As festas de aniversário nas cidades do interior eram sempre iguais: as mesmas famílias, os mesmos rostos, as mesmas histórias recicladas a cada ano. E lá estava eu outra vez, em mais uma delas, cercado por praticamente toda a cidade.
Lilian, minha ficante, vestia um vestido vermelho justo demais para passar despercebido. As amigas seguiam o mesmo padrão: tecidos colados ao corpo, saltos altos, risadas soltas demais para quem já havia bebido além da conta. Era o ritual de sempre.
Elisa observava tudo de trás do balcão, com uma caipirinha na mão. Usava um vestido preto decotado e mantinha os cabelos presos, como se tentasse impor alguma ordem ao próprio corpo. Sorria para todos — menos para mim. Comigo, era fria, distante. Ainda carregava a mágoa do que eu tinha feito.
Eu a tinha confrontado sobre o que vira na cachoeira. Sobre o garoto. Sobre a forma como ela se entregava ali, sem pudor algum. Não foi coragem, foi imaturidade. Eu sabia disso agora.
Ela conversava com o pessoal mais velho perto do galpão, mas os olhos nunca descansavam. Vigiava os mais novos, especialmente a filha, Luana, e as amigas — todas maiores de idade — como se tentasse manter algum controle em meio ao caos.
Quando o funk começou a tocar mais alto, o clima mudou. O grave vibrava no chão, no peito, no corpo. As meninas, já soltas pela bebida, se juntaram perto da parede dos fundos do salão. Um círculo improvisado se formou, carregado de expectativa.
Lilian foi a primeira a puxar as outras. Desceu até o chão rindo, subiu devagar, rebolando com uma segurança provocadora. O vestido vermelho subia a cada movimento, revelando mais do que escondia. Ela sabia exatamente o que estava fazendo — e para quem.
As amigas entraram no ritmo. Os corpos se moviam em sincronia imperfeita, cada uma exibindo sua própria maneira de chamar atenção. Não era só dança; era um espetáculo silencioso de desejo e disputa.
Os homens da festa pararam. Conversas morreram no meio das frases, copos ficaram suspensos no ar. Até o marido de Elisa, do outro lado do salão, virou o pescoço sem qualquer constrangimento. O ambiente ficou mais pesado, mais quente, mais sujo.
Foi então que Elisa se moveu.
Depositou o copo vazio no balcão com calma demais para quem fingia indiferença. Ajeitou o decote, soltou parte do cabelo preso e caminhou até as meninas sem pressa. Não pediu licença. Apenas entrou no espaço e se colocou de costas para elas, ocupando o centro da parede como se aquele lugar sempre tivesse sido seu.
O impacto foi imediato.
O corpo dela não competia com os das mais novas — ele dominava. Havia maturidade ali, peso, confiança. A bunda cheia se movia com uma lentidão calculada, cada rebolada carregada de intenção. Não havia exagero; havia controle.
O vestido aberto nas costas deixava a pele branca exposta, brilhando de suor. Por baixo do tecido justo, a calcinha marcava sem vergonha. Era sensual sem precisar provar nada.
Ela dançava como quem conhece o próprio poder e sabe que não precisa se apressar. Em determinado momento, virou o rosto por cima do ombro e me encontrou com os olhos.
Não foi um olhar casual.
Foi longo, firme, carregado de algo que misturava rancor e provocação. Um desafio silencioso. Como se dissesse que eu não tinha sido homem o suficiente quando devia — e que agora só me restava assistir.
Meu corpo reagiu antes que a cabeça conseguisse pensar. O coração acelerou, a respiração ficou curta. Permaneci imóvel, preso àquela visão, sentindo o desejo crescer por dentro da calça jeans, junto com a certeza incômoda de que eu tinha perdido muito mais do que imaginava.
