Fui para o sofá da sala e tentei agir como se fosse um domingo qualquer, daqueles mornos e entediantes em que a maior preocupação é o resultado do jogo de futebol na TV aberta. Mas o ar da casa estava diferente. Denso. Carregado com uma eletricidade estática que fazia os pelos do meu braço se eriçarem a cada barulho de carro passando na rua.
Cada vez que meus olhos batiam na escada, eu lembrava da subida na madrugada. Cada vez que olhava para a porta da cozinha, eu imaginava minha mãe de joelhos, não rezando, mas fazendo algo muito mais profano e desesperado.
A voz do meu pai ecoava na minha cabeça como um mantra perigoso: *"Não toque nela hoje. Nem um dedo. Quero que vocês fiquem só na vontade."*
Era uma regra clara. Um teste de obediência. Mas, enquanto eu encarava o teto, percebi que a regra não servia apenas para nos controlar. Ela servia para nos torturar. E, de um jeito doentio, eu estava gostando da tortura. Eu estava gostando de saber que havia um fruto proibido caminhando pela casa, lavando louça, respirando o mesmo ar que eu.
O som do interfone tocou como um disparo de arma de fogo, rasgando o silêncio.
Meu pai atendeu com a calma habitual, trocou duas palavras monossilábicas e destravou o portão eletrônico.
"Sua tia chegou," ele anunciou, vindo da cozinha com uma lata de cerveja na mão, a condensação escorrendo pelos dedos grossos. Ele parou no meio da sala, me olhou de cima a baixo e sorriu. Aquele sorriso de quem sabe onde os corpos estão enterrados e cobra aluguel do cemitério. "Lembre-se do que conversamos na garagem, Fernando. Olhos abertos. Boca fechada. E as mãos nos bolsos."
Ele sabia que seria difícil. Ele estava contando com isso.
Minutos depois, a porta da frente se abriu. O cheiro invadiu a sala antes mesmo dela entrar. Não era o cheiro sutil, limpo e maternal da minha mãe. Era um perfume doce, pesado, caro, que parecia grudar nas paredes e invadir as narinas sem pedir licença. *La Vie Est Belle*, ou algo assim, aplicado em excesso. O cheiro da Tia Marina. O cheiro de problema.
Ela entrou como um furacão, trazendo o caos consigo. Usava um vestido vermelho curto demais para um almoço de domingo em família, com um decote que desafiava a gravidade e a decência. O tecido sintético colava no corpo dela como uma segunda pele, evidenciando cada curva que ela ostentava com tanto orgulho e, talvez, com um pouco de desespero. Havia uma urgência na vaidade dela, como se ela precisasse provar a cada segundo que ainda era a irmã mais bonita, a mais desejável.
Atrás dela, arrastando os pés como um condenado a caminho da forca, vinha o Matheus.
Meu primo. Meu reflexo distorcido no espelho do destino.
Ele parecia ter envelhecido cinco anos em uma única noite. As olheiras dele eram profundas, quase pretas, manchas de insônia e confusão. Ele usava um boné enterrado na cabeça, sombreando os olhos, e uma camiseta larga de gola alta, apesar do calor de trinta graus lá fora. Ele evitou olhar para mim. Evitou olhar para o meu pai. E, principalmente, evitou olhar para a própria mãe, mantendo uma distância física dela como se ela fosse radioativa.
Senti um arrepio frio na nuca. O que quer que tivesse acontecido na casa de hóspedes, do outro lado do jardim, tinha deixado marcas. Marcas que talvez ele estivesse escondendo debaixo daquela gola alta ridícula. Senti uma pontada de prazer maldoso, uma satisfação perversa e inconfessável que me fez sentir um lixo. Se ele também tinha cruzado a linha, se ele também tinha sido corrompido, então eu não era o único monstro na sala. Eu tinha companhia no inferno.
"Ricardo! Fernando!" Tia Marina gritou, abrindo os braços teatrais, ignorando a tensão no ar. "Que saudades dos meus homens favoritos!"
