Viajo vez em quando e sempre no meu carro. Detesto ônibus ou qualquer transporte que não esteja sob meu comando. Recentemente descobri o BlaBlaCar: achei massa, representa uma companhia na viagem e ainda ajuda no combustível.
Certo dia, duas únicas reservas: Pit e Ian. No lugar e horário combinados, adentraram no banco de trás e nos pusemos em movimento. Os dois bem jovens, na casa dos vinte e cinco a trinta anos, perfumados e simpáticos. Pit, afetadíssimo em gestos e na fala (e ele falava bastante), mostrou-se-me gay logo de saída; o outro era mais contido, não identifiquei de cara qual era a dele, mas provavelmente eram um casal. Não eram os primeiros homos que eu pegava, e, como das outras vezes, evitei revelar minha bissexualidade, e seguimos.
Era final de tarde e as margens urbanas da rodovia estavam pontilhadas de caminhantes e corredores. Ao passar por homens bonitos, apertados em shorts de lycra, rolas lindas decalcadas no tecido, que também moldava as coxas, eu os acompanhava com o olhar, gemendo por dentro e acariciando minha rola. Pensei que estava sendo discreto, mas Pit estava atento, e ao ganharmos a alto-estrada, notei que cochichavam, os dois. Não dei muita importância e me concentrei na música de Jessé e na estrada.
– Posso fazer uma pergunta ao senhor? A inquirição era de Pit.
– Pode se não me chamar de senhor... – Procurei ser simpático. Além do que, sempre me incomodou esse negócio de ser tratado como “senhor”; e ficando mais velho a cada dia, a tendência é isso ficar cada vez mais comum...
– Desculpa... Você... Você é do vale?
Fração de segundos para eu entender a pergunta. Eu não era muito afinado com as gírias da comunidade, mas essa era antiga – eu conhecia. Respondi prontamente:
– Sou, sim. Dei bandeira, foi?
– Comendo com os olhos os bofes da estrada... claro, né? – E riu, com espalhafato.
E para o amigo:
– Não falei que era? Meu faro não falha, minha filha!
E aí, eu, que sempre dirigi em silêncio, peguei-me conversando abertamente com os dois, sabendo de seus detalhes íntimos. Pit era mais passivo que ativo, solteiríssimo, que não queria estrupício atrapalhando suas fodas; era amigo de longas datas de Ian – até já haviam se comido algumas vezes, mas não queria compromisso. Ian, mais quieto, apenas sorria da indiscrição do colega.
Falei da minha bissexualidade, nos últimos tempos praticamente restrita à homossexualidade. Eu gastara muito tempo da minha vida com mulheres, e isso desequilibrara meus desejos. Agora eu estava numa fase de tentar recuperar o tempo perdido sem rolas e estava quase que exclusivamente gay. Eles – Pit principalmente – adoraram essa exposição; tanto o “desequilíbrio dos desejos” quanto a forma tranquila com que eu expunha essas intimidades.
– E o senhor é ativo ou passivo? – Ele perguntou.
– O senhor é meu cu!
– Ai, desculpa! Você é ativo ou passivo?
– Igual você: ativo e passivo, mas prefiro dar a comer...
– Ai, lacrou!
E os assuntos mais picantes vieram à tona. Contei algumas experiências pornôs que vivera... Sem cuspe e sem tapa, que eu acho nojento e não gosto de dor... Eles pulavam de satisfação no banco do carro e riam e riam e riam muito. Eu estava adorando aquele clima, hormônios agitados, pica endurecida. Estavam indo viajar, e a porra do voo estava marcado para as 4 da manhã seguinte. Iriam passar a noite e boa parte da madrugada no aeroporto, cochilando e acordando sobressaltados, com medo de perder a hora...
– Dava tempo a uma surubinha... – falei, rindo, procurando dar uma entonação de galhofa. Eles, Pit bem mais, fizeram uma algazarra... Mas não disseram nem sim nem não; não insisti, e a viagem prosseguiu. Mais uns dois ou três ralos assuntos, e a noite caiu sobre a estrada, o silêncio sobre a conversa, e a voz de Jessé sobre o ambiente.
Ao ultrapassar um veículo, precisei olhar pelo retrovisor, a fim de me assegurar da distância para voltar a minha mão na rodovia, e o reflexo do farol mostrou-me, de relance, os dois se beijando. Ri por dentro e prossegui a viagem. Mas agora eu ouvia um nítido (e clássico) barulhinho cadenciado de punheta...
– Eita, assim é foda, né? É pra me deixar com água na boca? – Falei, procurando demonstrar jocosidade.
– Ai, desculpa aí, tio (segurei o vulcão do ódio por dentro – “tio” era a arrombada da tua mãe)... A gente tava só passando o tempo.
– Tudo bem... só não vá melecar meu carro, hein?
Eles caíram na risada.
Chegamos ao aeroporto por volta das 8 horas. Ao estacionar no embarque do terminal, e já liberando o cinto de segurança, senti o toque de Pit no meu braço; voltei-me para ele, que falou, lampeiro:
– Posso te dar um beijo?
– Claro! – seria legal levar o gosto daquele serelepe na boca.
E nossos lábios se encontraram, nossas línguas vadiaram em nossas bocas. Após nos desgrudarmos, percebi Ian meio ressabiado, no canto do banco, a nos olhar.
– Você também? – falei, insinuante...
Ele quis fazer cu doce, parecia meio constrangido, mas Pit incendiou:
– Vai, fulêro! Ele beija bem pra caralho!
Ian se animou, veio até o meio do banco e nos beijamos com calma e profundidade.
Em seguida, pediram a chave e ficaram fazendo o pix da viagem, dentro do carro, enquanto eu saí para abrir a mala, a fim de que retirassem a bagagem. Passei a vista no celular enquanto os esperava descer, quando Pit colocou a cabeça pela porta aberta do motorista:
– Moço, vem cá!
Fui lá ver o que queriam. Ao colocar minha cabeça para dentro do carro, Ian falou, laconicamente:
– A gente topa.
– Hã? – não me toquei de imediato.
Pit, espalhafatoso como sempre:
– A gente topa a surubinha antes de viajar...
– Demorou! – surpreendi-me com a minha voz expelindo aquela gíria tão fora da minha realidade...
Fechei a mala e recoloquei o carro em movimento. Os dois estavam inquietos; eu, mais que os dois juntos. O tesão fervilhava em nossos corpos. Podíamos ouvir o batuque de nossos corações e o farfalhar das borboletas...
No primeiro dos muitos motéis que circundam o aeroporto, entramos. Estávamos excitadíssimos dentro daquele carro, feito três siris dentro de uma lata. Saímos às pressas e agarrados um no outro, adentramos no quarto, e em tempo recorde estávamos os três sem roupa, sobre a cama, gemendo e fodendo e sendo fodidos. Levei rola dos dois, comi os dois cus, chupei-lhes as rolas, fui chupado... A energia sexual dos três gays sobre aquela cama de motel foi algo de indescritível. Foram vários orgasmos, e até eu me dei ao luxo de gozar mais de uma vez. Tomamos banho juntos, fodemo-nos e nos chupamos sob o chuveiro, beijamo-nos de todos os jeitos e duração, nossas línguas enfiavam-se rígidas no cu que estivesse mais disponível, como se rolas fossem.
Por volta da meia-noite, extenuados, entregamo-nos a Morfeu, misturados pernas, braços e rolas sobre a larga cama. Antes de apagar, entretanto, cuidei de colocar o celular para despertar em duas horas, que eu não queria ser responsável pela perda do voo daquelas duas criaturas lindas e gostosas.
