ADRIANO 15
Não consigo lembrar com o que eu estava sonhando, mas parecia bom, bem o sol entra pela janela e o calor começa a tomar o quarto. — E por falar em calor — como eu posso dizer isso? Estou babando no peito másculo do Breno, em que momento a gente se agarrou enquanto dormia? Não faço ideia. Seu braço forte, me aperta contra seu peito — perfumado e protuberante, puta peitão esse macho tem.
Para minha sorte Breno parece no quinto sono, mas eu sei que ele vai sair com Luan ou seja, vai acordar a qualquer momento, aproveito essa benção que o universo me deu para sair de “cima” dele antes de Caio acordar e me julgar por isso. Rapaz que coisa viu, só pode ter sido carência, não consigo me lembrar da última vez em que dormi em uma cama com alguém que não fosse o Caio — a gente até dormi agarrado, mas é o Caio né!
Meu amigo tem a menor libido já registrada pela humanidade — deve até ser alérgico se pá — pela amor do universo e das deusas, se esse menino acorda antes de mim, nem sei o que faria, acho que me enterraria que nem um avestruz, já tô morrendo de vergonha sem ninguém ter visto imagina se alguém acorda antes. O despertador dele toca no momento em que me viro para fingir que ainda está dormindo.
— Desliga essa merda Breno! — Caio diz com a voz fraca de sono.
Breno não dormi ele hiberna sério, só depois que cutuco ele é que o boy finalmente dá sinal de vida. Eita sono pesado da mulesta. Ele desliga o despertador e levanta, me faço que estou domindo, mas quase que de forma acidental percebo um volume assustador, minha nosso senhora, onde o Breno guarda esse pau todo que eu nunca tinha reparado, mas enfim melhor não olhar muito, sou uma bicha comprometida e não é legal manjar as amigas.
Como que dormi depois disso? Não dorme né! Levanto e vou para a cozinha preparar um café, para pelo menos os meninos saírem comidos aqui de casa — estou rindo da minha própria piadinha de quinta série — na sala Luan já está calçando os sapatos, não sei como ele consegue acordar tão cedo, mas hoje tem algo estranho, ele está com uma puta cara de sono.
— E esse sorriso todo a essa hora?
— Ai Luan nem começa a dar um Caio agora ou vai sair daqui só com um copo d’água na barriga.
— Parei! — Suas mãos levantadas em sinal de rendição.
— Quer panqueca?
— Quero qualquer coisa que você fizer para mim, de preferência com muita açúcar!
— Não dormiu bem?
— Dormi sim, mas dormi tarde, a gente chegou já era mais de duas — Ele está tão distraído que não notou minha cara de dúvida.
— Duas? Como assim?
— Ah — se estava dormindo, agora parece ter acordado de uma vez — a Stella passou por aqui com uma amiga ontem.
— Ah sim, nem vi!
— Do jeito que você ronca que baba acho que nem se eu tivesse ido te chamar — mostro meu dedo do meio para ele.
— Que cheiro bom! — Breno aparece na cozinha vestindo a mesma roupa de ontem, ainda sim está lindo como se tivesse vindo de casa — usei seu sabonete Adriano.
— Sem problemas Breno.
— E aí Breno como foi sua primeira noite na casa do Adriano? — Fico tímido com a pergunta do Luan, mas me esforço para disfarçar — melhor tomar cuidado dormir aqui é um caminho sem volta.
— Luan dormi mais aqui do que na casa dele.
— Por mim eu só dormi aqui — Luan não consegue deixar a casa da mãe dele, mas não quer dizer que ele goste de morar com ela.
— Acho que te entendo Luan, nem na minha cama eu durmo desse jeito.
— Tô te falando que tem algo no quarto do Adriano que faz com que a gente apague.
— Aqui, menos papo e mais café, as panquecas já já vão está prontas.
— As panquecas do Adriano são as melhores do mundo Breno, você tem que provar!