Ela veio direto em minha direção, o salto alto estalando no piso de madeira. Eu levantei do sofá, meio desajeitado, tentando manter a compostura e a distância segura que meu pai exigiu. Mas ela não deu chance.
Ela me abraçou com força. Força demais. Senti os seios dela pressionados contra o meu peito, macios e fartos, muito maiores e mais "agressivos" que os da minha mãe. Ela segurou o abraço por dois, três segundos além do socialmente aceitável, respirando no meu pescoço.
"Você está diferente, Nando," ela sussurrou no meu ouvido, a voz rouca, o hálito quente cheirando a menta e nicotina. "Parece mais... sólido. Mais homem."
Ela se afastou, mas manteve as mãos nos meus ombros, me analisando como se eu fosse um pedaço de carne no açougue. Havia algo nos olhos dela. Uma fome. Uma inveja crua. Ela olhava para mim, mas parecia estar vendo outra coisa. Talvez estivesse vendo a vitória da irmã refletida na minha postura, e isso a corroía por dentro.
Minha mãe apareceu na porta da cozinha, secando as mãos no avental. O contraste era brutal.
Ela tinha trocado de roupa. Agora usava um short jeans comportado e uma blusa branca simples de algodão. Mas havia um brilho nela que nenhuma roupa cara da Marina poderia comprar. A pele dela parecia vibrar. Ela tinha a aura de quem foi saciada, de quem detém um segredo poderoso.
A troca de olhares entre as duas irmãs foi instantânea e gelada. Não houve abraços calorosos. Apenas um aceno de cabeça e sorrisos finos, afiados como navalhas recém-amoladas.
"Oi, Marina," minha mãe disse, a voz controlada, polida. "Vejo que você caprichou no visual para um simples churrasco de sobras."
"Alguém tem que manter o nível, né, Ana?" Marina rebateu, passando a mão pelo próprio quadril, alisando o vestido sobre a coxa. "Nem todo mundo se contenta com o básico. Nem todo mundo gosta de viver de sobras."
"Às vezes o básico é o que satisfaz de verdade," minha mãe respondeu, e seus olhos desviaram por um milésimo de segundo para mim. Foi rápido, quase subliminar, mas Marina viu. Eu vi a pupila da minha tia contrair como a de um gato. Ela percebeu. Ela sentiu o cheiro de posse no ar.
"E você, Matheus?" minha mãe perguntou, virando-se para o sobrinho com uma doçura exagerada, quase artificial, usando-o para atingir a irmã. "Está tão quieto, querido. Venha cá, me dê um beijo."
Matheus recuou um passo, instintivamente, batendo as costas na parede. "Oi, tia Ana," ele murmurou, a voz falhando. "Tô meio... com dor de cabeça. O sol, sabe? A viagem..."
"O sol," meu pai repetiu, sarcástico, encostado no batente da porta, assistindo ao teatro. "O sol da noite passada deve ter sido forte mesmo. Queimou os miolos de todo mundo."
Ninguém riu. O clima na sala pesou toneladas. Era como se estivéssemos todos andando sobre ovos podres, esperando quem quebraria o primeiro.
Fomos para a área externa, para perto da churrasqueira. O ritual masculino de sempre, mas pervertido. Carne na grelha chiando, fumaça, cerveja gelada. Tudo parecia uma encenação barata de comercial de margarina, onde os atores se odeiam nos bastidores.
Sentamos ao redor da mesa de madeira maciça sob a varanda. Meu pai na ponta, o rei em seu trono, controlando o fluxo da conversa e da bebida. Minha mãe e Tia Marina uma de frente para a outra, como generais inimigos em negociação de paz armada. Eu e Matheus nas laterais, peões no tabuleiro, evitando nos olhar.
A conversa fluía aos trancos, cheia de farpas veladas e duplos sentidos que só nós cinco entendíamos — ou suspeitávamos.
"A viagem ontem foi divertida, não foi?" Marina comentou, servindo-se de salada, mas olhando fixamente para o meu pai. "Achei que o aperto no carro aproximou todo mundo. Quebrou barreiras."
