ATENÇÃO: Esta é a parte 03 da série. A parte 02 foi publicada hoje também. Não costumo lançar tão perto assim, mas foi um caso excepcional por ser um grande capítulo dividido em dois.
AVISO DE CRONOLOGIA: Os eventos neste capítulo acontecem no passado do atual momento da novela. Este conto começa um pouco depois de “Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 16” e termina durante os eventos “Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 18” e “Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu – Parte 11”.
Não é preciso reler esses capítulos, pois as cenas foram relembradas no ponto de vista do Miguel.
Meu nome é Miguel. Tenho 31 anos, 1,84m, corpo atlético (nada exagerado, mas me garanto), moreno claro, olhos cor de mel e barba bem cuidada, sempre no limite entre o alinhado e o desleixado. Meu sorriso é meio torto, daquele tipo que parece esconder uma piada. E gosto disso.
Nunca me levei tão a sério quanto talvez devesse. Gosto de bancar o malandro, chegar com uma piadinha, uma risada fora de hora, me meter onde não fui chamado. Faz parte. Sempre preferi ganhar as pessoas no papo e, confesso, adoro a companhia feminina. Conversar, ouvir, provocar. Nada forçado, só gosto de estar por perto. Amizade é amizade, sexo é sexo. Sabia diferenciar quem tava atrás do quê. Aliás, se eu tenho um talento, é o de sentir o ambiente... e fazer a pior coisa sem querer.
Objetivos? Quero viver leve, cercado de gente boa. Trabalhar bem, viver bem, amar bem, a ordem nem importa. Se eu puder ser lembrado como um cara do bem, que sabia rir e fazer rir, já valeu. O resto? A gente improvisa.
Trabalho em um hospital grande da capital. Trabalhar nele era uma mistura de plantão, novela e roda de samba. Eu sempre no meio. Não por ser o mais fofoqueiro (não que eu não fosse, só não era o principal), mas porque eu gostava de levantar o ânimo da galera. Sabe aquele cara que puxa assunto na copa, dá uma força pra quem precisa e solta uma piada na hora certa?
Mas a minha vida não se resumia ao trabalho. Quando eu estou enfiado até o pescoço em plantões, queria mesmo era sentir o corpo vivo: pegar o carro pra ir em algum praia deserta pra pegar onda, me ralar inteiro num parkour mal calculado, sumir em trilha no meio do mato sem sinal de celular, só eu, o vento e a sensação boa de estar exatamente onde meus pés aguentavam chegar. Sempre gostei dessa liberdade meio imprudente, desse cansaço que limpa a cabeça.
No fundo, a mulher que sonhava com quem me casaria era alguém de espírito leve, que topasse acordar de madrugada pra ver o sol nascer no topo de um morro, que não se assustasse com meu passado nem quisesse me consertar. Uma parceira que entendesse que liberdade não é falta de cuidado, é escolha consciente.
Meus pais e a Lisandra eram um capítulo à parte, tudo misturado num nó só. Eu briguei feio com meus pais quando decidi fazer medicina; eles queriam segurança, eu queria desafio, e achei que dava pra resolver tudo na base do orgulho. Fui embora, mudei de estado e passei quase dez anos sem olhar pra trás. Quem me puxou de volta foi a Lisandra, minha irmãzinha de criação e filha da diarista, que reencontrei ao voltar pra minha cidade natal. Foi por ela que voltei a falar com meus pais, já envelhecidos, cheios de manias, mas ainda meus. Não foi um reencontro simples, nem mágico, mas foi honesto.
Talvez seja isso que melhor me defina: um malandro gente boa que já tinha quebrado a cara o suficiente pra saber onde pisar. Eu flertava, zoava, provocava o mundo, mas carregava responsabilidade no jeito de tocar a vid. Eu sabia quem eu era, o que podia oferecer e o que não podia. E, no fim das contas, isso sempre me pareceu muito mais maduro do que prometer estabilidade quando o que eu tinha pra dar era movimento.
No capítulo anterior, eu intermediei uma briga entre Jéssica e Gustavo no hospital, apresentei as novas amigas Tatiana e Fernanda, fiz as pazes com meus pais e conheci a Sarah, uma das mulheres mais lindas que já vi.
Era quinta-feira, na hora do jantar quando entrei na copa dos funcionários. E foi aí que eu vi a Jéssica. De costas pra mim.
Estava inclinada um pouco pra frente, ajustando a marmita no micro-ondas. Só o scrub azul-claro grudado naquele corpo. A calça marcava as coxas definidas. A cintura fina quebrava a linha reta do uniforme, e a bunda era pequena, redonda, empinada, do jeito que o diabo gosta. O cabelo castanho-claro estava preso num coque meio bagunçado, alguns fios soltos de propósito.
Parei na porta, encostei no batente, braços cruzados. Olhar respeitoso. Pensamento nem tanto. Ela me percebeu pelo reflexo do vidro do micro-ondas, claro. Não virou. Só sorriu de canto.
— Boa noite, Drake Ramoray — ela usou o apelido que me deu ao descobrir que os dois fãs de Friends. O médico interpretado por um canastrão pegador. — Aproveitando a vista?
— O que é bonito, é pra se admirar.
Ela virou o rosto devagar, apoiando o quadril na bancada.
— Neste caso, a distância é fundamental — respondeu ela. — Pra sua sobrevivência.
— Concordo — falei. — Mas eu só estava admirando.
— Ver pode — rebateu ela. — Se encostar, leva um soco.
— Meus pensamentos impróprios são totalmente silenciosos e distantes.
O micro-ondas apitou. Ela abriu, mexeu a comida com o garfo. Fui até a geladeira pegar minha marmita, sentindo aquele clima que só a gente tinha. Uma intimidade cheia de sacanagem verbal e zero toques. Ela definitivamente sentia falta de alguém com quem fazer piadas sobre sexo.
— Então, vai me explicar por que você saiu correndo de mim dois dias atrás?
Ela congelou por meio segundo.
— Aquilo? — respondeu, fingindo casualidade. — Enjoo.
— Enjoo.
— Sim. Estou grávida.
Eu parei no meio do caminho até o micro-ondas. Depois ri, baixo.
— Jéssica, você não tá grávida.
— Agora, você virou obstetra?