— Estou curioso — o sorriso bobo do Breno lembra até o do Luan um pouco — ah antes que eu esqueça vou ter que ver uns clientes no centro hoje, quer almoçar comigo?
— Sério que massa, bem eu almoço com Luan todos os dias, mas você pode vir com a gente né Luan?
— Quanto mais melhor!
— Perfeito!
— Show, vou almoçar com dois homens bonitos, a tia da padaria vai morrer de inveja de mim hoje.
— Ele é cismado com ela — Luan contextualiza para o Breno que segue com uma cara confusa e divertida.
— Ela é que só falta morrer quando você paga nossa conta toda vez.
Devidamente alimentados, meus garotos vão trabalhar para terem o meu sustento nas festas e rolês, enquanto isso limpo a cozinha na expectativa de reaver meu sono perdido e dormir mais um pouco antes de sair para o trabalho.
Nathan está me esperando na esquina do trabalho, quando chego ele é a primeira pessoa que vejo no meio de um mar de gente, me aproximo dele com um sorriso de orelha a orelha, grato com essa surpresa especial.
— Bom dia! — Damos um beijo rápido logo após ele me cumprimentar.
— Que surpresa gostasa! Bom dia!
— Queria te ver antes da gente entrar se não só ia poder te beijar no final.
— Vou querer um beijo para começar a trabalhar todos os dias desse jeito.
Para não ficar suspeito deixei ele subir primeiro. enquanto dou um tempinho para subir mando mensagem para o Breno confirmando o horário e o local onde vamos comer, vai ser legal ter mais uma pessoa com a gente no almoço hoje e também posso tentar me aproximar dele para descobrir em que pé está a relação dele com Caio, ele precisa saber que apoio o relacionamento dele com Caio.
Meu supervisor está um porre particularmente hoje ele cismou que queria dar os feedback, normalmente quem faz isso é o pessoal da monitoria, mas uma vez por mês ele aproveita para falar com toda a bateria. Esse cara é um porre, sempre fica buscando razões para me criticar nessas reuniões de feedback. Juro por tudo que é mais sagrado, se esse peste me encher muito o saco eu vou pedir demissão, estou ficando de saco cheio dele — se eu não precisasse tanto desse trabalho.
— Adriano, coloca pausa na reunião e vai para sala de reuniões me esperar lá — esse filho da puta sempre faz isso, coloca a reunião para perto do meu horário de almoço para que eu saia mais tarde.
Passo no meu armário para pegar meu celular e avisar aos meus amigos que vou atrasar um pouco, normalmente esse merda me aluga uns cinco minutos às vezes dez, eu deveria está saindo para o almoço em breve, aposta que ele vai me dar um chá de cadeira ainda. Dito e feito, já devia está saindo e ao invés disso estou esperando ele, que convenientemente parou para conversar com a coordenadora no corredor vindo para cá, como a sala é de vidro consigo ver o infeliz fazendo hora!
— Bem vamos ser breves — ele diz assim que se senta na minha frente, sendo que eu deveria está chegando na padaria agora.
— Por favor.
— Olha Adriano, a monitoria lhe deu nove — eles dão notas de zero a dez, existem alguns critérios e eles vão pontuando, é bem simples na real, depois de tanto tentar alcançar o tal dez eu só desisti e agora só faço o mínimo.
— Que bom, a última foi um sete, sinal que estou melhorando — o desgosto na sua face é notável, sozinhos ele não faz a menor questão de ser cortez.
— É, mas aqui estamos buscando atendimento nota dez né Adriano, o que está acontecendo, eu não sei mais como te ajudar, você parece que faz de propósito!
— Sério isso? — Estou de saco cheio, acho que ele não esperava que eu fosse responder pois sua marra começou a se desfazer, no fim ele é só um covarde de merda.
— Não precisa desse tom Adriano, só quero te ajudar, afinal se todos fizerem sua parte o meu trabalho vai ser feito também.
— Olha cara, eu estou com fome, então se for só isso.
