as contas

Tia -só não sei dizer como vai ser com ele pessoalmente

Tia -ele me disse que por hora esta mantida a vinda dia 17, que ele ainda esta tentando processar isso tudo

Eu continuava ouvindo tudo que ela falava, segurando o choro, em pensamento me questionando o que tinha feito da minha vida.

Tia -respira garota, come, toma o teu café, se acalmar

Tia -vou estar contigo amanhã do teu lado como te prometi

Eu -eu sei tia, mas estou com medo, porque por telefone é uma coisa mas quando ele me ver pessoalmente, como vai ser

Eu -a senhora sabia que ele podia ver as câmeras de lá, ele me viu no pátio

Tia -sim ele me falou isso

Tia -mas se serve de consolo ele te achou parecida com a tua irmã

Tia -então se acalma que vai dar tudo certo

Tia -amanhã você vai tomar um banho fazer o teu ritual como me diz que faz,

Tia -se arruma coloca uma roupa bem bonita,

Tia -claro que não vai ir vestida para festa nem para boate né

Ela conseguiu tirar um sorriso de mim, conversamos muito, muito mesmo naquele dia, ela conseguiu me acalmar, fomos às compras para repor a dispensa e ter com o que preparar algo para esperar meu pai, a noite pedimos uma pizza e tomamos vinho enquanto o mundo caia do lado de fora, choveu muito naquele dia, durante o dia e a noite.

No domingo 17 amanheceu calor, um dia meio cinza, triste, às vezes tinha sol, às vezes não, mas era calor, eu levantei devia ser umas 8:30 e fui para a cozinha, estranhamente minha tia ainda não tinha acordado, geralmente ela sempre pulava cedo da cama.

Coloquei café na cafeteira, liguei a TV que tinha na cozinha e fiquei por ali esperando o café ficar pronto!

Por volta das 9:20 horas minha tia desceu, com um semblante triste e preocupado, deu bom dia pegou uma xícara de café e sentou do outro lado da ilha.

Tia -Fer, teu pai me ligou bem cedo hoje, me acordou

Tia -fique no telefone com ele um tempão

Eu gelei, voltei a sentir aquela angústia que sentia no dia que contei para ele, sabe quando você pensa que terminou mas o problema volta com tudo e cai sobre você, assim que me sentia naquele momento;

Eu -eeee o que el/…..

Minha tia me interrompeu!

Tia -Fer, calma, calma

Tia -não precisa surtar de novo

Tia -calma

Pegou água, suco, bolo e foi colocando tudo na minha frente;

Tia -come, toma uma água, um suco, se acalma

Tomei alguns goles de agua e respirei fundo!

Tia -pronto, passou?

Eu -hum hum…

Tia -escuta tudo primeiro!

Tia -teu pai não vai vir hoje

Tia -ele me disse que precisa pensar

Tia -tentar entender melhor isso tudo, pensar refletir,

Tia -”não sei como ele vai entender isso de lá, mas tudo bem, caba cabeça pensa de um jeito”

ela falou meio que em tom de reclamação pelo comportamento dele

Tia -mas conversei com ele, tudo vai continuar como está

Tia -você não precisa ter medo

Tia -ele me disse que embora não concorde com isso tudo

Tia -ele não vai te colocar para fora de casa, nem fazer nada estupido que possa se arrepender depois

Tia -afinal você é filho dele, único filho, seria errado e cruel qualquer atitude diferente

Tia -também disse que é melhor não tentar falar com ele, pelo menos agora

Tia -porque ele pode falar algo que vai se arrepender, está muito irritado agora e certamente iria te ofender, magoar ou machucar

Tia -"como coisa que fingir que não existe não é crueldade bastante", eu falei isso alto, calate boca!

Quando minha tia falou que ele não queria falar comigo, eu desabei a chorar, queria morrer, naquele momento eu desejei isso com todas as minhas forças;

Eu - eu deveria ter morrido no acidente deveria ter sobrevivido minha irmã ou meu irmão, ou minha mãe, mas eu deveria ter morrido.

Tia -não fale isso, nem brincando!

Eu continuei me esvaindo em lágrimas, com a minha tia ali me falando tudo que tinha conversado com meu pai, embora ele não tivesse aceitado nada bem, como demonstrou no primeiro momento, ele encarou aquilo como um desastre em que ele podia ser o culpado, nunca vou saber o que passou na cabeça dele com precisão, mas aquele dia que falei com ele, foi o último contato que tive com ele por vários meses.

Minha tia virou a interlocutora da nossa comunicação, naquele dia ela me disse que ele iria continuar me sustentando pelo menos enquanto estivesse estudando, pagando as contas, etc.

Tudo continuaria como estava, inclusive iria continuar me enviando dinheiro todo mês, como vinha fazendo, depósitos na minha conta e pagaria a fatura do cartão adicional do ele que tinha me deixado, nada iria mudar, exceto que eu não deveria falar com ele.

Era o mesmo que não ter mais pais e isso me feriu de uma forma, que nem sei como descrever, fiquei o resto do dia sem saber o que fazer sem rumo, sem direção, pensei sim, mais de uma vez em pegar o carro e fazer uma besteira.

