Nymphox - Parte 2: “Bem Vindo ao Novo Mundo, Meu Amor”

Um conto erótico de Ramon66
Categoria: Heterossexual
Contém 3138 palavras
Data: 25/12/2025 20:48:18

O silêncio que se seguiu ao colapso de Carla não foi de paz. Foi o silêncio pesado e úmido de uma sala de máquinas que acabou de ser desligada após rodar no vermelho até quase fundir. O som da respiração dela, irregular e rouca, preenchia o espaço pequeno, misturado ao zumbido indiferente dos servidores que piscavam suas luzes verdes e laranjas, testemunhas digitais da violação analógica que acabara de acontecer.

Bruno estava deitado no chão frio de cerâmica, o corpo em uma posição que imitava a morte. Braços jogados para os lados, pernas abertas, o peito subindo e descendo em espasmos dolorosos. Ele estava coberto de suor — o dele e o dela — e de fluidos que secavam rapidamente no ar condicionado, formando uma crosta fina e pegajosa na pele. O cheiro era avassalador: amônia, almíscar, sexo cru e o odor metálico de sangue onde as unhas dela tinham rasgado a pele do peito dele.

Seu pau, inacreditavelmente, ainda estava semi-ereto. Doía. Uma dor profunda, latejante, na base do eixo, como se os ligamentos tivessem sido esticados além do limite biológico. A glande estava vermelha, irritada pelo atrito seco das últimas cavalgadas, sensível ao ponto de qualquer roçar de tecido parecer uma lixa. Mas não amolecia. O vírus no ar, ou os feromônios que emanavam de Carla como radiação, mantinham seu sistema reprodutor em um estado de alerta cruel, ignorando a exaustão total do resto do corpo.

Carla se moveu.

Ela rolou para o lado, saindo de cima dele com um gemido baixo que não era de dor, mas de uma satisfação preguiçosa e predatória. O corpo dela, magro demais para os padrões de saúde pré-apocalipse, brilhava de suor. As costelas eram visíveis sob a pele pálida, mas os músculos estavam tensos, definidos pela atividade constante das últimas seis semanas. Ela se sentou sobre os calcanhares, nua exceto pelos sapatos de salto alto — Louboutins pretos de sola vermelha, agora arranhados e sujos, mas ainda calçados como se fossem a única âncora restante de sua identidade anterior.

Ela olhou para Bruno. Seus olhos castanhos, antes janelas de uma inteligência corporativa afiada, agora eram poços escuros de fome saciada momentaneamente. Ela passou a língua pelos lábios secos, limpando um vestígio de saliva ou sêmen.

"Performance aceitável," ela sussurrou, a voz rouca arranhando a garganta. Ela esticou a mão e traçou uma linha de sangue no peito dele com a unha do indicador. "Para um júnior."

Bruno tentou falar, mas sua garganta estava colada. Ele tossiu, um som seco e patético. "Água," ele conseguiu grasnar. "Por favor."

Carla inclinou a cabeça, analisando-o como se ele fosse um ativo depreciado que precisava de manutenção mínima para não perder valor de revenda. A lógica fria da executiva ainda estava lá, operando sob o comando da libido viral. Um brinquedo quebrado não serve para foder. Um brinquedo morto não geme.

"Levanta," ela ordenou. Não gritou. Não precisava. A autoridade na voz dela era absoluta, reforçada pelo medo que congelava os ossos de Bruno.

Ele tentou se apoiar nos cotovelos, mas seus braços tremeram e cederam. "Não... não consigo."

Ela suspirou, um som de impaciência. Com um movimento fluido, levantou-se. O cheiro dela — aquele perfume Chanel azedado pelo corpo febril — intensificou-se quando ela se moveu. Ela caminhou até a mesa onde Bruno tinha deixado uma garrafa de água pela metade três dias atrás. A água estava quente, choca. Ela pegou a garrafa, tomou um gole longo, a garganta trabalhando visivelmente, e depois caminhou de volta até ele.

Sem aviso, ela inclinou a garrafa e despejou um jato de água no rosto dele. Bruno engasgou, tossindo, lambendo a água que escorria pelos lábios rachados desesperadamente.

"Bebe," ela disse, observando-o lamber o chão onde a água tinha caído. "Hidratação é chave para a produtividade, Bruno. Você sabe disso."