— Está vendo Adriano, é esse seu comportamento que te sabota, você precisa mudar seu mindeset — só o que me faltava, esse papo de coach agora!
— Meu o que? — Coço a cabeça com um pouco de impaciência.
— Seu Mindset, você não é um atendente ruim, mas pode melhorar Adriano!
— Obrigado, mas eu estou satisfeito com meu desempenho, eu cumpro meu papel aqui, não tenho atrasos e nem faltas.
— Isso é verdade, mas — filho da puta, a maior revolta dele é que mesmo fazendo o mínimo ele não tem coisas de verdade para reclamar — olha, estou de bom humor hoje então não vou ser um chefe paia hoje.
— Que bom! — Não consigo não ser irônico.
— Pois é, então vamos fazer assim, esse são os pontos que a monitoria colocou, você assina aqui e a partir da agora tenta prestar mais atenção nesses pontos para na próxima ser um monitor nota dez beleza?
Dou uma olhada no papel e só pode ser piada, ou os monitores estão visando com minha cara ou esse filho da puta está adulterando meus resultados, posso fazer o mínimo, porém os pontos que eles levantaram não condizem com a realidade do meu atendimento. Estou tão de saco cheio deste lugar, meu sonho é poder viver só da confeitaria e mandar esse merda e os chefes dele enfiar esse emprego no. Enfim, melhor manter a calma, só assino essa merda de feedback e saio para o meu almoço às pressas.
Breno e Luan já estão na mesa me esperando, cheguei com quase quinze minutos de atraso, ainda bem que eles tem um hora de almoço diferente de mim que só tenho vinte minutos. Respiro fundo e melhor meu humor, não vou e nem posso dar esse gostinho para aquele filho da puta de estragar meu almoço, é arriscado até dar indigestão pensando nessa empresa de merda que eu sou obrigado a trabalhar.
— Foi mal gente!
— Tranquilo, como você avisou eu saí um pouquinho mais tarde, acabei de chegar — ainda bem, fiquei com medo de atrapalhar o almoço do Luan.
— Bem e eu posso fazer meu próprio horário — Breno diz rindo.
— Que bom para vocês, meu sonho é ser meu próprio chefe!
— Porque você não larga esse emprego, amigo? — É um pouco estranho ouvir o Breno me chamar de amigo, mas até que eu gosto.
— Cara eu preciso muito desse trabalho, só o que eu ganho com a confeitaria não basta.
— Por falar nisso, meu chefe quer fazer uma socialização no sábado, coisa informal mesmo, cada um deu uma contribuição e ele pagou a maior parte, pelo menos isso.
— Massa — digo, mas Luan ainda não terminou, então me calo para ouvir.
— Eu vou contratar você para fazer os doces e salgados.
— Sério, que massa, valeu de verdade!
— Não por isso, mas amigo — Luan parece sério — você tem que fazer um CNPJ, meu chefe ama seus doces quando levo, dessa vez vai ser uma coisa informal para comemorar a aposentadoria de um gerente, mas vira e mexe o banco tem essas atividades, se você tiver um CNPJ posso te contratar e o banco sempre paga muito bem por esses serviços.
— Obrigado Luan, mas não tenho como bancar um CNPJ, minhas contas mal estão dando com meu salario, alias não te agradeci direito por aquela encomenda Breno, foi do caralho de bom.
— Nada, fico feliz em ajudar e olha sobre o CNPJ, você pode fazer um MEI.
— Eu já ouvi falar sobre, mas na real não entendo quase nada disso.
— Já tentei falar isso para ele, mas ele não me escuta Breno.
— Eu escuto, só não entendo mesmo — estou um pouco envergonhado, mas meus amigos são muito parceiros e não me constrangem pela minha ignorância no assunto.
— MEI, que significa Microempreendedor Individual, é basicamente a maneira mais fácil e barata de você se tornar um profissional autônomo formalizado, ou seja, de ter um CNPJ!