Minha tia ficou comigo, Natália apareceu, acho que minha tia chamou ela, mas eu sentia a mesma dor que senti quando acordei no hospital e descobri que minha mãe e meus irmão tinha morrido e tentei não me culpar, mas a todo momento eu me pegava pensando, isso é culpa sua.

As duas tentaram me consolar, ficar comigo, mas eu queria apenas esquecer aquilo tudo, dormir, então pedi para minha tia alguma coisa para dormir, ela puxou da bolsa, nem sei o que era, tomei e fui para narnia, não lembro nem de ir para minha cama.

Acordei na segunda com meu alarme tocando, eram 6:30, eu sempre gostava de dar uma soneca e virava para o lado, mas acordei sem saber até onde estava, levei um tempo para me situar.

Lembram que eu contei que não costumava sonhar nada muito importante só aquelas sonhos idiotas que todo mundo tem, que só tinha tido um em que eu me via como uma garota, essa noite eu tive um pra lá de místico, sou muito, muito cética sobre esses assuntos, mesmo vendo eu não acredito.

No meu sonho eu estava em pé novamente me olhando no espelho, e novamente eu me via como uma garota, na verdade me via como estava naquela época, no meio da transição, já tinha aparência e formas pra lá de femininas.

Mas junto comigo no quarto, estava o Fernando, eu na minha versão masculina, nos conversamos sobre diversas coisas, era como se nossas consciências estivessem de fato separadas, determinado momento da conversa ele me disse;

-nós dois pensamos sobre isso, muito, você lembra

-sabíamos que algo assim poderia acontecer

-e agora que você está aí não pode desistir

-encare o mundo como ele é

-nosso pai era o pior que podia acontecer a rejeição dele, as outras pessoas que diferença vai fazer?

-erga a cabeça e vida que segue

e o sonho acabou!

Eu me situei onde estava e que dia era;

-segunda eu tenho aula!

Pulei da cama e fui para meu banho, fiz todo aquele meu ritual, passei meus cremes, escolhi uma roupa, o dia não estava tão calor como outros, mas como o clima andava confuso e não queria chegar chegando, coloquei uma lingerie preta, meio safada meio comportada o sutiã dos menores que eu tinha, encaixava certinho no meu peito e já começava a surgir um decote.

Peguei uma calça jeans escura, um sapato scapin vermelho e uma camisa feminina de manga longa azul mais clara que a calça um cinto, coloquei meus anéis, (eram da minha irmã e da minha mãe, ainda os uso), aquela pulseira que eu sempre usava, uma gargantilha e uns brincos de pêndulo mais discretos, dourados também.

Passei uma maquiagem, nesse ponto não precisava muito esforço para me parecer feminina, um rímel, lápis no olhos, um pó, desenhei bem meus lábios e passei um batom vinho, não era gritante mas chamativo o suficiente, prendi o cabelo para trás e estou pronta.

Me olhei no espelho, lá estava ela a garota do sonho, peguei meu material e desci, assim que saí do quarto, ouvi som da TV vindo da cozinha, ao chegar lá dou de cara com a Natália, falando no telefone com minha tia;

Natalia -ela acordou, levantou e está arrumada para ir para a aula!

Eu -Nati o que você faz aqui, dormiu aqui?

Ela me contou que a minha tia tinha ficado a noite aqui e que ela veio cedo às 5:00 para ela poder ir para casa dela em Marau.

A Natalia e eu tomamos café e fomos juntas para a universidade, no meu carro, aquele dia seria a prova de fogo, primeira vez assumidamente como uma garota em publico.

No caminho a Natalia me perguntou mais de uma vez se eu estava confiante, se me sentia bem, se, isto, se aquilo;

-Nati, está tudo bem, o que pode acontecer de ruim, alguém me falar alguma besteira ou bobagem?

-Só eu ignorar ou dar uma resposta a altura!

Deixei ela no prédio dela e fui para o meu que ficava do outro lado do campus, parei o carro em uma vaga bem na frente do prédio, quando desci tinham vários alunos pela frente, alguns até meus colegas, garotos e garotas, não lembro ao certo.

Desci, fazendo ritualzinho, pé direito primeiro, (foi difícil viu, naturalmente a gente desce com o esquerdo e de salto), peguei meu material minha bolsa e sai naturalmente, não baixei a cabeça, não desviei o olhar e cumprimentei quem me cumprimentou, entrei na sala, já haviam outras pessoas, alguns notaram minha presença outros não, os que viram alguns se cutucaram como diz olha ai, sentei em um lugar diferente do que geralmente sentava, peguei meu celular conectei os fone e fiquei mexendo.

Lembram da Camila, uma das poucos colegas com eu conversava na sala, ela entrou, eu a vi entrando, mas fiquei mexendo no celular, não sabia a reação que ela iria esboçar, ela foi para lugar habitual dela, soltou os materiais e foi falar com as outras garotas.