— Não — respondi, apoiando a marmita no balcão. — Mas... Primeiro: você continua tomando café como se fosse soro. Segundo: seu humor tá exatamente no ponto normal de ironia e ameaça velada. Terceiro: se estivesse grávida, não estaria usando esse scrub colado. E quarto...
— Lá vem.
— Você não soltaria isso assim, jogado, sem fazer um drama ou um discurso ensaiado.
Ela me encarou por alguns segundos. Depois riu.
— Você é muito inconveniente.
— Prefiro “atento aos detalhes”.
Ela pegou a marmita e se afastou um pouco, apoiando o quadril na mesa de novo. Coloquei a minha no micro-ondas.
— Talvez seja TPM — arriscou.
— Você já teria ameaçado a minha integridade física três vezes esta semana.
— Verdade — ela admitiu. — Então talvez, eu tivesse vontade de fugir de você.
— Logo eu, tão comportado — encenei, levando a mão ao peito.
Ela riu, balançando a cabeça, dando uma garfada na comida enquanto me olhava por cima do olhar.
— Seja o que for, você não foge à toa — disse eu. — Ainda mais parecendo estar com ânsia de vômito.
— Eu tinha acabado de chegar de um plantão de 24 horas — suspirou.
— Tudo bem — falei. — Quando quiser contar, você conta. Se não quiser, tranquilo.
Ela me olhou como se examinasse. O micro-ondas apitou.
— Come logo — disse Jéssica.
— Todas as mulheres acabam dizendo essa frase pra mim... — não resisti.
— Idiota — disse, mas sorrindo.
Não foi naquela noite e nem naquela semana que ela se abriu pra mim.
Duas noites se passaram. Eu estava encostado no balcão do posto, conferindo prontuários no computador, quando a Iolanda passou empurrando o carrinho de medicação. Ela era daquelas enfermeiras que pareciam saber de tudo antes de todo mundo.
— Miguel, esse antibiótico aqui mudou o horário — disse Iolanda, sem nem parar.
Suspirei e atualizei o prontuário. Ela só me lançou um olhar de “você é gostoso, mas não força” e seguiu pras próximas atividades. A noite tava corrida.
Do outro lado da sala, a Bruna digitava algo no sistema, chiclete na boca, fone pendurado no pescoço.
— Miguel, estão chamando no leito 12.
Antes que eu respondesse, a Jéssica apareceu do meu lado, segurando uma prancheta. Cabelo preso, expressão concentrada, aquele jeito calmo que sempre impunha ordem sem levantar a voz.
— O Wagner acabou de ir ao leito 12 — disse, com sua presença habitual. — Alguém viu o Gustavo? Preciso dele com outro paciente.
Da porta, o Gustavo se aproximou. Passos contidos, voz baixa.
— Jéssica, é sobre o caso do paciente do leite 23?
— Sim — respondeu ela e os dois passaram a debater as anotações dela na prancheta.
A Fernanda apareceu logo depois, com cara de cansaço.
— Alguém mais está precisando de cafeína? — suspirou
— Já estou na terceira xícara — comentei.
Ao nosso lado, a Jéssica e o Gustavo terminaram de discutir sobre o caso do leito 22. Ela realmente estava decidida a cumprir a sentença de trabalhar em dupla com o médico que queria comer ela fora do expediente.
— Jéssica, depois você pode dar uma olhada num caso comigo? — ele perguntou, num tom quase íntimo demais.
— Claro, Gustavo — respondeu ela, sem mudar o tom e nem abrir espaço.
A Fernanda se apoiou no balcão, inclinando-se pra frente de propósito. Quando percebia que ninguém estava olhando, ela piscava pra mim.
— Miguel, amanhã você me ajuda com um paciente mais chato que ex carente?
Era o nosso código pra “no meu apartamento, vem que quero sexo”.
— Claro.
A Iolanda pigarreou alto.
— Vocês dois, de volta ao trabalho!
Foi como eu descobri que a Iolanda também tinha seus códigos com a Fernanda.
Na noite seguinte, que tínhamos uma folga, aproveitei pra ir curtir um “momento a sós” com a Fernanda.
Ela já me recebeu só de calcinha, deixando claro que não tava muito interessada em enrolação. Seus peitões enormes e bicudos, com mamilos grandes e marrons eram hipnotizantes. Principalmente a forma como balançavam enquanto ela andava.
Mal entrei e já fui tirando a roupa e, pra ficarmos “iguais”, fiquei só de cueca. Normalmente, eu gostava de conduzir a mulher durante todas as preliminares. Mas a Fernanda era a anfitriã, então aceitei me deixar ser conduzido. Ela parou na cozinha, foi na geladeira e me ofereceu uma long neck, enquanto ela tomava outra. Não era muito acostumado a fazer essas coisas “cotidianas” com ela seminua, mas não ia reclamar de ver aqueles peitões balançando nus.
Caminhamos pro quarto, papeando com as cervejas na mão, parecendo mais dois amigos que amantes. Em dado momento, depois que as duas tinham secado, puxei o rosto dela para mim e dei um beijo quase apaixonado. Aproveitei que ela se envolveu no beijo e passei a apalpar aqueles belos seios que eu queria agarrar desde que ela abriu a porta.
Desci minha boca entre beijos até os mamilos e comecei a mordisca-los com vontade, fazendo ela se arrepiar. E a deitei na cama, me deitando sobre ela. Depois de me acabar, devorando aqueles peitões, desci beijando sua barriga trincada, descendo pra baixo do umbigo, até que cheguei à parte interna de suas coxas. E que baita par de coxões.
A Fernanda abriu suas pernas para me ajudar a explorar mais sua buceta. Eu não me fiz de rogado e fiquei acariciando aquela bucetona por cima da calcinha, percebendo que ela já estava encharcada. A Fernanda já estava gemendo alto e eu decidi tirar logo a sua calcinha.
Mas só por maldade, eu primeiro tirar a minha cueca pra que ela visse o meu pau duro. Ele já estava pronto e dando solavancos de prazer. Ela apontou pro criado-mudo, onde ela deixava a camisinha. Eu não me importava em usar, mas ela comentava que o Enéias sempre reclamava que queria no pelo mesmo. Com ela e com todas, provavelmente...
Peguei a camisinha, mas ainda não a coloquei. Aproveitei a pausa e a surpreendi com um beijo na boca, de tesão puro. E da boca, retomei tudo o caminho até a buceta. Queria beijar cada centímetro daquela gostosa. Querem ter uma noção de como a Fernanda é? Ela tem corpo pra interpretar a Mulher-Maravilha das fantasias da macharada se fosse atriz.