"Aproximou uns mais que outros," minha mãe respondeu, cortando um pedaço de picanha com violência desnecessária, a faca rangendo no prato. "Alguns sabem aproveitar as oportunidades e respeitar limites. Outros só fazem barulho e sujeira."
"Barulho é bom," Marina sorriu, lambendo um pingo de molho no dedo mindinho com uma lentidão provocativa. "Mostra vida. Mostra paixão. Eu odeio gente sonsa, Ana. Gente que faz as coisas escondido no escuro e posa de santa na luz do dia."
Aquilo foi direto. Um tiro no peito da minha mãe.
Senti um pé roçar na minha perna por baixo da mesa. Gelei.
Olhei para a frente. Tia Marina estava sorrindo para o meu pai, fingindo ouvir uma história sobre a caçada, mas o pé dela subia pela minha panturrilha, devagar, deliberado. Ela não estava usando sapatos. Os dedos dos pés dela, com as unhas pintadas de vermelho escuro, brincavam com a barra da minha bermuda.
Olhei para o Matheus. Ele estava de cabeça baixa, desmontando um pedaço de pão no prato. Ele parecia alheio, morto por dentro. Ou talvez estivesse apenas tentando desaparecer para não ter que lidar com a realidade de que a mãe dele estava flertando com o sobrinho na frente dele.
Olhei para a minha mãe. Ela estava rígida como uma estátua. Os olhos dela estavam fixos em Marina, mas a mão dela, que estava apoiada na mesa, se fechou em punho, os nós dos dedos ficando brancos. Ela sabia. Ela sentia a vibração na mesa. O instinto dela gritava.
O pé da Tia Marina subiu mais, chegando perigosamente perto da parte interna da minha coxa, roçando a pele sensível. Minha respiração falhou.
Era um jogo perigoso. Se eu reagisse, ela ganharia, provando que tinha poder sobre mim. Se eu recuasse, ela saberia que me afetou. E o pior: eu não queria recuar. Havia uma parte de mim, uma parte suja e traidora, que queria ver até onde ela iria. Queria comparar o toque dela com o da minha mãe.
Meu pai pigarreou, limpando a garganta com um som gutural. Os olhos dele varreram a mesa, captando a tensão invisível.
"Fernando," ele disse, a voz calma, mas imperativa. "A cerveja acabou. Vai buscar mais no freezer da despensa. Traga umas quatro."
Era a deixa. O resgate. Ou talvez, conhecendo meu pai, uma nova armadilha para testar minha lealdade.
Levantei-me rápido demais, quase derrubando a cadeira. O pé da Tia Marina escorregou da minha perna. "Tô indo."
Entrei na casa, sentindo o alívio térmico do ar-condicionado, mas o alívio psicológico não veio. Fui até a despensa, que ficava nos fundos da cozinha, um cômodo pequeno, frio e sem janelas. Peguei as cervejas, o alumínio gelado contra a palma da minha mão suada.
Quando me virei para sair, a porta se fechou com um clique suave.
Tia Marina estava parada ali, encostada no batente, bloqueando a única saída.
"Esqueceu o abridor, querido," ela disse, balançando o pequeno objeto de metal na mão. O sorriso dela não era maternal. Era predatório.
"Obrigado," estendi a mão para pegar, tentando manter a distância. "Meu pai tá esperando."
Ela não entregou. Em vez disso, deu um passo à frente, invadindo meu espaço pessoal, encurralando-me contra as prateleiras de mantimentos. O cheiro dela preencheu o cômodo pequeno, sufocante.
"Você fugiu da mesa," ela sussurrou, a voz baixando para um tom confidencial. "Estava ficando quente demais pra você? Ou você só gosta quando é a sua mãe que brinca com você?"
Engoli em seco. Ela estava jogando pesado.
"Eu não sei do que você tá falando," menti, o coração disparado contra as costelas.
"Sabe sim," ela riu baixo, um som seco. "Você sabe exatamente. Sua mãe acha que ganhou, sabia? Ela acha que, só porque é a esposa, só porque é a 'mãe de família' certinha, ela é melhor. Mas eu vi, Fernando. Eu vi como você olhava pra mim no carro ontem. Antes dela... interferir. Antes dela decidir que queria o brinquedo só pra ela."