— Mas isso tem que ser pago imposto, não tem?
— Você paga um valor fixo por mês (o DAS). É uma guia única que já cobre seus impostos e a Previdência. O valor é super baixo e não varia com o faturamento.
— Se você fizer eu posso falar com o RH do banco e aí todo bolo de aniversário do mês que eles fazem lá vai ser encomendado com você.
— Você vai conseguir mais clientes dessa forma, estou com Luan nessa, posso te indicar para os meus clientes também, eu trabalho com muita gente.
— Sério, vocês são incríveis, mas nem sei por onde começar, tipo o que eu preciso para abrir esse tal de MEI?
— Você vai precisar de uma conta no Gov.br com nível de segurança Prata ou Ouro.
— Eu tenho.
— Ótimo! Entre no site Portal do Empreendedor, procure e clique em "Formalize-se" ou "Quero ser MEI".
— Fácil assim?
— Fácil assim, eu posso te ajudar com o que você precisar.
— Pode contar comigo também mano, sabe disso né?
— Eu sei gente, mas tenho um pouco de medo, vai que isso não funciona, já tenho tanta dívida que o que menos preciso é outra dívida maior.
— Seus doces são os melhores, vai por mim, é só você começar a oficializar sua marca — Luan sabe como me motivar e com a ajuda do Breno sinto que posso realizar meu sonho de me profissionalizar no que realmente gosto.
— Quando seu MEI estiver ativo vou ser seu primeiro cliente — Breno diz com um sorrisão.
— Nesse caso você vai ter que fazer sua encomenda antes da minha, pois o povo da igreja ama os salgadinhos do Adriano.
— Vocês são os melhores, valeu gente de verdade!
— É isso aí, assim que se fala, com essa animação você pode fazer qualquer coisa mano.
— Vocês tem razão, eu sou foda, não vai ser dificil conseguir clientes e oficializando com um CNPJ posso conseguir uns clientes que estejam dispostos a pagar um valor mais alto.
— Boa, garoto, já está pensando como um empresário.
— Meu mano é foda Breno!
Meu almoço foi bem produtivo, sinto que estou um pouco mais perto do meu sonho, mas não posso sonhar de mais, esse corre é difícil e vou precisar de muito trabalho, afinal mais clientes vai significar em menos tempo para descansar, até conseguir largar o call center de vez vai levar um tempo, só espero dar conta. Bem dedicação e competência eu tenho, agora é com a dona sorte, espero que ela sorria para mim, como vem sorrindo no campo de amor, e olha que no amor sempre foi embaçado, mas com Nathan sinto as coisas se encaixando e caminhando para o caminho certo.
A hora de ir chegou, como de costume faço uma horinha no meu armário para que ele saia primeiro. Até que é um pouco divertido esse lance de sigilo no trabalho, dá um ar de proibido e isso excita bastante, não é um lance de armario o que me anima muito, pois não tenho a menor vocação para bicha enrrustida. Nathan é assumido e não tem problemas em demonstrar carinho em publico, mas no nosso trabalho temos que manter as aparencias por conta do viado do meu supervisor, essa bicha mal amada só iria nos atrapalhar se soubesse.
Hoje não tenho nenhuma encomenda então posso ficar com Nathan até tarde. Quando chego no nosso point — a esquina — o encontro com uma carinha triste, não gosto de vê-lo assim, mas antes preciso saber o que aconteceu para saber como ajudar.
— O que foi?
— Minha mãe quer que eu chegue cedo hoje.
— Ah não, queria te curtir hoje, estou com saudades!
— Eu também amor, mas preciso ir para casa.
— Espera, você me chamou de amor? — Meu sorriso é de quem acaba de ganhar na loteria.
— Chamei — as covinhas dele são lindas.
— Vem aqui, podemos pelo menos dar uns beijos antes de você ir né?
— Claro!
