A atração pelo "proibido" me fazia querer ir além.
Era começo de tarde na chácara em que meus avós moravam, o sol batendo forte nas telhas e o cheiro de mato misturado com terra molhada. Eu estava sozinho no curral, lavando as botas, quando Nelson apareceu. Vinha devagar, camisa aberta, cigarro no canto da boca e aquele jeito de quem não devia estar ali — mas estava.
Naquela época, tudo parecia proibido demais. Olhar por mais de um segundo já era confissão. Mesmo assim, olhei. Ele também. E foi nesse instante que o ar pareceu parar. Nenhuma palavra, só o som distante das galinhas e o vento balançando as folhas do coqueiro.
Ele se aproximou, parou tão perto que pude sentir o cheiro de fumaça e suor. O olhar dele era firme, mas havia algo escondido — um desafio, talvez. E eu, que devia ter dado um passo atrás, fiquei.
Ele estendeu a mão, pedindo o isqueiro que estava no meu bolso. Não precisava — o dele estava no bolso da calça, eu tinha visto. Mesmo assim, entreguei. Os dedos dele tocaram os meus, leves, demorados demais para ser acaso. Foi rápido, mas ficou.
O cigarro acendeu, a brasa refletiu no olhar dele. Um olhar que dizia mais do que qualquer palavra. Fiquei imóvel, tentando disfarçar o tremor nas mãos, o calor subindo pelo corpo. Ele sorriu, pequeno, quase um deboche, e deu um passo mais perto.
A sombra do galpão nos cobriu, o barulho do vento pareceu sumir. O tempo, ali dentro, parou. A respiração dele se misturou à minha, e eu soube — qualquer movimento bastaria pra tudo mudar.
Mas ninguém se mexeu. Era como se o próprio risco fosse o que mantinha o instante vivo.
Nelson encostou o ombro no batente da porta do galpão, o cigarro ainda aceso, o olhar cravado em mim como se me medisse por dentro. O silêncio entre nós não era vazio — era cheio de intenções que ninguém ousava dizer.
Ele falava pouco, mas cada gesto dele parecia dizer mais do que mil palavras. O jeito como ajeitava o chapéu, como o músculo do braço se contraía quando limpava o suor com a manga, como o riso vinha de canto, sem pressa. Tudo nele tinha uma força calma, perigosa.
“Tá calor hoje”, ele disse, olhando pra mim sem desviar.
“Tá”, respondi, tentando parecer natural, mas sentindo o rosto esquentar mais do que o sol lá fora.
Ele soltou a fumaça devagar, o olhar ainda firme. “E você aí, suando... devia tirar essa camisa.”
A provocação veio mansa, mas certeira. E eu entendi — ele estava jogando, testando até onde eu iria.
Fingi rir, olhei pro chão, mas o coração batia como se quisesse ser descoberto. Ele sabia. E o pior — gostava de saber.
A partir daquele dia, Nelson parecia estar em todos os lugares. No curral, no terreiro, na sombra do casarão. Sempre por perto, nunca perto demais. Às vezes, bastava o som das botas dele no chão de terra pra eu perder o fio do que fazia.
Era como se ele soubesse o efeito que causava. E eu fingia não perceber. O jogo era esse — negar o que o corpo gritava.
Quando ele passava por mim, o silêncio pesava. Um toque acidental, um olhar que durava meio segundo a mais, e o resto do dia ficava tomado por aquilo.
À noite, sozinho, eu tentava me convencer de que era só provocação, coisa da minha cabeça. Mas bastava lembrar o jeito que ele dizia meu nome — curto, rouco — pra saber que não era imaginação.
O pior era o medo. Não só do que poderiam pensar, mas do que eu mesmo pensava. Do que eu queria.
Naquele tempo, o desejo era crime, e a vontade, castigo.
E Nelson... Nelson parecia carregar o próprio pecado no olhar — e ainda assim, era impossível não querer ser queimado por ele.
Nos dias seguintes, o tempo virou. O céu ficou pesado, cinza, e o ar, abafado como se a chuva esperasse só o momento certo pra cair.
Nelson parecia fazer parte desse clima — vinha chegando com o trovão, firme, cheio de uma calma que deixava o resto pequeno.
Certa tarde, o vento trouxe cheiro de terra molhada antes mesmo da primeira gota. Eu estava no alpendre, e ele surgiu da estrada, chapéu na mão, o corpo molhado de suor e poeira. Sorriu de leve, como quem sabe que é esperado mesmo quando não é chamado.
— Achei que a chuva vinha, mas parece que ficou com preguiça — disse, encostando-se no batente.
A voz dele se misturava ao som do vento, grave, lenta. O tipo de voz que fica presa na pele.
Eu quis responder, mas as palavras não saíram. Ele percebeu. Sempre percebia.
Deu um passo à frente, o bastante pra que o ar entre nós ficasse mais quente. A tempestade ainda não tinha caído, mas o mundo inteiro parecia suspenso naquele instante.
— Tá vendo? — ele murmurou, olhando pro horizonte. — Até o céu segura o que quer soltar.
Falou como quem não falava de tempo. E eu entendi.
Nelson sempre falava de outra coisa, mesmo quando falava do óbvio.
A chuva pesou....havia um galpão , pequeno, que funcionava como paiol.
O paiol era pequeno, quase escuro, cheirando a feno e madeira úmida. A chuva batia forte no telhado, ritmada, como se marcasse o compasso de algo que não podia mais ser contido.
Nelson entrou primeiro. O som das botas pesadas no assoalho fez o chão vibrar. Ele virou de costas, encostou a porta e ficou ali, olhando, sem pressa.