Ela colocou uma mão no meu peito, espalmada sobre a camiseta. Senti o calor da palma dela queimar minha pele. A mão desceu devagar, passando pelo meu abdômen, parando perigosamente perto do cinto.
"Sua mãe te proibiu de me tocar?" ela provocou, os olhos faiscando. "Ela tem medo de comparação? Porque, cá entre nós, Fernando... eu sempre fui a irmã mais divertida. Em tudo."
A mão dela desceu mais um milímetro. Os dedos roçaram o volume na minha bermuda. Eu estava meio duro, por causa da provocação na mesa e da adrenalina do medo. Ela sentiu. O sorriso dela se alargou, triunfante e cruel.
"Viu? O corpo não mente. Ele não sabe quem é a mãe e quem é a tia. Ele só sabe o que quer." Ela apertou de leve. "E isso aqui... isso aqui responde a mim também. Talvez até mais."
Senti uma onda de confusão, culpa e desejo. Era errado. Era nojento. Mas era bom. Era poder. Duas mulheres adultas, irmãs, brigando pelo meu corpo como se eu fosse um troféu de carne.
"Marina!"
A voz da minha mãe cortou o ar como um estalo de chicote, vindo do outro lado da porta, mas abafada.
A porta da despensa se abriu de supetão.
Tia Marina se afastou num pulo, mas sem perder a pose totalmente. Minha mãe estava parada na porta, segurando uma travessa de salada vazia com tanta força que os dedos estavam brancos, parecendo garras.
Os olhos dela não estavam em Marina. Estavam em mim. E não havia apenas raiva neles. Havia dor. Uma dor profunda, de traição, misturada com um pânico visceral de ser substituída.
"O Ricardo está esperando a cerveja," minha mãe disse, a voz gelada, trêmula de ódio contido. "E você, Marina... o Matheus está passando mal lá fora. Vomitando no jardim. Acho que ele precisa da 'mãezinha' dele agora. Ou você já acabou de estragar o menino por hoje?"
Aquilo foi um golpe baixo. Marina vacilou. O sorriso dela caiu por um segundo.
"Já vou, Ana," Marina ajeitou o vestido, recuperando a máscara de cinismo. "Não precisa ficar nervosa. Só estava ajudando o menino com o abridor. Ele parece ter mãos bobas hoje."
Ela passou pela minha mãe, esbarrando o ombro propositalmente, e saiu em direção ao jardim.
Quando Marina saiu, minha mãe entrou na despensa e fechou a porta atrás de si, girando a chave. Ficamos sozinhos no espaço apertado, cercados por latas de milho e pacotes de arroz.
"Mãe, eu..."
"Cala a boca," ela sibilou.
Ela largou a travessa em cima de uma caixa de papelão e veio para cima de mim. Não para me bater.
Ela agarrou meu rosto com as duas mãos, forçando-me a olhar nos olhos dela. As pupilas dela estavam dilatadas, engolindo o verde.
"Você deixou," ela acusou, a voz embargada. "Você deixou ela te tocar. Eu vi a mão dela. Eu senti o cheiro dela em você."
"Eu não fiz nada! Ela me encurralou! O pai mandou eu vir aqui!" tentei me justificar, mas a culpa estava estampada na minha cara.
"Você gostou," ela retrucou, implacável. "Não minta pra mim. Eu vi no seu rosto. Eu conheço essa cara, Fernando. Eu vi essa cara ontem à noite, quando você estava gozando dentro de mim."
A menção direta ao ato, crua e sem eufemismos, me calou.
"O pai disse pra não tocar..." murmurei, lembrando da regra. "Ele disse..."
"Foda-se o que ele disse!" ela sussurrou, desesperada, quebrando a regra sagrada do marido pela primeira vez. O medo de perder para a irmã era maior que o medo do marido.