Levo Nathan até a igreja Coração de Jesus onde passa o ônibus que vai para os lados da casa dele. Ainda bem que os oitocentos e dezesseis — linha do Edson Queiroz Centro — demora um pouco por conta do trânsito, estamos quase em hora de pico. Minha vontade era de curtir com ele o máximo que eu pudesse, porém né, hoje não vai ter como, pelo menos dá para encher ele de beijos.
Luan tem que ir para casa hoje, Caio vai se apresentar em uma sauna — até iria se não estivesse comprometido — estou meio sem ter o que fazer, mas também não quero só ir para casa, estranhamente estou me sentindo disposto hoje, tipo não posso ficar com meu boyzinho, mas pela primeira vez em muito tempo estou amando e sendo amado e minhas dívidas estão sob controle! — Tanto que estou com uma folguinha para gastar com besteira. — "La vita è bella.”
Bem, já tem um tempo que eu não vou no barzinho que meus amigos trabalham, então é isso que eu vou fazer, vou tomar uma cerveja no barzinho. Mas melhor avisar no grupo, vai que o Luan consegue escapar da mãe dele e de quebra ele pode ver a namorada.
“Gente estou indo para o nosso bar.”
“Madrinha, deixa de ser besta e vamos para a Rommeo!”
“Negativo, só se meu boyzinho pudesse, mas hoje ele teve que ir para casa”
“Queria muito, mas minha mãe inventou uma reunião de família e como estou dormindo muito fora de casa ela está me enchendo desde cedo” — Luan precisa aprender a dizer não e cortar esse cordão umbilical.
“Sério Luan, se você fosse gay já tinha resolvido esse problema com sua mãe” — Caio diz o que eu queria dizer, mas graças a Deus tenho bom senso.
“Ai eu ia matar ela com esse desgosto!”
“Madrinha?”
“Luan!”
“Estou brincando, acho que se eu fosse gay teria bem mais coragem para enfrentar a fera aqui de casa.”
“Entendi, mas sua fala ainda está só um pouquinho problemática, mas enfim queria sair com vocês, mas entendo, trabalho e família vem em primeiro lugar sempre” — Estou fazendo um pouco de drama, mas é consciente.
“Madrinha, a senhora sabe que peruga não é barato!”
“Você é família Adriano!”
“Eu sei, tá bom, vejo vocês depois então, vai dormir lá em casa hoje Caio?”
“Hoje não Madrinha, já tenho planos para depois da Sauna”
“uuuuhhhhhhhhh!”
“Quem é o doido?”
“Doida é a Stella que disse sim para vocês queridinho, e não, não vou sair com um homem, só vou para um after”
“Você vive me mandando transar, devia ouvir seu conselho Caio” — Não entendo ele e sua filosofia do faça o que eu digo e não faça o que eu faço.
“Concordo.”
“Obrigado Luan, não tem nada que eu valorize mais do que conselho de mendiga!”
Emoticon de dedo do meio.
“Se vocês já vão brigar vou indo aqui.”
“Madrinha chama o Breno, pode ser que ele tope que ir pro bar com você”
“Ué, ele não vai para sauna com vocês?” — Eles só saem juntos, pelo menos na maioria das vezes.
“Não, ele não curte Sauna.”
“Mas ele já foi com você.”
“Ele vem quando preciso de staff, mas hoje eu liberei ele porque tem umas bixas amigas minhas que vão tocar também então vou está segura e assistida”
“Vou mandar mensagem para ele então, amo vocês!”
Emoticon de coração roxo do Luan e um coração rosa do Caio. Mando mensagem para o Breno. Sou respondido quando estou dentro do ônibus a caminho do bar, ele topou o convite, ainda bem, beber sozinho é meio solitário e estranho, não curto muito. Mando mensagem para o Nathan para saber se ele já chegou em casa, mas ele não viu ainda, ou deve está chegando, ou já pode ter se ocupado com a coisa que a mãe dele o obrigou a fazer hoje.