Desci pelo seu pescoço. Parei em seus peitões. Gastei um tempo mamando aquelas tetas enormes. Enquanto a Fernanda se inclinava para trás, aproveitei para levar meu dedo até sua boca para que ela mesma chupasse e lambesse, como se fosse meu pau. Depois disso, enquanto eu lambia, chupava e mordiscava seus seios, peguei esse mesmo dedo chupado e melado e o enfiei dentro da sua calcinha, para brincar com a sua buceta.
Fui descendo e brinquei com o umbiguinho dela. Continuei indo pra baixo e ao voltar pro seu púbis, fui puxando sua calcinha com calma, aproveitando e beijando cada centímetro da parte interna das suas coxas. Tirei um segundo pra admirar aquela bucetona de lábios volumosos tinha uma risca de pentelhos.
Logo, cai de boca naquela bucetona, sorvendo seu mel delicioso e deixando a Fernanda gemer alto. Não tinha pressa. Chupei, lambi, explorei toda a buceta com minha língua. Até que a Fernanda puxou o meu cabelo com força, apertando minha boca contra sua buceta e estremeceu todo seu corpo. Ela tinha gozado.
Quando percebi que ela estava entregue, com as pernas abertas, sua buceta babando e clamando pela rola, aí sim coloquei sua calcinha. Me ajoelhei na cama, apoiei suas pernas em meus ombros, encaixei o pau na entrada da sua buceta e fui colocando aos pouquinhos.
Estava enfiando devagar, cm a cm, aproveitando pra sentir a sua bucetona envolvendo o meu cacete. Até que consegui enfiar tudo, até o talo. Fiquei alguns segundos parado, esperando ela se acostumar. A bucetona dela era bem mais apertada do que parecia. Aos poucos, comecei a bombar. Primeiro, com calma, saboreando cada momento.
Quando a Fernanda começou a reclamar que ia dormir de tédio se eu continuasse tão lerdo, passei a bombar com força mesmo. Ela queria meteção, então eu ia estocar meu cacete na sua buceta com a minha alma. Fiquei metendo com força e vigor. O quarto era tomado pelos sons dos nossos gemidos e dos choques dos nossos corpos.
Depois de um tempo, eu a coloquei de quatro na cama, me ajoelhei atrás dela e voltei a bombar com força. Xingando. Dando tapa na bunda. Até que resolvi testar os limites, abri um pouco sua bunda e comecei a brincar com a entradinha do seu cuzinho com um dedo. Sem parar de meter e meter e meter.
Senti a Fernanda estremecendo toda com a minha brincadeira. Eu passei a meter com mais força ainda e ela voltou a rebolar. Decidi que ainda comer aquele cuzinho. Continuei massageando seu anelzinho. Fernanda gemia mais e mais alto. Senti que não ia aguentar mais tempo.
Acabou que gozamos quase juntos. Eu jatei com vontade dentro da camisinha, sem tirar de dentro da buceta dela. A Fernanda gozou também, seu corpo estremeceu todo e ela caiu sem forças na cama. Eu me deitei ao lado dela e ela me abraçou.
Ficamos assim, abraçados por um tempo. Ela permaneceu ali, abraçadinha, sem querer me soltar, sem querer que aquele momento acabasse.
— Podíamos fazer isso sempre, não acha...
Fernanda disse uma das coisas que eu mais temia ouvir das minhas amigas coloridas. Odiava o que tinha que fazer, mas era o melhor pros dois no médio prazo.
— Você sabe que não posso...
Era quarta de tardinha quando estacionei o carro ali perto da entrada do condomínio onde meus pais moravam. Estava esperando a Lisandra pra gente ir jantar, botar o papo em dia, e depois deixá-la na faculdade antes das 20h.
Vi pelo retrovisor quando ela apareceu vindo pela calçada, leve, mochila jogada num ombro só, aquele jeito meio elétrico que ela sempre teve. Antes mesmo de eu destravar o carro, ela bateu de leve no vidro da janela, sorrindo.
— Migué, ainda tem um tempinho?
— Estamos bem adiantados. Do que precisa?
— Queria te apresentar aqueles amigos que te falei. É rapidinho.
— Bora, então — respondi, saindo.
Fomos até a portaria. Lá, ela abriu um sorriso mais largo ainda.
— Seu Geraldo! Zé Maria! — chamou.
O porteiro e o zelador se viraram quase ao mesmo tempo.
O Zé Maria foi o primeiro a se aproximar. Magricela, postura meio torta, rosto fechado que parecia padrão, mas com um brilho curioso no olhar. Cara de quem sabe mais do que fala. Cumprimentou com a mão firme.
— Boa tarde. Você deve ser o Miguel, né? — disse ele.
— Sou eu mesmo — respondi. — Prazer.
Ele parecia um desses sujeitos que se soltam depois de algumas conversas e uma fofoca. Fazia sentido ficar na defensiva, dependendo do tipo de morador com quem conviviam.
O seu Geraldo veio logo atrás, sorriso largo, jeito expansivo, corpo já marcado pelo tempo, mas com uma presença forte. Aquela simpatia treinada de quem lida com gente o dia inteiro e sabe exatamente o que mostrar e o que esconder.
— Prazer, doutor — disse ele, apertando minha mão com entusiasmo. — A Lisandra fala muito bem do senhor.
— Esquece o “doutor” e o “senhor”. Meu nome é Miguel — respondi, pra quebrar o gelo e porque odiava esse negócio de doutor fora do consultório.
Ele riu alto, fácil demais.
Se o Zé Maria me passou a impressão de ser silenciosamente esperto, o seu Geraldo era o oposto: falante, carismático, com aquele ar de tio gente boa que todo mundo confia rápido demais. E talvez aí estivesse o perigo. Pessoas assim costumam saber ir longe sem parecer que estão indo a lugar nenhum.
— O Miguel é filho da dona Ângela e do seu Arnaldo — explicou Lisandra.
— Ahhh! — Zé Maria reagiu na hora. — A dona Ângela é uma figura. Gente finíssima.
— E o seu Arnaldo é um homem tranquilo, educado. Pessoas de respeito — completou seu Geraldo.