"Você é meu," ela disse, colando o corpo no meu. "Você entende? Depois de ontem... você não pode deixar ela encostar em você. Não ela. Qualquer outra mulher, talvez. Mas não a Marina. Nunca a Marina. Ela só quer me machucar. Ela só quer tirar o que é meu."
Ela me beijou. Não foi um beijo de mãe. Foi um beijo territorial, agressivo, com gosto de salada e ciúme. Ela mordeu meu lábio inferior com força, querendo deixar outra marca, querendo apagar o gosto e o cheiro da irmã.
Minhas mãos foram para a cintura dela por instinto, desobedecendo a ordem do meu pai, mas obedecendo a uma ordem mais primitiva. O corpo dela se moldou ao meu.
Ela desceu a mão para a minha bermuda, para o mesmo lugar onde a mão da tia tinha estado segundos antes. Mas o toque dela era diferente. Não era provocação. Era posse. Ela apertou com força, machucando um pouco, reivindicando a propriedade.
"Diz que é meu," ela exigiu contra a minha boca, as lágrimas de raiva molhando meu rosto. "Diz agora, Fernando."
"Sou seu," gemi, rendido, excitado pela loucura dela. "Sou seu, mãe."
Ouvimos passos pesados se aproximando da cozinha. O som das botas do meu pai.
Ela se afastou de mim num instante, ajeitando o cabelo, limpando a boca com as costas da mão, a respiração ofegante. O medo do marido voltou aos olhos dela, substituindo a fúria.
"Leve a cerveja para o seu pai," ela disse, virando de costas para mim, a voz tentando voltar ao tom normal. "E lave o rosto. Você está vermelho. E culpado."
Voltei para a varanda com as pernas bambas, carregando as latas geladas como se fossem granadas prestes a explodir.
Meu pai me observou enquanto eu colocava as cervejas na mesa. Ele olhou para o meu rosto corado, para a boca inchada. Depois olhou para a porta da cozinha, de onde minha mãe saiu logo depois, tentando parecer impecável. E então olhou para o jardim, onde Marina consolava um Matheus pálido.
Ele sabia. Ele não precisava ser onisciente. Ele só precisava conhecer as peças do jogo que ele mesmo criou.
"Demorou, filho," ele comentou, abrindo uma lata. O som do gás escapando *tssss* foi alto no silêncio. "Achei que tivesse se perdido no caminho. Ou achado algo mais interessante que cerveja."
Ele piscou para mim. Um aviso. *Eu sei que você quebrou a regra.*
O almoço prosseguiu, a comida com gosto de cinza na minha boca.
Mais tarde, enquanto o sol baixava e as sombras cresciam, meu pai chamou a todos para a sala.
"Está muito quente aqui fora," ele disse, ligando a TV grande na parede e apagando as luzes principais. "Vamos ver um filme. No ar-condicionado. Todos juntos. Em família."
Ele enfatizou a palavra *família* com um sarcasmo sutil, quase cruel.
O sofá da sala era grande, em L, de couro escuro.
Meu pai sentou na poltrona individual, é claro. O diretor em seu posto de observação.
Minha mãe sentou numa ponta do sofá. Tia Marina sentou na outra, longe dela.
"Sentem-se, garotos," meu pai ordenou, apontando para o espaço vazio entre as duas mulheres. "Cada um com a sua mãe. Vamos manter a ordem."
Matheus sentou ao lado da mãe dele. Ele parecia um zumbi, obedecendo por inércia. Eu sentei ao lado da minha, sentindo o calor do corpo dela irradiar para o meu.
O filme começou. Alguma ação genérica com explosões e tiros. Ninguém estava assistindo. A tensão na sala era palpável.
A sala estava escura, iluminada apenas pelos flashes intermitentes da tela da TV. Luz azul. Luz branca. Escuridão.
Senti a mão da minha mãe pegar a minha no escuro. Ela entrelaçou nossos dedos com força, quase esmagando meus ossos. Ela puxou minha mão para pousar na coxa dela, bem no alto, perto da virilha.
Era um gesto de desafio. Ela estava quebrando a regra do pai de novo, na frente dele, escondida pela escuridão.