Assim que chego vejo Stella com sua simpatia de sempre, Ykaro está lá para dentro, não dá para ver ele, mas também não quero atrapalhar seu trabalho então vou para a mesa que gosto de ficar — uma que fica lá no fundo do quintal. — A lotação hoje está até que ok, nem muito cheio e nem muito vazio, assim que me sento não demora muito para que Stella venha com uma Brahma gelada com um copo para minha mesa.
— Sozinho hoje?
— Só por enquanto.
— O boy vai vir?
— Não, o Breno, os outros estão ocupados hoje.
— É o Luan me falou que a mãe dele está querendo ele em casa hoje — tem algo na voz da Stella me parece um pouco com insatisfação.
— Algum problema? Luan não anda com aqueles papos de culpa de novo não né? — Stella é legal e falei para o Luan que levasse isso muito a sério dessa vez, pois ela merece um cara legal.
— Não, ele é ótimo, até melhor do que eu pensei que ele poderia ser, sempre mandando mensagem, sendo carinhoso e atencioso comigo, é só que eu queria passar mais tempo com ele, sabe!
— Te entendo perfeitamente, meu boy também teve um compromisso com a mãe dele hoje — ambos rimos pela coincidência.
— Ah, Adriano posso te fazer uma pergunta? — Ela já se afastava da mesa, quando voltou com essa dúvida repentina.
— Até duas! — Ela ri da minha piadinha e então fala.
— O Ykaro está saindo com alguém, tipo ele levou alguém para lá esses dias? — Esperava uma pergunta sobre o Luan e não sobre o Ykaro, mas sua dúvida automaticamente me faz lembrar da conversa que tive com Caio:
“— E o bofe é tranquilo mesmo? — Caio aproveitou para falar comigo depois que o Luan entrou pro banho.
— Na verdade acho que sim, ele tem sido bem de boas, tipo a gente ainda não se viu praticamente, quando estou trabalhando ele está em casa e quando ele chega já estou dormindo.
— Sei, é que eu ouvi umas histórias, mas não sei se são verdade — Caio conhece tanta gente que às vezes acho que ele seria um ótimo jornalista.
— Que histórias? — Pergunto curioso.
— É que — Caio se inclina para mais perto de mim e baixa mais ainda o tom da sua voz para ter certeza de que o Luan não possa ouvir — o Ykaro está comendo a Stella, não sei se eles namoram, mas pelo que me contaram eles tem um trelelê Madrinha, e minha amiga disse que é cada beijo que eles dão quando estão juntos que só falta treparem ali mesmo na frente de todo mundo.
— Mas ela dormiu com o Luan antes de ontem — estou chocado.
— Pois é, por isso não queria falar na frente dele — mesmo se odiando eu sei que o Caio jamais seria tão baixo de usar isso contra o Luan, assim como meu amigo hetero não faria com ele.
— Nossa, por isso ela estava toda se colocando como referência para ele quando falei com ela — algumas coisas começaram a fazer sentido na minha cabeça — mas você acha que o Ykaro sabe que o Luan também fica com a ela?
— Acho que não porque o crente do pau oco só fica com ela no sigilo — a pouca empatia do Caio começa a se desmanchar — nem as cacuras que eu pego são tão sigilosas quanto ele.
— Caio!
— Tô mentindo por acaso? — Pior que não, Luan é muito reservado, até de mais.
— O que a gente faz, conta pro Luan?
— Você quem sabe Madrinha, eu não tenho nada haver com isso, só sei que quero está lá quando ele se tocar que perdeu a amapô por causa das baitolagens religiosas dele.”
Não acredito que ela ainda queira algo com Ykaro, afinal foi ela mesma quem acabou de dizer o quanto está feliz e satisfeita com Luan.
— Amiga, para te falar a verdade nem sei te dizer, mas acho que não, ele sempre está dormindo quando está em casa e não vejo ele saindo para nada além de mercado e para o trabalho.