Não precisava dizer nada — o mundo já dizia por ele.
O ar parecia espesso, e cada respiração vinha carregada de tudo que fora calado por tempo demais. O medo, o desejo, a culpa — tudo se misturava, indistinto, como a chuva lá fora se misturava à terra.
Por um instante, pensei em sair. Mas o corpo não obedeceu.
O que havia entre nós não era coragem — era algo mais antigo, mais fundo, que pedia passagem mesmo sem permissão.
Nelson desatou o cinto, abriu o primeiro botao, me mandando continuar no fecheclair, minhas mãos obedientes tateou o grande volume, procurando o zíper, sendo preenchida assim que abri por seu pau latejante, grande, duro e quente.
Finalmente o silêncio se fez completo, compreendi que já não havia volta.
Lá fora, a tempestade rugia.
Aqui dentro, meu mundo se abriu.
Saboreei cada centímetro daquela maravilha, servi a ele o que de melhor sabia fazer, até seu gozo farto em meu rosto, minha boca.
Nelson sempre soube que eu queria, com maestria me despiu me colocando sobre um fardo de feno, usou vaselina, da mesma que passa nas selas de cavalos, dedilhou meu cuzinho untando até o fundo, fechei os olhos saboreando e prevendo o que viria, quendo encostou a cabeça, fiz força para abrir , não encontrou resistência, apenas um gemido, me fazendo gozar com tudo dentro de mim.
A manhã seguinte veio fria e clara, como se a chuva tivesse lavado o mundo inteiro — menos a minha cabeça.
Acordei antes do sol, o corpo ainda quente do que não devia ser lembrado. O paiol parecia o mesmo, mas não era. Cada pedaço de madeira, cada cheiro de feno, agora guardava um segredo.
Nelson já tinha ido. Só restavam as marcas das botas dele no chão de terra úmida e o cheiro distante de fumo no ar.
Por um instante, achei que tudo não passara de sonho. Mas quando encostei a mão no peito, senti o peso real da noite.
Na cozinha, fingiram não notar meu silêncio. Meu avô falava do gado, minha avó fazia café, e eu apenas assentia, sem ouvir.
Lá fora, Nelson trabalhava como se nada tivesse acontecido. O mesmo passo firme, o mesmo olhar tranquilo.
Mas, quando passou por mim, não falou nada — apenas aquele leve toque de ombro, como se fosse acidente. Não era.
Naquele toque, entendi que entre nós havia algo que não cabia em palavra nenhuma.
Nem podia.
Os dias voltaram à rotina, mas nada era igual.
Nelson parecia seguir sua vida normalmente, o mesmo trabalho, o mesmo silêncio. Só que agora cada movimento dele tinha um peso diferente, como se me lembrasse, o tempo todo, do que eu queria esquecer.
Ele não falava nada — não precisava. Um olhar bastava pra me desarmar. Às vezes, eu o via de longe, perto do curral, o sol batendo nos ombros largos, e sentia o corpo reagir antes da razão.
Era estranho... parecia que ele sabia o efeito que causava e usava isso com uma calma cruel.
Quando cruzávamos no terreiro, ele só dizia: “Bom dia.” Mas o tom da voz dele trazia o resto — uma lembrança que eu fingia não entender.
E, quanto mais ele fingia indiferença, mais eu me perdia.
Comecei a procurá-lo sem perceber. No campo, no estábulo, até na hora das refeições, meus olhos o seguiam.
Nelson era o silêncio entre as palavras, o calor que o vento deixava quando passava.
E eu... eu já não sabia se queria me livrar dele ou me perder de vez.
Foi numa tarde qualquer, o sol já baixo, o ar parado e a poeira suspensa no terreiro. Eu estava sentado perto do velho poço, distraído, quando ouvi os passos pesados atrás de mim.
Nelson.
Fazia dias que ele não dizia mais do que duas palavras seguidas. Mas dessa vez parou ao meu lado, encostou as mãos no balde de ferro e ficou olhando a água quieta lá no fundo.
— Cê anda diferente — disse, sem me olhar. — Parece que carrega o mundo nas costas.
Fiquei sem resposta. O coração disparou como se tivesse sido pego em flagrante.
Ele virou o rosto devagar, e o olhar me atingiu como um golpe manso.
— Eu sei quando alguém tenta esquecer — continuou. — Mas tem coisa que não se apaga. Só aprende a guardar.
Ficou um tempo em silêncio. Depois sorriu, de um jeito quase triste.
— Só não deixa o medo mandar em você.
Disse isso e se afastou, entrando no paiol.
Fui atrás dele.
O caminho até o paiol parecia o mesmo, mas o som dos passos soava diferente, mais pesado, como se o chão soubesse onde aquilo ia dar.
Lá dentro, o cheiro de feno ainda era o mesmo da noite da chuva.
Nelson encostou a porta devagar, sem trancar, e ficou em pé diante de mim.
Por um instante, o tempo pareceu recuar — tudo o que eu tentara esconder voltou inteiro.
— Achei que não vinha — disse ele, a voz baixa, mas firme.
Não era acusação. Era certeza.
E mesmo sem tocar, ele ainda me cercava, como se o ar entre nós obedecesse a ele.
— A gente precisa saber o que faz com o que ficou — continuou. — Porque fingir que não existiu não vai apagar.
O jeito como ele falava não deixava espaço pra fuga.
Era como se me obrigasse a olhar, não pra ele, mas pra mim mesmo.
Ficamos em silêncio. Só o som distante do campo e o coração batendo mais alto do que devia.
Me despi, oferecendo lhe meu rabinho carente.
Nelson me enrabou me enchendo de porra.
Definitivamente eu era submisso aquela negro.