Do outro lado do sofá, vi pelo canto do olho, na penumbra, a Tia Marina se mexer. Ela tirou as pernas debaixo de si e esticou-as. E então, vi a mão dela.
No escuro da sala, iluminada por uma explosão na tela, vi a mão da Tia Marina escorregar para o colo do Matheus.
Ele ficou rígido. Ele não a empurrou. Ele não se mexeu. Ele apenas olhou para frente, os olhos vidrados na TV, uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto, enquanto a mãe dele acariciava a virilha dele por cima da calça de moletom, com movimentos rítmicos e experientes. Não parecia a primeira vez. Parecia a continuação de algo que tinha começado na noite anterior.
Meu estômago revirou. Era real. A suspeita do meu pai, a minha suspeita malidosa... era tudo verdade. Ela estava fazendo com ele. Ali. Na nossa frente. Transformando o filho em amante substituto.
Olhei para o meu pai na poltrona. Ele não estava olhando para a TV. Ele estava olhando para o sofá. Os olhos dele brilhavam no escuro, refletindo a luz da tela.
Ele via tudo. Ele via a mão da minha mãe na minha perna. Ele via a mão da Marina no Matheus.
E ele não fez nada. Ele apenas tomou um gole de cerveja e sorriu. Um sorriso lento, satisfeito. O sorriso de um homem vendo sua obra-prima se completar.
De repente, a mão da minha mãe apertou a minha com mais força. Ela seguiu meu olhar. Ela viu.
Ela viu a irmã acariciando o filho.
Senti o corpo da minha mãe tencionar ao meu lado. Pensei que ela fosse gritar. Pensei que o moralismo dela falaria mais alto.
Mas ela não fez isso. O ciúme e a competição falaram mais alto que a moral.
Se a Marina estava fazendo, ela não podia ficar para trás. Ela não podia ser a irmã "fria".
Ela puxou minha mão mais para cima na coxa dela. Puxou até a barra do short. E então, guiou meus dedos para dentro. Para a pele quente, nua e úmida da virilha dela.
Ela se inclinou para perto do meu ouvido. O hálito dela bateu quente no meu pescoço, arrepiando minha espinha.
"Não olha pra eles," ela sussurrou, a voz carregada de veneno e desejo. "Olha pra mim. Se ela vai brincar com o boneco dela na minha sala, eu vou brincar com o meu homem. E eu vou ganhar, Fernando. Eu sempre ganho dela."
Ela abriu as pernas discretamente no escuro, permitindo que minha mão tocasse a calcinha encharcada. Ela estava pronta. Ela estava me esperando o dia todo.
Meu coração disparou a mil por hora. Eu estava preso no meio do fogo cruzado. De um lado, meu primo sendo corrompido pela mãe dele. Do outro, eu sendo usado pela minha mãe como arma numa guerra entre irmãs. E na frente de tudo, meu pai assistindo, o grande arquiteto da nossa perdição.
Fechei os olhos e deixei meus dedos se moverem, obedecendo ao comando silencioso, sentindo a umidade dela, ignorando a regra do pai porque, naquele momento, o desejo da mãe era uma lei mais forte.
Eu sabia que era errado. Sabia que era doente. Sabia que isso ia acabar mal.
Mas naquele momento, no escuro daquela sala, com o som de metralhadoras na TV abafando a respiração pesada da minha mãe no meu ouvido, eu percebi uma coisa terrível sobre mim mesmo.
Eu não estava fazendo isso só porque ela mandou. Eu estava fazendo porque eu queria ver o Matheus perder. Eu queria ver a Tia Marina perder. E eu queria que minha mãe ganhasse, contanto que o prêmio fosse eu.
"Isso," minha mãe suspirou baixinho ao meu lado, vitoriosa, enquanto a irmã dela continuava seu trabalho silencioso e triste do outro lado do sofá. "Isso, meu amor. Mostra pra ela quem é que manda nesta casa."
E eu mostrei. O filme continuou, mas a verdadeira ação estava acontecendo nas sombras, onde as regras da sociedade tinham deixado de existir há muito tempo.
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