Quando ele parou de lamber o chão, humilhado e ainda com sede, ela se agachou novamente. Dessa vez, a expressão dela mudou. Ficou... proprietária.

"Nós não podemos ficar aqui," ela disse, olhando para a porta arrombada, para o buraco que ela tinha aberto com o extintor. "Os recursos desse andar esgotaram. A máquina de café tá vazia. E as outras... elas vão sentir o cheiro. O cheiro do seu gozo." Ela inspirou fundo, dilatando as narinas. "É forte. Cheira a medo e proteína fresca. Vai atrair concorrência."

Ela estendeu a mão e agarrou o queixo dele, apertando as bochechas até ele fazer um bico forçado.

"E eu não divido bônus, Bruno. Você é meu projeto exclusivo."

Ela soltou o rosto dele e olhou ao redor da sala, procurando algo. Seus olhos pousaram em um emaranhado de cabos de rede azuis — cabos CAT6 — que estavam pendurados atrás de um rack de servidor. Ela sorriu.

"Levanta," ela repetiu. Dessa vez, ela agarrou o braço dele e puxou. A força dela era desproporcional. Bruno foi içado para cima como se pesasse tanto quanto uma criança. Suas pernas bambearam, mas ela o segurou contra a parede, o corpo nu dela pressionando contra o dele, quente como uma fornalha. O contato fez o pau dele, dolorido e roxo, pulsar novamente.

Carla pegou o cabo de rede. Com movimentos rápidos e precisos, ela fez um nó de laço em uma das pontas.

"Vira," ela comandou.

Bruno obedeceu, virando de costas, as mãos apoiadas na parede fria. Ele esperou ser açoitado. Esperou dor. Em vez disso, sentiu o cabo de plástico rígido sendo passado ao redor do seu pescoço. Ela apertou. Não o suficiente para sufocar, mas o suficiente para que ele sentisse a pressão constante na laringe. Uma coleira.

Ela puxou a outra ponta do cabo, testando a tensão. Bruno foi forçado a inclinar a cabeça para trás, expondo a garganta.

"Perfeito," ela murmurou no ouvido dele, mordendo o lóbulo com força suficiente para tirar sangue. "Agora você faz parte do inventário oficial."

Ela amarrou as mãos dele nas costas com uma gravata de seda que tinha encontrado caída no chão — uma gravata vermelha, provavelmente do gerente de projetos que sumira na primeira semana. O nó foi firme, profissional. Ela prendeu a ponta da gravata no cinto da calça dele, que ainda estava nos tornozelos.

"Veste a calça," ela disse, chutando o tecido para cima. "Não quero ninguém vendo o que é meu até chegarmos em casa. A concorrência é desleal lá fora."

Bruno, com as mãos presas nas costas, teve que se contorcer para subir a calça. Foi uma dança humilhante, tropeçando, enquanto Carla assistia com os braços cruzados, os seios nus com marcas de unhas subindo e descendo com sua respiração acelerada. Quando ele finalmente conseguiu fechar o zíper — com dificuldade, por causa da ereção dolorosa — ela pegou a ponta do cabo de rede.

"Vamos, Bruno. Temos uma reunião."

[Corredor Central, 18º Andar - O Labirinto de Vidro\]

Sair da sala de TI foi como entrar em uma dimensão alternativa. O corredor, antes um espaço asséptico de carpete cinza e paredes de vidro fosco, estava irreconhecível.

O ar era pesado, quase sólido. O cheiro de decomposição começava a competir com o cheiro de sexo. Havia marcas nas paredes — longas estrias de sujeira, marcas de mãos sujas de graxa ou sangue, buracos no drywall onde cabeças ou corpos tinham sido arremessados com violência.

Carla caminhava na frente, segurando a "coleira" de cabo azul, os saltos clicando no chão com um ritmo autoritário. Bruno tropeçava atrás, o pescoço puxado a cada passo dela, tentando não olhar para os lados. Mas era impossível. As paredes de vidro das salas de reunião eram vitrines do apocalipse.