Enquanto conversávamos sobre amenidades, notei um desvio de olhar do seu Geraldo quando ouvia o nome da minha mãe. E isso era preocupante porque um safado reconhece o outro. Não disse nada, claro. Continuei sorrindo, relaxado, mas preocupado com o que a minha intuição tava gritando.
— A Lisandra falou que vocês seguram esse prédio nas costas — comentei. — Se depender dela, vocês são praticamente patrimônio histórico.
— Ela exagera — disse Zé Maria, mas lisonjeado demais pra negar totalmente.
— Exagera nada — rebateu seu Geraldo. — Essa jovem é bem esperta.
E foi aí que eu comecei a observar mais atentamente os dois olhando pra ela.
Não era nada escancarado. O Zé Maria olhava com um interesse mais seco, quase automático, como quem avalia uma possibilidade quase impossível. Já o seu Geraldo era diferente. Tinha carinho no olhar, mas por baixo disso, um tesão quase palpável. Um misto de amizade e vontade de comer a Lisandra de tudo quanto é jeito.
Isso me incomodou. Não no nível do “irmão mais velho ciumento e controlador”. A Lisandra é adulta, inteligente e sabe se virar. Sempre soube. Mas alguma coisa no seu Geraldo me deixava em alerta. Talvez fosse justamente o excesso de simpatia. Talvez fosse o jeito como ele parecia confortável demais.
Ele parecia esperto, sonso, paciente. Estava só esperando a Lisandra baixar a guarda pra comer ela. Mas não falei nada. Nem ali, nem depois.
— A gente vai jantar agora — disse Lisandra, olhando pra mim. — Depois eu tenho aula.
— Aproveitem — respondeu Zé Maria.
Nos despedimos e voltamos pro carro. O assunto mudou lá dentro mudou. Ela começou a falar da faculdade, das aulas, dos planos. Eu escutava, dirigindo, mas uma parte de mim ainda estava na portaria, revisitando os olhares do velho Geraldo.
Não era paranoia. Era instinto. Tinha alguma coisa no seu Geraldo que eu não tinha gostado nem um pouco. E ia ficar de olho pra proteger minha mãe e minha irmã de coração.
A noite seguinte foi cansativa, mas graças aos céus tivemos algum tempinho pra descansar e socializar. Estava na sala de descanso, jogado na poltrona, esticando as pernas, quando a Fernanda entrou com duas canecas na mão.
— Uma é sua — disse ela, me entregando.
Agradeci e ela se sentou na cadeira em frente, cruzando as pernas com aquela naturalidade perigosa que só ela tinha. Não deu nem tempo de trocamos algumas palavras, ou cantadas, que a porta abriu de novo e a Jéssica entrou, pegando uma garrafa de água na geladeira. Cumprimentou a gente com um aceno curto. Estava visivelmente cansada.
— Só preciso de uma poltrona e dez minutos pra reiniciar meu cérebro — comentou.
Pouco depois dela se sentar, o Enéias apareceu. Alto, presença forte, mas o ambiente deu aquela microgelada. A Jéssica não levantou os olhos. Estavam sem se falar há semanas.
— Oi — disse Enéias, saindo do sorrisão pra um tom neutro ao ver a Jéssica.
— Oi — respondi, pra não desanimar ainda mais o clima.
A Fernanda também respondeu, mas a Jéssica só tomou um gole longo de água, olhando pra garrafa como se fosse o assunto mais interessante do planeta.
— Vou pegar um café rápido — disse Enéias, indo pra garrafa térmica. Ele deu um meio sorriso pra Jéssica, mas ela nem prestou atenção. Apenas se levantou e saiu sem olhar pra trás.
Se o Enéias estava chateado com o gelo da ex-amiga, isso não o impediu de secar o rebolado se afastando por causa dele. Desse jeito, eles nunca mais voltariam ao normal.
Algumas noites se passaram e, na sexta, a Lisandra ia dormir no meu apartamento. Ela tinha um quarto só pra ela agora, que ela mesma preparou (enquanto dava uma geral no meu apartamento porque achou a bagunça inadmissível). Estávamos largados no sofá, mexendo no controle e procurando o que assistir.
— Friends de novo, Migué? — ela fez uma careta dramática. — Isso é muito datado.
— Datado nada — retruquei. — É um clássico. Conforto emocional em forma de sitcom.
— Conforto emocional pra homem hétero dos anos 90 — rebateu Lisandra. — O Ross era insuportável, machista pra caralho. O Joey só disfarça a galinhagem com cara de bobo.
Eu dei um riso meio torto que sempre me entrega.
— Se for por esse critério, eu também sou um galinha.
A almofada veio certeira na minha cara.
— Você é diferente, Miguel — respondeu, apontando o dedo pra mim, meio rindo, meio séria. — O Joey transava e sumia antes do sol nascer. Era o Chandler ou a Rachel que ficavam, faziam café, conversavam, davam aquele “foi ótimo, mas vida que segue”.
— E eu faço o quê?
— Você só vai pra cama depois que a mulher assina o “li e concordo com os termos e serviços” — retrucou, meio zoando. — Uma noite só, casual, sem ilusão. E ainda ganha café da manhã e um amigo.
Aquilo me fez sorrir. Sempre fazia. Eu gostava desse personagem que interpretava, o malandro. Me inclinei pra frente, teatral.
— Então, você namoraria um cara que nem eu?
— Deus me livre — ela nem pensou.
— Caralho — eu ri. — Rápido assim?
— Um galinha desses? Eu seria corna três vezes por semana.
Ela riu, finalmente relaxando.
— Tá, vai. Um episódio. Qual você quer mesmo?
— Vamos pra quinta temporada. “The One Where Everybody Finds Out” — escolhi na hora. — A revelação do Chandler e da Monica. Clássico.
O episódio começou, mas a minha cabeça não estava exatamente ali. Em algum momento, eu soltei:
— Você conhece uma tal de Sarah? Do prédio dos meus pais?
Ela pausou o episódio.
— Conheço. Casada.
Eu suspirei e passei a mão no rosto.
— Então, a gente se conheceu no elevador. Rolou um flerte meio descarado. Trocamos contato.
— Miguel... — começou a Lisandra, já naquele tom de “senta, que lá vem sermão” que ela aprendeu a Jéssica.
— Calma. — Peguei o celular. — Depois ela me adicionou no Instagram, aceitou quando eu segui de volta. Aí, eu vi essas fotos dela com o marido.
