Acordamos cedo naquele domingo. Eu estava ansiosa para ir até a galeria, e pelo visto, Valentina também. Nunca a vi se arrumar tão rápido para sair. Tomamos apenas um café e seguimos em direção à galeria. Valentina comentou que provavelmente passaríamos quase o dia todo lá, pois teríamos que assistir horas e horas de vídeos gravados. Como não sabíamos a data e a hora exatas do que estávamos procurando, seria demorado e teríamos que contar com a sorte para encontrar algo.
Chegamos à galeria um pouco depois das 7 da manhã. Valentina ligou para um dos guardas e avisou que estava entrando e que iria até a sala de segurança para ver algumas gravações. O guarda apenas disse "ok" e informou que avisaria seu colega de trabalho, evitando assim surpresas inesperadas, já que não estavam esperando a visita de ninguém no domingo. Valentina agradeceu, abriu a porta da frente e entramos na galeria, seguindo em direção à cozinha. Ela abriu uma porta em um corredor entre a cozinha e o vestiário dos funcionários.
Assim que entramos, vi um painel com várias telas, onde as câmeras transmitiam em tempo real. Valentina sentou-se em uma cadeira em frente a um computador ao lado do painel e explicou como acessar os vídeos da câmera que ficava em frente ao escritório da Donna e do Orlando. Ela ficou responsável por olhar os vídeos da câmera que ficava de frente ao dela e do que estava com as fotos. Assim, talvez uma de nós encontrasse algo que pudesse provar que foi a Donna quem roubou as fotos. Se tivéssemos sorte, poderíamos até achar alguma pista de como ela descobriu.
Valentina começou a me explicar quando ouvi batidas na porta. Era um dos guardas perguntando se precisávamos de ajuda. Valentina agradeceu e disse que não, mas que chamaria ele se precisasse. O jeito que ela o tratou mostrava que provavelmente se conheciam há muito tempo; era evidente que tinham uma certa intimidade. Depois que ele saiu, Valentina voltou a se sentar e começou a me explicar tudo o que eu precisava saber.
Ela entrou na nuvem e me explicou como funcionava. Cada câmera tinha uma pasta e, dentro dessa pasta, havia outra com cada dia do mês. As filmagens tinham duração de um mês e depois eram substituídas. Valentina sugeriu que começássemos a ver os vídeos de dois dias antes da visita do advogado. Concordei e fiquei no computador enquanto ela acessava a nuvem usando seu notebook. Coloquei a velocidade do vídeo em 1,5x e comecei a prestar atenção em cada detalhe. Sabia que seria cansativo e difícil manter a concentração quando o cansaço começasse a aparecer, mas faria de tudo para manter o foco.
Eu já estava há quase três horas na frente daquela tela e não havia visto nada suspeito. Minha bunda doía e meus olhos começaram a arder um pouco. Resolvi fazer uma pausa, talvez para ir ao banheiro, lavar o rosto e deixar meus olhos descansarem. Quando fui pausar o vídeo, vi Valentina aparecer na tela, indo em direção ao escritório do Orlando. Resolvi assistir mais um pouco por curiosidade. Valentina entrou no escritório, e dava para vê-la atravez da janela, ela está de pé em frente à mesa do Orlando. Logo em seguida, vi Donna descendo as escadas do seu escritório e indo em direção ao escritório do Orlando. Ela subiu as escadas, mas parou na porta. Na hora, voltei o vídeo para a velocidade normal. Valentina parecia estar explicando algo a Orlando. Ela estava gesticulando os braços o tempo todo. Donna não se moveu, ficou ali na porta do escritório como se estivesse ouvindo algo. Logo depois, vi que ela pegou o celular e levou até o ouvido, mas não saiu de perto da porta. Provavelmente estava fingindo estar em uma ligação para despistar alguém que a visse ali parada. Ela ficou uns cinco minutos ali e depois começou a descer as escadas novamente.
Pausei o vídeo e chamei Valentina para mostrar o que eu tinha visto. Voltei o vídeo e coloquei para rodar de novo assim que Valentina chegou ao meu lado. Ela olhou o vídeo e, mesmo antes de Donna começar a descer as escadas, pediu para eu pausar. Vi que ela olhou para a parte superior do vídeo, onde ficavam a data e a hora.
Val— Já sei como ela descobriu, amor. Eu me lembro bem desse dia. Estava falando com o Orlando sobre preparar o escritório vago para você trabalhar nele. Falei que iria levar as coisas da Isabel de volta para a minha casa e dar um jeito de mobiliar o escritório.
Nora— Mas isso não seria o suficiente para ela saber das fotos. Provavelmente, ela ficou curiosa com isso, mas acho que ficou mais com raiva de você ter falado que eu iria voltar a trabalhar aqui do que curiosa com as coisas da Isabel no escritório vago.