Quando levanto os olhos ela estava parada na minha frente, continuei fingindo que não a via, puxou a cadeira e virou, sentou;

Camila -Fer é você? “ela falou baixinho”

Levantei os olhos do celular novamente ela estava com o rosto na minha frente

Camila -é você sim!

Camila -posso te chamar de Fer né?

Camila -ou é outro nome agora?

Camila -mas Fernanda é legal também

Olhei par aos lado, ninguém parecia ligar para nossa conversa!

Eu -sim, pode me chamar de Fer ou Fernanda

Eu -é sou eu mesma

Camila -nossa, agora tudo faz sentido, sua mudança de visual, você com aquelas roupas soltas, o cabelo, sua aparência.

Camila -posso te falar uma coisa, não fica brava?

Eu -claro! “já esperando merda”

Camila -você fica muito melhor assim!

Ela não dava tempo de eu responder e seguia falando, falando, falando...

Camila -me conta os detalhes?

Camila -claro se não for invadir demais tua vida!

Camila -como é

Camila -e a tua família, aceitou?

E em um piscar de olhos eu estava entrosada no grupinho delas, claro que sempre tem alguém que vai tentar te hostilizar, fazer piada, não aceitar, mas tirei de letra e até fui defendida por outra garota que nunca tinha falado comigo até aquele dia.

Naquele mesmo dia, encontrei com a Nati próximo ao meio dia, na hora de vir embora, eu não tinha mais aulas de idiomas a tarde, contei como tinha sido o primeiro dia de aula da Fernanda, aquilo ajudava e esquecer do drama que tinha virado minha vida depois que contei para o meu pai.

Quando finalmente consegui falar com a Patrícia, que tinha voltado não sei de onde, ela foi até a minha casa, me levou uns presentes da viagem, (assunto para outro dia), e conversamos por muitas horas, ela me contou uma boa parte da história dela e me disse com todas as letras;

Patricia -Fernanda tu tem sorte, muita sorte que teu pai, só preferiu cortar o contato contigo,

Patricia -pelo menos por hora,

Patricia -tu não sabe se amanhã ou depois ele não vai te procurar, tem que ter paciência.

Patrícia -tem sorte porque continuou tendo um teto sobre a cabeça!

Na parte da história dela que tinha me contato, ela foi posta pra fora de casa, ficou sem ter ninguém para dar um apoio ou abrigo, saiu sem rumo, praticamente com a roupa do corpo e uma mochila, ficou anos sem falar com a mãe as vezes a irmã falava com ela, veio parar em Passo Fundo e foi cair em uma cafetina que se interessou por ela e a história só piorava, passou fome, dificuldade, teve que engolir desaforo, foi humilhada.

E pensando, vendo do ponto de vista dela, sim, eu tinha sorte pelo menos eu teria tempo de dar um rumo a minha vida enquanto estudava, ainda tinha onde morar, tinha minha tia, amigos.

Patricia -ergue essa cabeça, estufa esse peitinho ai

"falou isso me cutucando"

Patricia -empina a bunda e bola pra frente Fernanda, você tem o mundo todo para conquistar.

E veio uma daquelas fases de rotina, aula, academia, casa, aula, academia, casa, final de semana com a turma, minha tia, terminou o fevereiro, veio o março, a única coisa digna de nota foi que no dia 7 de março cheguei em casa de tarde depois da aula, estavam a Patricia, Natali e minha tia, com um bolo e espumante, com direito a taça, balão e aquele apitinho de soprar;

Patricia -6 meses! uhoooooooo!

Rimos, brincamos, bebemos, deu para apagar tudo que me atormentava naquelas dias!

Faziam 6 meses que a Fernanda tinha iniciado a jornada para se transformar em mulher, mesmo sempre rodeada deles que eram especiais para mim de tantas formas, naquela época eu me sentia a pessoa mais sozinha do mundo, as noites e outros momentos eram sempre solitários, eram poucas vezes eu eu ligava o computador a noite, preferia chegar, arrumar as coisas e ir dormir, desligar do mundo para acordar no outro dia.

O pensamento de desistir de tudo, ainda martelava em minha cabeça, não era desistir da transição, aquilo era um processo irreversível, mesmo que parasse a terapia e meu corpo com o tempo voltasse ao que era, eu nunca mais seria o Fernando novamente, eu pensava quase todos os dias em dar um ponto final em tudo.

Continua…..

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Foto de perfil de Nandinha1994Nandinha1994Contos: 17Seguidores: 12Seguindo: 8Mensagem Sou uma trans, hoje com 30 anos criei este perfil para compartilhar minhas fantasias, "historias", sempre gostei de escrever mas nunca compartilhei com ninguem, só recentemente mostrei alguns dos meus textos e fui incentivada a publicar em algum site ou blog.

Comentários

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Caramba que final pesado.

Mas se está aqui contando tudo isso pra gente é porque a ideia veio, olhou pra você, você olhou de volta e viu, lá no fundo dos olhos dessa ideia, que ela não era necessária.

E deixou ela ir.

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Parabéns por ter superado essa fase.

E obrigado por compartilhar

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