— E você?
— Bem, por hora, me fiz de sonso até entender o que tava acontecendo. — Mostrei as DMs pra ela. — Olha isso.
Mostrei a conversa. Não precisava explicar muito. A Sarah era bonita, mas a tentativa de sedução era sofrida. Ela estava dando em cima de mim, mas também mudando de assunto, se xingando sem perceber, exagerando nos emoticons, indiretas que tropeçavam nelas mesmas. A Lisandra leu em silêncio por alguns segundos e depois fez uma careta.
— Meu Deus, que horror. — Ela me devolveu o celular. — Essa mulher é péssima dando em cima de homem.
— Pois é, ela tá fingindo que é solteira mesmo com trocentas fotos do marido no perfil. Isso é estranho demais — falei.
— Mas você não pega mulher casada não, né? — perguntou, com a desconfiança disfarçada por um sorriso. — Porque eu conheço uns que tão nem aí pro estado civil da mulher.
— Eu não saio com mulher casada. Tenho princípios.
— Eu sei. Mas agora eu quero a fofoca inteira. — Já estava pegando o celular dela. — Vou acionar os porteiros, diaristas, babás, zeladores. Se a Sarah é adúltera, alguém ali vai saber. Se bobear, já deu até pro seu Gera... — ela parou no meio da palavra, tossiu. — Pro zelador da Torre B, aquele que tem fama de comedor.
— Deixa de ser fofoqueira, mulher.
— Sou informada — corrigiu ela. — É diferente.
Ela ficou séria por um segundo.
— Dá até pena do Érico, marido dela. Ele é gatinho.
— Óbvio — brinquei. — O cara tem muita cara de nerd pelas fotos. E você não pode ver um nerd certinho que baba.
— Mentira — respondeu ela rápido demais. — Só gosto de homem com cara de confiável.
— Nerd — corrigi.
Ela me deu um tapa leve no braço.
— Idiota.
— O Rogério é nerd. Esse é o único defeito que a Jéssica conseguiu achar no marido, que sem isso seria o homem perfeito, deus do sexo. — Listei. — O Vinícius também parece nerd e certinho. E o Érico é a cara do nerd que aprendeu a interagir socialmente sem travar.
Lisandra suspirou.
— Qual o problema de ter um tipo?
— Nenhum. Mas agora vou te apresentar todos os nerds que passarem no meu crivo — provoquei.
Rimos.
— E você? — perguntou Lisandra. — O que vai fazer com a Sarah?
Eu recostei no sofá, olhando pra TV pausada.
— Nada. Vou ficar na moita. Se ela vier atrás de novo, eu mando a real. Digo que sei que ela é casada e que não é comigo.
Lisandra sorriu, satisfeita.
— Safado, mas com vergonha.
— Agora solta o episódio.
Ela riu e apertou o play.
Enquanto a risada gravada enchia a sala, pensei que era uma pena que a Sarah fosse casada. Era uma das mulheres mais lindas que já tinha visto na vida.
Se a Sarah era casada e fora de cogitação, a Tatiana era divorciada e disponível. A gente já tinha transado umas quatro vezes desde que nos conhecemos e ela sempre queria mais. Eu tentava evitar que se tornasse rotina, mas se uma gostosa insiste quase toda semana que quer dar pra você, uma vez ou outra, você cede, né?
Mesmo solteira, a Tatiana não gostava que eu fosse ao seu apartamento. Temia que ficasse “falada” pela ala ultraconservadora que não goza do prédio e isso atrapalhasse seus planos. Então, sempre transamos ou em motéis ou no meu apartamento. Aquela noite, quando eu sabia que a Gasparzinha não ia estar por lá, foi no meu apartamento.
A Tatiana já chegou como quem conhecia a casa, mesmo tendo pisado lá poucas vezes. Jogou a bolsa na mesa e já foi me beijando. Um beijo selvagem, quente e molhado, nossas línguas se entrelaçando. Não queria saber de jantar, flertes ou preliminares. Tava na seca e queria sexo logo.
Não neguei fogo e já fui conduzindo a jornalista pro meu quarto. Ela já foi desabotoando a camisa e tirando o sutiã, enquanto eu levantava minha regata.
Os seios dela eram de pequeno pra médio. Tinham um formato bem arredondado com auréolas rosadas e de diâmetro pequeno. Os mamilos eram discretamente salientes e já estavam duros de tesão.
Enquanto ela baixava sua calça, expondo sua calcinha rosa, não resisti e apalpei os seios dela. Estava louco pra dar umas mamadas nele, mordiscar aqueles bicos. Beijá-los todinhos. Assim, eu a deitei na cama e passei a agarra-los com vontade, pausando a nossa despida. Enquanto ela mordia, lambia e chupando seus mamilos, a Tatiana tentava alcançar a minha calça pra tira-la.
Não parava de devorar seus seios, enquanto ela tinha dado um jeito de agarrar as alças da minha calça e da cueca com os dedos do pé. Ela era mesmo habilidosa. Com um empurrão e a minha ajuda, ela conseguiu jogar tanto a calça quanto a cueca nos joelhos, expondo meu pau duro pra ela.
A Tatiana não pensou duas vezes em me jogar deitado na cama e segurar o meu cacete duraço nas mãos. Ela passou a acariciá-lo com vontade, deixando ele completamente pronto e apontando para o teto.
Os seios dela eram pequenos demais pra uma espanhola autêntica. De fato, as duas mulheres que eu conhecia que tinham seios perfeitos pra espanhola eram a Fernanda e a Sarah. Isso não a impedia de, completamente excitada, começar a esfregar meu pau em seus seios médios, tentando comprimi-lo entre os dois sem muito sucesso.
Desistindo desse intento, ela levou sua boca pro meu cacete, beijando a cabeçona inchada, antes de engolir o meu pau todo por completo. Da cabeça à base. Soltou interjeições de prazer, enquanto a Tatiana chupava com vontade, engolindo tudo sem engasgar. Era como se eu estivesse fodendo ela mas a boca e não a buceta. Ela subia e descia, engolindo e soltando o meu pau na ritmo que eu costumava das minhas estocadas. Assim, eu não ia resistir muito tempo. Então, com um tapinha no cabelos dela, ela entendeu a sinalização pra parar.