— A sim, só perguntei porque ele está parecendo meio apaixonado e distraido — fala sem jeito, mas agora que ela falou Luan está igual e como eu sei que nesse caso é amor, pode ser então que o Ykaro esteja mesmo saindo com alguém, só não sei que horas que isso está acontecendo.
— Olha não sei, tipo o Ykaro é muito reservado.
— Ele é né, quase um livro fechado.
Um cliente a chama interrompendo nossa conversa. Estou me questionando o que devo pensar sobre isso, é complicado tentar entender se a curiosidade da Stella é só fofoca ou tem um dedo de ciúmes aí, uma coisa é fato não acredito que Ykaro fosse ser cara de pau ao ponto de ser amigo do Luan e pegar a namorada dele, pode me chamar de ingênuo, mas nesse caso ponho minha mão no fogo sem medo!
Na metade do meu litro Breno aparece no bar, acho que deve ter passado em casa, pois já está vestindo outra roupa. Muito bonito como sempre ele veste ele sempre acerta no estilo, fico impressionado.
Ele estava com aquela camisa xadrez folgada, sabe? É uma flanela em tons neutros, meio bege e off-white, com umas linhas discretas em azul-claro e um toque de marrom, dando um ar super descontraído e confortável, mas ainda assim estiloso. Estava com a camisa abotoada, mas não totalmente, e a manga dobrada de um jeito casual, bem relaxado.
Na parte de baixo, ele escolheu um shorts cinza mescla liso, que parece ser de moletom, bem macio. O caimento estava ótimo e para fechar com chave de ouro, o que chamou a atenção foram os tênis: aqueles modelos que estão na moda, em azul-claro e branco (parecendo um Nike Dunk ou algo do tipo). O tênis deu um toque de cor e frescor ao visual, fazendo o match perfeito entre o conforto e o streetwear.
— Demorei?
— Nada!
— E aí qual a ocasião?
— Só queria beber um pouco mesmo — digo despretensiosamente.
— Show, vamos beber, tive um dia tão cheio hoje que até que esse convite me fez bem.
— Andou muito pelo Centro? — Ele sorri.
— Se fosse só andar era de boas, o problema mesmo foi ter que passar o dia explicando para pessoas que querem burlar as leis que eles não podem fazer isso.
— Pensei que a função de advogado fosse encontrar brechas — brinco.
— E é, mas quando meu cliente é pau no cú eu tenho prazer em fazer só o mínimo.
— Nossa, quase o Demolidor, advogado e justiceiro nas horas vagas! — Breno solta uma gargalhada gostosa.
— O que você está bebendo?
— Cerveja.
— Vamos pedir mais uma, vou te acompanhar na cerveja mesmo.
É a primeira vez que saio só com Breno e olha estou surpreso, não sabia que era uma pessoa tão divertida e descontraída, ele tem o riso frouxo que nem eu então nosso papo acaba sendo um caos total, porém de um jeito bom, tudo que ele fala me faz rir e tudo que eu falo faz ele rir, uma boa companhia no final das contas, acho que nunca tinha reparado nisso por conta do Caio, meu amigo é como um sol, ele chama toda a atenção para si quando está presente, e nem é uma crítica, meu sonho era ser assim também, ter esse magnetismo social.
Umas duas horas depois de eu ter chegado vejo uma mulher simplesmente linda que acabou de chegar, não curto mulher, mas porra! Que amapô gata. Com um vestido preto curtíssimo e um cabelo naturalmente liso e longo, ela desfila com classe e elegância até uma mesa. A bela jovem está acompanhada de outras amigas, mas não tão bonitas quanto ela, é engraçado vê-la desfilar até uma mesa pois claramente não é uma pessoa que podemos dizer com público alvo desse estabelecimento.
— Olha ali a pati que acabou de chegar, Breno!
— Menina, que gata viu.
— Né!
— Acho que ela e as amigas estão perdidas — ele compartilha do mesmo pensamento que eu.