Na Sala de Reunião 1, a grande mesa de mogno estava quebrada ao meio. Sobre ela, ou o que restava dela, estava o corpo de um homem. Estava nu, de bruços. A pele das costas estava coberta de marcas roxas e vermelhas, mordidas que tinham arrancado pedaços. Mas o pior não era isso. O pior era que ele ainda respirava. Fracamente. Um movimento quase imperceptível das costelas. Ele tinha sido "usado" até o limite da falência orgânica e deixado ali, como uma casca vazia.

"Aquele é o Rogério," Carla comentou casualmente, sem parar de andar, seguindo o olhar de Bruno. "Compliance. Ele aguentou três dias com a Amanda do RH. Fraco. Baixa resiliência."

Eles passaram pela copa. O chão estava coberto de pó de café e embalagens rasgadas de açúcar. Uma mulher estava agachada no canto, de costas para eles. Ela estava nua, a pele das costas queimada de sol (ela tinha saído e voltado?), e comia... algo. Bruno viu um pacote de biscoito Maizena sendo devorado com uma voracidade animal, o pó voando, ela engasgando e engolindo a seco.

Ela ouviu os passos. Virou-se.

Era a Patrícia, estagiária de Marketing. 20 anos. O rosto dela estava sujo de farelo e algo escuro ao redor da boca. Os olhos dela focaram em Carla, depois desceram para o cabo azul, e finalmente pousaram em Bruno.

A reação foi instantânea. Patrícia soltou um silvo, largando o pacote de biscoito. Ela ficou de quatro, os músculos das pernas tensos, a buceta exposta e inchada, pronta para atacar.

"Meu," Carla disse. Apenas uma palavra. Mas foi dita com um tom gutural, baixo, vibrando com uma ameaça que transcendia a linguagem corporativa. Ela puxou o cabo, forçando Bruno a ficar mais perto dela, e mostrou os dentes.

Patrícia hesitou. Ela olhou para Carla — mais velha, mais alta, claramente a Alpha naquele corredor — e depois para Bruno. A fome nos olhos da garota era palpável. Ela lambeu os lábios, calculando o risco.

"Ele tem cheiro de... cheio," Patrícia sussurrou, a voz trêmula. "Você já encheu ele? Tem sobra?"

"Sem sobras," Carla rosnou. "Alocação total de recursos. Vaza, Patrícia. Vai procurar no almoxarifado. Ouvi dizer que o Motoboy ainda está vivo no 15."

A menção de outra presa quebrou o foco da estagiária. Ela piscou, o instinto de sobrevivência (e a promessa de carne mais fácil) vencendo a luxúria suicida. Com um último olhar cobiçoso para o volume na calça de Bruno, ela se virou e correu para as escadas de emergência, movendo-se com uma agilidade aracnídea.

Bruno estava tremendo. O suor frio escorria pelas suas costas. "Ela ia me matar," ele sussurrou.

"Ela ia te secar," Carla corrigiu, voltando a andar e puxando a coleira com um tranco. "E você não tem hidratação suficiente pra isso. Vamos. O elevador não funciona. Vamos ter que descer 18 andares."

\*\*\[Escadaria de Incêndio - A Descida\]\*\*

A porta corta-fogo se abriu com um rangido que ecoou pela caixa de escadas como um grito. O ambiente ali era claustrofóbico. A luz de emergência lançava um brilho vermelho intermitente sobre o concreto, transformando sombras em monstros.

O som era o pior. A caixa de escada funcionava como uma câmara de eco para todo o prédio. Bruno podia ouvir tudo.

Do 16º andar, vinha um som rítmico, mecânico. \*Thump. Thump. Thump.\* E uma voz feminina contando: "...quarenta e dois, quarenta e três, quarenta e quatro...". Era uma contagem de abdominais? Ou de sentadas? A voz soava maníaca, focada.

Do 12º andar, gritos. Gritos masculinos de pura agonia. "NÃO! POR FAVOR! TÁ DOENDO! QUEBROU! ACHO QUE QUEBROU!" E risadas. Risadas agudas, histéricas, de um grupo de mulheres se divertindo com um brinquedo que tinha acabado de estalar.

"Cuidado onde pisa," Carla avisou.

Bruno olhou para o chão. Nos degraus entre o 17º e o 16º, havia... coisas. Sapatos perdidos. Calcinhas rasgadas. E fezes. Montes secos e recentes. As infectadas não paravam para ir ao banheiro. Elas faziam ali mesmo, nos cantos, nas escadas, marcando o território com seu cheiro biológico. O fedor era denso, uma mistura de latrina e matadouro.