Ela aproveitou a pausa pra tirar sua calcinha, expondo sua bucetinha rosada, que tinha pentelhos castanho-escuros curtos, formando um triângulo compacto. Sua bundinha era pequena, com um formato um tanto oval. Eu me sentei na cabeceira da cama e coloquei a camisinha. Após encaixar o meu caralho na entradinha da sua buceta, ela foi se abaixando, deixando que o pau deslizasse buceta adentro dela.
Quando entrou até o talo e senti que estávamos fodendo pela quinta vez, a agarrei pelos quadris de forma firme e comecei e bombar com tudo. Sempre começava devagar e ia ganhando ritmo com as estocadas. Mas a Tatiana estava fora e começou a cavalgar como uma verdadeira amazona.
Agarrava as nádegas dela com força, enquanto ela cavalgava em mim. Era cada sentada que me levava ao paraíso. Ela se inclinou para frente e eu arqueei os meus quadris para cima para entrar ainda mais fundo nela. Ela me segurou pelo queixo e nos beijamos quase apaixonadamente.
Eu a tirei de cima de mim, e fiquei em pé do lado da cama, puxando o corpo dela pra mim no lado da cama. Coloquei as pernas nos meus ombros, a agarrei pela cintura e enfiei o meu cacete com tudo naquela bucetinha. Se a Tatiana queria tanto dar pra mim, eu ia foder ela de um jeito que ela ia sair bamba do meu apartamento.
Passei a foder com força mesmo, estocando com tudo que tinha. Ouvíamos o barulho das minhas bolas batendo na entrada da bucetinha dela porque eu metia até o talo. E de novo. E mais forte. E de novo. E mais forte.
Ela urrava, gemia, pedia por mais. Os dois estavam quase animalescos. Quando senti o meu orgasmo se aproximando, tirei o meu cacete de dentro da buceta dela, tirei a camisinha e apontei pro corpo dela. A Tatiana sabia o que eu ia fazer e esperou.
Deu algumas punhetadas e o gozo jorrou em jatadas firmes, acertando os seios, o colo e o rosto dela. A Tatiana não hesitou em abrir a boca, esperando que um pouco da porra quente caísse em sua boca. Ao todo foram umas sete jatadas, melando ela todinha dos seios pra cima. Assim que terminei, soltei ela e ela veio chupar o meu cacete e limpa-lo todinho.
Depois de irmos ao banheiro e rolar mais um pouco de sacanagem oral dos dois lados, já estávamos deitados de conchinha.
— Tem certeza de que não quer ser meu namorado? — perguntou Tatiana, com um fio de esperança.
— Você ia pedir pra eu me afastar da Fernanda e das outras, não?
O silêncio da Tatiana respondeu por ela.
— Eu queria ser sua namorada...
Algumas noites tinham passado. O hospital seguia naquele ritmo noturno maluco. Eu estava na copa, jantando quando a porta abriu e a Jéssica entrou.
Scrub vinho dessa vez. A blusa moldava o tronco dela como se tivesse sido feita sob medida, desenhando aquele peito pequeno, firme, alto. A calça marcava as coxas torneadas, justas o suficiente pra acompanhar cada passo. O cabelo estava solto, caindo pelos ombros, levemente ondulado.
Ela foi direto pra geladeira. Abriu a porta. E então se abaixou um pouco, de costas pra mim, pra pegar a marmita. Aquela bundinha redonda, pequena, empinada do jeito errado pra saúde mental de qualquer homem acordado. O scrub esticou ali, denunciando cada curva.
Eu dei aquela secada honesta, consciente, sem culpa.
— E a gente falando em investimentos mais cedo e essa aplicação na poupança aí — falei, sem nem disfarçar o sorriso.
— Que aplicação? — estranhou ela, ainda abaixada.
— Essa poupança compacta aí — continuei. — Umas duas abaixadas assim e metade dos pacientes morre com sangue concentrado no púbis.
— Babaca! — Ela se levantou rindo e fechou a geladeira.
— Babaca, não. Observador. E você colabora demais.
Ela foi até o micro-ondas, colocando a marmita, apoiando o quadril na bancada de um jeito que deixava a curva da bunda ainda mais evidente.
— Se eu fosse você, parava de olhar.
— Se eu fosse você, cobrava ingresso.
— Idiota.
— Mas sincero.
Ela sentou na mesa e começou a comer. E aí eu percebi. No meio daquela malícia toda, tinha algo diferente. O jeito como evitava me olhar.
— Você tá com cara de quem tá segurando uma bomba — falei.
Ela congelou com o garfo no ar.
— Impressão sua.
— Não é — respondi. — Essa é a sua cara de “vou falar merda e me arrepender”.
Ela respirou fundo.
— Eu não sabia que a Ângela e o Arnaldo eram seus pais.
— Até aí, normal. Eu também nem conheço seus pais. Vai que sou vizinho deles.
Ela mordeu o lábio inferior por um instante. Nervosa de verdade.
— Miguel... Quando eu e o Rogério nos mudamos pro prédio, anos atrás... aconteceu uma coisa.
Meu estômago apertou.
— Que coisa?
— A gente meio que tava muito excitado. Então, transamos na frente do seu pai. Digo, com ele de plateia.
Eu parei de mastigar.
— Como assim?
— A gente transou na poltrona e na sala. Eu e o Rogério pelados e meio que performando pra ele ver tudo nos melhores ângulos. E o seu pai meio que bateu punhe... Digo, fez aquilo assistindo. Foi impensado, inconsequente e irresponsável da minha parte e da do Rogério.
Um silêncio pesado caiu entre a gente.
— Isso não é nenhuma piada não, né? Porque é é sério demais e...
— Sabe o que é pior? Eu gostei.
Aquilo me atingiu em cheio.
— É o quê????
— Dele me vendo. Era o fetiche perfeito. Poder me exibir sem que o homem tentasse me agarrar. Poder ser do Rogério, mas mostrando pra outros. Aquilo me excitava. Aquilo era um escândalo.
Meu cérebro foi pra mil lugares errados ao mesmo tempo.
— Então, você e o meu pai...
Ela assentiu.
— Em troca do silêncio dele, eu continuei me exibindo pelada pra ela ao longo de todos esses anos. Sem pressa. Mostrando tudo. O Rogério sabia e permitia, mas normalmente eu fazia isso quando tava com raiva dele. Nunca nos tocamos. Ele nunca chegou nem perto de encostar um dedo em mim. Mas ele me viu em detalhes que só o Rogério e a minha ginecologista viram.