Val— Mas o Orlando falou das fotos. Ele perguntou se eu ainda via as fotos da nossa viagem juntos e disse que nunca teve coragem de olhar as fotos depois que a Isabel faleceu.
Nora— Entendi. Isso talvez tenha chamado a atenção dela.
Val— Acho que teve algo que chamou mais ainda. O Orlando perguntou se você não iria achar ruim eu levar as fotos da minha ex para casa. Eu disse que não, que você sabia separar as coisas e era de boa quanto a isso. Ele disse que eu tinha sorte porque você não era ciumenta e entendia bem eu ter guardado as coisas da minha ex. Eu respondi que concordava, e se você tivesse ciúmes da Isabel, eu teria um grande problema, porque eu estava apaixonada por você e não queria me livrar das coisas da Isabel, principalmente das nossas fotos juntas e dos quadros.
Nora— Não precisa dizer mais nada. Se ela ouviu isso, com certeza descobriu tudo que não podia.
Val— Eu sei, amor. Me desculpe.
Nora— Por que você está se desculpando, amor?
Val— Não sei exatamente, mas só sei que cometi um erro enorme.
Nora— Amor, você estava falando com seu amigo em um lugar particular. Estava só vocês dois; não tinha como imaginar que a Donna estava ouvindo tudo atrás da porta. Outra coisa, você não tem que se desculpar comigo. Você não fez nada de errado, nem comigo, nem com ninguém.
Val— Eu deveria ter tomado mais cuidado. Não deveria ter falado isso em um lugar cheio de pessoas. Eu errei feio, amor.
Ela disse isso e eu vi as lágrimas começarem a escorrer pelo seu rosto. A culpa provavelmente estava machucando. Mesmo eu achando que ela não tinha culpa, ela provavelmente se sentia culpada por ter quase perdido a galeria. Eu a abracei e disse que estava tudo bem, que tudo foi resolvido e que ela não tinha mais motivos para se preocupar; o pior já tinha passado.
Aos poucos, ela foi se acalmando e eu disse que tínhamos que tentar achar o momento em que Donna entrou no escritório para pegar as fotos e, quem sabe, descobrir como ela pegou a chave. Mas antes, seria bom descansar um pouco e quem sabe comer alguma coisa. Falei que estava com fome e com o corpo dolorido de ficar sentada. Ela disse que eu tinha razão e falou que iria pedir algo para a gente comer, que sabia de um restaurante que fazia entregas aos domingos.
Valentina fez o pedido e saímos para o banheiro. Depois de lavar os rosto, ela sugeriu que esperássemos a entrega do lado de fora, assim poderíamos respirar um pouco e descansar os olhos. Concordei com ela e seguimos para a entrada. Conversamos sobre coisas mais leves para não pesar mais o clima e logo a entrega chegou. Voltamos para dentro e seguimos para a cozinha. Os dois guardas estavam almoçando e nós nos juntamos a eles. A conversa ajudou Valentina a se distrair um pouco e, quando voltamos ao cômodo para continuar vendo os vídeos, ela estava com a expressão mais tranquila.
Valentina disse que iria copiar a parte do vídeo e salvar em um pen-drive antes de eu continuar assistindo ao restante. Esperei ela copiar, depois voltamos aos nossos lugares de antes e continuamos a olhar os vídeos das câmeras. Coloquei o vídeo novamente em 1,5x e fiquei atenta. No restante do vídeo, dava para ver que Donna saiu algumas vezes de seu escritório e, depois de algum tempo, voltava. Orlando passou boa parte do tempo em seu escritório, depois que Valentina saiu. Pelo jeito, nem almoçar ele foi, mas por volta das 15 horas, vi Donna ir ao seu escritório e, depois, os dois saíram juntos. Alguns minutos depois, apenas Donna voltou e, em vez de ir para seu escritório, foi até o do Orlando. Ela entrou e saiu apressada de lá. Pausei o vídeo e fui até onde Valentina estava.
O vídeo que Valentina assistia estava meia hora atrasado em relação ao meu. Pedi para ela adiantar o vídeo para o mesmo horário do meu. Ela perguntou o porquê e eu expliquei. Ela adiantou o vídeo e começamos a assistir. Não demorou muito e Donna apareceu subindo as escadas do escritório onde estavam as fotos. Ela mexeu na porta e saiu novamente. Voltei para o computador e adiantei o vídeo. Ela voltou ao escritório do Orlando, saiu rapidamente e desapareceu das imagens. Provavelmente foi até onde Orlando estava. Falei para Valentina que provavelmente ela pegou a chave do escritório, abriu a porta e deixou-a aberta. Depois voltou e devolveu a chave para Orlando não perceber, agora estava esperando o momento certo para voltar ao escritório para pegar as fotos.