Eles desceram. Um andarNo patamar do 14º andar, o caminho estava bloqueado.

Duas mulheres estavam bloqueando a passagem. Uma estava sentada nos degraus, as pernas abertas, masturbando-se furiosamente com o cabo de um guarda-chuva quebrado. A outra estava de pé, encostada na parede, fumando um cigarro que devia estar guardado há semanas. Ela usava apenas um blazer aberto. O corpo dela era maciço, forte. Era a Dona Lourdes, da limpeza. 55 anos.

Ela olhou para Carla. Olhou para Bruno. O olhar dela não tinha a fúria da estagiária. Tinha a calma pesada de quem já viu de tudo.

"Pedágio," Lourdes disse, a voz grossa de fumante. Ela apontou para Bruno com o cigarro. "Deixa o menino dar uma mamada na tia. Só pra aliviar a tensão. Depois cês passam."

Carla parou. Bruno sentiu o cabo de rede tencionar. Ele estava prensado entre a parede e o corrimão.

"Lourdes," Carla disse, a voz diplomática, perigosa. "Você sabe que eu sou a Diretora Executiva desse prédio. Eu gerencio os ativos."

Lourdes riu. Uma risada seca, tossida. Ela jogou o cigarro no chão e pisou em cima com o pé descalço e sujo de fuligem.

"Aqui na escada não tem diretora não, dona Carla. Aqui na escada tem quem tem buceta e quem tem pau. E a minha tá coçando."

Lourdes desencostou da parede. Ela era grande. Maior que Carla. E tinha uma vassoura quebrada na mão, a ponta de madeira afiada como uma lança improvisada. A mulher com o guarda-chuva parou de se masturbar e olhou, interessada na violência iminente.

Carla não recuou. Ela soltou a coleira de Bruno por um segundo.

"Segura isso," ela ordenou, jogando a ponta do cabo para ele (que não podia segurar, com as mãos amarradas, então o cabo apenas caiu no seu ombro).

Carla avançou. Não como uma lutadora de rua, mas como uma predadora que calculou o ângulo de ataque. Quando Lourdes levantou a vassoura, Carla se moveu rápido demais. O vírus. A força histérica. Ela deslizou por baixo do golpe desajeitado, agarrou o cabelo grisalho de Lourdes e bateu a cabeça da mulher contra o corrimão de metal.

\*CLANG.\*

O som foi nauseante. Lourdes caiu de joelhos, atordoada. Carla não parou. Ela chutou. O salto agulha do Louboutin perfurou a coxa de Lourdes, entrando fundo na carne macia. Lourdes gritou.

"Gerenciamento de crise," Carla sibilou, girando o pé, fazendo o salto rasgar o músculo. "Você foi desligada, Lourdes. Justa causa."

A mulher no chão gemia, segurando a perna sangrando. A outra, a do guarda-chuva, encolheu-se contra a parede, cobrindo a cabeça, o prazer esquecido diante da brutalidade alfa.

Carla puxou o pé, o salto pingando sangue escuro. Ela se virou para Bruno, que estava paralisado de terror, o mijo escorrendo quente pela perna da calça social.

"Eu disse que você era meu," ela falou, respirando fundo, os olhos brilhando com a adrenalina da violência que, claramente, a tinha excitado tanto quanto o sexo. Ela pegou a coleira de volta. "Vamos. Ainda faltam 14 andares."

\*\*\[O Térreo - A Recepção do Fim do Mundo\]\*\*

Quando eles finalmente chegaram ao térreo, as pernas de Bruno eram gelatina. Ele tinha visto coisas nos andares intermediários que sua mente se recusava a processar. Um culto no 7º andar onde mulheres adoravam um bebedouro. Uma pilha de corpos no 4º que parecia ter sido uma tentativa de barricada que falhou.

Mas o Lobby... o Lobby era outra coisa.

As portas de vidro giratórias estavam estilhaçadas. O vento da rua entrava, trazendo folhas secas, poeira e o som distante, constante, de sirenes que ninguém atendia. A luz do sol da tarde entrava em feixes dourados, iluminando a poeira suspensa.

A recepção, aquele balcão de mármore imponente onde Jéssica trabalhava, tinha sido transformada.