Eu fechei os olhos por um segundo.
— Jéssica, você é minha amiga! Uma das minhas melhores amigas!
— Eu não sabia que ele era...
— Ele é meu pai! Porra...
— Não acabou aí — continuou ela, hesitante.
— Tem mais?
— A sua mãe, a dona Ângela, descobriu. E quis participar da brincadeira.
Meu coração afundou.
— Outra coisa como? — perguntei, já tenso.
— Nós fizemos sexo a quatro no meu apartamento poucos dias antes de eu te ver saindo do apartamento deles.
Eu senti um nó no estômago.
— Mas não foi troca de casais. Eu não dei pro seu pai ou pra sua mãe, ainda. Nós só transamos no mesmo ambiente. Eles dois num canto da cama e eu e o Rogério noutro.
— Ainda assim...
— Mas, durante a transa, eu e a dona Ângela nos beijamos.
Aquilo me pegou.
— Foi Beijo longo. — De língua. Intenso.
Eu passei a mão na testa.
— Caralho...
— Ela beija bem demais. Beija quase tão bem quanto o Rogério. Eu queria mais e mais daquela língua.
— Eu não quero detalhes.
— Mas não parou por aí. Ela começou a dar tapas na minha bunda.
Foi aí que as coisas ficaram estranhas.
— E ela meteu o dedo bem dentro do meu c...
— Agora você passou do ponto — falei, sem humor.
— É verdade — insistiu ela, já entregando que parte da narrativa era mentira.
— Não. Até o beijo, eu tava engolindo tudo. Mas você ter deixado um longo beijo de língua definitivamente não é você.
Ela riu.
— Depois de toda aquela exibições e do beijo, pra todos os efeitos, eu sou sua madrasta.
— Para — falei, rindo e enjoado ao mesmo tempo.
— Tá bom. Mas você queria saber porque eu reagi daquela maneira. Eu contei a verdade até a parte em que passei a florear um pouco.
— Por quê?
— A parte da verdade foi porque achei que você me merecia saber. É um dos meus amigos mais queridos e não queria que ficasse um climão ente nós. A parte do floreio foi pra garantir que você lembrasse dos seus pais e tivesse ânsia de vômito sempre que fosse secar a minha bunda.
— Você é uma pessoa horrível.
— Respeita sua madrasta, Drake.
— Vai se foder — respondi, rindo.
E mesmo com tudo aquilo... era isso. Amizade estranha, caótica, cheia de sacanagem — mas ainda amizade.
Era quinta e estávamos na penúltima semana de julho. Hora do almoço. Estacionei o carro, desci e fiquei esperando a Fernanda dar a volta no carro.
Ela vinha com uma camiseta regata simples, daquelas de algodão mais fino, clara, colada o suficiente pra desenhar o volume dos peitões dela e deixar um senhor decote. O abdômen liso aparecia só um pouco quando ela se mexia, e o jeans médio, bem ajustado, abraçava o quadril largo na medida exata, moldando a bunda redonda. As coxas torneadas completavam o conjunto.
A Fernanda notou meu olhar e abriu um sorriso torto.
— Já começou a palhaçada, Drake?
— Eu só tô apreciando.
Ela riu, daquele riso fácil e alto que sempre chamava atenção.
— A gente só tem uma hora — disse Fernanda, já caminhando. — Tomara que esse lugar não esteja lotado.
— Foi você que quis vir pra variar — provoquei. — Depois de dias à base dos mesmos iFoods e dos mesmos restaurantes perto do hospital.
Ela virou o rosto pra mim, andando de lado.
— Nossa, desculpa se eu quis fingir que tenho vida social num dia útil — falou. — Da próxima vez, a gente almoça na copa mesmo, pra você não sofrer.
— Ingrata — respondi, rindo.
Entramos no restaurante, e olhei em volta procurando uma mesa até encontrar a Tatiana. Ela já estava sentada, mexendo no celular, e levantou a mão quando nos viu.
A Tatiana usava uma camisa social clara, abotoada o suficiente pra parecer séria, mas não tanto a ponto de esconder a linha delicada do colo. O tecido caía reto, mas marcava de leve os seios pequenos-médios, firmes, naturais, daquele tipo que cabe perfeitamente na mão. A cintura era bem definida, o jeans desenhava o quadril discreto e a bunda firme, alta, sem exagero, mas com uma postura que valorizava cada centímetro. As pernas longas terminavam em tornozelos finos.
— Olha quem resolveu aparecer — disse Tatiana quando chegamos mais perto.
— A gente só atrasou cinco minutos.
Cumprimentei ela com um abraço rápido, mas cheio de intimidade. O corpo dela encaixou fácil no meu, firme, quente, conhecido. A Fernanda fez o mesmo, as duas se abraçando com naturalidade de quem já dividiu o mesmo homem.
— Vamos pegar comida antes que isso aqui vire um caos — disse Fernanda.
Fomos até o buffet pegar nosso almoço e, quando voltamos pra mesa, começamos a comer.
— Amanhã eu me mudo — disse Fernanda, entre uma garfada e outra. — Vou morar no mesmo condomínio que vocês, a Jéssica e o Enéias.
A Tatiana sorriu daquele jeito curioso, quase investigativo.
— Tá de brincadeira.
— Não tô. Você são da Torre B, certo?
— Não. Somos da Torre A. Os três.
— Foi um achado — continuou Fernanda. — Um senhor de idade precisava sublocar o apartamento. Vai se mudar pra um menor, mais barato, em outro bairro mais calmo. Um aluguel bem abaixo do mercado, basicamente vou pagar o que ele paga no novo apartamento, com a condição de eu pagar o condomínio e as taxas do condomínio de vocês.
Tatiana inclinou a cabeça, avaliando.
— Você chegou a ver quanto é o condomínio e as taxas?
— Ainda não.
A Tatiana apoiou o garfo no prato devagar.
— O nome do morador era Sigismundo Nonato, do apartamento 1503 da Torre B?
Fernanda piscou.
— Era. Você conhece ele?
Tatiana deu um meio sorriso.
— Não. Mas eu sabia que era questão até esse nome sair do prédio.
— Por quê? — perguntei.
— Intuição feminina — respondeu Tatiana, dando de ombros. — E um pouco de experiência com aquele prédio.
— Seja como for, tô animada — disse Fernanda. — Novo apartamento, nova fase.