Valentina concordou, dizendo que provavelmente era isso mesmo, e que Orlando deixava suas chaves ou chaveiros pendurados em um porta-chave que ficava na parede do seu escritório. Disse que achar a chave certa não seria problema, já que as portas dos escritórios são iguais, assim como as fechaduras e as chaves. A diferença está apenas nos dentes de cada chave. Como a do escritório do Orlando sempre fica na porta, ficou fácil para ela identificar a outra.
Eu nem olhei mais o vídeo que estava assistindo, deixei pausado e disse para Valentina colocar o dela em 2x, pois não tínhamos como não ver quando Donna voltasse ao escritório. Se não fosse naquele dia, seria no dia seguinte. O vídeo seguiu e Valentina comentou que provavelmente seria no outro dia, porque a hora de todos ir embora estava chegando e nada dela ir ao escritório. Mas, alguns segundos depois, Donna apareceu subindo as escadas devagar. Valentina disse que, pelo horário, ela já deveria ter saído, mas não saiu. E lá estava ela subindo as escadas.
Donna acabou de subir as escadas, abriu a porta e entrou no escritório. Ela ficou lá por uns 10 minutos, no máximo, e logo saiu com um envelope amarelo nas mãos. Foi quando Valentina soltou um: "Desgraçada". Eu até me assustei; nunca imaginei ouvir Valentina xingar. Quase ri dela, mas achei melhor não, o rosto dela era pura expressão de raiva. Acho que, no fundo, ela estava torcendo para que estivéssemos enganadas e Donna fosse inocente dessa vez. Mas não era, e a prova estava ali, na tela do notebook.
Valentina respirou fundo e disse que iria copiar a parte em que supostamente Donna pega a chave do Orlando e a que ela rouba as fotos. Não tinha como ela dizer que não foi ela depois das provas que tínhamos conseguido. Dessa vez, Donna foi longe demais, e eu já estava ansiosa para ficar frente a frente com ela. O que ela fez comigo foi algo ruim, mas eu sinceramente nem me lembrava disso mais, até porque isso levou Valentina a me procurar. No final, eu saí ganhando, pois foi por causa do que ela fez que pude conhecer a verdadeira Valentina e me apaixonar.
O problema para mim foi o que ela fez com Valentina. Vi o que Valentina passou, ajudei a secar suas lágrimas, eu vi o desespero e a tristeza que ela tinha nos olhos. Isso eu nunca iria esquecer e, independente de qualquer coisa, eu faria Donna pagar. Valentina tem um coração muito bom; eu sabia que, depois de tudo, se Donna implorasse por perdão, seria arriscado Valentina perdoar. Mas eu não sou assim. Não sou uma pessoa má, mas não sou boazinha quando mexem com quem eu gosto.
Valentina copiou todos os vídeos e saímos dali. Ela se despediu dos guardas e seguimos para casa. Quando chegamos, o dia já estava se despedindo e a noite começando. Valentina foi tomar um banho e eu fui preparar algo para nós duas jantarmos. Assim que Valentina saiu do banho, ela assumiu o fogão e eu fui tomar meu banho.
Durante o jantar, eu disse para Valentina que queria ir com ela no dia seguinte para a galeria. Queria assumir meu papel de sócia, se ela não se importasse. Ela disse que não se importaria. Falei que, se possível, queria que ela falasse para a Alexia marcar uma reunião com Orlando e Donna logo de manhã, para que pudesse dizer que tinha um comunicado a fazer. Assim, já me apresentava como sócia e eu lidaria com Donna. Ela perguntou se eu tinha certeza disso e eu respondi que tinha certeza absoluta.
Combinamos tudo e pedi a ela mais um favor: que dissesse a Donna que eu tinha 60% da galeria e ela 40%, era apenas para resolver a questão com Donna. Valentina concordou, deu um pequeno sorriso e disse que eu era uma garota malvada. Comecei a rir junto com ela e disse que só era com quem merecia.
Terminamos o jantar e não demorou muito para estarmos abraçadas na cama. Valentina estava um pouco calada e com uma expressão no rosto que eu não soube decifrar. Curiosa, perguntei se estava bem, e ela me olhou com um semblante calmo e fez carinho no meu rosto.
Val— Sou muito agradecida por você ter aparecido na minha vida. Uma das melhores decisões da minha vida foi ter ido atrás de você para me desculpar. Depois disso, você foi ocupando cada vez mais seu espaço na minha vida e no meu coração. Hoje, não consigo imaginar minha vida sem você. Eu te amo, Nora, eu te amo muito!
Tentei falar algo, mas não consegui. Meus olhos marejaram e eu a beijei.
Nora— Também amo você, Valentina! Te amo muito!
Depois de um final de semana conturbado, estávamos finalizando da melhor maneira possível: juntas e totalmente entregues ao amor que crescia a cada dia entre nós.
Continua…
Criação; Forrest_Gump
Revisão; Whisper
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