Era um ninho.

Colchões — provavelmente trazidos de lojas próximas ou apartamentos — estavam espalhados pelo chão de granito. Roupas, almofadas, cortinas arrancadas formavam uma espécie de carpete macio e imundo. E ali, dezenas de mulheres descansavam. Algumas dormiam, abraçadas umas às outras em pilhas de membros nus. Outras estavam acordadas, catando piolhos ou limpando feridas umas das outras.

No centro, havia homens. Cinco ou seis. Eles estavam amarrados em uma escultura de arte moderna de metal que decorava o lobby. Nus. Sujos. Magros. Seus olhos estavam vazios, vidrados. Eles não reagiam mais. Eram gado no pasto, esperando a próxima ordenha.

Quando Carla e Bruno saíram da escada, cabeças se viraram. O cheiro de sangue na perna de Lourdes (que ficara no sapato de Carla) e o cheiro fresco de Bruno atraíram a atenção.

Uma mulher se levantou do meio do ninho. Ela era alta, usava um vestido de festa rasgado que parecia custar mais que o carro de Bruno. Ela caminhou até eles, pisando suavemente entre os corpos adormecidos.

"Carla," a mulher disse. Ela tinha um sotaque francês leve. Era a Isabelle, CEO da multinacional do 20º andar. "Você desceu."

"Isabelle," Carla respondeu, tensa, puxando Bruno para perto de sua perna como um cachorro fiel.

Isabelle olhou para Bruno. Analisou a gravata amarrando as mãos, o cabo de rede no pescoço, o estado de exaustão mas de integridade física.

"Bem cuidado," Isabelle comentou, passando a unha no braço de Bruno. Ele estremeceu. "Raro ver um desses em condições de transporte. A maioria quebra na primeira semana."

"Gestão eficiente," Carla respondeu secamente. "Estamos de saída. O prédio está comprometido. Recursos escassos."

Isabelle assentiu, olhando para a rua aberta através das portas quebradas. "A rua é perigosa, Carla. As gangues de motoboys femininas estão patrulhando a Faria Lima. Elas usam correntes."

"Eu me viro," Carla disse. "Tenho um destino."

"O Iguatemi?" Isabelle perguntou, um brilho de reconhecimento nos olhos. "Dizem que a Praça de Alimentação virou um mercado. Trocam comida por esperma."

"Talvez," Carla foi vaga.

Isabelle sorriu, um sorriso triste e faminto. Ela se aproximou do ouvido de Carla. "Se ele morrer no caminho... traz o corpo de volta. A carne ainda serve. Estamos com fome de proteína, não só de pau."

Carla não respondeu. Ela deu um puxão na coleira.

"Anda, Bruno."

Eles atravessaram o saguão, passando pelos homens amarrados na escultura. Um deles, um rapaz jovem com o cabelo raspado, levantou a cabeça e olhou para Bruno. Seus lábios moveram-se, formando uma palavra silenciosa: \*Corre\*. Mas não havia para onde correr.

Eles passaram pelas portas quebradas. O calor do asfalto atingiu Bruno como um soco físico. O barulho da cidade invadiu seus ouvidos. Não era o barulho de trânsito. Era um caos orgânico. Gritos. Vidro quebrando. Motores acelerando. E, onipresente, o cheiro. O cheiro de uma cidade de 12 milhões de habitantes onde metade tinha virado predadora e a outra metade estava escondida ou morta.

Carla parou na calçada da Faria Lima. Ela olhou para a esquerda, para a direita. A avenida estava cheia de carcaças de carros. No canteiro central, duas mulheres brigavam por uma garrafa de água, rolando na grama seca, nuas e violentas.

Carla ajustou o cabo de rede na mão, enrolando-o no pulso para ter mais firmeza. Ela olhou para Bruno, seus olhos brilhando com a luz do sol e a promessa de uma jornada que seria, ele sabia, muito pior do que ficar trancado no 18º andar.

“Bem vindo ao novo mundo, meu amor” ela disse, e começou a andar, arrastando-o para o inferno a céu aberto.

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***Continua…***

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Comentários

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lendo o primeiro capítulo eu achei que todos caras morriam transando com elas mas agora percebi que alguns sobrevivem por mais tempo.

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