O almoço seguiu, as histórias começaram a se alongar, e eu sabia que ainda tinha muito assunto antes daquele relógio ingrato lembrar a gente de que a pausa ia acabar. Foi quando a Fernanda deu uma leve inclinada pra frente, estreitando os olhos como quem reconhece alguém.
— Aquele ali não é o marido da Jéssica?
Segui o olhar dela com cuidado, sem virar o pescoço feito um periscópio mal disfarçado. A Tatiana fez o mesmo, discreta, profissional.
Era o Rogério, sim. Inconfundível. Andava relaxado, bandeja na mão, conversando animado com uma mulher bem linda ao lado dele. Tinha o mesmo estilo de beleza e corpo da Jéssica.
— É ele, sim.
— A empresa dele é aqui perto — explicou Tatiana. — E a mulher com ele é a Rebecca. Advogada. Mora lá no condomínio também. Amiga próxima do Rogério. A firma dela fica no prédio do lado da empresa dele.
Me permiti olhar melhor dessa vez. A Rebecca usava roupa social sóbria, camisa bem passada e uma saia reta até o joelho, que escondia mais do que mostrava. A saia marcava um quadril firme, discreto, mas com curvatura elegante. A cintura era fina, bem definida sob a camisa ajustada, e denunciava um corpo muito bem cuidado. O coque alto deixava o pescoço à mostra. O andar era contido, mas a bundinha era empinada, redonda, compacta, subindo e descendo de leve a cada passo.
— Tatiana, você sabe tudo sobre todo mundo — brinquei. — Isso chega a ser assustador.
Ela nem se abalou.
— Eu seria uma péssima jornalista se não fosse assim. Você não descobre o escândalo que derruba o presidente se não souber o nome dos vizinhos e os hobbies deles.
A Fernanda voltou a olhar pra Rebecca, dessa vez sem nenhuma tentativa de disfarce. Vi ela morder o lábio inferior, avaliando cada detalhe.
— Olha, essa daí aí não é advogada, não — disse.
— Não mesmo — completei. — É advogata.
— Vocês são dois idiotas — censurou Tatiana. Ela apoiou os braços na mesa e sorriu de um jeito perigoso. — Mas se é assim, tenho uma boa notícia e uma má notícia pra vocês.
— Manda a boa primeiro — falei.
— A boa notícia é que a Rebecca está recém-solteira. Em teoria, disponível na pista.
— Olha só... — A Fernanda abriu um sorriso largo. — o universo sempre entregando possibilidades.
Senti aquele reflexo automático de interesse. Se era solteira, tava valendo. Eu e a Fernanda sempre tínhamos uma competição justa e honrada, que só uma vez virou ménage.
A Tatiana levantou um dedo.
— Agora a má notícia. A Rebecca é evangélica batista.
A Fernanda fez uma careta instantânea. Eu não pensei em nada.
— Isso geralmente significa ultraconservadora, direita raiz, supersticiosa, possivelmente homofóbica — continuou Tatiana. — Provavelmente não acredita na evolução e acha que a Terra tem uns quatro mil anos.
— Você acabou de descrever metade dos meus tios lá de Minas — comentei. — E nem todos são monstros.
— E nenhum monstro tem uma bundinha daquelas — emendou Fernanda.
— E generalizar dá ruim. As pessoas são mais complexas que rótulo religioso.
— Depois, não venham reclamar comigo.
A Fernanda cruzou os braços, ainda olhando pra Rebecca.
— Complexa ou não, eu aposto dinheiro que essa saia aí já conheceu pecado suficiente pra um mês inteiro de culto.
A Rebecca e Rogério se sentaram numa mesa mais afastada. Quando ela virou de costas pra encaixar a cadeira, a saia subiu um centímetro, revelando por uns instantes a curvatura exata da bundinha firme antes de desaparecer de novo sob o tecido. A Fernanda suspirou.
— Aquela bundinha arrebitada... — comentou Fernanda. — Meu gaydar tá apitando forte. Tá dizendo que essa daí já beijou pelo menos duas mulheres na vida.
A Tatiana soltou uma gargalhada incrédula.
— Fernanda, você constrói teorias com base na bunda de uma desconhecida.
— E quase sempre acerto. Meu gaydar me avirou logo que te conheci que você nunca beijou mulher nenhuma e é 98% hétero.
— A maioria das mulheres nunca beijou outra mulher — retrucou Tatiana.
— Talvez você não seja uma jornalista tão boa quanto pensa — provocou Fernanda.
A Fernanda voltou a olhar pra Rebecca, agora com um ar quase pensativo.
— Mas ó, pelo feeling que eu tô sentindo, não dou até sábado pra essa mulher estar colando velcro.
Eu ri, balançando a cabeça.
— Se for assim, não vai ser contigo.
— Não sou ciumenta, se eu tiver a minha vez.
Eu nunca soube se o feeling da Fernanda estava certo sobre a Rebecca.
Pois bem, leitor. No próximo capítulo, eu vou me envolver mais com o pessoal do condomínio. Vou resolver toda a treta com a Sarah e acabar sendo convidado pra uma partida de futebol e um aniversário no sítio. Mas só vou poder ir pra um deles.
As perguntas que tenho desta série:
I) O Miguel deve descobrir que o seu Geraldo comeu sua “irmãzinha” Lisandra ou isso só diz respeito ao porteiro e à diarista?
II) O que a coitada da Rebecca fez pra ser alvo de tantas mulheres bissexuais (Sofia, Andréia, Cinthia e, agora, Fernanda)? É só a beleza dela ou tem algo nela que a faz parecer “bi-coded”?
Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Em breve, teremos a continuação.
Os próximos capítulos serão:
(ARCO DO FINAL DE SEMANA)
* Louco para enrabar a professora ruivinha, enrabei a <SPOILER> primeiro
* Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 14 (PoV Carlos)
* Quem Vai Comer a Advogada Evangélica? - Capítulo 12 (PoV Jonas)
* Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 15 (PoV Carlos/Eliana)
* Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 19 (PoV Rogério)
.
.
(ARCO DE SEGUNDA A QUARTA)
* Apostei que Faria Aquela Médica Certinha Virar Minha Putinha - Parte 04
NOTA DO AUTOR 01: Com este capítulo, tanto o Miguel quanto a Tatiana alcançaram a cronologia das demais séries.