Stella se aproxima com intimidade delas, deve conhecê-las — perfeito, posso tentar catar essa fofoca melhor depois — não estamos muito perto e por conta do som não consigo ouvir nada da conversa delas, uma pensa. Stella às serve com a cerveja mais cara do bar e nem me admira, afinal esse vestido tem cara de ser caríssimo.
— O que será que elas vieram fazer aqui? — Breno está doido de curiosidade que nem eu.
— Não faço ideia, tipo elas parecem amigas da Stella, vai ver por isso vieram para cá.
— Pode ser.
Nosso papo passa a ser “fanficar” sobre quem é a moça bonita e o que ela veio fazer aqui e mais uma vez vejo o quanto Breno é inteligente e divertido, estamos até chamando um pouco de atenção para nossa mesa de tanto que estamos rindo feito dois bêbados malucos e olhe que nem estamos bêbados, só malucos mesmo. O movimento vai se acabando e meu sono começa a chegar também. Pedimos a conta e enquanto Stella se desocupa para trazer vou ao banheiro.
O banheiro fica mais ou menos perto do bar onde o Ykaro fica, quando passo lá perto ouço uma pequena discussão, por se tratar do meu amigo chego mais perto para tentar entender o que está rolando e fico chocado quando vejo a gata discutindo com Ykaro.
— Não, já falei, não faço mais isso!
— Atá Ykaro, vai se fazer de difícil agora, fala sério, o que você quer um cachê maior? — Ela é metida, bem não posso dizer que estou surpreso.
— Você já tem minha resposta, agora pode sair daqui por favor? — Ykaro está se contendo, mas já o conheço o suficiente para perceber que está muito incomodado com a situação.
— Moça, eu sei que você é bonita e tals, mas não é não — incrédula ela me encara, acho que não esperava que alguém fosse se meter e quanto mais contrariala.
— Oi?
— Isso que você ouviu, meu amigo disse que não quer aceitar seja lá qual tenha sido sua oferta.
— Com licença eu nem te conheço — ela está muito contrariada.
— Por favor só vai embora — Ykaro pede mais ma vez.
— Quem é você?
— Não interessa quem eu sou, o que interessa aqui é que você ainda não entendeu que não é não!
— Eu mereço, olha Ykaro eu conheço você e isso aí não é você — ele fica ainda mais irritado, porém se contém e não diz nada — desperdício, mas tudo bem, aqui.
A mulher tira duas notas de cem da bolsa e deixa em cima da mesa, porra não imagino o que ela pode ter consimido aqui para conta dela ter chegado nesse valor, ou vai ver só quer jogar o dinheiro dela na cara do meu amigo, ricos esnobes gostam de fazer esse tipo de coisa, eu acho ridiculo.
— Não quero seu dinheiro.
— É só um lembrete de que você pode ter muito mais que isso quando parar de ser tão orgulhoso e otario!
Ela finalmente vai embora, a vaca ainda faz questão de esbarrar em mim acredita? Louca!
— Está tudo bem Ykaro, eu sei que não é para me meter na sua vida, mas — ele soca a mesa com força me assustando no meio da frase.
— Não é da sua conta Adriano, agora pode me deixar trabalhar em paz? — Nunca tinha o visto assim tão grosso e irritado.
— Beleza, desculpa!
Me retiro em direção ao banheiro, só queria ajudar, mas entendo que isso não é uma história recente e essa mulher claramente tirou ele do sério, claro que isso não justifica ele ser grosso comigo, também não devia me meter né? De qualquer forma, essa noite já deu o que tinha que dar para mim. Pagamos a conta e Breno me deixa em casa, antes de ir marco com ele dá gente repetir o rolê qualquer dia desses, pois gostei muito de sair com ele e a retórica me pareceu recíproca, encerro minha noite assim, tomo um banho e me deito para durmir, só sinto falta do Nathan, ele me respondeu, mas me falou que estava muito ocupado e depois não falou mais nada, deve ser alguma reunião de família. Enfim amanhã eu falo melhor com ele no trabalho.
